A imaginação

Por falar em imaginação, será que os pais alguma vez reflectiram acerca do verdadeiro significado desta palavra? Em tempos, dei-me ao trabalho de consultar uma enciclopédia. Foi isto há já muito tempo! Muito antes de ter ido para Santa Margarida e de ter embarcado para Luanda. Estava então no Regimento de Infantaria N.º 15 de Tomar, o R. I. 15, como habitualmente o designamos. Não sei se alguma vez evoquei este episódio em aerogramas anteriores. Também não posso agora verificar quando isto ocorreu. Melhor dizendo, até poderia, se me desse ao trabalho de ir procurar a agenda do ano passado, que está bem perto de mim, na arca que comprei aqui em Quimbele. Teria de tirar as almofadas que coloquei sobre ela, para servir de uma espécie de sofá onde os meus camaradas se sentam, quando vêm para aqui fazer-me companhia e conversar. Teria de procurar a chave do aloquete, abri-lo, levantar a tampa e procurar a agenda. Demasiado trabalho para uma coisa de reduzida importância, porque não é preciso sermos tão miudinhos com as datas. Por isso, vamos directos à nossa reflexão.

Para situarmos o acontecimento no respectivo contexto, bastará dizer que fui indigitado para fazer uma palestra para todos os oficiais e sargentos do R.I. 15. Durante a semana em que o comandante me dispensou de todas as actividades para me preparar, passei a maior parte do tempo na biblioteca do quartel. Por sinal, uma excelente biblioteca! Além de moderna e confortável, com um ambiente agradável e convidativo à leitura, está bem dotada de documentação de natureza militar. Mas não só! Além de revistas e de livros de natureza militar, possui também bons livros de autores consagrados. E, numa das estantes, deparei com uma colecção completa de uma moderna enciclopédia portuguesa.

Não posso agora precisar qual o motivo que me levou a pegar na enciclopédia. Nem o que me levou a efectuar determinada consulta. Mas que ele surgiu, surgiu! E por isso me dei ao trabalho de consultar a entrada relativa à palavra «imaginação». Sabiam que na sua raiz está o vocábulo IMAGO, que contém o mesmo elemento que surge nas palavras imagem, imaginação, magia, magicar, etc.? Sempre o mesmo elemento relacionado com o universo das imagens, um universo que, desde miúdo, sempre me fascinou. Não é por acaso que sempre gostei de documentar tudo quanto observo ou vivo com fotografias ou com desenhos.

Relativamente à palavra «imaginação», encontrei uma definição que não posso transcrever ipsis verbis, porque não a copiei para nenhum dos meus verbetes, daqueles onde tenho todo o meu pessoal registado e onde tenho vindo a criar o meu consultório médico para as emergências, quando não tenho o médico na minha companhia. Não posso aqui transcrever-vos a definição, mas posso transmitir-vos as ideias respectivas, que me ficaram armazenadas na memória. Imaginação, de acordo com a definição que encontrei, é a faculdade que o nosso cérebro tem de armazenar imagens de todos os tipos, sejam elas visuais, olfactivas ou relacionadas com os restantes sentidos, ou até mesmo com uma simbiose destes, produzindo aquilo que habitualmente designamos por sinestesias. Além disto, apresenta ainda um outro conceito muito mais amplo: o de recuperação das vivências antigas, ou seja, graças à nossa imaginação é possível recuperarmos e voltarmos a viver situações passadas. E é também a faculdade que o nosso cérebro tem de recombinar impressões registadas e recriar ou até mesmo antecipar outras situações ou experiências nunca antes vividas. É ela que nos permite recriar aqueles universos fantásticos que encontramos, por exemplo, nos romances de ficção científica. É ela ainda que permite que os nossos escritores escrevam os romances, recriando situações perfeitamente verosímeis, tão verosímeis que chegamos a pensar que certas situações são mais reais do que outras que realmente o foram.

Poderia agora referir, se tivesse tomado nota, os diferentes conceitos segundo Aristóteles, Platão e muitos outros filósofos, inclusive grandes nomes do nosso tempo.

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