«Entre nós
impera a ideia de que o Português consagra excessivo tempo a
debruçar-se sobre o que já decorreu e não contempla com minúcia
o tempo que vive nem planeia com alicerces o que há que
fazer. Erro profundo, se não fatal. Poucos povos há que
menos se interessem pelo seu passado e pelo legado que
receberam, que os estudem cientificamente; o passado português
tem sido tema de retórica, e, mistificado ao sabor das
seitas, tem servido de arma de propaganda. Mas as obras
culturais jazem ao abandono, a esboroar-se, os nossos velhos
papéis são queimados ou deitados para o lixo, os nossos
arquivos e museus só abrigam pequena parte do nosso espólio,
e tanta vez desarrumado, não catalogado, a ser comido pelos
vermes ou a consumir-se no desprezo, inacessível a uma
investigação sistemática e exigente. A maior parte — o
esmagador número — dos aspectos da nossa vida nacional
nunca foram sequer aflorados, ou apenas incidentalmente.» V.
Magalhães Godinho, in «Revista de História Económica e
Social», Jan. - Jun. 76, n.º 1 pp. 2-3.
A consciência de que
o passado se interpenetra no presente e se projecta no futuro
e de que o Homem não é, nem em tempo, nem em espaço, um ser
isolado, levou-nos a assumir uma obrigação colectiva na
Defesa do Património Natural e Cultural da nossa Região.
Outrora, essa defesa
era vista, apenas, como monopólio de velhos. Hoje, tão pouco
desejamos esse monopólio para nós. Mas, porque pouco
acreditamos nos esforços isolados, dada a enorme diversidade
de aspectos naturais e culturais a defender, demos as mãos
para conjugar esforços, convictos de que, em grupo,
aprendendo uns com os outros, cada um segundo a sua
especialidade ou natural inclinação, melhor poderíamos
garantir, a quantos vierem depois de nós, um espaço
regional povoado, não de fantasmas mas de relações e de
solidariedade, que mantenha entre si, no desenrolar da meada
da História, a chama viva do passado, num espaço humano
construído daquilo que nos caracteriza, e certos também de
que nossos pais e avós se podem tranquilizar, pois a sua memória
jamais se varrerá com o tempo.
Esta Associação não
nasceu de novas correntes de pensamento, não foi engendrada
no cérebro de qualquer figura notável, não tem atrás de si
pergaminhos a defender. Brotou espontaneamente, como um ponto
de encontro, uma força interior que uniu dezenas e dezenas de
espíritos curiosos, cheios de vontade, novos e velhos,
angustiados com o constante delapidar do nosso Património —
como tão bem o sentiu o mestre V. Magalhães Godinho —, mas
também esperançados de alguma coisa poderem fazer em defesa,
estudo e valorização da Região de Aveiro, para nós e
nossos filhos.
Esta é a razão de
ser da Associação.
Amaro Neves
|