Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996. |
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«Não sou grande apaixonado de um
método de ensino que ultimamente tem prevalecido na Europa e que tanto
recomendou Madame de Genlis - falo do ensino primário por meio de brincos e
bonitos. Digo que não sou apaixonado do excesso a que se tem levado, porque,
usado com moderação e prudência, pode ter bons resultados (...) Há uns jogos
para fazer conhecer e ligar as letras e as sílabas, folgando; outros, para a
cronologia, etc. Com iguais brincos em estampas se deve ir ensinando a zoologia
e a botânica vulgares, sem mais ideia de classes, géneros ou espécies que
a de lhe ir fazendo notar os pontos de semelhança mais salientes entre animal e
animal, entre flor e flor.» Verificamos pelo excerto
transcrito de Garrett que, por esta altura, está já difundido na Europa um
sistema de ensino em que a imagem ocupa um papel importante como recurso
educativo. E embora ele próprio comece por afirmar não ser um «grande
apaixonado» por este método de ensino, não significa que o condene, pois
considera-o até mesmo vantajoso. O que ele não aceita são os exageros a que
este método tem levado, dando a entender que o mesmo poderá conduzir a bons
resultados se for utilizado com moderação e prudência. No fundo, Garrett
chama a atenção para um ponto fundamental, parecendo mesmo confirmar as
afirmações por nós efectuadas num capítulo anterior, quando chamámos a atenção
para os aspectos negativos de uma tecnologia audiovisual: todo o exagero e
utilização sistemática da mesma metodologia acabará por ter efeitos
negativos. Quando «usados com moderação
e prudência», o mesmo será dizer, de acordo com objectivos bem definidos
e introduzidos oportunamente, poderão «ter
bons resultados». E dá a entender que para cada objectivo deverá ser
utilizado o meio mais adequado: «há uns
jogos para fazer conhecer e ligar as letras e as sílabas, folgando; outros para
a cronologia, etc.» E sugere o que se deverá fazer, recorrendo às
imagens, para o ensino da zoologia e da botânica.
«Criem-se em cada uma das nossas
povoações escolas-locais, em que se acolham, ensinem, moralizem, corrijam e
sustentem, durante o dia, as crianças dos dois sexos, sob a direcção
de mestras, mães de família. Aí a instrução deve restringir-se aos
elementos de leitura, escrita e numeração. Estudos simplesmente intuitivos de objectos
da natureza e da arte, mostrados em galerias coloridas, e pequenos
trabalhos rurais e artísticos completariam o ensino.» Além de alargar o ensino aos
dois sexos e de pretender abranger toda a população, verificamos que o autor
advoga um ensino simples e intuitivo, limitado ao fundamental - ler, escrever e
contar - e apoiado no recurso a galerias[3] coloridas, isto é, a
imagens coloridas representando objectos naturais e artísticos, desempenhando
um contributo de natureza visual.
[1]
- Almeida GARRETT, Tratado de Educação,
in "Obras Completas" II, Empresa de História de Portugal, Lisboa,
1904, p. 302. Vd. Filipe ROCHA, Fins e objectivos do sistema escolar português, Col. Ciências da Educação e Desenvolvimento Humano, Aveiro, Paisagem Editora, 1984, vol. I (Período de 1820 a 1926), p. 47. [2] - Vd. Filipe ROCHA, op. cit., pp. 47-48. [3] - Além do sentido corrente de 'corredor largo e extenso', o vocábulo galeria pode designar, entre outras coisas, 'objectos expostos', 'quadros ou retratos', etc. No caso concreto do texto e atendendo à época e ao contexto, o autor deverá querer referir-se a colecções de imagens para fins educativos. |
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