Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996.

 

Outros recursos educativos


Além de um elevado número de recursos educativos, que poderão ser incluídos no conceito de «audiovisual», analisámos outros aspectos com eles relacionados, tais como, entre outros, a existência de responsáveis pelos audiovisuais e de salas adequadas para a sua utilização.

Podemos, de tudo quanto foi exposto, concluir que, de uma maneira geral, a grande maioria das escolas possui salas mais ou menos apetrechadas para uma eficiente utilização dos recursos audiovisuais. No entanto, a percentagem de escolas em que não existe qualquer sala minimamente apetrechada é ainda bastante elevada. Se o que encontrámos no distrito de Aveiro for um espelho mais ou menos fiel da realidade nacional, poderemos afirmar que, em cerca de 40% das nossas escolas, ainda não existe uma sala de audiovisuais minimamente dotada ou preparada, de modo a permitir aos docentes uma utilização eficiente dos actuais recursos educativos à sua disposição e susceptível de os levar à adopção de novas estratégias de ensino-aprendizagem mais consentâneas com os tempos actuais, em que a acção da escola paralela se faz sentir cada vez mais sobre todos nós.

Outro aspecto a referir é o da inexistência de elementos responsáveis pelos recursos educativos de natureza audiovisual. Em quase 50% das escolas do distrito de Aveiro não há um elemento responsável. E quando existe, verifica-se que esse responsável é um elemento do pessoal auxiliar da acção educativa, frequentemente sem qualquer preparação mínima específica para poder desempenhar cabalmente um cargo deste género.

Do mesmo modo que, em todas as escolas, o funcionário da secção de reprografia é previamente preparado, sendo-lhe fornecidos conhecimentos mínimos para trabalhar com as máquinas, podendo assim desempenhar com um mínimo de eficiência as suas funções, também o responsável pelos recursos educativos de natureza audiovisual deveria ter um mínimo de conhecimentos. Aliás, cremos que o cargo deveria ser atribuído a um docente com conhecimen­tos sobre as características e utilização dos diferentes recursos educativos audiovisuais, de modo a poder exercer uma acção pedagógica sobre os restantes professores da escola, sendo coadjuvado por um elemento do pessoal auxiliar.

Consideramos também um aspecto negativo aquilo que verificámos na maioria das escolas: a ausência de uma mediateca ou, pelo menos, de uma sala onde todo o material de natureza audiovisual ─ hardware e software ─ esteja "centralizado".

Quando efectuámos o levantamento de certos elementos relacionados com o software, como por exemplo os diapositivos, verificámos que, na maioria das escolas, o material se encontrava disperso  por vários sectores,  entregue aos grupos e arrumado  em armários, tornando-se difícil aos professores das próprias escolas saber o que efectivamente possuíam e tinham ao seu dispor.

Se todo o material existente, habitualmente designado pela palavra inglesa software, tal como discos, cassetes sonoras e registos de vídeo, diapositivos e diaporamas, colecções de fotografias e de acetatos para retroprojector, estivesse devidamente arquivado e catalogado numa mediateca, a qual poderia funcionar paralelamente com a biblioteca, o mesmo material poderia servir mais eficazmente todos os professores da escola, independentemente das áreas disciplinares. É que, por exemplo, diapositivos sobre Arte ou sobre História podem ser também explorados por professores de outras disciplinas. Estando o software distribuído e à responsabili­dade dos diferentes grupos, o material existente acaba, na maioria dos casos, por nunca chegar a desempenhar plenamente a sua função, ficando muitas vezes esquecido e ignorado pela maior parte dos professores. E, não raras vezes, encontra-se material duplicado, adquirido por grupos disciplinares diferentes por desconhecimento da sua existência.

Os dados por nós recolhidos no distrito de Aveiro mostram-nos que só em 14 das 73 escolas do distrito, ou seja, 19,3% das escolas, existe uma mediateca, onde o material se encontra devidamente ou razoavelmente catalogado e à disposição de todos os professores, independentemente das áreas disciplinares. E em algumas escolas, embora raras, verificámos, segundo nos foi dado a conhecer pelos elementos responsáveis, que o software existente podia também ser requisitado e utilizado pelos alunos na biblioteca, havendo mesmo uma escola do distrito, dotada com razoável número de discos para CD-I, em que estes eram utilizados pelos alunos durante os tempos livres passados na biblioteca.

A ideia aqui apresentada da existência de uma mediateca não é nossa e nem é nova, embora várias vezes a tenhamos já defendido e apresentado em trabalhos anteriormente realizados. Os inquéritos agora efectuados não fizeram mais do que vir comprovar estatisticamen­te aquilo que há já alguns anos havíamos constatado: as mediatecas são praticamente inexistentes nas escolas portuguesas e é desconhecida, da maioria dos professores, a sua verdadeira função, pelo que, salvo raríssimas excepções, não há nas nossas escolas um centro de recursos educativos, cujo papel poderia ser da maior importância para o ensino.

Um recurso que poderia também desempenhar um maior papel educativo é a fotografia e respectivo laboratório. Apenas 29 das 73 escolas possuem um laboratório; e destas só 23 o têm minimamente apetrechado e operacional, o que corresponde a cerca de 32% das escolas do distrito. Tal como pode ser verificado no quadro 5, dos três níveis de ensino, o único que apresenta uma percentagem média de apetrechamento é o secundário (56,7%), enquanto nos restantes níveis é quase inexistente. Das 12 escolas do 2º ciclo, só 3 possuem laboratório (25%), enquanto das 29 escolas EB23 o número de escolas apetrechadas é de apenas 9 (31%).

A percentagem de utilização de um laboratório de fotografia, nas escolas do distrito de Aveiro, é de apenas 26%, valor que não deverá ser muito melhor nas restantes escolas do país, pelo que parece poder inferir-se que a fotografia, enquanto conjunto de processos conducentes à obtenção do registo, cujo contributo educativo poderia ser bastante importante a vários níveis, não é devidamente aproveitada nas escolas portuguesas.
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