Porque a «sala do Senhor», os quartos de dormir e a sala de jantar me
pareceram não oferecer interesse de maior do ponto de vista linguístico, será essencialmente sobre a
cozinha e os objectos que aí encontrei que irá incidir a nossa atenção.
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Um dos
utensílios em que primeiro reparei foi o que se encontrava numa das
paredes. Admirado e, ao mesmo tempo intrigado, porque nunca tinha visto
semelhante engenhoca nem tão pouco conseguia descobrir a sua utilidade,
perguntei à mulher do Ti Melro o que era e para que servia. Disse-me ser
um «culhureiro» (‘colhereiro’ < colher+eiro) e servir para pôr as
colheres. Vendo-me, possivelmente, um pouco incrédulo, tratou de me
demonstrar a sua utilidade, aí introduzindo algumas colheres e garfos
(Figura 26). |
Fig. 26 - Colhereiro |
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Na lareira, sobre o borralho e em frente ao forno, encontrava-se uma
trempe de ferro, como a representada na figura 27, que ela disse servir
para colocar as panelas. Vendo-a tão pronta a elucidar-me sobre todos os
objectos que estavam na cozinha, perguntei-lhe se não costumavam usar
panelas de ferro. Disse-me possuir uma, que me mostrou, mas que era
unicamente para derreter o breu para calafetar o barco, confirmando-me
os elementos que obtivera numa conversa com o Ti Melro acerca dos
moliceiros. |
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Fig. 27 - Trempe de
ferro para colocar as panelas a aquecer na lareira |
Embora usando já fogão a gás, perguntei-lhe se ainda utilizavam muito o
forno. Disse-me que raramente se servia dele, mas que, outrora, era nele
que coziam o pão que comiam. Assim sendo, procurei saber quais as fases
da sua fabricação e os utensílios usados.
Uma vez peneirada a farinha, fazem a massa numa escudela. Para o
fermento, possuem uma «malguinha». Preparada e levedada a massa, dão-lhe
a forma com que costumam fazer o pão.
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Fig. 28 - Rodo para
retirar as brasas do forno. |
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Fig. 29 - Escudela para
colocar o pão no forno. |
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Para
aquecer o forno, metem-lhe bastante lenha, que arde até ficar reduzida a
brasas. Estas são «ruluadas» (‘roladas’) de um para o outro lado com a
ajuda de um «rulueiro», longa vara de madeira unicamente para mexer as
brasas. Aquecido o forno, retiram-lhe o brasido com a ajuda do rodo
(fig. 28) e limpam-no cuidadosamente com uma pequena vassoura, «a
vassoirinha p’ràlimpar o forno» depois de retirada a «brazedeira maior».
A massa é metida com a ajuda de uma escudela presa na extremidade de uma
vara (fig. 29) ou por meio de uma simples pá circular de madeira (fig.
30), usada sobretudo para o pão de milho, conhecido em algumas regiões
por broa. Depois de cozido, é retirado com o auxílio de outra pá, esta
metálica e bastante delgada (fig. 31).
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Fig. 30 - Pá para
colocar o pão no forno. |
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Fig. 31 - Pá para
retirar o pão do forno. |
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Sobre
a lareira existe um vão para facilitar a saída das faúlhas («farragolas»)
para a chaminé («chamenei»).
Num aparador encontravam-se algumas canecas de barro, que me foram
indicadas pela designação de "canecas de pedra".
Ainda
referente ao capítulo a que temos estado a dedicar algumas palavras,
procurei saber, com a ajuda do meu informador, os nomes das diferentes
partes de que se compõem uma porta e uma janela. Sobre a última, não
encontrei nada digno de menção, a não ser o facto de ter chamado «pituril»
ao peitoril. O mesmo já não posso dizer sobre a porta, de que recolhi
alguns nomes. Girando nos "pedreses", nome dado às dobradiças (fig.
32),
presos à ombreira (fig. 33, nº 2) pelos "chumbadoiros", as portas,
fechadas, quer por uma fechadura, quer por uma tramela (1), são formadas
por tábuas colocadas lado a lado verticalmente e reforçadas, pelo
interior, pelas «chescas» (5). Ao degrau de entrada é dado o nome de
«rebate» (3), ficando-lhe, por cima, o «padiale» (4).
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Fig. 33 - Porta vista
por fora e por dentro. Clicar para ver as legendas. |
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Outros
nomes que recolhi sobre materiais empregados na construção são as
«ripas» e as "trabas" ou "barrotas", para designar as traves e travessas
que sustentam o telhado, os «aljeirózas», para designar os espaços entre
cada barrote, a «caneija», para o ponto de encontro entre dois telhados,
por onde corre a água das chuvas, e as «pirângulas», nome dado às
pequenas pirâmides de barro com que terminam os vértices do telhado.
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