Visitas nativas no quartel |
A visita à Cabaca levou poucos minutos. A maior parte dos GEs andava na mata, numa operação na zona, comandada pelo chefe Simão. Encontrei apenas alguns elementos do grupo, a quem deixei o recado, para ser transmitido ao chefe, de que voltaria ali dentro de dois ou três dias, mas mais provavelmente no próximo Domingo, durante o período da manhã.
Pouco depois, estava de novo no quartel. Ao descer da viatura, novamente o soldado de há pouco se mete comigo:
— Então o meu alferes vai carregado com a máquina e acaba por não tirar retratos?!
— Dá tempo ao tempo. Ainda a procissão não saiu da igreja! Com dois anos pela frente, não nos hão-de faltar oportunidades.
Era ainda cedo para o almoço. Sentei-me na nossa esplanada improvisada na conversa com dois furriéis e alguns soldados.
— Meu alferes, olhe para ali. — diz um elemento do grupo a meio de uma conversa.
Olho na direcção indicada. Da mata, na extremidade do quartel e na picada que vai para a Cabaca e a Camuanga, surge um grupo de nativos esverdeados. Passam pela nossa frente, junto ao arame farpado. Chegam à porta do destacamento e param. Um deles grita na nossa direcção:
— Meu alferis, dá licença?
Mando avançar. São quatro indivíduos de cor com fardas verdes iguais às nossas. Dois trazem farda de serviço; os outros vêm de camuflado. Reconheço a cara de dois deles. Fazem parte do grupo GE e vêm armados com granadas, presas à cintura, e G3. Os dois elementos desconhecidos são-me apresentados por um dos GEs.
— Mê alferis, o Jaime e o André, filhos do soba da Camuanga, trazem comprimentos e prenda p'ra meu alferis.
O Jaime e o André aproximam-se e cumprimentam-me. O Jaime traz uma pele de jibóia, que começa a desenrolar. Liberta-se um cheiro desagradável, que me faz irritar o nariz. A pele continua a ser desenrolada e parece nunca mais acabar. São uns cinco metros de comprimento bem medidos e uma largura considerável. Agradeço a oferta e convido as visitas para tomarem umas bebidas e almoçarem connosco no quartel.
É quase meio-dia. As visitas são tratadas com toda a amizade e respeito.
— Está quase na hora do almoço. Vocês vão comer aqui connosco, para conversarmos. Mas antes vão esperar um pouco. Vou ao meu gabinete buscar a máquina fotográfica, para registar este momento.
Entro no edifício do comando, vou ao meu gabinete e quarto, pego na máquina e falo com os furriéis que estavam esticados sobre as camas.
— Agradeço que venham comigo até à entrada do edifício, para tirarmos uma fotografia com os filhos do soba da Camuanga e dois GEs que os acompanharam. Vão almoçar aqui connosco, depois de tomarmos umas bebidas.
— Eu tiro a fotografia — oferece-se imediatamente o Rodrigues. Só agradeço que me regule a máquina, porque é demasiado complicada para mim.
— Vamos à fotografia! — digo aos furriéis e aos quatro visitantes.
— Somos demasiados para cabermos na máquina! — diz o Ramalho, talvez ainda amuado pelo raspanete que lhe dei pela manhã. O Donato vai para o grupo, para ficar com o alferes.
— Atenção, pessoal — diz o Rodrigues — vai sair o passarinho.
— Então, tirámos ou não uma fotografia? — perguntei ao furriel que me acompanhara de manhã à Cabaca. Há pouco, um soldado gozara comigo por andar carregado e não tirar nada. Afinal, acabou mesmo por se proporcionar uma fotografia interessante.
De facto, não acabei o dia sem tirar mais duas fotografias durante a ida para Quimbele, logo depois do almoço. A primeira foi à sanzala de Quiúfua, onde parei uns minutos para conhecer a população e cumprimentar as pessoas mais idosas; a segunda foi em Quimbele, ao conjunto de edifícios no centro do qual se encontra a messe de oficiais.
A noite foi passada no Briosa Bar, pertencente a um indivíduo de Mira, localidade entre Aveiro e Figueira da Foz. E sabem o que fizemos neste café, depois do jantar e até altas horas? Uma jogada ao póquer de dados, como é habitual? Um bate-papo acerca de tudo e de nada? Não! Ocupámos a noite a ouvir fados de Coimbra e a comer ginguba, ao mesmo tempo que saboreávamos uns finos!
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