Óptimas esferográficas

Estou abismado com a quantidade de palavras que jorram da esferográfica. Nunca imaginei que, estando no meio do mato, de uma simples vareta plástica, munida de uma tão minúscula esfera na extremidade, pudessem sair tantas palavras sobre um tópico. A esta hora, se os pais conseguiram chegar até aqui na leitura, devem estar saturados de defesa e de planos. E olhando para o número de aerogramas -- que já vai na bela quantia de dez, devidamente numerados e escritos com letra miudinha -- devem estar a perguntar e a dizer um ao outro: « Quando é que o nosso filho passa aos tópicos seguintes? E como é que consegue escrever tanto? Pelo menos, enquanto formos recebendo toda esta correspondência, sabemos que está de perfeita saúde e mantém a dinâmica e boa disposição habituais.»

Acho que têm toda a razão se pensarem isto. Mas a culpa não é só minha. É destas óptimas esferográficas, que deslizam tão rapidamente como numa auto-estrada e com um reduzido consumo aos cem, isto é, às cem linhas. E, depois, não se esqueçam que o nosso pior inimigo é o tempo e as saudades de casa. Deste modo, estou em amena conversa convosco e esqueço-me, por momentos, que estou a mais de oito mil quilómetros, aqui enfiado no meio do mato, longe de amigos e da civilização.

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