O plano de defesa

O meu plano de defesa é constituído pelo mapa que elaborei, no qual se encontram indicados os abrigos e características de defesa, e por quatro folhas A4 manuscritas, iniciadas por uma breve introdução. Para terem uma ideia do seu conteúdo e porque, sem o mapa, o que se diz não nos traz qualquer perigo, passo a transcrever:

«Para segurança do pessoal estacionado no destacamento do Alto Zaza, eu, alferes Ulisses, estabeleci o presente plano de defesa, cingindo-me a dois aspectos fundamentais: segurança imediata e segurança próxima. Para maior facilidade na elaboração deste plano, comecei por fazer um esboço de todo o destacamento, no qual estão assinalados os diferentes abrigos, bem como os edifícios de comando e casernas, refeitório, cozinha, forno e tendas de campanha.» E remeto para o anexo, que é a planta do local na escala 1:500.

Segue-se a parte I, relativa à segurança imediata, em que são abordados os seguintes aspectos, distribuídos por diferentes parágrafos:

1º - vigilância durante o dia; sentinelas durante a noite; locais de sentinela; cinco turnos rigorosamente distribuídos; sistema de rendição, de tal modo que nunca haja nenhum momento morto de vigilância; locais por onde o pessoal da rendição deverá circular durante a noite, de modo a reduzir as probabilidades de ser visto de fora, especialmente em noites de luar; rondas de controlo pelo sargento e cabo de dia, para que não haja descuidos na vigilância.

2º - O problema da iluminação;

3º - Sistema de alarme e estratégias adoptadas para que, em caso de ataque, o próprio inimigo accione os dispositivos que imaginei e que coloquei em substituição dos projectores, que estão inoperacionais por avaria do gerador.

4º - Atitudes a assumir em caso de ataque, com uma distribuição rigorosa de todos os elementos pelos abrigos disseminados em pontos estratégicos do terreno. O esquema está de tal modo elaborado que cada abrigo tem um responsável pelo comando e segurança do grupo; e cada um, graduado ou soldado, sabe para onde deverá correr.

Na parte II, é abordado o problema da segurança próxima. Como aqui não há qualquer hipótese de risco para nós, posso voltar à transcrição ipsis verbis do conteúdo:

«A segurança próxima é conseguida mediante a realização de patru-lhas frequentes na área em redor do aquartelamento, com especial atenção nas matas existentes a distância relativamente pequena das nossas instalações. São também patrulhadas as zonas de abastecimento de água e as depressões de terreno existentes por detrás do destacamento, ao longo da pista de aviação e para lá da picada situada do lado da cozinha.

São igualmente feitas, com regularidade, patrulhas auto nas povoações do Alto Zaza, especialmente entre o Alto Zaza e Cabaca e Alto Zaza e Cabula Calonge.»

Devo aqui acrescentar que a regularidade de que se fala é uma regularidade bastante irregular. Isto que acabo de dizer pode parecer um grande disparate, mas não o é. O que pretendo dizer é que estas operações de patrulhamento não têm dias, nem intervalos certos, nem zonas certas, para manter o factor surpresa e, sobretudo, para evitar o perigo de alguma espera desagradável. Toda a emboscada, por muito primitiva e mal organizada que seja, acaba sempre por fazer vítimas, o que não seria nada agradável para nós.

O plano acaba com um parágrafo muito curto relativo à segurança afastada, que não me compete a mim definir, mas sim às hierarquias superiores: os comandantes de companhia e de batalhão. Daí que apenas me limite a dizer: «III - Segurança afastada - Este tipo de segurança é obtido com a actividade operacional normal de cada mês, constante do P.A.O.», ou seja, o Plano de Acção Operacional.

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