Reconhecimento da situação

Olho em frente. Na areia do chão, alisada pela chuvada da véspera, entre a entrada e o morro para onde disparámos, parece vislumbrar-se qualquer coisa como um rasto. Parece-me não haver qualquer perigo. Com uma certa cautela, saio do abrigo. Na orla da floresta, uma manhã avermelhada dá-nos a sensação que a mata pegou fogo. Pouco depois, uma imensa bola dourada começa a aparecer no horizonte, por sobre a copa das árvores.

— É preciso ir bater o terreno. Necessito de voluntários para irem comigo.

Sai todo o pessoal do abrigo e vem para junto de mim.

Não é preciso toda a gente. Basta que me acompanhem dois. Vamos dar a volta a toda a área e procurar vestígios.

— Alferes, olhe ali, junto à entrada diz-me o soldado que estivera de sentinela. Está a ver? Tinha razão quando disparei para o portão. Olhe aqui as pegadas. São pelo menos dois homens. Um está descalço e o outro tem botas de lona com desenho igual ao das nossas.

— Às tantas eram GEs ou pessoal das sanzalas que vinha para o destacamento — alvitrei eu.

— Às duas da manhã, alferes? Não pode ser. Se fossem conhecidos, tinham gritado e tinham-se identificado.

— Talvez tenhas razão! Este foi pessoal que tentou a entrada da primeira vez pelo lado das cozinhas, quando a sentinela disparou à uma da manhã. Depois deixaram acalmar e tentaram a aproximação pelo lado oposto, pensando que do lado do portão e do campo de futebol a vigilância seria menor.

— Alferes, é melhor seguirmos o rasto. Ele vem do lado da pista, pára aqui, junto ao portão, e segue depois para o morro em frente ao comando.

— Tens razão! Vamos segui-lo.

— E se está alguém ainda escondido? — pergunta um soldado.

— Não me parece que lá esteja alguém. Olhem o rasto na areia. Segue do morro em direcção ao trilho da água.

De facto, eram claramente visíveis, na areia lisa do chão, marcas de pés e de botas. Junto do começo do trilho que leva à linha de água onde nos abastecemos, havia várias pegadas. Dir-se-ia que tinham parado ali várias pessoas. Depois, o rasto subdividia-se em duas direcções, uma das quais seguimos, tomando o percurso habitual da viatura quando vamos à água.

Já o Sol ia bem lá no alto, eram umas dez da manhã, quando regressámos ao aquartelamento. A vida retomara a rotina. Nós os três, que saíramos a bater a zona é que ainda estávamos de estômagos vazios. Fomos à cantina buscar pão, que recheámos com queijo, e umas cervejas. Para mais, tinha acabado de chegar uma fornada e o pão ainda estava a ferver. Nem era preciso o queijo. Só com manteiga, derretida pelo calor do miolo, já seria um petisco de lamber os beiços.

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