Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996. |
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Entre 1894-95 é promovida
por
João Franco-Jayme Moniz
uma reforma no Ensino Secundário,
a qual vai, nas suas orientações pedagógicas, pôr a tónica dominante em várias
disciplinas, nomeadamente na língua e literatura portuguesa e na geografia, e
na criação de imagens mentais por força da imaginação, tendo por
base as descrições. Pretende-se deste modo que os alunos desenvolvam a
capacidade de reconstruir mentalmente os respectivos conteúdos disciplinares,
segundo se pode inferir da leitura dos seguintes excertos, que passamos a
transcrever: «O ensino da língua nacional
ocupa um dos primeiros lugares no plano dos liceus, não só pela sua importância
imediata e prática, mas ainda pela grande influência que exerce no
desenvolvimento do espírito quando metodicamente dirigido (...). O método
indutivo ou heurístico, recomendado, não rejeita a memorização de regras bem
formuladas ou de determinados paradigmas, mas torna-a inútil na maior parte dos
casos; (...) Os variados exercícios que o ensino compreende, devem pôr em
acção a memória, não de maneira exclusivamente verbal, mas em modo
simultaneamente real, ideal e verbal, pela aquisição das noções
das coisas, pela aquisição das ideias e das palavras próprias que
significam as coisas e exprimem as ideias. Forma-se assim um material de
associações mentais, firmes quanto à forma e conteúdo, que ministram
perene base às operações lógicas superiores. (...) À imaginação,
ministram material precioso as leituras, e também as exposições
orais de preço artístico, feitas pelo professor na língua nacional. (...)
Para sentir a beleza de uma descrição, de uma narrativa, é preciso ter a
capacidade de reconstruir mentalmente o seu objecto (...)» Os elementos por nós
sublinhados dão-nos as linhas de força dos princípios subjacentes ao
documento: pôr em acção a memória mas em modo simultaneamente real, ideal e
verbal, pela aquisição das noções das coisas, ou seja, pretende-se que a
memorização seja o resultado de uma efectiva compreensão do verdadeiro
significado das coisas, reforçada por um «material
de associações mentais». E estes objectivos deveriam ser alcançados não
pela apresentação de gravuras, mas através de leituras e exposições orais
de valor artístico, por exigirem um maior grau de reflexão e de capacidade
mental de abstracção. No fundo, o documento chama a atenção para um aspecto que está de acordo com algumas opiniões actuais, que
consideram que o excesso de informação de carácter estritamente visual reduz,
pela sua elevada facilidade e reduzido esforço na recepção, o desenvolvimento
intelectual dos alunos, não permitindo o desenvolvimento de capacidades de
construção mental dos objectos e de memorização. Este aspecto da capacidade
de memorização, sem a qual não é possível haver conhecimento, é focado de
maneira especial relativamente ao ensino da Geografia. O seu ensino é
considerado com real valor educativo, na medida em que «desenvolve a memória,
principalmente das formas, das cores e das localizações no espaço; e dá
grande intensidade e clareza à associação de imagens por contiguidade.
Pelo desenvolvimento da memória visual (...) o ensino da geografia leva
ao desenvolvimento da intuição interior e da imaginação, à
capacidade, por exemplo, de representar, no espírito, paisagens,
costumes que apenas ouvimos /
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descrever ou lemos descritos, de reconstruir
o cenário de um facto histórico e, sobretudo, de fazer ciência clara dos
acidentes de um país à vista de uma carta geográfica habilmente traçada.» Mas, ao mesmo tempo, as
directrizes desta reforma fazem também referência à utilização dos meios gráficos
de representação geográfica, que contribuem para a construção através da
imaginação de imagens mentais: «(...) Fazendo que o aluno possa
percorrer, em espírito, com o auxílio dos meios gráficos que todos os dias se
multiplicam, esses mares, essas ilhas, esses continentes descobertos por nossos
maiores para a ciência, para o comércio, para a emigração europeia (...).» Princípios idênticos, tendo em vista desenvolver as capacidades da imaginação são igualmente aplicados ao ensino da História, dando-se do mesmo modo importância ao «desenvolvimento da memória pelo exercício aplicado a reter, de cor, factos e datas importantes e, sobretudo, a reproduzir mentalmente elementos componentes do passado (...).[1]»
[1] - Acerca dos diferentes aspectos abrangidos pela reforma de João Franco-Jayme Moniz, consulte-se a obra citada de Filipe Rocha, pp. 228-238, onde são postos em realce os diferentes aspectos desta reforma relativamente às disciplinas de Língua e Literatura Portuguesa, Língua Latina, Geografia, História, Matemática, Ciências Físicas e Naturais, Filosofia, Desenho e Trabalhos Manuais, entre outros aspectos. |
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