Aeroporto e piscina de Carmona

       
 
Aeroporto de Carmona. Clicar para ver imagens de Carmona.
 
       

Depois do almoço, em vez de um, passei a ter dois cicerones na visita ao aeroporto.

A cerca de cinco quilómetros, como já referi mais do que uma vez, numa zona planáltica dos arredores de Carmona, situa-se o moderno aeroporto, que serve a cidade e toda a região do interior norte de Angola, sem contar com o Negage. Existem, segundo apurei, carreiras regulares entre Luanda e Carmona. Em vez de um dia inteiro de camioneta ou meio dia de viagem com uma viatura potente, bastam quarenta e cinco minutos para irmos daqui até à capital, bem instalados num moderno e confortável avião bimotor de passageiros.

Ao lado do aeroporto e zona de embarque, que visitei pormenorizadamente, tendo-me sido facultada, inclusive, a entrada na torre de controlo, de onde tirei uma fotografia mostrando a cidade ao longe, encontram-se diversos hangares de considerável largura, num dos quais está instalado o Aero Clube do Uíge e onde se encontram guardados modernos aparelhos monomotores. Não será necessário dizer-vos que visitei demoradamente todas as instalações, que em todos os locais fui bem recebido e que de tudo quanto pude admirar obtive diapositivos.

— O nosso alferes está a gostar de Carmona? — perguntou-me o senhor Amândio.

— Muitíssimo. Com dois bons cicerones e uma cidade moderna, seria difícil não ficar a gostar.

— O que acha deste moderno aeroporto? — perguntou o senhor Sílvio.

— Acho que estão muito bem servidos. Belíssimas instalações com tudo o que há de mais moderno. Não podia ser melhor!

— Sabe quanto tempo levamos daqui a Luanda de avião, alferes?

— Não faço a menor ideia.

— Apenas quarenta e cinco minutos. — disse o senhor Amândio, visivelmente satisfeito. — Como vê, estamos próximos de Luanda, graças às carreiras regulares que ligam as duas cidades.

— É o que vale a um país enorme, senhor Amândio. Porque, por terra, nunca mais chegamos ao destino. Aqui, em Angola, é tudo grande: a bicharada, a produção agrícola e as distâncias. Quando andamos no meio do mato e perguntamos aos guias se estamos longe dos objectivos, dizem-nos: «É já ali!». E o «já ali» vai-se repetindo. Nós fartamo-nos de andar e o «já ali» continua sempre distante. Mas até os entendo. Se não dissessem que é já ali, perdíamos a coragem e deixávamos de caminhar. Com o avião, senhor Amândio, é mesmo já ali. São só quarenta e cinco minutos sentados, bem instalados e sem qualquer esforço.

— Não seria melhor apressarmo-nos? — perguntou o senhor Sílvio. — O aeroporto está visto. Mas ainda temos mais coisas para mostrar ao nosso alferes. E de certeza que ele vai gostar de as ver.

— Como, por exemplo? — perguntou o senhor Amândio.

— Temos um sítio agradável para mostrar e que de certeza vai agradar. E, além disso, eu tenho ainda de ir ao Negage.

— Vais ao Negage?

— Vou. E o alferes pode ir comigo, se quiser.

— Pode crer que sim, senhor Sílvio. — respondi.

— Vais fazer o quê ao Negage?

— Tenho de lá ir. Já que aqui estou tão perto, aproveito para dar lá uma saltada para ver os meus filhos.

— O senhor Sílvio tem os seus filhos no Negage? — perguntei.

— Sim, alferes. Tenho-os a estudar no colégio do Negage. E aproveito, que aqui estou tão perto, para dar lá uma saltada. Não é todos os fins de semana que deixamos Quimbele e vimos para estes sítios.

— Acho muito bem, senhor Sílvio. E de certeza que eles vão ficar contentes por terem a visita inesperada do pai. De certeza absoluta. Tanto como eu gostaria agora de aqui ter a visita dos meus!

— O alferes está com saudades? — perguntou o senhor Amândio.

— Que lhe parece? Há mais de meio ano que não os vejo. Por isso, acho muito natural e muito bem que o senhor Sílvio aproveite a proximidade para ir visitar os filhos. E se ele não se importar, tenho todo o prazer em fazer-lhe companhia. Fico também a conhecer mais uma cidade, ainda que seja só de raspão.

— Então despachemo-nos, que temos mais coisas para ver.

— Onde é que o queres levar? Há pouco não me respondeste.

— Vamos visitar a piscina de Carmona. É um lugar agradável. E hoje, fim-de-semana, deve estar cheia de gente.

Seguimos directamente do aeroporto para a piscina, também nos arredores da cidade. Com dimensões olímpicas e rodeada de árvores altas que lhe proporcionam alguma sombra e frescura, é um lugar aprazível para uns momentos de descontracção, especialmente quando o calor aperta.

— Então, alferes, — perguntou o senhor Sílvio — o que lhe parece?

— Gosto do local. Acho-o fantástico. Uma piscina moderna, bem arranjada e enquadrada na vegetação. Um local excelente para a prática da natação, para descontrair e passar uns bons momentos. E então, se viermos bem acompanhados, ainda melhor!

— É das melhores piscinas desta região de Angola. — acrescentou o Senhor Amândio — Talvez até das melhores de Angola. Não sei se haverá cá muitas iguais a esta.

— Não exageres, Amândio.

— Não estou a exagerar.

— Estás. Há outras localidades que também têm boas piscinas.

— Assim como esta? Com estas dimensões?

— Não sei se terão as mesmas dimensões. Mas que também são boas, lá isso são.

— Como, por exemplo, podes dizer-me?

— Há muitas, modernas e também agradáveis. Olha, por exemplo, em Salazar. No ano passado, passei por lá com a minha família. Os meus filhos passaram uma tarde agradável na piscina de Salazar. Agradável e moderna.

— Não digo que não. — acrescentou o senhor Amândio. — Mas penso que esta é das maiores, com dimensões olímpicas.

— Pelo menos tem dimensões olímpicas, o que é raro. — acrescentei eu, dando uma ajuda ao senhor Amândio. — Deve haver muito poucas com estas dimensões e sobretudo com uma boa prancha para saltos em altura como esta. Ora esperem lá, parece-me que aquele miúdo vai saltar da prancha mais alta. Esperem um pouco. Vou procurar caçá-lo com a objectiva no momento do salto.

Abri a protecção de couro da máquina, enquadrei e disparei, quase não tendo tempo de regular a luz, não fosse o miúdo ser mais rápido do que eu. E já que estava com a máquina na mão, aproveitei para completar a colecção de imagens de Carmona com esta piscina. Desloquei-me até à extremidade, para fotografá-la em toda a extensão. Depois, voltei para junto dos meus companheiros.

       
 
Piscina de Carmona. Clicar para ver imagens de Carmona.
 
       

— Já tenho as imagens necessárias. Mas ainda não estou satisfeito.

— Então porquê, alferes? — perguntou o senhor Sílvio, com receio de que se tivesse esquecido de me mostrar alguma coisa.

— Não seria melhor tirarmos uma fotografia a nós mesmos, para recordação deste dia?

— Por mim tudo bem, alferes. — disse o senhor Sílvio — E onde acha melhor?

— Temos ali aquele recanto agradável para os miúdos. — disse o senhor Amândio.

— Onde?

— Ali, alferes. Temos o escorrega. Podemo-nos sentar ali. E quem vai tirar a fotografia, alferes? Para ficarmos juntos, vai ter de arranjar alguém.

— Ninguém, senhor Amândio. Não é preciso ninguém.

— Ninguém? A máquina trabalha sozinha?

— Sim, senhor Amândio. Coloca-se a máquina ali, em cima daquele bloco de cimento. Faço o enquadramento e regulo a máquina. Depois ponho o disparador automático a funcionar. É só dar uma corridinha para me sentar no meio de vós e esperar que a máquina dispare. Sentem-se lá e deixem um lugar no meio, que eu vou regular a máquina.

— Nós vamos ficar com uma cópia? — perguntou o senhor Amândio.

— Bem, isso é que me parece que vai ser um bocado difícil.

— Porquê, alferes?

— Porque não são fotografias. São «slides». Depois de acabado o rolo, tenho de o meter na saqueta respectiva e mandar para a África do Sul para revelar. São uns quinze dias ou mais de espera. E depois não há ninguém em Angola que faça fotografias a partir de diapositivos. Só se for na metrópole. E mesmo assim é um bocado difícil. Pode ser que, um dia mais tarde, não sei quando, as imagens vos cheguem às mãos.

— Quando, alferes? — perguntou o senhor Sílvio.

— Essa é uma pergunta para a qual não sei a resposta. Pode ser que façamos ainda alguma sessão de «slides» em Quimbele. Depois verão as imagens. A menos que eu mande os diapositivos, depois de revelados, para a metrópole. Peço ao meu pai para ver se consegue que alguém faça as fotografias a partir dos diapositivos. Mas é coisa que não posso garantir. Não sei se isso será viável...

— Senhor alferes, temos de andar, se quisermos ir ao Negage.

— Estou aqui a pensar, senhor Sílvio, que talvez não o possa acompanhar. Ficámos de nos encontrar todos na entrada do hotel, antes do jogo de logo.

— Isso não é problema, alferes! — disse o senhor Amândio. — Eu não vou ao Negage. Aproveite o alferes a boleia. Faz companhia ao Sílvio e fica com uma ideia dessa cidade.

— E o pessoal?

— Isso não é problema, alferes. Estou cá eu. Eu fico cá e vou ter com o pessoal. O alferes e o Sílvio poderão ir directamente para o pavilhão de jogos.

— A ida ao Negage é rápida. — disse o senhor Sílvio. — A estrada é boa e faz-se num instante. Estaremos cá muito antes do jogo.

— Não precisam de estar preocupados. — reforçou o senhor Amândio. — Eu vou com a malta. Até porque vou ter de dar boleia ao pessoal. No meu carro, cabemos seis à vontade. E como há muitos carros, ninguém fica a pé. Vão descansados e aproveitem bem o resto da tarde.

Deixámos o senhor Amândio na praceta com o busto de Ricardo de Matos Gaspar, porque viera connosco no carro do senhor Sílvio, e seguimos para o Negage.

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