Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996.

 

Os primeiros quadros murais

 / 42 / A primeira forma que o homem, em tempos mais recuados, encontrou para registar e transmitir conhecimentos de uma maneira perene, vencendo a fugacidade da transmissão oral, terá sido a criação de imagens, utilizando recursos simples que a observação e a experiência lhe foi permitindo descobrir. Como instrumentos de escrita e de transmissão de conhecimentos terá aprendido a utilizar recursos tecnológicos extremamente simples. Além das próprias mãos e dedos, que impregnados de substâncias naturais cromáticas lhe permitiam registar as primeiras imagens, em breve terá aprendido a utilizar como instrumentos de escrita pela imagem pedaços de madeira carbonizada e outros materiais que, pela sua dureza, permitiam gravar sulcos sobre as superfícies das rochas e das paredes das cavernas, que passaram a constituir os primeiros quadros murais utilizados pelo homem para a transmissão do saber, constituindo o que hoje designamos por arte rupestre.

Os primeiros elementos registados pelo homem eram extremamente simples e só com uma sequência de fases cada vez mais elaboradas conseguiu alcançar elevada mestria, dominando formas e materiais cada vez mais elaborados, cujo conhecimento foi transmitindo de geração em geração:

«Os primeiros traçados digitais encontrados em Toirano multiplicam-se pelas cavernas cerca de 30 000 a. C. (...) São traços a dedo, em barro maleável que felizmente a calcite consolidou aqui e acolá. Muitas vezes, traços verticais descem pelas paredes. Outros irregulares, ondulam, tornam-se serpentiformes. (...) Poder-se-ia pensar em grafias abstractas, mas parece que não é assim. (...) Desses traços nasceria uma nova fase pictográfica. Com o dedo pode esboçar-se, primeiro por acaso e a seguir de propósito, um perfil de animal, uma linha dorsal ...»[1]

 / 43 / Este acumular de conhecimentos e sua transmissão, com a criação de instrumentos tecnológicos gradualmente mais elaborados, faz com que os antecedentes mais remotos da tecnologia educativa tenham de se situar em épocas recuadas da vida do homem: «A teoria e os métodos educativos têm antecedentes muito antigos, que podem ser traçados a partir do tempo em que sacerdotes tribais sistematizaram conhecimentos e em que culturas primitivas inventaram pictogramas ou signos verbais para gravar, preservar, transmitir e reproduzir informação.[2]»

Importa referir que, modernamente, quando se fala em tecnologia educativa, se pensa imediatamente em máquinas utilizadas como recursos educativos, acabando por a palavra «tecnologia» adquirir um sentido erróneo. Como lembra P. Saettler, a palavra tecnologia «não implica necessariamente o uso de máquinas, (...) mas refere-se a qualquer arte prática que utilize o conhecimento científico.[3]»

 


[1] - Louis-René NOUGIER, Arte pré-histórica. In: História da Arte, vol. I, Lisboa, Publicações Alfa, 1979, pp. 3-37.

[2] - Paul SAETTLER, A history of instructional technology, New York, Mcgraw-Hill, 1969, p. 11.

[3] - Paul SAETTLER, op. cit., p. 13.

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