Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996.

 

Enquadramento e justificação do problema

 / 129 / Sendo profissional do ensino e orientador de estágios pedagógicos de Português, primeiro no Ramo Clássico, em meados da década de 1970, depois no Ramo de Formação Integrada, desde o primeiro ano do início deste sistema de formação, em funcionamen­to na Universidade de Aveiro, de 1978 até 1994, tivemos a oportunidade de constatar a passagem da escola portuguesa por duas fases distintas.

Numa primeira fase, quer como estagiário, quer no ano seguinte como orientador, pudemos verificar que, de uma maneira geral, à excepção do tradicional quadro negro e uns tantos recursos educativos similares, muito raramente colegas mais velhos recorriam aos meios então correntes, como era o caso dos registos sonoros e do cinema. E encaravam o núcleo de estágio em que estávamos integrados como um conjunto de professores diferentes da restante classe, porque frequentemente recorríamos ao retroprojector, permanentemente disponível, e, sempre que necessário ou conveniente, a outro hardware de projecção fixa. O facto de o núcleo, em 1975/76, ter adquirido para a escola um conjunto para produção de diaporamas constituiu tema de conversa entre grupos e, quando fizemos a sua demonstração à escola, tendo criado mesmo um diaporama para demonstração das potencialidades do sistema, apenas três ou quatro professores mais velhos, que contactavam mais assiduamente com o grupo de estágio, estiveram presentes e procuraram inteirar-se das vantagens do novo recurso para o ensino.

Numa segunda fase, em que contactámos, durante dezasseis anos, com estagiários do Ramo de Formação Integrada, verificámos, com o decurso do tempo, que, além de um conhecimento teórico resultante dos novos currículos inerentes a um sistema de formação especialmente vocacionado para o ensino, de uma maneira geral, os professores estagiários traziam já alguns conhecimentos práticos, que lhes permitiam recorrer, cada vez com mais frequência e com alguma segurança, aos sistemas de projecção, privilegiando o retroprojector, e, algumas vezes, utilizando o diaprojector, que utilizavam com menor à-vontade. O facto de, com os professores estagiários, termos iniciado na escola onde trabalhávamos uma actividade / 130 / ligada à criação de software, especialmente de diaporamas para utilização nas nossas aulas, levou, a pouco e pouco, a que outros professores começassem a interessar-se pelos "novos" recursos audiovisuais e a que a escola, inicialmente com verbas de estágio, depois com verbas arranjadas também pelos grupos, começasse a adquirir retroprojectores, projectores de diapositivos e gravadores de cassetes.

A partir dos meados da década de 1980, especialmente depois de 1986, apesar da grande dificuldade que os novos recursos comunicativos têm geralmente em penetrar no ensino, sentimos que a escola portuguesa começava a entrar numa terceira fase. Por um lado, a evolução do vídeo e a redução verificada no preço dos aparelhos permitiu que as escolas pudessem disponibilizar verbas para a sua aquisição e de televisores para visionamento dos programas, geralmente gravados e trazidos pelos próprios professores. Por outro lado, o aparecimento dos microcompu­tadores levou a que alguns professores começassem a criar programas didácticos em basic e a levar os seus próprios aparelhos para as aulas, criando, ao princípio, um choque e uma onda de curiosidade por parte da comunidade escolar, menos atenta às recentes inovações tecnológicas. Os alunos ─ e nós próprios ─ entusiasmavam-se com as potencialidades destes novos recursos. E, pouco depois, toda a escola sabia que um orientador de estágio levava computadores para a sala de aula; e, em breve, professores mais sensíveis aos problemas da inovação pedagógica, ou talvez apenas curiosos pelas novas tecnologias, começaram a solicitar, em Conselho Pedagógico, que lhes fossem proporcionadas acções de sensibilização pelo professor inovador. E o aparecimento, pouco tempo depois, do projecto MINERVA acabou, finalmente, por introduzir na escola, de uma maneira sistemática, as novas tecnologias da informação, acabando o computador por se transformar num novo recurso educativo, cuja utilização e potencialidades, segundo cremos, se mantêm ainda mal aproveitadas, especialmente na vertente multimédia.

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