Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996.


Sistemas informáticos e informatizados

Dentro da classe dos sistemas informáticos ou informatizados teremos de considerar como principal recurso o computador, cuja vulgarização começou a verificar-se nos finais da década de 1970, começando pouco depois, em finais de 1984, a penetrar de maneira lenta e quase ignorada nas escolas portuguesas.

Ao lado do computador e dos sistemas multimédia a ele ligados, poderá também incluir-se um recurso relativamente novo, lançado pela primeira vez no começo da década de 1980, e que constitui um aparelho intermédio entre o computador e o leitor de videodiscos ─ o CD-I. Se, no momento presente, o computador é um recurso que já "conquistou" uma razoável percentagem de docentes (pelo menos 8,3% dos inquiridos utilizam-no já muitas vezes e 15,8% algumas vezes ─, o CD-I continua, tal como os sistemas informáticos multimédia, fora dos hábitos de utilização, como poderemos verificar pela consulta do quadro 35, onde se registam os resultados do inquérito a 349 docentes relativamente a estes três recursos: computador, CD-I e sistemas multimédia.

Associado ao computador anda frequentemente um pequeno aparelho de cristais líquidos, vulgarmente conhecido pela designação de «data display». Este pequeno aparelho, acoplado a um computador e colocado sobre um retroprojector, permite que as imagens, habitualmente visionadas no monitor do computador, possam ser projectadas sobre um ecrã de cinema, permitindo que os dados fornecidos pelo computador possam ser visionados por um elevado número de receptores.

 

Computador

 

CD-I

 

Sistemas

Multimédia

 

Nº Resps.

%

Nº Resps.

%

Nº Resps.

%

Muitas Vezes

29

8,31

1

0,29

3

0,86

Algumas Vezes

55

15,76

5

1,43

5

1,43

Raras Vezes

61

17,48

12

3,44

21

6,01

Nunca

202

57,88

276

79,08

258

73,93

Não conheço

2

0,57

55

15,76

62

17,77

 

349

100,00

349

100,00

349

100,00

Quadro 35: Frequências de utilização do computador, CD-I e sistemas multimédia nas escolas do distrito de Aveiro, em 1994/95 (349 inquéritos distribuídos aleatória e proporcionalmente por 12 escolas do distrito).

O computador é actualmente um recurso existente a 100% em todas as escolas do distrito de Aveiro, como mostra o quadro 5, apresentado no início do capítulo. O facto de havermos indicado uma escola de nível EB23 como não possuindo computador deveu-se ao facto dela ter sido recentemente inaugurada, estando, no momento em que elaborámos o inquérito, na fase de apetrechamento pelos equipamentos escolares[1].

De acordo com o quadro 6, o computador é um recurso com um valor de ratio dentro do suficiente, na medida em que existe 1 computador para 2 a 5 salas de aula, para 81 a 145 alunos e para 6 a 13 professores.

Os inquéritos directos e a análise do mapa 6 mostram-nos, todavia, que a realidade é um tanto diferente daquilo que os valores numéricos do quadro 6 permitem supor. Em algumas escolas, o número de computadores é reduzido e eles destinam-se essencialmente à gestão da escola, não chegando mesmo a haver, em diversas escolas, uma sala de informática, onde professores e alunos possam utilizar o computador com objectivos pedagógicos.

 

            Figura 13: Número de salas de informática por escola.

A análise do quadro 5, do gráfico da figura 13 e do mapa 6 permite-nos verificar que 12 escolas (16,9%) do distrito de Aveiro não possuem sala de informática. Das restantes, 43 possuem uma sala de informática (60,5%). Nas escolas onde existem cursos com disciplinas em que as novas tecnologias da informação fazem parte do currículo, na generalidade escolas secundárias, 10 possuem duas salas de informática (14,08%), 4 três salas (5,63%) e 2 quatro salas (2,81%). Enquanto todas as escolas de nível secundário possuem pelo menos uma sala de informática, havendo uma cobertura total, as escolas de nível EB2 e EB23 só parcialmente se encontram dotadas com uma sala minimamente preparada para introdução das novas tecnologias da informação, de acordo com as seguintes percentagens: EB2: não dotadas-4 (33,33%); dotadas-8 (66,66%); EB23: não dotadas-8 (27,59%); dotadas- 21 (72,41%).

 

Figura 14: Distribuição do número de computadores nas escolas do distrito de Aveiro.

 

O gráfico da figura 14 apresenta-nos a distribuição do número de computadores por escola. Verificamos que, na totalidade dos níveis de ensino, a predominância (moda) é de 4 computadores por escola. No nível EB2, o número de computadores por escola está compreendido entre 2 e 7; no nível EB23, à excepção do caso referido da escola que se encontrava na fase de equipamento, esse número está compreendido entre 2 e 11 aparelhos, com predominância dos valores 3, 4 e 7. No nível secundário, a distribuição do número de computadores está de acordo com duas categorias de escolas: aquelas onde não há cursos com disciplinas que envolvam particularmente a informática; e as que possuem cursos com disciplinas para as quais o computador desempenha um papel importante, possuindo para isso entre uma e quatro salas de informática devidamente apetrechadas (cfr. figura 13).

Concomitantemente com os valores apresentados, resultantes do primeiro inquérito, a maior frequência de utilização do computador verifica-se, tal como se mostra no quadro 36 e na no gráfico da figura 15, na área da «Orientação Prática», que atinge na totalidade dos níveis de ensino 46,5%. A predominância da área de «Orientação Prática» verifica-se nos níveis EB23 e Secundário. No nível EB2, a maior frequência verifica-se na área das «Ciências Sociais e Humanas», onde atinge 40,0%.

Relativamente à utilização do computador pelos docentes, a maior frequência verifica-se entre os professores do ensino secundário (30,3%) e entre os professores não profissionalizados, onde o valor percentual atinge os 66,7%. A formação recebida parece ter contribuído significativamente para uma maior frequência de utilização do computador, sendo significativa a diferença percentual no nível EB2.

 

 

EB2

EB23

SEC.

TOTAL

Níveis de Ensino

 

16,7

18,3

30,3

24,1

Categoria

Profis.

15,7

16,9

27,7

22,4

Profissional

N. Profis.

25,0

25,0

66,7

38,9

Áreas

L.

5,9

13,1

26,3

19,6

Disciplinares

CSH

40,0

11,8

24,2

23,3

 

CEN

17,4

15,0

26,1

21,3

 

E

19,1

26,3

25,0

23,1

 

OP

---

30,8

57,1

46,5

Formação

Sim

34,6

20,4

35,9

29,7

Recebida

Não

9,3

15,4

22,2

16,9

Quadro 36: Total das percentagens MV + AV relativamente ao computador.

 

Figura 15: Utilização do computador nas diferentes áreas disciplinares, tendo em conta as frequências MV+AV.

 

BRAGA

1988

AVEIRO

1994/95

 

Nº Resps.

%

Nº Resps.

%

Muitas Vezes

---

----

29

8,31

Algumas Vezes

2

1,92

55

15,76

Raras Vezes

7

6,73

61

17,48

Nunca

95

91,35

202

57,88

Não conheço

---

---

2

0,57

 

104

100,00

349

100,00

Quadro 37: Frequências de utilização do computador em duas épocas e distritos diferentes.


De acordo com as respostas dos 349 inquéritos aos docentes, obtiveram-se as seguintes frequências de utilização: Muitas Vezes=29 (8,31%); Algumas Vezes=55 (15,76%); Raras Vezes=61 (17,48%); Nunca=202 /57,88%); Não conheço=2 (0,57%).

A comparação destes resultados com os obtidos em 1988 por Bento Duarte da Silva (op. cit., p. 189) relativamente ao distrito de Braga (Vd. quadro 37) parece indiciar um sensível aumento da adesão dos docentes ao computador, apesar dos dados apresentados corresponderem a regiões diferentes.

As 10 disciplinas que mais recorrem ao computador, tomando apenas em conta as frequências AV+MV, são, por ordem decrescente dos valores obtidos nos 349 inquéritos aos docentes: Matemática (10+0=10); História (6+1=7); Educação Tecnológica (2+4=6); Português e Educação Física (3+3=6); Informática (0+4=4); Geografia (2+2=4); Inglês e Alemão (3+1=4); Educação Visual (4+0=4).

 

Intimamente associado ao computador anda o «data display», pequeno aparelho que permite, como atrás referimos, projectar informações provenientes do computador num ecrã de cinema, com o auxílio de um retroprojector. Apesar do preço "relativamente" acessível e da utilidade desta interface gráfica, o número total de aparelhos existentes nas escolas do distrito de Aveiro é de apenas 22, para um total de 20 escolas (27,3%). Dos 349 professores inquiridos, 348 declararam não o conhecer (99,7%), tendo apenas um professor (0,3%) referido utilizá-lo «Muitas Vezes».

Ainda relacionado com o computador, procurámos no inquérito aos docentes averiguar quais as utilizações mais frequentes que dele fazem, tendo-lhes sido pedido que, no caso afirmativo, assinalassem com uma cruz os diferentes tipos de aplicação. Os resultados obtidos encontram-se registados no quadro 38.

 

Formas de utilização

SIM

%

NÃO

%

Processamento de texto

179

51,3

170

48,7

Desenho gráfico

54

15,5

295

84,5

Folhas de cálculo

64

18,3

285

81,7

Programação

23

6,6

326

93,4

Edição electrónica (DTP)

12

3,4

337

96,6

Utilização de software educativo

54

15,5

295

84,5

Aplicações multimédia

14

4,0

335

96,0

Quadro 38: Utilizações mais frequentes do computador pelos professores do distrito de Aveiro, em 1994/95 (DTP=Desktop Publishing).

 

A maior utilização do computador parece verificar-se na área do processamento de texto, em que a percentagem alcança o valor de 51,3%. As utilizações mais frequentes além do processamento de texto, com percentagens bastante reduzidas, verificam-se, por ordem decrescente, com as folhas de cálculo (64 professores - 18,3%), desenho gráfico e utilização de software educativo (54 professores - 15,5%). As restantes utilizações têm valores percentuais muito reduzidos, que não conseguem alcançar sequer os 10%. Mesmo a edição electrónica, que poderia ter bastante interesse na área das línguas e constituir um útil recurso pedagógico para os clubes de línguas e de jornalismo, é praticamente desconhecida, apenas sendo utilizada por 12 dos professores inquiridos, o que corresponde a 3,4% da população inquirida.

 

Se as várias vertentes de utilização do computador, à excepção do processamento de texto, são desconhecidas de uma elevada percentagem de docentes, as mais recentes tecnologias audiovisuais de carácter multimédia são praticamente inexistentes nas escolas do distrito de Aveiro e, muito provavelmente, na grande maioria das escolas portuguesas.

Relativamente aos sistemas multimédia (vd. mapa 8), já anteriormente referidos a propósito dos computadores, apenas quatro escolas possuem equipamento informático a este nível, ou seja, 5,4% das escolas do distrito[2].

Relativamente à frequência de utilização de programas multimédia, os resultados obtidos (vd. quadro 39) mostram-nos uma reduzida utilização. Dos 349 professores inquiridos, apenas 29 (8,3%) indicaram tê-los já utilizado. Dos restantes 320 (91,7%), 62 declararam mesmo não saber o que é.  

Em relação ao CD-I (vd. mapa 8 e quadro 39), apenas 2 escolas do distrito o possuem, sendo a sua frequência de utilização ainda mais reduzida do que a dos sistemas multimédia.

 

SISTEMAS

MULTIMÉDIA

CD-I

 

 

Nº Resps.

%

Nº Resps.

%

Muitas Vezes

3

0,86

1

0,29

Algumas Vezes

5

1,43

5

1,43

Raras Vezes

21

6,02

12

3,44

Nunca

258

73,93

276

79,08

Não conheço

62

17,76

55

15,76

 

349

100,00

349

100,00

Quadro 39: Frequências de utilização de programas/sistemas multimédia e CD-I no distrito de Aveiro.

Considerando-se os três níveis de utilização, a percentagem das três frequências de utilização é de apenas 6,45%. O número de professores que nunca utilizou um sistema multimédia é de 320, enquanto para o CD-I é de 331, o que significa que qualquer dos sistemas, apesar das suas potencialidades pedagógicas, acrescidas pelo facto de serem sistemas interactivos, conhece uma reduzida penetração no campo do ensino.

Relativamente às duas escolas que já possuem CD-I, uma é do 2º e 3º ciclo e a outra do nível secundário (Vd. mapa 8). De acordo com os dados que obtivemos por meio do inquérito directo, os dois aparelhos existentes são respectivamente da marca Technics (mod. SL-PG540A) e Philips (mod. CD-I 220) e são utilizados, quer por professores, quer por alunos, como complemento curricular, como reforço das aulas e em actividades da Área Escola. Enquanto numa escola o software para o CD-I é trazido pelos próprios professores,  na escola de nível secundário existe já, no presente momento, uma razoável colecção de discos, sendo regularmente disponibilizadas verbas para aquisição de novos títulos, à medida que vão sendo editados e que se afiguram com interesse pedagógico.

O preenchimento da alínea g) do inquérito específico para o CD-I revelou-se difícil. Sendo pedida a indicação de 5 títulos mais úteis do ponto de vista pedagógico, o professor responsável pela mediateca teve dificuldade em responder. Segundo ele, havia um elevado número de discos que eram frequentemente utilizados pelos professores de línguas. Do grupo dos mais frequentemente requisitados, acabou por tirar quase aleatoriamente cinco títulos[3].

As únicas percentagens das frequências de utilização MV+AV do CD-I, de acordo com os dados do mapa 11 (vd. também quadro 40) verificam-se nas áreas das «Línguas» (2,06%) e da «Expressão» (7,69%).

S. MULTIMÉDIA

 

EB2

EB23

SEC.

TOTAL

Níveis de Ensino

 

1,3

1,1

3,4

2,3

Categoria

Profis.

1,4

1,3

1,2

1,3

Profissional

N. Profis.

---

---

33,3

11,1

Áreas

L.

---

---

---

---

Disciplinares

CSH

---

---

---

---

 

CEN

---

---

---

---

 

E

4,8

---

8,3

3,9

 

OP

---

7,7

17,9

14,0

Formação

Sim

3,9

1,9

2,8

2,6

Recebida

Não

---

---

4,2

2,0

CD-I

 

EB2

EB23

SEC.

TOTAL

Níveis de Ensino

 

3,9

---

1,7

1,7

Categoria

Profis.

2,9

---

1,8

1,6

Profissional

N. Profis.

12,5

---

---

2,8

Áreas

L.

---

---

3,5

2,1

Disciplinares

CSH

---

---

---

---

 

CEN

---

---

---

---

 

E

14,3

---

8,3

7,7

 

OP

---

---

---

---

Formação

Sim

7,7

---

2,8

2,6

Recebida

Não

2,3

---

---

0,7

Quadro 40: Total das percentagens MV+AV relativamente aos sistemas multimédia e ao CD-I.  


[1] - No presente momento, segundo informação recebida por fax no começo do ano lectivo de 1995/96, a escola encontra-se devidamente apetrechada. No entanto, por uma questão de rigor, mantemos o valor indicado na altura em que foram realizados os inquéritos.

[2] - A título meramente informativo, foi criada, no ano lectivo de 1995/96, uma sala de multimédia numa escola secundária da cidade de Aveiro dotada com razoável número de computadores devidamente equipados.

[3] - Títulos dos CD-I destacados pelo professor responsável pela mediateca da escola: Tell me why 2; Classical Jukebox; A Visit to Sesame Street Letters; Time-Life Photography (tutorial); The Palm Springs Open (lúdico).

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