Sobre a evolução e destinos da Emigração Portuguesa

 

I - INTRODUÇÃO

O interesse que o fenómeno emigratório português tem assumido nas últimas décadas, não apenas em relação ao volume global de partidas, mas igualmente ao de estudos que lhe têm sido dedicados, justifica a nossa atenção por esse movimento e a sua abordagem, não apenas na sua perspectiva evolutiva, mas de análise a nível regional.

Não nos devemos esquecer que nos situamos num dos distritos do país — Aveiro — que, a par das suas múltiplas potencialidades naturais e humanas, do seu forte crescimento demográfico e do seu dinamismo económico, é bem conhecido pela sua tradição emigratória.

Fig. 1: Gráfico referente à emigração oficial portuguesa entre 1908 e 1980.

Este facto, que poderíamos dizer ser comum há mais de um século a todo o NOROESTE PORTUGUÊS, foi extensivo, sobretudo nas duas últimas décadas, a outras regiões do pais, de onde resultou o «êxodo maciço», que caracterizou a emigração portuguesa da 2.ª metade da década de sessenta aos primeiros anos da de setenta. Disso são testemunho o milhão e quase duzentas mil saídas registadas entre 1965 e 1973, valor sem precedentes na nossa história.

Este período tem especial significado para nós, não só por ser o mais recente, mas também pelo número de partidas e pelos condicionalismos internos e externos que estão na base desta emigração.

Internamente, recordamos, entre outros aspectos: as estruturas sociais e económicas que caracterizavam sobretudo as áreas rurais, de onde partiram o maior número de emigrantes, a extrema fragmentação das parcelas rústicas, sobretudo nas regiões do NORTE e CENTRO do país, a baixa produtividade do sector agrícola, a fraca preparação e qualificação técnica dos empresários, a mecanização incipiente, a persistência de técnicas repetitivas tradicionais, alicerçadas num forte contingente de mão-de-obra, que tornavam extremamente frágil todo o sector primário. Recordamos ainda uma industrialização de carácter tradicional e de tecnologia pouco desenvolvida, concentrada em torno dos principais centros urbanos e incapaz de absorver os excedentes de mão-de-obra que, insatisfeitos com o sector primário, gradualmente dele se pretendiam desligar.

A este facto devemos ainda acrescentar o afrouxamento dos níveis de investimento, durante praticamente toda a década de sessenta, que causaram um retraimento na criação de novos empregos, sobretudo na indústria.

O sector terciário, embora crescente nas zonas urbanas e suburbanas, igualmente se mostrou incapaz de absorver os recém-chegados de áreas rurais que, nos grandes centros, se debatiam com grandes carências e séries dificuldades de alojamento e inserção social.

Ainda dentro deste contexto, a mobilização prolongada no serviço militar acabou por acelerar esta série de desequilíbrios, induzindo a fuga de muitos jovens que, ao serem desmobilizados, se debatiam com grandes dificuldades de emprego, ou mesmo antes de nele ingressarem, se decidiam por passar além fronteiras.

Quanto aos condicionalismos externos, o encerramento do canal tradicional, que era a emigração para o Brasil, e a abertura de novas perspectivas para a Europa, em plena fase de expansão e de recuperação económica, acabaram por aliciar um grande número de portugueses.

Como consequência deste facto e já que a consolidação de colonos nos territórios então sob dependência portuguesa não apresentou verdadeiros motivos de interesse, face aos altos salários e ao sucesso conseguido no estrangeiro, acabaram por agravar este quadro, a que só a crise energética de 1973/74 pôs cobro, em virtude das restrições e suspensão de emigração, impostas pelos países industrializados da Europa Ocidental e do continente Norte Americano.

Ainda durante este período, cujos alvores remontam ao início da década de cinquenta, processou-se a mais profunda alteração da corrente emigratória portuguesa, que de transoceânica passou a intra-europeia, com a França a substituir o Brasil no que concerne à admissão de novos emigrantes.

Assinale-se ainda o incremento que teve a emigração clandestina, particularmente desde os primeiros anos de sessenta e até 1975, em que se registaram, segundo os dados oficiais, mais de 600 000 partidas por esta via.

 

II — A EVOLUÇÃO DA CORRENTE EMIGRATÓRIA

Não nos parece no entanto possível compreender a emigração de hoje sem recuar alguns séculos e desvendar as razões mais profundas que estão na base destes movimentos.

Como assinala Magalhães Godinho (2), «O êxodo actual começou cinco séculos atrás» quando após a conquista de Ceuta (1415) e a colonização da Madeira (1425), os portugueses conheceram a Rota do Cabo para o Índico (1497) e mais tarde o Brasil (1500) (3) e para aí se transferiram soldados, comerciantes e outras populações do Reino. De tal modo que Garcia de Resende (1470-1536) anota a este respeito:

                   «Vimos muito espalhar
                   Portugueses no viver,
                   Brasil, ilhas povoar,
                   E às Índias ir morar,
                   Natureza lhes esquecer.» (4)

Uma das primeiras características deste movimento é, durante todo o ANTIGO REGIME (sécs. XVI, XVII, XVIII), determinado pelas necessidades decorrentes da colonização que as descobertas e a partilha das terras então conhecidas impunha, quer aos portugueses, quer aos restantes povos da Europa que participaram neste processo.

Assim, aos primeiros portugueses que temporária ou definitivamente foram deixando a metrópole e se radicaram além-mar, só em sentido raro, no dizer de JOEL SERRÃO (5) «podem ser considerados emigrantes» pois que «a sua tarefa inscrevia-se num contexto histórico nacional e também mundial de economia e de sociedade do antigo Regime.»

Daí a designação mais apropriada de «colonizadores», para os distinguir dos emigrantes que, noutro contexto sócio-económico — o do capitalismo industrial —, decidirem partir na «intenção de participar na vida do país de destino, quer por se considerar que este se caracteriza por maiores possibilidades de felicidade, de bem-estar ou liberdade, quer pela impossibilidade de viver digna ou livremente no país de origem» como escreveu SOUSA FRANCO (6).

De qualquer modo, o interesse manifestado pelos portugueses na colonização, no povoamento e na defesa das praças fortes da costa africana e, sobretudo, do Índico (onde se acolhiam sobretudo os comerciantes e os militares, além dos funcionários régios e do clero), cria enormes necessidades de mão-de-obra, compensada, no entanto, pela introdução de escravos africanos.

Daí que o desequilíbrio demográfico esboçado durante a primeira metade do século XVI seja notado pelo mesmo cronista de que já fizemos referência: GARCIA DE RESENDE (1470-1536), que não se inibe em nos dar o seguinte testemunho:

«Vemos no reino meter
Tantos cativos crescer
E irem-se os naturais
Que se assim for, serão mais
Eles que nós a meu ver.» (7)

Numa estimativa, MAGALHÃES GODINHO dá-nos conta de mais de 280 000 saídas, entre 1500 e 1580 — média anual de 3 500 emigrantes — valor que, nos sessenta anos seguintes da união dinástica com a Espanha, teria ultrapassado ou mesmo atingido as 360 000 — média de 6 000 saídas anuais (8) —, número extremamente elevado se nos lembrarmos que a população do reino, em 1527, andaria à volta dos 1 200 000 habitantes.

Mas, se bem nos recordarmos, a acção colonizadora dos portugueses não se limitou apenas ao continente africano e asiático, onde as praças de Ormuz, Goa e Malaca, no Oriente, eram consideradas os melhores portos de comércio das Índias Orientais, como os primeiros centros onde residia uma população de origem portuguesa, bastante considerável.

Também o Brasil, logo após a sua descoberta, passou a ser colonizado pelos portugueses, que nos primeiros anos se limitaram a divulgar um sistema de capitanias, que tinha mais a ver com a exploração do litoral do que com a penetração e valorização do interior. Mesmo assim, e sobretudo a partir dos meados do século XVI, a transferência do «eixo de política colonial do Índico para o Atlântico» levou ao desenvolvimento de certas culturas naquele país, nomeadamente a de cana do açúcar, assente sobretudo na mão-de-obra negra trazida da costa africana.

Posteriormente, a exploração de novas culturas como a do tabaco, do algodão e do próprio pau-brasil passaram a constituir uma importante fonte de receita à colónia aí radicada, que então se via constantemente engrossar pela entrada de novos colonizadores. De tal modo, que mesmo antes da grande corrida para o Brasil, aquando da intensa fase de exploração das minas de ouro, diamantes e pedras preciosas (1735 a 1766) a emigração para o Brasil era já proibida entre nós.

O despovoamento do Reino parecia evidente e urgia por isso impedi-lo através de certas medidas legislativas, ao que parece de fraca aplicação, como se depreende da lei de 1720, que transcrevemos:

«... Não tendo sido bastantes as providências que até ao presente tenho dado nos decretos de 25 de Novembro de 1709 e de 19 de Fevereiro de 1711, para se proibir que deste reino passe para as capitanias do Estado do Brasil a muita gente que todos os anos se ausenta dele, principalmente da província do Minho, que, sendo mais povoada, se acha hoje em estado que não há a gente necessária para a cultura das terras, nem para o serviço dos Povos... » (9)

Só que o interesse em partir era de tal modo considerável, que afectava «fidalgos e letrados investidos de funções oficiais ou oficiosas» (10) e igualmente «indivíduos das classes mais humildes, que aí se tornavam proprietárias, fazendeiros ou comerciantes», conforme os meios de que dispunham.

E como principais focos de partida, contamos não só com o Entre-Douro e Minho, como igualmente o que já vinha acontecendo, desde os finais do séc. XVII, com as Ilhas Adjacentes, que de zonas de colonização passaram a núcleos de forte emigração.

A importância extrema deste movimento, a sua generalização e sucesso, sobretudo por parte dos «MINEIROS» (nome dado ao emigrante brasileiro de torna-viagem), passa aliás a ser cantado na lírica popular, de onde recordamos alguns excertos:

 

«Ó triste segunda feira
Da semana que há-de vir
O meu amor diz que embarca
Quem o há-de ver partir» (11)

Ou esta outra:

 

«Você diz que não me quer
Que eu não tenho dinheiro
Tenho o meu pai no Brasil
Sou filha de Brasileiro» (12)

 

Este movimento, que tem como principais portos de origem os de Viena, Porto e Lisboa e de destino os de Pernambuco, Baía e Rio de Janeiro (13) é, segundo o afirma MAGALHÃES GODINHO, o responsável pela saída de cerca de 8000 a 10000 emigrantes anualmente, durante pelo menos os 2 primeiros terços do século XVIII, quando a população portuguesa não deveria exceder os 2 500 000 habitantes. Com a aproximação do final do séc. XVIII e os primeiros acontecimentos políticos do séc. XIX, aliados quer às Invasões Francesas, quer à transferência da Corte para o Brasil, o valor de partidas andará por volta das 4 000-5 000 anuais até à segunda metade desse século, quando o movimento de partidas para o Brasil se incrementou.

Na sua origem, está a supressão da escravatura em Maio de 1888, facto que havia sido antecedido pelos últimos desembarques de escravos de 1851 e 1864 (14).

Resta acrescentar que, anteriormente a estes acontecimentos, entre 1840 e 1850, o Brasil havia recebido cerca de 35 000 escravos por ano que, na fase seguinte, em plena expansão de economia local, assente na cultura do café e do algodão, se terão feito sentir as carências desta mão-de-obra. Daí que os emigrantes portugueses sejam acolhidos com interesse e encaminhados para certas tarefas até então reservadas aos escravos.

Se acrescentarmos a proibição que o Governo alemão faz à sua emigração para aquele país da América Latina, em 1859, baseando-se «no efectivo tratamento de escravos» a que eram sujeitos os emigrantes europeus, compreendemos melhor as vicissitudes não só por que passaram os nossos compatriotas, como o interesse dos fazendeiros em os acolherem.

Não resistimos uma vez mais a transcrever uma quadra popular, onde se dá conta dos primeiros infortúnios sofridos pelo emigrante português:

«Brasil terra de engano
Quantos lá vão enganados
Tantos lá vão por três anos
E lá ficam sepultados» (15)

Vejamos mais alguns valores relativos a este movimento: entre meados do século passado e o início deste século, o movimento de partidas passou de cerca de 10 000, entre 1855 e 1859, para 14000, entre 1871 e 1875, tendo atingido, nos últimos anos do séc. XIX, uma média de 25 000 emigrantes anuais, com um valor máximo de mais de 44 000 partidas em 1895.

Mais do que o comentário a estes valores, os escritos de Guerra Junqueiro dão-nos uma ideia bem clara da sua extensão e repercussões:

«Olhai, olhai, vão em manadas
            Os emigrantes...
Uivos de dó pelas estradas.
Junto dos cais, nas amuradas
            Das naus distantes...

Velhinhas, noivas e crianças,
            Senhor! Senhor!
Ao voar das últimas esp’ranças
Crispam as mãos, mordendo as tranças,
            Loucas de dor!

Lá vão levados, vão levados,
            Pelo alto mar...
Voltarão? Quando, mar profundo?
            Jamais! Jamais! (16)

 

Com o inicio do nosso século, este movimento não diminuiu, antes pelo contrário, tende a agravar-se cada vez mais, persistindo elevado praticamente até 1930, quando os reflexos da crise económica levaram ao repatriamento de alguns emigrantes e ao encerramento dos portos, especialmente os brasileiros, à emigração estrangeira.

Vejamos em pormenor: a partir de 1900, o movimento anual de partidas passou das quase 20 000 registadas nesse ano, para cerca de 40 000 ocorridas em 1908 e tendo atingido, quatro anos depois, as quase 90 000 partidas anuais (vd. fig. 1).

Durante o primeiro conflito mundial, a emigração portuguesa decresce consideravelmente, tendo-se registado, em 1918, cerca de 12 000 partidas, valor que quintuplica dois anos depois, em 1920.

Durante os anos vinte, a emigração portuguesa, embora registando valores elevados — média anual de 36 645 emigrantes —, acusa já um certo retraimento, que será sobretudo visível após 1930, quando de cerca de 23 000 saídas legais registadas nesse ano, se passou para apenas 6000 no ano seguinte.

Este decréscimo, embora registando valores sucessivamente mais elevados até 1939 — média de 9 600 emigrantes anuais —, sofre nova quebra durante o 2º conflito mundial, e só mais tarde, já no início da década de 1950, se voltam a registar valores significativos superiores às 20 000 partidas anuais.

Os elementos estatísticas oficiais publicados sobre este assunto permitem-nos tirar algumas conclusões a propósito não só dos valores globais de partidas, mas igualmente sobre os destinos e, nalguns casos, sobre a proveniência dos emigrantes, facto que abordaremos mais adiante.

No que respeita aos destinos, anotamos, como já foi referido, o predomínio quase exclusivo da emigração para o Brasil, que desde 1900 até 1950 sempre absorveu mais de metade das partidas. Senão, vejamos:

— Até 1913, um dos pontos altos da nossa emigração, as saídas para este país sempre preponderantes foram exclusivas entre os anos de 1908 e esta última data, já que representavam 80% ou mesmo mais do valor global de partidas.

— Entre esta data e 1930, embora ainda preponderante, notamos um ligeiro decréscimo no que respeita às saídas para o Brasil, já que anos houve em que o número de emigrantes para este pais foi inferior ao valor registado para outros países.  

 

Fig. 2: Gráfico referente à emigração portuguesa legal e clandestina entre 1960 e 1978.

Assim aconteceu em 1916, por exemplo, quando as 10000 partidas para o Brasil foram superadas pelas quase 11500 para os E.U.A. Este país, que a partir de 1900 começa a ser destacado no que respeita ao destino dos emigrantes, manteve uma emigração de certo modo importante, embora decrescente, desde o início do século até 1930. Anotamos os anos de 1912, 1913, 1916 e, sobretudo, 1920, datas em que terá recebido sucessivamente 10775, 11445, 11522 e 24156 emigrantes. A partir desta última data, as saídas para este país decaem substancialmente, facto que tem naturalmente a ver não só com as dificuldades de transporte, sobretudo em períodos de guerra, mas também com os efeitos da crise, que culminou em 1929 com a recessão económica sofrida por este país e extensiva aos demais países industrializados do Ocidente.

Não podemos deixar de referir que outros países do continente americano, especialmente a Argentina, receberam durante todo este período enormes contingentes, o mesmo sucedendo já com a Venezuela, facto que é testemunhado por dados posteriores.

— A partir de 1930 e em virtude do decréscimo de que já fizemos referência, a emigração para o Brasil manteve-se preponderante, chegando mesmo a absorver mais de 90% do total de emigrantes, como sucedeu em 1939, 1940 e 1941, respectivamente com cerca de 16000, 12000 e 5000 partidas anuais.

Ainda em relação a este país, anotamos que, embora gradualmente decrescentes desde 1952 — data em que terão saído para o Brasil cerca de 41 000 emigrantes representando cerca de 88,3% das saídas totais registadas nesse ano —, só 10 anos mais tarde é que o Brasil deixou de receber o maior número de emigrantes portugueses.

Referindo-nos aos valores da emigração oficial, anotamos, em 1962, 13500 partidas para este país, (representando cerca de 40,4% do total da emigração portuguesa) e, no ano seguinte, 11200 emigrantes, que representaram apenas 28,5 % desse mesmo total.

Antes de nos determos detalhadamente sobre o assunto, vejamos mais alguns valores da emigração portuguesa desde a década de 190 até à actualidade.

Orçando as 36500 saídas anuais entre 1953 e 1963, no ano seguinte, a emigração portuguesa dá o seu pulo qualitativamente importante dos nossos dias. Cerca de 56000 saídas; atingindo, em 1965, as quase 90000 e, um ano depois, as 120000.

De então para cá, e embora os valores de emigração legal tenham vindo a acusar um decréscimo significativo: 80000 emigrantes em 1968; 50000 entre 1971; cerca de 25000 em 1975 e praticamente o mesmo valor em 1978, deve ser sobretudo a emigração clandestina aquela que merece a nossa especial atenção.

Destacamos, em primeiro lugar, as mais de 100 000 saídas clandestinas estimadas em 1970 e 1971, representando mais de 60% da emigração total portuguesa desses anos e, embora em menor valor, os quase 45% que este tipo de emigração representa em 1975 (vd. fig. 2).

Quanto aos principais países de destino, e para não ser inconveniente com a repetição de novos elementos estatísticas, recordamos apenas o seguinte: entre 1955 e 1975, a emigração oficial para França representou quase 50% da emigração total portuguesa; a emigração para o Brasil cerca de 17%; para a Alemanha cerca de 15% para os E.U.A. 5,7%; para a Venezuela 4,5% e para o Canadá 4,2%.

Daí que a «diáspora» portuguesa, iniciada há 5 séculos, como dissemos de início, se traduza numa dispersão de portugueses pelos quatro cantos do Mundo, como já vem acontecendo desde o século XVII (17)

Embora carecendo de correcção alguns elementos estatísticas referentes ao final de 1979 (18), sugerem-nos uma reflexão profunda e uma reunião de esforços no sentido de valorizarmos essas comunidades, estreitando os laços culturais e humanos que ligam os portugueses residentes no estrangeiro ao seu torrão natal.

No continente europeu, o maior núcleo de emigrantes portugueses reside, como é sabido, na França, sendo constituído por mais de 900 000 nacionais.

Em segundo plano, surge a Alemanha com mais de 110 000, contando-se a Inglaterra, a Espanha, o Luxemburgo e a Suíça com quase 30 000 residentes.

É, porém, fora do Velho Continente que residem as maiores colónias de nacionais, como também o maior número de emigrantes.

Recordamos os mais de 600 000 portugueses residentes no Brasil e, sobretudo, na África do Sul, país que desde 1974 acolheu um grande número de nacionais residentes em Angola e Moçambique.

Recordamos também os E.U.A. e a Venezuela, onde habitam mais de 300 000 portugueses, muitos deles, como veremos mais adiante, originários deste distrito.

Ainda com valores superiores aos do continente europeu, anotamos a Argentina e mesmo a Austrália, onde esse valor atinge, respectivamente, cerca de 60000 e de 30 000 emigrantes portugueses.

Para não nos alongarmos mais sobre este tema, e porque alguns aspectos de interesse serão abordados na segunda parte desta exposição, não podemos deixar de citar CAMÕES, neste centenário da sua morte, com as mesmas interrogações que a propósito deste movimento ele nos deixou:

 

«A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente
Que perigos, que mortes lhes destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
D’ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometeras? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias? (19)

JORGE ARROTEIA

(Conclusão no Boletim n.º 4)


NOTAS:

(1) - O presente artigo é a conferência realizada pelo Autor no 1º Congresso sobre Emigração e Turismo, em Fermentelos, em Agosto de 1980. Está dividido em duas partes: na 1ª ocupa-se o seu Autor da emigração no nosso País, dando-nos, após uma breve introdução, a evolução da corrente emigratória; na 2ª parte, ocupa-se da emigração no distrito de Aveiro. Devido à sua extensão, apenas se publica a 1ª parte, ficando a segunda para o próximo Boletim da ADERAV. — A REDACÇÃO.

(2) - V. M. GODINHO — L’émigration Portugaise (XV-XX siècles).; in Revista de História Económica e Social, Lisboa; Sá da Costa, 1978, V. I, N.º 1, p. 7.

(3) - J. SERRÃO — A Emigração Portuguesa; Lisboa, Livro Horizonte, 1977, p. 85.

(4) - J. SERRÃO — Testemunhas sobre a Emigração Portuguesa — Lisboa, Livros Horizonte, 1976 p. 45.

(9) - J. SERRÃO — Emigração Portuguesa; Lisboa, 1977, p. 86.

(6) - Idem, ibidem, p. 86. Transc. de S. FRANCO: «A emigração e o Direito»; in Visão Cristã dos Problemas da Emigração. Encontro V, Lisboa, 1968.

(7) - J. SERRÃO, Testemunhos sobre a Emigração Portuguesa, Lisboa, 197 , p.         45.

(8) - V. M. GODINHO; ob. cit. p. 9.

(9) - J. SERRÃO; ob. cit. 1977; p. 107.

(10) - Idem, ibidem; p. 108.

(11) - J. SERRÃO; O que o Povo canta em Portugal. Transc. por J. SERRÃO; 1976, p. 61.

(12) - Idem, ibidem.

(13) - V. M. GODINHO, ob. cit., p. 9.

(14) - ldem, ibidem, p. 10.

(15) - J. CORTESÃO; ob. cit., Transc. por J. SERRÃO, 1976, p. 60.

(16) - G. JUNQUEIRO, Finis Patriae.  Transc. por J. SERRÃO, 1976, p. 91.

(17) - V. M. GODINHO; ob. cit., p. 15.

(18) - O.C.P.M., 1980, p. 16.

(19) - L. CAMÕES — Os Lusíadas.


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