Manhã ocupada |
O dia dois amanheceu com boas perspectivas meteorológicas. Logo de manhã, para celebrar um belo amanhecer com sol radioso, o capitão teve uma excelente ideia: — Sabem o que vou mandar fazer, para começarmos bem o dia? — Não! O capitão ainda não disse. — Vai reforçar-nos o pequeno-almoço? — alvitrou o Vieira. — Não. Muito melhor do que isso. — Diga lá o que é, capitão. Estamos todos curiosos com o que vai daí sair. Não vamos ter a operação? — perguntei eu, já a pensar que a operação não se fazia. — Vou dar uma ajuda ao Ulisses. — Dar uma ajuda ao Ulisses? Como é que o capitão me vai ajudar? Vai anular a operação? — Não querias mais nada? — Então é o quê? — Em Quimbele, preocupaste-te com a nossa comodidade na mata. E eu acabo de ter uma ideia melhor, que nos vai tornar mais saborosas, pelos menos, as refeições do primeiro dia. — Como é isso possível, Capitão? Trouxeram de Quimbele algumas rações de novo tipo? — perguntou o Vieira. — Não! Nós é que as vamos arranjar! Ficámos todos surpreendidos, à espera do que ia sair da brilhante cabeça do três tiras. — Como é que o nosso capitão vai conseguir isso? — perguntou o enquadrante Francisco, também ele cheio de curiosidade. — É fácil, pessoal. Vamos reforçar as rações de combate com uma ementa especial. Um ementa diferente. Pelo menos para o primeiro dia. Aqui o nosso furriel vagomestre vai arranjar o material e dar as ordens aos cozinheiros. Além do almoço, vai mandar fazer duzentos bolos de bacalhau e cinquenta iscas de bacalhau. A seguir ao almoço, tem de estar tudo pronto. Antes de arrancarmos para o Quitari, o pessoal que vai na operação forma aqui, em frente ao comando, e faz-se a distribuição. Como podem calcular, a ideia do capitão agradou e foi rigorosamente cumprida. Durante a parte da manhã, andei com os meus camaradas pelo destacamento, não só para conversarmos e melhor passarmos o tempo, mas sobretudo para acompanhar e ir provando o resultado do trabalho dos nossos cozinheiros. Devido à quantidade de bolos e iscas, tivemos de reforçar o pessoal da cozinha, porque havia mais do que uma actividade em simultâneo: confeccionar o almoço, actividade que é habitual, e preparar e fritar os bolos de bacalhau e as iscas e dispor tudo em tabuleiros. Foi uma manhã bem ocupada, com um sol brilhante num céu azul e sem sombra de nuvens. O inesperado desta actividade fora do normal e o cheiro dos fritos por uma vasta zona à volta da cozinha, que entraria certamente pelas portas abertas das casernas, atraiu vários curiosos, que observavam o trabalho e procuravam conseguir algumas provas do petisco. À hora do almoço, reinava uma certa agitação no destacamento. Em frente ao edifício do comando, o grupo GE, comandado pelo chefe Simão, aguardava a partida. Em vez de virem à hora marcada, chegaram com mais de duas horas de antecedência. Complicaram o almoço e sobrecarregaram o pessoal da cozinha, porque o Capitão deu ordens para que se juntassem ao pessoal no refeitório. |