Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996.


Projecção Animada

Pode-se considerar, dentro da classe de recursos de projecção animada, todos aqueles cujas imagens com movimento podem ser visionadas graças à sua projecção por meio de um sistema óptico ou electrónico sobre uma superfície adequada. O primeiro sistema de projecção animada criado pelo homem moderno foi o cinema[1], inicialmente inventado com objectivos científicos e, em breve tempo, transformado em sétima arte. O segundo sistema de projecção, cujas semelhanças com o cinema passam completamente despercebidas à grande maioria dos utilizadores, foi a televisão. Ao cinema e televisão veio juntar-se um conjunto de recursos tecnologicamente evoluídos, tais como os sistemas de videogravação e de videoprojecção. Até mesmo os meios informáticos ou informatizados, que consideramos como uma classe à parte, apresentam algumas relações com a televisão, embora envolvam aspectos tecnológicos e potencialidades diferentes, que os colocam numa categoria específica.

Dentro da categoria da projecção animada iremos considerar, sucessivamente, o cinema, nos dois formatos mais frequentes (ou únicos) no ensino, a televisão e os sistemas a ela ligados, tais como os videogravadores e os videoprojectores.

Os únicos formatos em que o cinema (utilizando projectores de cinema) entrou nas instituições de ensino, salvo casos pontuais, foram o 16 e o 8 milímetros. E mesmo estes, devido ao alto custo das máquinas e películas, nunca conheceram a expansão que seria desejável. Com a aparecimento de sistemas de gravação em vídeo, a partir dos finais da década de 1970 e começos da seguinte, o cinema chegou praticamente ao fim, sendo as máquinas de filmar de 8 e super 8 substituídas pelas modernas e compactas  «camcorders». A análise dos dados obtidos, quer através do inquérito dos recursos didácticos, preenchido pelos conselhos directivos de 71 escolas do distrito de Aveiro, quer através da observação directa nessas mesmas escolas, parece confirmar que o cinema é um recurso totalmente caído em desuso. À excepção de uma escola do concelho de Anadia, onde encontrámos um grupo de professores que mantém ainda vivo o espírito cineclubista, isto é, o espírito dos antigos clubes de cinema, muito em voga em Portugal entre os anos 50 e 60, em nenhuma das escolas possuidoras de máquinas de projectar estas são actualmente utilizadas. Umas figuram mesmo como peças de museu, como verificámos em algumas escolas; a grande maioria encontra-se arrumada em "armazéns", coberta de poeira, apesar de, em muitos casos, estarem ainda em perfeito estado de funcionamento. Encontrámos mesmo algumas bastante evoluídas e dos finais da década de 70, que saíram talvez pela segunda vez da embalagem de origem para as podermos analisar. Ainda por estrear, pudemos comprovar que funcionavam perfeitamente, apesar de não dispormos de nenhuma bobina com filme para podermos visionar.

Efectuaremos aqui uma análise simultânea do cinema de 16 e 8 milímetros, dado o reduzido número de aparelhos existentes. Constituindo o cinema um dos oito recursos que mereceram da nossa parte uma análise mais minuciosa, recorreremos para análise aos elementos registados no mapa 8 e aos inquéritos directos correspondentes às 15 escolas detentoras de projectores de cinema.

O número de escolas do distrito de Aveiro possuidoras de projectores de cinema de 8 e 16 mm, tal como se documenta no quadro 26, é muito reduzido e corresponde, em regra, às antigas escolas preparatórias e secundárias, muitas delas com algumas dezenas de anos de existência e anteriores à década de 1980. Apenas 7 escolas possuem projectores de cinema de 16 mm, o que corresponde a 9,85% relativamente às 71 escolas que responderam ao inquérito e 9,58% em relação às 73 escolas do distrito. O número de projectores de 8 mm é de 9 (12,6% ou 12,3% de acordo com o total de escolas considerado). O número total de escolas dotadas com projectores de cinema é de 15 (21,12% ou 20,54%), tendo uma delas uma máquina de cada formato.  

Escolas dotadas com projectores de cinema

Escolas 28 33 35 70

-

16 30 41

-

3 34 40 45 48 58 63 66

-

-

Recursos P P P P Total CS CS CS Total S S S S S S S S Total Global
Proj. cinema 8 mm 0 1 1 1 3 0 1 1 2 0 1 1 1 0 0 1 0 4 9
Proj. cinema 16 mm 1 0 1 0 2 1 0 0 1 1 0 0 0 1 1 0 1 4 7
 Total de aparelhos = 16            Total de escolas = 15                                                         

16

Quadro 26: Escolas do distrito de Aveiro dotadas com projectores de cinema de 8 e 16 milímetros.

Comparando com o distrito de Braga, verificamos que este se encontra mais bem dotado com este recurso do que o distrito de Aveiro, havendo 6 projectores de 16 mm e 22 de 8 mm, o que dá um total de 28 aparelhos[2].

Ao efectuarmos o inquérito directo nas 15 escolas possuidoras de projectores de cinema, procurámos essencialmente averiguar se os mesmos eram actualmente utilizados e, independentemente das respostas obtidas, procurámos também verificar quais os modelos, as marcas e as características técnicas e, uma vez que quisemos observá-los directamente, averiguámos até que ponto se encontravam ainda operacionais. Não se pretendendo aqui uma análise exaustiva de todos os resultados obtidos, limitar-nos-emos aos aspectos essenciais que pudemos observar.

À pergunta se os projectores de cinema ainda eram actualmente utilizados, além de, por vezes, termos constatado que os professores e elementos de alguns conselhos directivos desconheciam a sua existência na escola, a resposta foi invariavelmente a mesma: «Já há muitos anos que ninguém usa isso!»; todavia, na Escola Secundária de Anadia, encontrámos um grupo de professores que ainda utiliza, de tempos a tempos, um projector de 16 milímetros de origem polaca, com sistema óptico de som[3]. Esta utilização ocorre apenas periodicamente em actividades extra-classe, graças a esse grupo de professores que criou um clube de cinema e não quer deixar que este se extinga, recorrendo para tal ao empréstimo de filmes e possuindo mesmo uma pequena cinemateca com documentários oferecidos por diversas embaixadas.

Independentemente do formato, verificámos que, dos 15 projectores observados, alguns ainda por desembalar, sete eram já sonoros, havendo mesmo alguns com duas pistas magnéticas, pelo que permitiam uma projecção com som estereofónico ou uma utilização independente das duas pistas, reservando uma para locução e a outra para o fundo musical. Algumas máquinas mais recentes, que tivemos a oportunidade de desembalar pela primeira vez, vinham dotadas com um ecrã para visionamento à luz diurna, assemelhando-se a um pequeno aparelho de televisão[4].  

 

Região Centro 1983

Dist. Braga - 1988

Distrito de Aveiro 1994/95

 

Proj. 8 mm

?

Proj. 8 mm

Proj. 16 mm

Algumas Vezes

----

9=4,6%

---

1=0,29%

Raras Vezes

17=2,83%

21=10,7%

12=3,44%

8=2,29%

Quadro 27: Frequência global de utilização do projector de cinema como recurso educativo em três períodos diferentes.

 

Embora sabendo-se que, à excepção de uma escola, os projectores de cinema há muito deixaram de ser utilizados, passamos à análise das respostas dos inquéritos aos docentes das 12 escolas seleccionadas. As respostas obtidas estão de acordo com os resultados do inquérito directo. Como, à excepção da resposta de dois professores, não há qualquer indicação de frequência MV e AV, não procedemos à elaboração do quadro de síntese e remetemos para o mapa 9, apresentado na secção de anexos. A sua consulta permite verificar que, em qualquer nível de ensino, os professores não recorrem ao cinema como recurso educativo. E se eventualmente apresentam algum filme, fazem-no utilizando uma gravação em vídeo. Das 349 respostas obtidas, tendo em conta a globalidade dos níveis, apenas 12 professores (3,44%) indicaram utilizar «Raras Vezes» o projector de cinema de 8 mm; e para o projector de 16 mm o número de respostas decresce significativamente: «Algumas Vezes=1 (0,29%); Raras Vezes=8 (2,29%)». Os gráficos 6.1, 6.2 e 6.3 mostram também que os projectores de cinema se encontram entre os recursos a que os professores já não recorrem. E dos que, por ventura, terão recorrido ao projector de cinema, ainda que raramente, situam-se todos, como tivemos a curiosidade de verificar, no segundo ou terceiro escalão etário.

A não utilização do projector de cinema pelos professores como recurso didáctico é uma realidade há muito verificada. A consulta da tese de A. Moderno[5], cujos inquéritos foram realizados em 1983, abrangendo a região centro do país, revela-nos que, já nesta altura, os professores só muito raramente recorriam à projecção de filmes. Relativamente ao cinema de 8 mm, de um total de 600 professores inquiridos, só 17 declararam utilizá-lo «raramente», o que dá uma percentagem global de 2,83%. Idêntica situação foi também registada em relação ao distrito de Braga, em 1988, por Bento Duarte da Silva[6], onde as percentagens de recurso ao cinema são igualmente reduzidas na globalidade dos níveis: «Algumas Vezes-4,6%; Raras Vezes-10,7%».

 

Vimos, em capítulos anteriores, como a televisão constitui um agente transformador da espécie humana, cujos potenciais perigos foram diversas vezes motivo de reflexões. Mas, ao lado deste aspecto negativo, verificámos também que a televisão foi considerada como um poderoso recurso pedagógico, acabando por surgir em diversos países a televisão escolar. Em Portugal, tornou-se, durante várias décadas e a partir de 1964, um recurso educativo extensivo a todo o território, conhecido como telescola, tendo funcionado durante muito tempo como um sistema educativo paralelo ao ciclo preparatório nos edifícios das escolas de ensino primário.

Figura 9: Distribuição do número de televisores por escola no distrito de Aveiro, em 1994/95.

Sendo o aparelho de televisão um recurso existente a 100% em todas as escolas do distrito de Aveiro, chegando mesmo a haver, na globalidade dos três níveis de ensino, um aparelho para 8 a 10 salas de aula, a verdade é que os aparelhos existentes são pouco utilizados com objectivos pedagógicos a partir de emissões directas de televisão. A sua utilização é geralmente feita como terminal de um sistema de vídeo, servindo para visionar os programas previamente gravados existentes nas escolas ou, numa boa percentagem de casos, trazidos pelos próprios professores.

A análise dos mapas 9 a 13, bem como o quadro 28 com a soma das frequências MV+AV, mostra-nos que, na globalidade dos três níveis de ensino, é reduzida a utilização de uma emissão directa de televisão para fins pedagógicos. Dos 349 professores inquiridos, apenas 2 (0,57%) indicaram utilizar «Muitas Vezes» emissões de televisão, 58 (16,62%) «Algumas Vezes» e 81 (23,21%) «Raras Vezes». Considerando apenas as frequências MV e AV relativamente aos três níveis de ensino, a maior frequência de utilização corresponde ao nível Secundário, com um valor percentual reduzido (19,1%) e aos professores profissionalizados do mesmo nível (20,5%).

 

 

EB2

EB23

SEC.

TOTAL

Níveis de Ensino

 

14,1

16,1

19,1

17,2

Categoria

Profis.

15,7

18,2

20,5

18,9

Profissional

N. Profis.

---

6,3

---

2,8

Áreas

L.

17,7

17,4

28,1

23,7

Disciplinares

CSH

20,0

29,4

15,2

23,3

 

CEN

4,4

5,0

15,2

10,1

 

E

14,3

10,5

8,3

11,5

 

OP

---

23,1

10,7

14,0

Formação

Sim

30,8

20,4

17,9

19,5

Recebida

Não

7,0

10,3

20,8

14,3

Quadro 28: Total das percentagens MV + AV relativamente às emissões de televisão.

 

Tendo em conta as áreas disciplinares, os maiores valores percentuais relativamente às frequências MV + AV verificam-se nas áreas das «Línguas» (23,7%) e das «Ciências Sociais e Humanas» (23,3%).

BRAGA 1988

AVEIRO 1994

Prep.

Sec.  

Total

EB2

EB23

Sec.

Total

 

F

%

F

%

F

%

F

%

F

%

F

%

F

%

MV

---

---

1

1,6

1

1,0

---

---

---

---

2

1,1

2

0,6

AV

3

7,5

2

3,1

5

4,8

11

14,1

15

16,1

32

18,0

58

16,6

RV

5

12,5

5

7,8

10

9,6

17

21,8

26

28,0

38

21,4

81

23,2

NC

32

80,0

56

87,5

88

84,6

50

64,1

52

55,9

106

59,6

208

59,6

Quadro 29: Comparação entre os dados registados em 1988 por B. Duarte da Silva no distrito de Braga e os registados em 1994 no distrito de Aveiro.


Tomando como base os dados apresentados no quadro 17, pág. 189 do trabalho de Bento Duarte da Silva (op. cit., 1988), relativamente ao distrito de Braga, verifica-se que a reduzida utilização da televisão como recurso educativo não se confina ao distrito de Aveiro, parecendo indiciar que a situação poderá ser extensiva a todo o território nacional. De facto, tendo em conta a totalidade dos níveis de ensino, também neste distrito o valor percentual das frequências MV + AV é de apenas 5,8%, ou seja, dos 104 professores dos níveis Preparatório e Secundário, apenas 6 indicaram as frequências MV e AV.

A reduzida percentagem de utilização das emissões directas de televisão não é actual. De acordo com os dados fornecidos por António Moderno[7], relativamente a 1984, as percentagens são também bastante reduzidas. De acordo com o quadro 23, p. 278, relativamente ao ensino preparatório, apenas 26 professores (7,6%) de um total de 340 inquiridos indicaram a utilização directa, enquanto 178 (52,3%) manifestaram uma preferência pela «gravação magnetoscópica». E relativamente ao ensino secundário, de 260 inquiridos, 49 indicaram a emissão directa (18,8%) e 140 (40%) a «gravação magnetoscópica». Comparando as três épocas referidas, os valores percentuais parecem indicar um decréscimo no recurso à utilização de emissões directas de televisão.

 

Figura 10: Distribuição do número de videogravadores por escola no distrito de Aveiro em 1994/95: total-178; média-2,5 aparelhos por escola.

 

O aparecimento, a partir da década de 1970, de sistemas de gravação em vídeo mais compactos e, sobretudo, mais acessíveis economicamente, fez entrar o cinema amador em crise. E se, por um lado, levou à sua completa extinção, por outro, teve a grande vantagem de democratizar o registo e arquivo das imagens em suportes práticos e económicos, permitindo que, a nível do ensino, o cinema, pouco ou nada utilizado, passasse a ser substituído com vantagem pelas gravações em vídeo. Os diferentes sistemas surgidos e a concorrência desenfreada ao primeiro lugar no mercado de vendas baixaram significativamente o preço dos videogravadores, permitindo que, com algumas dezenas de conto as escolas pudessem começar a adquirir aparelhos de vídeo e a criar salas adequadas, dotadas com televisor, para utilização de um novo recurso educativo.

A consulta do quadro 5, apresentado no início do capítulo, permite-nos verificar que o videogravador é um dos recursos existentes a 100% nas escolas do distrito de Aveiro, perfazendo um total de 178 aparelhos no sistema VHS. Além deste sistema, verificamos pela análise do mesmo quadro que algumas escolas possuem também aparelhos do sistema Beta, embora o seu número total esteja reduzido a 10, em virtude da quase extinção deste sistema.

 

 

EB2

EB23

SEC.

TOTAL

Níveis de Ensino

 

42,3

48,4

51,7

48,7

Categoria

Profis.

45,7

50,7

54,8

51,8

Profissional

N. Profis.

12,5

37,5

8,3

22,2

Áreas

L.

47,1

52,2

63,2

57,7

Disciplinares

CSH

50,0

58,8

72,7

65,0

 

CEN

39,1

45,0

30,4

36,0

 

E

47,6

36,8

33,3

40,4

 

OP

---

46,2

42,9

41,9

Formação

Sim

61,5

53,7

56,6

53,9

Recebida

Não

39,5

41,0

44,4

42,2

Quadro 30: Total das percentagens MV + AV relativamente ao videogravador.

 

Considerando apenas o sistema VHS, o único actualmente utilizado pela grande maioria dos docentes, o quadro 6 permite-nos verificar que nas escolas do distrito de Aveiro existe 1 videogravador para 11 a 13 salas de aula, para 328 a 432 alunos e para 29 a 35 professores, o que constitui um valor de ratio claramente insuficiente, obrigando a uma utilização racional deste recurso na maioria das escolas.

A análise do mapa 6 permite-nos verificar que o número de videogravadores varia bastante de escola para escola, em qualquer dos níveis de ensino. Considerando apenas o sistema VHS e deixando de lado os anteriores sistemas, o número de aparelhos por escola, como documenta o gráfico da figura 10, varia de 1 para 8[8], sendo as escolas de nível secundário as que se encontram melhor apetrechadas. Enquanto nas escolas EB2 e EB23 a predominância é de um aparelho por escola, no nível Secundário é de dois aparelhos.

A maior frequência de utilização deste recurso verifica-se no nível secundário, sendo a percentagem das frequências MV+AV, na totalidade dos níveis de ensino, de 48,7%.

Os maiores valores percentuais da frequência de utilização do videogravador correspondem aos professores profissionalizados, verificando-se uma diferença percentual de 29,6% entre profissionalizados e não profissionalizados bastante significativa. Igualmente maior é a frequência de utilização relativamente aos professores que declararam ter recebido formação audiovisual, embora a diferença seja menor que a anterior, situando-se nos 11,7%.

SIM

%

NÃO

%

Realização/montagem de programas

48

13,8

301

86,2

Utilização/exploração didáctica de programas

96

27,5

253

72,5

Quadro 31: Respostas obtidas relativamente à formação recebida sobre tecnologia do vídeo [item 8b) do inquérito aos docentes].

 

 

Figura 11: Utilização de gravações em vídeo nas diferentes áreas disciplinares, tendo em conta as frequências MV+AV.

 

Relativamente ao ponto 8 do inquérito aos docentes, estes foram inquiridos sobre dois aspectos distintos mas inter-relacionados: 1.-realização/montagem de programas em vídeo; 2.-utilização/exploração didáctica de programas em vídeo. A observação do quadro 31 permite constatar que a percentagem de formação recebida pelos docentes nesta área é bastante reduzida. Se, relativamente à realização/montagem de programas em vídeo a reduzida percentagem de 13,8% é um valor facilmente aceite e justificável, uma vez que a realização e montagem de vídeos didácticos exige condições materiais praticamente inexistentes nas escolas, bem como formação específica e motivação e disponibilidade por parte dos docentes, a reduzida percentagem de 27,5% relativa à utilização e exploração didáctica de programas em vídeo poderá eventualmente indiciar diferentes problemas, cuja enumeração e análise não cabem aqui abordar. No entanto, não se pode passar sem chamar a atenção para a discrepância obtida entre os valores percentuais dos pontos 7 e 8 do inquérito aos docentes, respectivamente de 55,9% para a resposta ao item «Formação recebida sobre meios audiovisuais/tecnologia educativa» e de 27,5% para a resposta à questão «Utilização/exploração didáctica de programas em vídeo».

Tendo em conta a utilização de gravações em vídeo nas diferentes áreas disciplinares (vd. quadro 30 e gráfico da figura 11), os maiores valores percentuais das frequências MV+AV verificam-se, na totalidade dos níveis de ensino, nas áreas das «Ciências Sociais e Humanas» e das «Línguas».

A análise dos inquéritos preenchidos pelos docentes dá-nos a seguinte distribuição, por ordem decrescente das frequências AV+MV, de utilização do videogravador nas diferentes disciplinas: Português (18+2=20); História (13+5=18); Francês e Inglês (10+3=13); Ciências da Natureza (10+1=11); Educação Física (8+3=11); Biologia (8+2=10); Geografia (6+2=8); Educação Tecnológica (7+1=8); Físico-Química (8+0=8); Filosofia (5+2=7); Alemão (4+2=6); Educação Moral ... (3+2=5); Educação Musical (4+1=5); Educação Visual (5+0=5).

Número de

Respostas

Percentagem

Muitas Vezes

5

1,43

Algumas Vezes

34

9,74

Raras Vezes

41

11,75

Nunca

243

69,63

Não Conheço

26

7,45

 

349

100,00

Quadro 32: Frequência de utilização do videoprojector pelos docentes do distrito de Aveiro, em 1994/95.

 

Relacionado com os sistemas de televisão e de videogravação estão os aparelhos conhecidos por «projectores de vídeo» ou «videoprojectores».

Surgidos os primeiros aparelhos nos finais da década de 1960 para permitirem a projecção de programas de televisão ou de uma fonte de vídeo sobre um ecrã, como sucedâneo do cinema, eram aparelhos de grandes dimensões e economicamente muito pouco acessíveis. Actualmente, graças ao desenvolvimento da moderna tecnologia, que inventou os sistemas de cristais líquidos, os projectores de vídeo conheceram uma substancial redução de tamanho e de peso, havendo mesmo, actualmente, aparelhos que são pouco maiores e pouco mais pesados que um livro vulgar.  No entanto, se tamanho e peso sofreram tão elevada redução, o mesmo não poderá dizer-se em relação ao preço, de tal modo elevado que os torna praticamente inacessíveis à maioria dos estabelecimentos de ensino e desconhecido de 7,45% dos docentes.

Tal como pudemos verificar in loco (vd. mapa 8 e quadros 5 e 6), apenas 3 escolas (4,1%) do distrito de Aveiro possuem um aparelho de videoprojecção.

Dos 349 professores inquiridos, muito embora não existindo este tipo de aparelho nas escolas onde os inquéritos foram efectuados, 5 declararam utilizá-lo «Muitas Vezes» (1,43%), 34 «Algumas Vezes» (9,74%), 41 «Raras Vezes» (11,75%). Declararam nunca tê-lo utilizado 243 professores (69,63%) e 26 indicaram não conhecer este tipo de aparelho (7,45%).

           

ESCOLAS

SECUNDÁRIAS

 

 

REFª 34

REFª 47

REFª 48

Marca/modelo

Sony (estereofónico)

? (1)

Seleco (super digital/estereofónico

Grau de utilização

Elevado

Reduzido

Elevado

Quem utiliza

Professores

Professores

Professores

Objectivos

Complemento/reforço de aulas.

Actividades da Área-Escola

Complemento de aulas

Complemento de aulas.

Actividades da Área-Escola

Tipo de videogramas

Didácticos

Filmes

Documentários

Didácticos

Filmes

Documentários

Didácticos

Documentários

Quadro 33: Quadro síntese do inquérito directo relativo ao projector de vídeo. (1)-Não conseguimos que nos fosse facultada a observação directa.

 

Relativamente aos projectores de vídeo existentes nas três escolas do distrito de Aveiro, dois são de marca bastante recente. Um deles, da marca Sony e recentemente adquirido é estereofónico; o outro, da marca Seleco e fixado ao tecto do anfiteatro é, segundo as indicações que registámos do catálogo, superdigital e com som estereofónico. De acordo com as informações fornecidas pelos professores responsáveis, o grau de utilização em duas das escolas é elevado e reduzido na outra. Nas duas escolas de utilização elevada, o videoprojector é essencialmente utilizado para a projecção de programas didácticos, documentários e filmes em vídeo, sendo utilizados exclusivamente pelos professores, quer como complemento/reforço das aulas, quer em actividades da Área-Escola. (Vd. quadro 33 com a síntese do inquérito directo).

Em relação ao videoprojector omitimos o quadro de síntese das frequências de utilização MV+AV, em virtude de não existir projector de vídeo em nenhuma das escolas onde foi efectuado o inquérito aos docentes.

 

Figura 12: Repartição das câmaras de vídeo nas escolas do distrito de Aveiro que responderam ao inquérito (1994/95).  

 

Outro aparelho que se tornou relativamente acessível e que vem completar um conjunto de vídeo é a câmara de vídeo, também correntemente conhecida pela palavra inglesa camcorder [<cam(ara)+(re)corder]. De acordo com os dados recolhidos no inquérito aos conselhos directivos e posteriormente confirmado por nós (vd. quadros 5 e 6 e mapa 6), a percentagem de escolas dotadas com câmara de vídeo situa-se nos 75%, para as escolas do segundo ciclo, nos 89,6% para as do segundo e terceiro ciclo (EB23) e 83,3% para as secundárias, valores que estão próximos dos 100%. Significa isto que apenas 11 das 71 escolas que responderam ao inquérito (15,5%) ainda não possuem câmara de vídeo. A análise do mapa 6 mostra-nos também que na totalidade das 71 escolas existem 70 câmaras, o que quer dizer que a repartição do número de câmaras pelos estabelecimentos de ensino não é uniforme: 11 escolas não possuem câmara de vídeo; 50 possuem uma câmara; 10 possuem duas.

De acordo com o quadro 6, existe nas escolas do distrito de Aveiro uma câmara de vídeo para 25 a 32 salas de aula, 709 a 1284 alunos e 67 a 102 professores. Se uma câmara de vídeo fosse um recurso de utilização frequente, o valor de ratio seria altamente insuficiente. Todavia, como esta é apenas utilizada em determinadas situações e com reduzida frequência, apesar da sua utilização poder ser altamente pedagógica se devidamente aproveitada, cremos que deveria haver, pelo menos, uma dotação oficial de uma câmara de vídeo por estabelecimento de ensino.

 

 

EB2

EB23

SEC.

TOTAL

Níveis de Ensino

 

10,3

10,8

12,4

11,5

Categoria

Profis.

11,4

13,0

12,7

12,5

Profissional

N. Profis.

---

---

33,3

2,8

Áreas

L.

---

8,7

12,3

9,3

Disciplinares

CSH

20,0

23,5

12,1

16,7

 

CEN

4,4

---

8,7

5,6

 

E

23,8

15,8

16,7

19,2

 

OP

---

7,7

17,9

14,0

Formação

Sim

19,2

13,0

12,3

12,8

Recebida

Não

7,0

7,7

12,5

9,7

Quadro 34: Total das percentagens MV + AV relativamente à utilização da câmara de vídeo pelos docentes.

 

A análise dos mapas 9 a 12, bem como do quadro 34, mostra-nos que as frequências MV+AV de utilização da câmara de vídeo apresentam valores percentuais muito reduzidos, indiciando uma reduzida sensibilidade dos docentes para as potencialidades pedagógicas deste recurso audiovisual. Os maiores valores percentuais que se obtêm da soma das frequências MV+AV verificam-se nas áreas das «Ciências Sociais e Humanas» e da «Expressão». E o maior valor percentual verifica-se entre os professores não profissionalizados, no nível secundário. A leitura dos dados estatísticos mostra-nos que as maiores frequências AV e MV (ainda que reduzidas) se verificam nas seguintes disciplinas: História (4+1=5); Educação Física (3+1=4); Inglês (2+1=3); Alemão, Educação Visual, Físico-Química, Geografia e Educação Musical (3+0=3).

Dos 349 inquéritos preenchidos pelos docentes, indicaram utilizar a câmara de vídeo «Muitas Vezes» 4 professores (1,14%), «Algumas Vezes» 36 professores (10,31%), «Raras Vezes» 70 professores (20,05%). Os restantes 239 (68,48%) «Nunca Utilizaram» uma câmara de vídeo, havendo mesmo dois professores que indicaram desconhecer o que era.



[1] - Um dos primeiros sistemas de projecção de imagens animadas inventado pelo homem terá sido, em tempos remotos, o teatro de sombras, que constitui um sistema rudimentar de projecção que apenas necessita de uma fonte de luz, figuras opacas e um ecrã sobre o qual são projectadas as sombras com as silhuetas das figuras.

[2] - Vd. Bento Duarte da Silva, op. cit., quadro 9, p. 166.

[3] - Transcrevemos as palavras do professor responsável pelo material audiovisual: «Utilizamos o projector de cinema com filmes de tipo documentário sobre história dos países, recursos económicos, turísticos, etc. Filmes também de carácter técnico. Embora raramente, são feitas projecções numa média de 3 vezes por ano.»

[4] - A título informativo, apresentamos algumas das marcas de projectores que pudemos observar, na sua grande maioria em estado operacional: OKUSHIN (sonoro); BAUER mod P6T5 (sonoro de 16 mm); ELMO mod. SC-18 (sonoro magnético novo); EUMIG; IKI (16 mm, som óptico e magnético, quase novo); COPAL mod 422 (sonoro, novo ainda por usar); CHINON Auto-300 (novo, por usar); BELL HOWELL (inoperacional); etc.

[5] - A. Moderno, op. cit., pp. 226-229.

[6] - B. Duarte da Silva, op. cit., p. 189.

[7] - Transcrevemos de A. Moderno, op. cit., p. 278, os valores registados no quadro relativamente à «atitude perante o uso da televisão»: Ensino Preparatório: Emissão directa: 26 - 7,6%; Gravação magnetoscópica: 178 - 53,3%; indiferent.: 69 - 20,3%; Sem resposta: 67 - 19,7%; Total: 340 inquiridos;  Ensino Secundário: Emissão directa: 49 - 18,8%; Gravação magnetoscópica: 104 - 40%; Indiferent.: 81 - 31,1%; Sem resposta: 26 - 10%; Total: 260 (inquiridos).

Imediatamente a seguir, é apresentado um quadro com as razões das preferências dos docentes pelas gravações em vídeo, em detrimento das emissões directas, tais como a maior facilidade de utilização, a maior disponibilidade, a utilização no momento mais apropriado da lição e a possibilidade de repetir e de seleccionar as gravações.

[8] - Algumas escolas possuem também o sistema vídeo 2000, que figura actualmente como peça de museu; 10 escolas utilizam ainda o sistema Beta, embora essa utilização se faça já raramente.

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