Desembarque em Luanda

Se olhei para o relógio ou não no momento da aterragem, sinceramente que não me lembro. Mas deviam ser 8 da manhã quando as rodas tocaram o asfalto da pista. Foi um aterragem perfeitamente normal, que deu a todos nós uma grande sensação de alívio. Tínhamos chegado. Embora todos saibamos que nunca nenhum avião lá fica em cima, não deixa de ser reconfortante sentir as rodas tocarem no solo e vermos o aparelho, após uma travagem em que nos sentimos atirados para a frente, a dirigir-se para o local de desembarque. Desapertámos os cintos de segurança, que colocáramos minutos antes da aproximação à pista. Começámos a tirar as bagagens de mão. Em breve o avião parava na zona de desembarque e abria-se a porta na cauda do aparelho. Assim que a porta se abriu, sentiu-se uma onda de calor, que parecia assaltar de repente o aparelho e percorrer todo o corredor central. Foi como se a tampa de um forno de pão se tivesse aberto de repente e de lá saísse uma língua de fogo. De tal modo esta brusca transição de temperatura me afectou, que fiquei com a garganta completamente seca e a língua colada ao céu da boca.

Começámos a sair ordeiramente, em fila. Mesmo junto à porta, antes de passar para as escadas encostadas ao bojo do aparelho, reparo num depósito de água fresca com copos de plástico enfiados uns nos outros. Instintivamente, agarrei bruscamente num copo e enchi-o. Bebi toda a água de um trago e, com uma agradável sensação de alívio, que deve ter sido notada por todos os que me seguiam, voltei a repetir a operação, interrompendo a saída do aparelho.

Tudo se passou em fracções de segundo. Refrescadas as entranhas, pensei que iria receber um raspanete do resto do pessoal por ter atrasado a saída. Para meu espanto, o meu gesto foi fielmente repetido por todos os que me seguiam. Em poucos segundos tinham-se esgotado os copos de plástico, pelo que os existentes eram rapidamente passados por água quando o eram e utilizados pelo restante pessoal.

Apesar do desembarque ter sido ligeiramente mais demorado do que o previsto, toda a gente abandonou ordeiramente o avião e se dirigiu para a zona de recepção, seguindo as instruções dos que nos aguardavam.

Na aerogare, na zona pública, vimo-nos subitamente rodeados por bandos de miúdos de cor de chocolate e carapinha, que pedinchavam à nossa volta e se ofereciam para ajudar a transportar sacos e malas. Lá fora, uma fila de camiões do exército aguardava os «maçaricos» acabados de chegar da metrópole.

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