Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996.

 

Recursos das escolas e sua utilização

Do exposto ao longo dos capítulos de análise das informações recolhidas, torna-se possível a elaboração de um quadro de síntese (quadro 46) com a apresentação de todos os recursos tendo em conta a sua distribuição nas diferentes escolas do distrito de Aveiro, bem como um quadro com a respectiva frequência relativa de utilização pelos docentes, independentemente dos níveis de ensino e tendo em conta as frequências MV+AV, ou seja, com a soma das percentagens das respostas correspondentes à utilização «Muitas Vezes» e «Algumas Vezes» (quadro 47).

Para a elaboração do quadro 46, bem como para o seguinte, distribuímos os recursos de acordo com as suas características predominantes e tendo em conta diferentes níveis. Para o primeiro quadro, consideramos apenas três níveis de apetrechamento: Elevado, Médio e Reduzido. Para o quadro 47, consideramos cinco frequências de utilização: Elevada, Média, Reduzida, Quase Nula e Nula. Embora nos quadros não sejam atribuídas as legendas correspondentes a cada nível, estes distinguem-se pelo facto da sua compartimentação se fazer por meio de um traço duplo. Enquanto no quadro 46 apenas indicamos as percentagens na ordem das dezenas, no quadro 47 registamos as percentagens até às décimas, o que nos permite ter uma ideia rigorosa do posicionamento obtido relativamente à frequência de utilização dos diferentes recursos pelos docentes. Deste modo, torna-se possível indicar qual a ordem de importância de cada recurso no processo educativo, permitindo-nos afirmar se determinado recurso é de maior ou menor utilização.

Grau de
Dotação
Recursos
Visuais
Recursos
Sonoros
Recursos
Audiovisuais
Novas
Tecnologias
100%

· Quadro Negro
· Mapas
· Retroprojector
· Fotocopiador

 

Televisor

· Videogravador VHS


· Computador

 

90% · Project. Diapositivos · Grav. cassetes    
80%

· Episcópio
· Máq. fotográfica

· Rádio

· Câmara de vídeo

 
60%   · Gira-discos    
50%

· Cartazes/posters
· Modelos em relevo
· Quadro branco

     
30%

· Quadro magnético
· Flanelógrafo

· Gravador de bobinas    
20% · Fotos/postais ilustrados     · Data display
10%

· Microprojector
· Álbum seriado

 

· Videogravador Beta
· Proj. de cinema 8 mm
· Proj. de cinema de 16 mm

 

- de 10%

· Diafilmes   · Videoprojector

· Sistemas Multimédia · CD-I

Quadro 46: Recursos educativos existentes nas escolas do distrito de Aveiro em 1994/95 e respectiva percentagem de dotação.

Para a elaboração dos dois quadros, distribuímos os recursos de acordo com as suas características predominantes. Intencionalmente entendemos não dever separar hardware de software. Embora este procedimento seja passível de crítica, consideramos irrelevante essa distinção para os nossos objectivos, tanto mais que todos nós sabemos que hardware e software não têm qualquer utilidade prática quando dissociados. De facto, de que serve uma escola estar dotada com grande quantidade de registos sonoros, por exemplo, se não possuir as máquinas que permitam efectuar a sua leitura? Do mesmo modo, de que servem bons videogravadores e televisores se não se possuir qualquer cassete com registos de vídeo? Ter um carro sem rodas ou as rodas sem o carro não nos leva a lado nenhum, mesmo tratando-se de um simples carro de mão.

Além dos três aspectos fundamentais ─ imagem, som ou ambos em simultâneo ─, distribuídos em três colunas, consideramos um quarto caso, abrangendo os sistemas informáticos ou informatizados, que se caracterizam pela interactividade permanente entre máquina e utilizador, por nós designados por «Novas Tecnologias».

Frequência relativa de
utilização
Recursos
Visuais
Recursos
Sonoros
Recursos
Audiovisuais

Novas
Tecnologias

95,1 % · Quadro Negro      

70,2 %

· Retroprojector      

65,0 %

· Cartazes/posters      

60,5 %

· Fotos/P. Ilustrados

     
48,7 %     · Videogravador  
45,8 % · Mapas      
42,1 % · Projec. com Diaposit      
40,4 %   · Gravad. de cassetes    
24,1 %       · Computador
19,1 %

· Modelos em relevo

     
17,2 % · Quadro Branco · Rádio

· Emissões de TV

 
12,9 %

· Episcópio

     
11,5 %     · Câmara de Vídeo  
11,2 %     · Diaporamas
 Videoprojector
 
6,9 %   · Gira-discos    
5,2 % · Quadro magnético      
4,6 % ·  Álbum seriado      
4,3 %   · Gravad. de Bobinas    
3,2 % · Microprojector      
2,6 % · Flanelógrafo      
2,3 %      

· Sists. Multimédia

2,0 % · Projec. com diafilmes      
1,7 %       · CD-I
0,3 %     · Projector cinema 16 mm  Data display
0 % · Quadro de Pregas
· Quadro de Fios
  · Projector cinema 8 mm  

Quadro 47: Frequências relativas de utilização dos recursos audiovisuais nas escolas do distrito de Aveiro, tendo em conta as frequências MV+AV na totalidade dos níveis de ensino.

 

Na «Novas Tecnologias» incluímos o computador, os sistemas multimédia e CD-I, bem como um acessório bastante útil: o data-display; e, futuramente, quando as nossas escolas estiverem dotadas com meios que permitam o acesso a redes de informação, como é por exemplo o caso da Internet, então este novo recurso educativo poderá vir a ser incluído nesta coluna.

Da leitura do quadro 46 podemos desde já concluir que apenas 7 dos 30 recursos analisados constituem uma dotação a 100% de todas as escolas do distrito de Aveiro, o que corresponde a uma reduzida percentagem de 23,3%. Desta reduzida percentagem, há pelo menos dois recursos que fazem seguramente parte da dotação de todas as escolas do País: o tradicional quadro negro e os mapas. Quanto aos restantes, a probabilidade de também existirem a 100% é bastante elevada.

Em finais do século XX, recursos como retroprojectores, televisores, videogravadores, computadores e fotocopiadores farão seguramente parte da dotação de qualquer escola a partir do 2º ciclo do ensino básico. Se o computador, em algumas escolas, não está ainda ao alcance de toda a população escolar, a sua existência é, hoje em dia, tão ou mais indispensável do que a tradicional máquina de escrever, a qual, de há alguns anos para cá, foi substituída com enormes vantagens pelo computador. Do mesmo modo, os tradicionais policopiadores, embora continuem ainda a prestar útil serviço em muitas escolas e até já estejam substituídos por versões tecnologicamente mais evoluídas, encontram-se actualmente complementados e por vezes até substituídos pelos fotocopiadores, que fazem parte da actual dotação obrigatória da secção de reprografia de uma escola.

Tiradas estas ilações relativamente aos recursos existentes a 100% em todas as escolas, vejamos que conclusões poderão ser tiradas da análise dos quadros 46 e 47 e de tudo quanto foi anteriormente apresentado, seguindo uma sequência de acordo com as características dos diferentes recursos, por nós distribuídas pelas quatro colunas: recursos visuais, recursos sonoros, recursos "audiovisuais" no sentido restrito do vocábulo e novas tecnologias.

 

Dentro dos recursos visuais e tendo em conta apenas os quadros murais, verifica-se que o quadro tradicional continua a ser o único recurso que faz parte da dotação de todas as escolas, ao passo que o quadro branco, mais recente e com vantagens relativamente ao anterior, apenas existe em 50% das escolas. Este quadro, com funções rigorosamente idênticas ao tradicional, mas com grandes vantagens em relação a ele, tem o inconveniente de onerar excessivamente as escolas. Por esta razão, na quase totalidade das escolas por nós contactadas, é utilizado essencialmente nas salas onde existem aparelhos sensíveis às poeiras provocadas pelo giz utilizado com os quadros tradicionais. A reduzida expansão do quadro branco advém-lhe do facto de exigir canetas especiais para a escrita, cuja duração é bastante limitada e o preço muito superior ao do giz, o que acarreta uma sobrecarga para o orçamento das escolas.

O quadro magnético e o flanelógrafo apenas existem em 30% das escolas do distrito de Aveiro e a sua utilização é quase nula, razão pela qual os exemplares existentes se encontram, na sua grande maioria, como tivemos ocasião de verificar, arrumados entre o material actualmente fora de uso.

O quadro de pregas e o quadro de fios são inexistentes na totalidade das escolas e praticamente desconhecidos da maioria dos professores.

É elucidativa a comparação dos quadros 46 e 47. Verifica-se que, salvo uma ou outra excepção, os recursos que correspondem a uma dotação elevada são geralmente aqueles a que os professores mais recorrem na sua acção educativa. A utilização frequente leva à necessidade de dotação e esta parece favorecer, por sua vez, a utilização. Se  o quadro tradicional, mapas, retroprojector e fotocopiador, por exemplo, fazem parte da dotação a 100% das escolas e correspondem a frequências elevadas de utilização, em contrapartida, constitui excepção, por exemplo, o episcópio. Embora exista a 80% nas escolas, a frequência de utilização é reduzida, apenas atingindo os 12,9%. A reduzida frequência de utilização do episcópio dever-se-á possivelmente aos grandes inconvenientes deste sistema de projecção de imagens que, além de exigir o total escurecimento da sala e um bom ecrã, tem a característica de deteriorar as imagens, quando estas se encontram demasiado tempo sob a acção da fonte de luz, que vai permitir a projecção da imagem por reflexão.

Dentro dos sistemas de projecção fixa que recorrem a suportes de imagem transparentes, constituem uma dotação elevada o retroprojector (100%) e o projector para diapositivos (90%). Enquanto o primeiro tem uma frequência de utilização de 70,2%, o segundo apenas alcança os 42,1%. Relativamente ao sistema de projecção de suportes sobre películas fotográficas, podemos concluir da leitura dos dados recolhidos e dos dois quadros apresentados que o recurso a diafilmes está praticamente extinto. Além de só os termos encontrado em 4 escolas, constatámos, segundo o que nos foi dito in loco, que nenhum professor os utiliza. Além do mais, a sua projecção é actualmente impossível com os modernos projectores que fazem parte da dotação das escolas, a menos que a película seja previamente seccionada nas diferentes imagens que a compõem e estas montadas em caixilhos, passando então a tratar-se de diapositivos. Deve-se isto ao facto de que as modernas máquinas de projecção não vêm preparadas para este tipo de suporte. Só as mais antigas e há muito desactivadas na maioria das escolas estão dotadas com acessórios susceptíveis de permitir a projecção manual de diafilmes. Numa escola secundária de Aveiro (refª 15), encontrámos um exemplar antigo de uma máquina de projectar, dentro de uma maleta, que estava dotada com um pequeno motor eléctrico que permitia efectuar a tracção da película, fazendo passar as imagens, bastando para tal premir o botão de um interruptor em forma de pera. Embora, segundo a funcionária encarregada do material audiovisual, ninguém utilize esta máquina, que ela própria desconhecia o que era, acabámos por verificar que se encontrava em perfeito estado de funcionamento, talvez por ser já uma peça digna de figurar num museu e estar há muitos anos esquecida, tendo sido substituída por modernos projectores de diapositivos. A consulta das respostas dos docentes relativamente à frequência de utilização dos diafilmes confirma também a nossa suposição de que há muito o diafilme está banido do ensino. Efectivamente, só 2% dos inquiridos declararam utilizar raramente o diafilme. E destes 2%, a probabilidade de alguma vez o terem utilizado é nula, como se pode comprovar pelo confronto dos mapas 5 e 6. Só 4 escolas do distrito possuem alguns exemplares de diafilmes[1] e destas 4 escolas, a única onde foram efectuados os inquéritos aos docentes apenas possui um exemplar.

 

Dentro dos recursos sonoros, apenas constituem dotação elevada, existindo na maioria das escolas, o gravador de cassetes (90% das escolas) e o rádio (80%). O gira-discos faz parte dos recursos dentro de uma dotação média (60%), ao passo que o gravador de bobinas apenas existe em 30% das escolas do distrito. Destes quatro recursos sonoros, apenas o gravador de cassetes apresenta uma frequência de utilização média por parte dos docentes, que se situa nos 40,4%. Dos restantes, o rádio é muito pouco utilizado, sendo a percentagem da frequência de utilização de apenas 17,2%. O gira-discos e o gravador de bobinas quase já não são utilizados pelos professores, sendo as frequências de utilização respectivamente de 6,9% e de 4,3%.

 

Dos recursos audiovisuais, somente três correspondem a uma dotação elevada das escolas: o televisor e o videogravador (sistema VHS), existentes na totalidade das escolas, e a câmara de vídeo, existente em 80% das escolas.

Dos 4 recursos restantes ─ videogravador (sistema Beta), projectores de cinema de 8 e de 16 mm e videoprojector ─ os três primeiros existem apenas em 10% das escolas, enquanto o videoprojector apenas existe em 3 escolas do distrito (4,1%).

Dos três recursos que fazem parte da dotação elevada das escolas, somente o videograva­dor (sistema VHS) e, consequentemente, o televisor, indispensável para visionamento dos registos gravados em fita magnética, são utilizados pelos professores com uma frequência média, na ordem dos 48,7%. Enquanto terminal de recepção de emissões directas de televisão, o televisor é muito pouco utilizado pelos docentes em situação de aula. Apenas 17,2% dos docentes indicaram recorrer algumas vezes às emissões directas de televisão. Igualmente reduzidas são as frequências de utilização das câmaras de vídeo e dos diaporamas.

Tal como referimos quando da apresentação dos dados relativos às emissões de televisão, estas tiveram sempre uma reduzida frequência de utilização. A maioria das escolas utiliza os aparelhos de televisão exclusivamente como terminal de vídeo. As emissões directas de televisão numa sala de aula só seriam viáveis com um sistema idêntico ao da telescola, que funcionou durante vários anos com relativo sucesso. Todavia, mesmo a telescola, nos últimos anos, acabou por abandonar o sistema de emissão directa, passando a adoptar as gravações em vídeo, pelo que todas as escolas foram dotadas com aparelhos mais compactos e economicamente acessíveis, que apenas efectuam a leitura de cassetes pré-gravadas. Actualmente, o preço relativamente acessível de um videogravador e as grandes vantagens trazidas pelos programas gravados em cassete fez com que os sistemas de vídeo possam desempenhar um papel importante no acto pedagógico, permitindo que o professor possa seleccionar as sequências que apresentam maior interesse e apresentá-las no momento que considera mais oportuno durante o decurso da aula. Apesar das grandes vantagens do videogravador como recurso pedagógico, mesmo assim a sua frequência de utilização não chega a alcançar os 50%.

Estando os projectores de diapositivos e câmaras de vídeo entre os recursos de dotação elevada, as frequências de utilização do primeiro como meio de apresentação de diaporamas e do segundo, como meio de registo de imagens directas da realidade, são, no entanto, recursos de utilização reduzida. Em relação aos diaporamas, a reduzida frequência de utilização de apenas 11,2% é compreensível se nos lembrarmos que, na sua grande maioria, as escolas do nosso país não estão dotadas com leitores específicos de cassetes que permitam uma projecção automatizada dos diapositivos. Embora não o tenhamos registado nos mapas de recursos, em nenhuma das escolas do distrito de Aveiro encontrámos gravadores de cassetes próprios para diaporamas. E, quando efectuámos o controlo dos inquéritos respondidos pelos conselhos directivos, tivemos a oportunidade de verificar e contabilizar os totais de diapositivos existentes em cada escola. Apenas numa escola secundária da cidade de Aveiro encontrámos alguns diaporamas completos, constituídos por diapositivos, guião e cassetes devidamente gravadas e preparadas com os impulsos para comandar o avanço das imagens. Mas, quando algum professor estagiário pretende apresentar um diaporama, tem de o fazer de maneira artesanal, recorrendo a um vulgar gravador de cassete e à leitura do guião, para poder saber o momento em que deverá fazer avançar as imagens. Daí que, dos 349 professores inquiridos, apenas 1 indicou «Muitas Vezes» e 38 «Algumas Vezes», dando estas duas frequências acumuladas a reduzida percentagem de 11,2%.

Para que os diaporamas possam vir a constituir um recurso de utilização mais frequente pelos docentes, será necessário que as escolas sejam minimamente dotadas com software devidamente elaborado e, pelo menos, um gravador de cassetes específico, destinado a trabalhar exclusivamente acoplado a um projector de diapositivos. E, simultaneamente, uma vez que só os professores mais novos terão tomado contacto, durante a sua formação nas universidades, com os diaporamas, deverão os professores ser sensibilizados para as potencialidades deste recurso pedagógico em acções de formação, durante as quais tenham a oportunidade de adquirir as respectivas técnicas de criação e de exploração pedagógica.

Em relação ao videoprojector, a reduzida frequência de utilização, cuja percentagem deverá ser na realidade inferior à que obtivemos[2], deve-se essencialmente ao facto de ser praticamente inexistente nas nossas escolas, devido ao seu preço exageradamente elevado, facto que o torna praticamente inacessível, mesmo para as escolas de nível superior. Apenas 3 escolas do distrito possuem um videoprojector, o que, relativamente às 73 escolas do distrito, corresponde a 4,1%.

Encontra-se praticamente extinto como recurso educativo o cinema. Mesmo antes do aparecimento dos sistemas de videogravação, trabalhos efectuados em décadas anteriores, como, por exemplo, os trabalhos anteriormente citados de A. Moderno e Bento Duarte da Silva, mostram-nos que o número de escolas em Portugal dotadas com projectores de cinema era relativamente reduzido. Actualmente, das 73 escolas do distrito de Aveiro, apenas algumas das escolas mais antigas possuem projectores de cinema, que, segundo apurámos, já não têm qualquer utilização nos nossos dias. O número de escolas dotadas com projectores de cinema é, como anteriormente dissemos, de 15, o que corresponde a 20,5%. À excepção de um reduzido grupo de professores de uma escola próxima de Coimbra, que ainda procura manter vivo o espírito cineclubista dos anos 50/60, em todas as escolas o projector de cinema deixou há muito de ser utilizado. Podemos, pois, concluir, com reduzidíssimas probabilidades de erro, que o cinema como recurso educativo se encontra extinto em Portugal, extinção esta que terá começado a partir do momento em que os sistemas de videogravação começaram a entrar, primeiramente, no uso doméstico e, pouco depois, no ensino.

Destino idêntico ao dos projectores de cinema poderá ser indicado para os sistemas de gravação de imagem Vídeo 2000, que, por razões essencialmente comerciais, quase não chegou a conhecer uma expansão mínima, e para o sistema Beta. Do primeiro, encontrámos alguns exemplares que figuram como peças de museu da tecnologia educativa em algumas raras escolas; do segundo, encontrámos um maior número de exemplares, num total de 10 aparelhos, sendo a sua utilização, segundo apurámos, extremamente rara. Além de não termos encontrado gravações neste formato nas escolas que contactámos, à excepção de umas poucas cassetes incompletamente gravadas em duas ou três escolas, em geral, a maioria dos professores traz as suas próprias cassetes gravadas no sistema VHS, pelo que os videogravadores do sistema Beta só muito raramente são requisitados.

 

De acordo com os elementos apresentados no quadro 46 relativamente às novas tecnologias, o único recurso que faz actualmente parte da dotação a 100% das escolas do distrito de Aveiro e, muito provavelmente de todas as escolas portuguesas a partir do segundo ciclo do ensino básico, é o computador. Todavia, apesar desta dotação a 100% e de, durante alguns anos, ter decorrido o projecto MINERVA, que tinha como objectivos, entre outros, a introdução das novas tecnologias da informação no ensino, a verdade é que só as escolas de nível secundário possuem actualmente, pelo menos no distrito de Aveiro, sala de informática (Vd. gráfico da figura 13). Das escolas do 2º e 3º ciclo do ensino básico, 12 escolas (16,9%) ainda não possuem qualquer sala de informática onde os alunos possam ter contacto com este poderoso recurso educativo. Os computadores existentes nestas 12 escolas destinam-se essencialmente à gestão da escola, ou seja, aos Serviços Administrativos, havendo escolas onde os professores dificilmente terão acesso ao computador.

Em relação aos professores, a frequência de utilização do computador está muito aquém daquilo que seria de esperar quase em finais do século XX. Embora no quadro 47 o tenhamos incluído entre os recursos de frequência média de utilização, a verdade é que este posicionamento será bastante discutível, uma vez que a frequência de utilização pelos docentes é de apenas 24,1%, valor que se nos afigura bastante reduzido, fazendo-nos levantar algumas dúvidas sobre o alcance dos objectivos propostos no momento do seu lançamento pelo projecto MINERVA. De qualquer modo, deixando de lado esta observação pessimista e talvez infundada, a verdade é que os valores apresentados no quadro 37, na altura em que efectuámos a exposição dos dados da investigação, nos mostram uma evolução de sentido positivo em relação ao computador. Nesse quadro, comparam-se os dados obtidos em duas épocas distintas, os quais parecem indicar uma tendência para a redução da percentagem de professores que nunca contactaram com o computador. De qualquer modo, dos 349 professores inquiridos, 202 declararam nunca ter utilizado um computador, o que dá uma percentagem de 57,88%, que se nos afigura ainda bastante elevada.

Quais as possíveis razões de uma tão difícil aceitação por parte dos docentes portugueses relativamente a um recurso com tantas potencialidades como é o caso do computador? Embora o problema ultrapasse o âmbito de um trabalho deste tipo, seria interessante procurar saber as causas que levam a uma tão difícil aceitação do computador pelos professores: aversão natural pelas tecnologias mais avançadas? Resistência à inovação? Um certo comodismo e cristalização? Questões meramente económicas? Medo de adquirir um produto que rapidamente se desactualiza e consequentemente se desvaloriza? Ou uma deficiente sensibilização dos docentes para as potencialidades do computador como ferramenta de trabalho e, sobretudo, como recurso educativo?

Se o computador, considerando apenas as frequências MV+AV, se caracteriza por uma reduzida frequência de utilização pelos docentes (apenas 24,1%), os sistemas interactivos, como o CD-I e sistemas multimédia são quase inexistentes nas escolas do distrito de Aveiro e, muito provavelmente, na maioria das escolas portuguesas.

Os leitores de Disco Compacto Interactivo (CD-I, em inglês) são quase inexistentes. Das 73 escolas do distrito de Aveiro, apenas 2 possuem leitores de CD-I, o que corresponde a 2,7% das escolas. E os computadores dotados com CD-ROM, placa de som e placa gráfica para poderem trabalhar como plataformas multimédia apenas existem em 4 escolas (5,5%), o que significa que as mais recentes tecnologias da informação penetram nas escolas portuguesas com grande dificuldade e muito lentamente, o que também não será muito de admirar, se nos lembrarmos que, através dos tempos, as tecnologias mais avançadas sempre entraram com grande atraso e dificuldade no ensino. Foi, por exemplo, o que sucedeu com o cinema em épocas anteriores, que sempre gerou grande polémica entre os educadores sobre as suas vantagens e inconvenientes no campo pedagógico, o mesmo sucedendo posteriormente com a televisão.

Relativamente aos docentes, o desconhecimento e utilização das tecnologias mais recentes está de acordo com o seu grau de penetração nas escolas. As frequências de utilização são quase nulas, sendo o valor percentual das frequências de utilização de 2,3% para os sistemas multimédia e de 1,7% para o CD-I. Estes reduzidos valores das frequências de utilização reforçam a conclusão anteriormente apresentada, tanto mais que, além desta reduzida frequência de utilização, uma boa percentagem de docentes desconhece mesmo o que sejam. Enquanto o computador, ainda que nunca tendo sido utilizado por 57,9%, é conhecido da quase totalidade dos professores[3], os sistemas multimédia e o CD-I são desconhecidos de uma razoável percentagem de docentes, como se mostra no quadro 39, apresentado no capítulo de análise dos dados recolhidos. Em relação aos sistemas multimédia, 258 professores indicaram nunca os ter utilizado (73,9%) e 62 indicaram desconhecer o que era (17,76%), o que significa que a percentagem total de professores que nunca utilizaram ou contactaram com sistemas multimédia é de 91,7%. Quanto ao CD-I, 276 professores declararam nunca o ter utilizado (79,08%) e 55 indicaram desconhecer o que é (15,76%), o que corresponde a um total de 94,84% de professores que nunca o utilizaram.

 


[1] - Apenas possuem diafilmes as escolas com as referências 28 (1 exemplar), 30 (2 exemplares), 3 (55 exemplares) e 53 (1 exemplar). Segundo averiguámos através de inquérito directo, há muitos anos não são utilizados, havendo mesmo funcionários que desconheciam o que eram, quando os desenrolámos para observar as imagens e o estado de conservação. A ausência de riscos horizontais no sentido da tracção da película constitui um forte indício da reduzida ou mesmo nula utilização.

[2] - A percentagem real da frequência de utilização do videoprojector deve ser inferior aos valores por nós obtidos, pois é muito pouco provável que os professores alguma vez possam ter recorrido a ele durante o ano em curso. Consultando-se os mapas 5 e 8, poderá verificar-se que só 3 escolas do distrito de Aveiro possuem este recurso e que nenhuma delas se encontra entre as 12 onde decorreu o inquérito aos docentes.

[3] - Apesar de tudo e para nossa surpresa, houve dois docentes (0,57%) que declararam desconhecer o que era um computador!

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