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ANTÓNIO
CHRISTO — de seu nome completo António de Almeida
Silva e Christo — nasceu, em 3 de Junho de 1904, na
freguesia da Glória da cidade de Aveiro, e aqui fez os
seus estudos primários e liceais, tendo frequentado
depois a Universidade de Coimbra, onde viria a
licenciar-se em Direito em 3 de Julho de 1930.
Tendo
iniciado a sua carreira profissional como subdelegado do
Procurador da República, na Comarca onde viu luz, a
breve trecho viria a dedicar-se à advocacia, desde logo
se revelando um jurisconsulto inteiramente votado aos
interesses da sua vasta clientela, com particular relevância
na barra dos tribunais, pelo seu raro poder de argumentação
nas causas que lhe foram confiadas; e, ainda no âmbito
jurídico, publicou numerosos trabalhos, abordando
problemáticas de Direito Civil, Criminal e
Administrativo, entre muitos outros: «Um caso de servidão»
(1941), «Investigação de Paternidade Ilegítima»
(1950), «Sedução com abuso de autoridade» (1951), «Abuso
de liberdade de imprensa» (1953) e «Desvio do poder e
violação da Lei» (1955). |
Em Coimbra,
foi elemento activo do C.A.D.C.
(Centro Académico de Democracia Cristã) e ali dirigiu,
durante alguns anos, a revista «Estudos». Na sua terra natal
fundou a Juventude Católica de Aveiro (9-3-1924), as Conferências de S. Vicente de Paulo (Conferência de Santa Joana
Princesa e Conferência de Santo António), o Lactário de Santa Joana Princesa, o Núcleo de Aveiro do Corpo
Nacional de Escuteiros (do qual nasceram os de Vilar, S.
Bernardo, Cacia, Ílhavo, Vista Alegre e Calvão) e o semanário
católico e regionalista «Correio do Vouga», hoje órgão da
Diocese que, há pouco, entrou no 50.º ano de existência.
Também fundou, e manteve em sua casa, uma Escola
para operários, que o Governo deploravelmente escondeu
ter sido inspiradora do que viria a designar-se por Campanha
Nacional de Adultos.
Deputado na
III legislatura da Assembleia Nacional — onde apenas falou
uma vez, e em veemente defesa dos interesses aveirenses
—,não levaria até ao fim, em presenças, o seu mandato,
por discordância com certos rumos de então, em que não
encontraria eco a sua verticalíssima independência. E, também
por isto, recusou elevados postos que lhe foram oferecidos.
Ligado como
sócio (efectivo, honorário ou dirigente) às colectividades
locais, sempre lhes dispensou o melhor do seu esforço e os
méritos do seu talento.
Sempre
interessado pela defesa do património económico e artístico
e pelas manifestações culturais da sua região, deu aos
prelos numerosos trabalhos —muitos deles reeditados e quase
todos, hoje, esgotados —, designadamente: «A indústria e
o comércio do sal» (1943), «Antónia Rodrigues — A Heroína
de Mazagão» (1948), «Os governos da Nação e as obras do
porto e barra de Aveiro» (1949), «João Afonso de Aveiro —
Introdução a um estudo sobre o famoso navegador aveirense»
(1951), «O problema da pesca marítima em Aveiro» (1952), «Gustavo
Ferreira Pinto Basto» (1953), «Cancioneiro de Santa
Joana Princesa» (1956), «O poeta João Afonso de Aveiro»
(1956), «Francisco de Paula de Figueiredo —notável poeta
e orador do século XVIII» (1959), «A naturalidade de
Augusto Soromenho» (1960), «Júlio Dinis e Augusto Soromenho»
(1960).
Foram
numerosos os discursos e conferências que proferiu — não
só em Aveiro, mas, ainda, noutras localidades, designadamente
em Lisboa, Porto, Coimbra, Évora, Portalegre, Torres Novas
—, sendo de salientar que sempre versou os temas que
escolheu, ou lhe foram solicitados, com extraordinária profundidade,
num raro poder de síntese; mas foi particularmente relevante
a sua oratória espontânea, em que sempre teve o condão de
adaptar a linguagem mais apropriada ao perfeito entendimento
dos respectivos ouvintes.
Esta propensão
— revelada desde menino — teve paralelo nos seus escritos
para jornais e revistas, nomeadamente: «Alma Académica», «O
Debate», «O Ilhavense», «Correio de Coimbra», «Novidades»,
«Correio da Manhã», «Correio do Vouga», «Litoral», «Estudos»,
«Arquivo do Distrito de Aveiro», «Aleluia», «Revista
Portuguesa» — subscrevendo os escritos, ora com o nome próprio,
ora com os pseudónimos de Afonso de Teive, Frei Luís do
Vouga e Dr. João Fernandes.
De «Efemérides
Aveirenses» — inicialmente
dadas a lume no «Litoral» — foi publicado o 1º volume,
esperando-se que, em breve, o segundo e último seja dado à
estampa. Também «Capelas de Aveiro» — uma série de
monografias escritas para o aludido semanário, e de que
apenas um opúsculo foi editado — virão a público em obra
de tomo.
É de notar
que ainda se conservam inéditos numerosos e valiosíssimos
trabalhos de António Christo. Falecido em 16 de Outubro de
1963, não teve tempo de os dar ao prelo; mas, certamente,
outros o farão.
O notável
aveirense — um nome com projecção nacional — não foi esquecido pelos seus conterrâneos: ainda recentemente,
foram apostas, na antiga Rua do Vento, placas com o seu nome
— uma exigência das
gentes da Beira-Mar, formulada à Câmara Municipal há
cerca de uma década, mas só há pouco concretizada pela
reiteração de tal exigência:
no entender dos peticionários, tal preito era devido a
quem tanto lutou por Aveiro e, particularmente no domínio
económico, pelo salgado, pelas pescas e pelas demais riquezas
da Ria e da confinante zona litorânea.
Maria Fortes
(Do «Núcleo de Estudos Aveirenses»)
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