Pequeno-almoço estragado |
A minha operação começou bem cedo, na manhã de segunda-feira, sem necessidade de mata e de turras. A minha operação começou no gabinete do capitão. Foi precisamente aqui que ocorreu o meu primeiro contratempo, que me tem vindo a moer psicologicamente e a lembrar-me, por contraste, os momentos felizes e descontraídos passados na Quimabaca, no meio de nativos e da miudagem com quem, de vez em quando, costumava brincar e ir tomar banho ao riacho. — Afinal, o que é que se passou, rapaz? Desembucha! Começas a deixar-nos, também a nós, nervosos e receosos. O que é que te aconteceu no gabinete do capitão? Ainda se lembram da minha conversa com o médico, em que falei do capitão e disse o que pensava? Parece-me bem que o médico não tem razão em defender o capitão. Parece-me bem que as minhas fracas impressões têm razão de ser. Ou eu muito me engano, ou o capitão saiu-me mesmo aquilo que penso dele. E se é verdade o que penso, penso que fui já enrolado por ele. Hei de averiguar tudo e verificar se as minhas suspeitas se confirmam ou não. Doutro modo, não conseguirei reencontrar a minha serenidade, a minha habitual despreocupação e alegria de viver. Se há coisa que mais me irrita, que mais me desagrada, que mais me moa, é a falta de verticalidade, de lisura, de honestidade das pessoas! Durante o pequeno-almoço, o capitão comunicou-me que precisava de falar comigo. Além de revermos a planificação da acção, tinha uns assuntos pendentes, à espera da minha assinatura. Ouvi a ordem e fiquei, como costuma dizer-se, com o bichinho atrás da orelha, por causa dos assuntos pendentes a precisarem da minha assinatura. Que raio estaria pendente, à espera das assinaturas, quando eu fui o único alferes que esteve sempre afastado da sede da Companhia? Por que razão eu, que andei sempre longe, e não os que estiveram sempre junto dele? Estes assuntos pendentes a requererem assinaturas, se não me azedaram o café com leite, tiraram-me a vontade da habitual cavaqueira dos pequenos-almoços. |