Biblioteca / Centro de Recursos Educativos da Escola Secundária José Estêvão - Aveiro.
 

Recursos Audiovisuais


    

Uma possível classificação taxonómica

Efectuar uma classificação tipológica do que quer que seja é sempre uma tarefa arriscada, susceptível de originar críticas e pontos de vista diferen­tes. Mas, no caso específico dos meios audiovisuais, não deixa de ter grandes vantagens, permitindo-nos uma listagem, se não de todos, pelo menos de quase todos os meios actualmente existentes. E dizemos de quase todos, porque há os que, pela sua grandeza, complexidade técnica e elevado custo, só são viáveis a nível de grandes organizações e realizações. Por exemplo, um planetário não deixa de ser um meio audiovisual de representação do universo. No entanto, o seu elevado custo e especificidade só o tornam viável num centro especialmente criado para o efeito. E quem diz um planetário, diz igualmente as sofisticadíssimas técnicas audiovisuais utilizadas em certos centros culturais ou em exposições ocasionais de carácter univer­sal, como tivemos oportunidade de ver em alguns pavilhões da recente Exposição Universal de Sevilha de 1992[1].

A nível do ensino e atendendo às precárias situações mate­riais em que, por vezes, este é ministrado, teremos de nos limitar aos meios mais acessí­veis, quer do ponto de vista econó­mico, quer do da sua facilidade de utilização. Caberá aos profes­sores organizar visitas de estudo e levar os seus alunos ao contacto com esses centros de formação e divulgação científica, onde meios altamente caros e sofisticados estarão à sua disposição como forma de acesso a determinados conhecimentos.

Antes de efectuarmos uma classificação tipológica dos meios audiovi­suais, convirá reflectir um pouco acerca do que se entende precisamente por esta expressão: «meios ou métodos audiovisuais». Geralmente costuma-se utilizar as palavras «meio» e «método» com sentidos diferentes. Costumamos associar a palavra método a estratégias, designando através dela um `conjunto de procedimen­tos que servem para ensinar ou aprender alguma coisa'. Também a designação audiovisual apresenta do ponto de vista semântico uma certa flutuação de sentidos, aparecendo muitas vezes como uma forma de designação dos «mass media» - rádio e televisão - e, outras vezes, com o sentido de ensino através da rádio ou da televisão. A consulta de obras diversas mostra-nos diferentes sentidos, de acordo também com as épocas, para o termo audiovisual. Em algumas enciclopédias mais antigas, audiovisual é explicado como tratando-se de um método de ensino fundado na sensibilidade visual e auditiva das crianças, sendo uma forma de ensino baseada sobretudo na apresentação de imagens ou de filmes. E enciclopédias mais antigas excluem mesmo os meios sonoros, tais como a rádio, o gravador e o gira-discos, correspondendo a parte auditiva às explicações e comentários dos professores. Posteriormente, obras de psicologia consideram que os meios audiovisuais não são um método, mas um conjunto de meios. Por exemplo, no Vocabulaire de la Psychologie de Piéron, de 1957, por audiovisual entende-se um conjunto de meios, englobando «todos os processos de educação e de informação baseados nas descobertas modernas de reprodução das imagens e dos sons e, mais especificamente, o cinema e a televisão, o magnetofone e a rádio». Se a definição fosse formulada actualmente, também entrariam certamente nela os modernos meios que têm por base as tecnologias de ponta, desde os sistemas de vídeo e de disco compacto até aos meios informáticos ou informatizados. Vemos que a designação audiovisual se torna bastante ampla, para englobar praticamente tudo, não ficando de fora o meio mais antigo utilizado pelo Homem: o do recurso ao desenho e à pintura como forma de comunicação. Assim, as pinturas rupestres são já uma forma de comunicação audiovisual; e o tradicional quadro preto, que ainda hoje presta um relevante e indispensável serviço, é igualmente um meio audiovisual ao serviço do professor.

 

Quadro com uma classificação tipológica dos diferentes meios audiovisuais actualmente disponíveis.  


No nosso caso, iremos então utilizar a palavra audiovisual em mais do que um sentido: num sentido amplo e num sentido restrito.

Num sentido amplo e relativamente ao ensino, por métodos ou meios audiovisuais designaremos tudo aquilo que pode facilitar as actividades docente e discente por intermédio dos sentidos auditivo e visual, independentemente um do outro. No sentido restrito do termo, iremos empregar a palavra audiovisual para designar todos os meios que utilizam simultaneamente os dois sentidos, juntando a imagem ao som, sem necessidade de quaisquer  comentários do professor. Com base nestes dois sentidos da palavra audiovisual, poderemos efectuar um levantamento dos meios audiovisuais disponíveis elaborando a sua classificação tipológica com base apenas no som ou na imagem (sentido lato do termo) ou na utilização simultânea dos dois sentidos (sentido restrito), o que nos permitirá obter um quadro idêntico ao da figura.

Analisando o quadro, verificamos que os meios audiovisuais indicados se encontram distribuídos por três classes ou grupos:

                                                1 - Meios visuais;

                                                2 - Meios auditivos;

                                                3 - Meios audiovisuais.

 

Englobamos na designação visuais todos aqueles que têm como principal suporte a imagem, cabendo ao professor ou animador do grupo comentar aquilo que se observa e ajudando os alunos ou participantes a dela extrair informações e conclusões. E, dentro dos meios estritamente visuais, efectuámos ainda uma subdivisão, tendo em conta o seu grau de complexidade. Ninguém terá dúvidas em considerar um quadro e um retroprojector como dois meios visuais, como também ninguém os colocará no mesmo plano de facilidade de utilização. As condições de utilização de um quadro, que também tem as suas regras (que nem todos conhecem) e de um retroprojector são completamente diferentes. O primeiro, à partida, não levanta qualquer problema de utilização; o segundo dá já que pensar a quem o for utilizar sobre se o deve ou não empregar, podendo mesmo gerar alguns receios e colocar algumas dificuldades. O primeiro é visto como um elemento passivo, que nunca levantará problemas; o segundo é visto já como uma máquina e, como tal, como um elemento activo, como um elemento com alguma complexidade, susceptível de criar algumas situações imprevistas e exigindo algumas competências e diligências por parte de quem o for utilizar.

Dentro dos meios visuais, em elevado número, incluem-se, por um lado, todos os que constituem instrumentos simples de utilização, por outro, todos os que poderemos englobar sob a designação de máquinas, aparelhos mais ou menos complexos, constituídos por diversos mecanismos, exigindo energia eléctrica e determinadas condições de utilização, não podendo funcionar sem a existência do software adequado contendo a necessária informação. São todos eles constituídos por máquinas que poderemos designar pela moderna palavra de origem inglesa, tão divulgada nos últimos anos pelos meios informáticos, que dá pelo nome de hardware, tendo por base um sistema óptico de projecção de imagens.

Temos, de um lado, meios visuais simples, tais como o quadro, com todas as suas variedades, os posters e os cartazes, os mapas e os gráficos, as fotografias e os postais ilustrados, o jornal de parede e a banda desenhada; do outro lado, os meios visuais complexos, baseados na projecção de imagens sobre um ecrã, tais como o cinema, o retroprojector e o retrodiascópio, o episcópio e o epidiascópio, o taquiscópio e o adiscópio, o diascópio e o triscópio ou xermascópio e, finalmente, o magnabyte[2], que colocámos separado dos outros meios, porque não o podemos considerar como uma máquina de projecção, mas sim  como um acessório sofisticado que permite conciliar o retroprojector com o computador.

 Como meios sonoros ou auditivos, consideramos todos aqueles que têm como suporte unicamente o som, quer se trate ou não da voz humana, quer de sons musicais ou não. Temos, então, dentro desta classe, o rádio, o gira-discos, o leitor de discos compac­tos e os gravadores de bobina ou de cassete.

O terceiro grupo ou classe, que designamos por audiovisuais no sentido restrito do termo, inclui todos aqueles meios que conjugam, simultaneamente, a imagem e o som (áudio + visuais = som + imagens). Nele incluímos a televisão, com todas as suas modernas variantes, o cinema sonoro, de utilização cada vez menos frequente, o diaporama e o videoprojector. À semelhança do que fizemos relativamente ao magnabyte, colocamos o videoprojector isoladamente, pois este é também um meio sofisticado de conciliar a projecção, à semelhança do cinema, com a televisão, com o vídeo e ainda com os meios informáticos[3].

Na parte inferior do quadrado da figura, colocámos isoladamente os meios informáticos e os meios informatizados. Esta classificação poderá suscitar algumas divergências. Mas uma reflexão mais cuidada acerca das potencialidades do computador levar-nos-á seguramente a considerá-lo como um meio audiovisual, na verdadeira acepção do termo, dotado de inúmeras potencialidades, infelizmente ainda mal exploradas, apesar dos últimos projectos educativos realizados no nosso País, tendo em vista a sua inserção e divulgação junto dos profissionais do ensino. É que os técnicos da informática, os programadores, geralmente, apenas conseguem equacionar o computador como uma máquina de cálculo, como uma máquina de arquivo de dados, de tratamento e processamento de textos e imagens, esquecendo certas vertentes que a poderiam tornar num extraordinário e potencial auxiliar da missão educativa, transformando-a num poderosíssimo meio audiovisual, versátil e polivalente, funcionando ao lado do professor e dos alunos como um "inteligente" ajudante. E que extraordinária ajuda poderia esta máquina dar no ensino das línguas vivas, não se limitando à vulgar e pouco prestável utilização que lhe tem vindo a ser dada, utilizando-a apenas como base de dados e como meio de processamento e criação textual. Uma máquina com potencialidades virtuais acaba, deste modo, por ter uma utilização muito restrita e de proveito bastante reduzido[4].  
In: Henrique J. C. de Oliveira, Meios audiovisuais e tecnológicos aplicados ao ensino, Aveiro, 1992, pp. 13-18. (edição limitada do autor). 

 


     [1] - Na Exposição Universal de Sevilha, realizada em 1992, os visitantes puderam ver, em diversos pavilhões, sofisticadíssimas técnicas audiovisuais, tais como gigantescos ecrãs hemisféricos, efeitos especiais obtidos com projecções de filmes em grande velocidade e com acentos móveis, dando ao espectador todas as sensações de movimento, filmes no formato Imax projectados em ecrãs horizontais de 500 metros quadrados, filmes com ecrãs de 360 graus,  rodeando por todos os lados os espectadores e fazendo-os sentir no meio das cenas, tal como se estivessem na realidade em pleno local, projecções tridimensionais, dando-nos a impressão das imagens saírem do ecrã e de podermos agarrar os objectos, etc. Para quem não teve a oportunidade de assistir às múltiplas técnicas audiovisuais patenteadas a todos os visitantes da exposição e que tenha a curiosidade de saber alguma coisa como eram, existem diversas revistas publicadas durante o período da exposição que nos dão conta dessas demonstrações do universo do audiovisual. A título exemplificativo e também por ser relativa­mente acessível, aconselha-se a leitura do artigo de JEAN  SEGURA, publicado na revista Sciences et Avenir, n.º 548, de Outubro de 1992, pp. 24-29.

     [2] - Magnabyte é a marca do aparelho. Mais correctamente, poderá ser designado por «data display» ou «data show», designações de origem inglesa com que habitualmente é conhecida esta interface que permite a conjunção do computador com o retroprojector.

     [3] - Poder-se-á dizer que o quadro da figura, ou seja, a classificação tipológica por nós elaborada, incorre no erro de juntar o hardware (as máquinas) com o software (os suportes da informação). De facto, se prestarmos atenção aos meios visuais e aos meios sonoros, apenas são indicados elementos referentes ao hardware, nada havendo a dizer a este respeito. Em contraparti­da, na parte referente aos meios audiovisuais (no sentido restrito), encontra­mos indicado o diaporama, termo que diz respeito não só ao software, mas sobretudo a uma técnica de apresentação da informação. 
           
A observação, teremos de concordar, está correcta; mas, mesmo assim, não invalida a utilidade do quadro elaborado, tanto mais que não é possível dissociar o hardware do software. Ter, por exemplo, uma cassete muito bem gravada sem termos o aparelho de leitura ou ter um bom aparelho sem cassetes para neles ouvir­mos é quase o mesmo que não ter nada, pois não poderão cumprir a função para que foram criados.

     [4] - Quando falamos de utilização restrita e de proveito bastante reduzido, afirmamo-lo tendo em conta todas as potencialidades do computador, das quais apenas uma ínfima parte é efectivamente explorada. No nosso caso pessoal, será necessário dizê-lo, o computador tornou-se já uma ferramenta de trabalho indispensável e com funções experimentadas, que permitiram verificar que pode assumir, em grau elevado, as funções de um meio audiovisual ao serviço do ensino das línguas. E neste preciso momento, foi a ferramenta de trabalho que nos permitiu, num tão curto espaço de tempo, redigir e digitar este trabalho com uma qualidade que nenhuma tradicional máquina de escrever permitiria. Sem ele, não teríamos este trabalho redigido com a qualidade gráfica e a facilidade de verificação textual permitida pela última versão do programa Wordperfect, cujo dicionário actualizado em língua portuguesa e constantemente aumentado por nós, controla a ortografia exacta de cada palavra. Já ninguém tem actualmente dúvidas de que o computador dá um grande apoio ao profissional do ensino, permitindo-lhe ter uma caderneta electrónica com todos os registos dos alunos, permitindo-lhe elaborar facilmente as actas das reuniões, as listas das turmas, os acetatos para as aulas, a criação de diapositivos e de legendas para as montagens audiovisuais, para já não falarmos da digitação e arquivo de textos, testes e fichas de trabalho... Mas ficam ainda muitas potencialidades por explorar e por nós já experimentadas com sucesso a nível do ensino. E se essas experiências, feitas há já alguns anos atrás com o rudimentar mas acessível computador Spectrum, foram marcadas pelo sucesso, o que não será agora, na década de 90, em que dispomos de sofisticadas e potentes máquinas?

 

 

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