Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996.

Carga mágica, papel eternizante e valor simbólico da imagem



 / 26 / Vimos inicialmente que a palavra imagem está relacionada com a palavra magia. Ambas apresentam a mesma raiz, o elemento ou radical "MAG", cujo valor semântico nos remete para 'encanto, feitiço, atracção'. Efectivamente, a imagem é algo que fascina e que atrai rapidamente o olhar, apresentando inicialmente uma verdadeira função apelativa, na medida em que prende a nossa atenção. A prova desta característica, deste carácter de sedução, é bem conhecida dos profissionais da informação e da publicidade, que se servem da imagem para nos levar a agir e a adquirir aquilo de que, muitas vezes, nem sequer necessitamos.

Quando qualquer leitor pega num jornal, numa revista ou até mesmo num livro, um dos primeiros elementos para que olha são precisamente as imagens. Quando se pretende captar a atenção do leitor, recorre-se geralmente a imagens atractivas. Quando se pretende tornar rápida e acessível a leitura de dados quantitativos, de carácter estatístico, recorre-se a gráficos simultaneamente simples e atractivos, que permitam que o nosso cérebro capte facilmente, pelo contraste ou pela simbologia das imagens, a informação apresentada. Pode o leitor não ter tempo ou disposição psicológica para a leitura de uma revista ou de um jornal, mas não deixa de os folhear para ler os títulos principais e saborear as imagens, podendo assim ficar com uma rápida ideia dos conteúdos e, quiçá, despertar o apetite para uma leitura dos conteúdos verbais.

O fascínio pela imagem e a sua grande utilização não é característica dos tempos modernos. Desde as épocas mais remotas da humanidade, a imagem terá funcionado não apenas como uma forma de comunicação, mas também como forma de magia, como forma de propiciar a caça, como forma de reunir os homens na adoração dos mesmos deuses protectores da comunidade e como forma de conser­var e transmitir conhecimentos. E esta função mágica, este fascínio da imagem, conserva-se ainda bem viva nos tempos modernos. Quer em sociedades ditas primitivas, quer mesmo em grupos sociais culturalmente mais elevados, encontramos pessoas ou / 27 / grupos que utilizam a imagem como forma de obtenção de benefícios ou malefí­cios para as pessoas representadas.

Quando, em 1895, os irmãos Lumière fizeram os primeiros filmes, cuja duração se limitava a breves segundos, estes apre­sentavam simplesmente cenas da vida diária. E as pessoas afluíam ao Salão Indiano, no Grand-Café de Paris, onde eram efectuadas as projecções, para admirarem, maravilhadas, aquelas imagens do mundo que as rodeava e que podiam observar ao natural. Mas a realidade observável no dia-a-dia tornava-se diferente num ecrã, adquirindo como que qualidades de magia e de fascínio. E era um verdadeiro êxtase ver as folhas das árvores a mexerem como se fossem reais, ver a saída das fábricas após um dia de trabalho, ver o jardi­neiro a regar as plantas, ver o bulício da cidade que calcor­reavam diariamente, estando ali sentados em comunhão numa sala escurecida, apenas cortada por um jogo de feixes mágicos luminosos, que saíam de uma tosca máquina manejada por um homem e que iam chocar contra o plano branco do ecrã, reproduzindo aquilo que todos os dias observavam, mas que nunca tinham podido ver fora do próprio local que as imagens tinham registado[1].

Ainda hoje, em certas regiões, há povos que não se deixam fotografar, acreditando que, ao ser a sua imagem captada pela câmara, perderão uma certa parte de si mesmos, incorrendo em malefícios. Em contrapartida, outros há que, pouco habituados a verem-se retratados de maneira quase mágica pela máquina fotográfica, procuram chamar a atenção do fotógrafo, na esperança de verem a sua pessoa em certa medida imortalizada[2]. E, no fundo, numa certa acepção, não deixavam de estar correctos, pois uma imagem permite que a pessoa represen­tada continue presente entre os vivos. Acontece o mesmo que noutros domínios da actividade humana. Todo aquele que escreve ou que realize algo que se distinga da vulgaridade, o verdadeiro escritor, o artista, o grande pintor, o grande realizador, torna-se em certa medida imortal, uma / 28 / vez que o seu nome, a sua lembrança, ficará para sempre registado no mundo dos homens. É no fundo aquilo que nos diz o grande poeta: aqueles que realizam obras valorosas, vão-se da lei da morte libertando[3].

Encontram-se na mesma sintonia as palavras de um célebre escritor contemporâneo português, que afirmou que os progressos técnicos actuais não permitem que certas pessoas encontrem o verdadeiro descanso e a paz do sono eterno. Segundo ele, os registos, sejam de carácter visual, sejam de carácter sonoro, fazem com que as pessoas se tornem sempre presentes no mundo dos vivos, uma vez que, mesmo após a sua morte, é possível continuar a vê-los e a ouvi-los. Talvez seja esta a grande razão incons­ciente que faz com que todos nós sejamos levados a juntar aos nomes dos nossos entes queridos já falecidos, nas placas marmóre­as dos cemitérios, o medalhão com a sua fotogra­fia. Pelo menos, tem idêntico valor que o das fotografias que tiramos com o intuito de conservar, de alguma maneira, aquilo que nos é dado observar naquele momento e de, posteriormente, podermos rever, revivendo um pouco a vida passada. É, como nos diz Vergílio Ferreira, uma forma de reencontro com o tempo que passou. Diz-nos este escritor[4], num dos seus registos da Conta-Corrente, a propósito de um passeio a Fontanelas:

«...Mas a maior surpresa que me esperava foi uma fotografia da Tuna Académica de Coimbra em que eu figurava. No volume III desta Conta-Corrente eu pedira aos leitores que a tivessem o favor de tirarem uma cópia e mandarem. (...) E agora aqui tenho a fotografia diante de mim. Percorro ansiosamente, quase com angústia, aquelas faces de há quase cinquenta anos, à procura de um reencontro com o tempo que passou. Vejo-me na fila do alto - sou o quarto a contar da esquerda. Vejo precisamente o Danton, cá mais abaixo, à direita, junto ao bedel. E um tipo que tinha um nome esquisito, o Naturcélio, que tocava violino e também havaiana e andara comigo no liceu da Guarda. E o Baptista Martins, o segundo da minha fila, companheiro... (...) Aqui estamos todos num instante fugidio de já não sei quando, enquadrando o maestro Raposo Marques, já morto também...».

Este poder da  imagem, apesar do seu valor mágico e documental, faz também com que possa constituir uma forma de ameaça para a vida íntima de cada um. Esta potencial ameaça da vida íntima, acentuada cada vez mais com as descobertas dos meios técnicos modernos, que permitem a fixação instantânea, e reforçada pelo poder multiplica­dor da comunicação social, especialmente da imprensa e da televi­são, fez com que a imagem passasse a constituir, de há alguns anos para cá, matéria jurídica. O Código Civil português prevê que nenhuma utilização da imagem de uma pessoa possa ser feita quando daí resulte ou possa resultar prejuízo para a / 29 / honra, reputação ou simples decoro da pessoa retratada, sendo mesmo interdita a exposição, reprodução e comercialização do retrato de uma pessoa sem o seu prévio consentimento[5].

Como nos diz  Edgar Morin [6], a imagem possui a qualidade mágica do duplo, interiorizada, nascente, subjectivada, na medida em que duplo (isto é, imagem-espectro do homem que serviu de modelo) e imagem podem e devem ser considera­dos como os dois pólos de uma mesma realidade. A fotografia constitui como que um duplo daquele que foi fotografado, fazendo com que o elemento real, mesmo na sua ausência e após o seu desaparecimento, continue em certa medida magicamente vivo na fotografia, perpetuando-se no futuro. Este conceito de magia ligado à imagem continua ainda presente na vida moderna, sendo encontrada frequentemente em sessões de espiritismo, de feitiçaria, de curandices, em que, através da imagem da pessoa representada, se procura alcançar determinados efeitos.

À carga mágica e eternizante liga-se um outro aspecto importante, que lhe está frequentemente associado - o valor simbólico da imagem .

Ao contrário do signo linguístico, que se caracteriza pelo facto de ser convencional e arbitrário, não havendo qualquer relação de semelhança entre o significante e o significado, a percepção do símbolo, tal como nos lembra Jean Chevalier [7], «é eminentemente pessoal, não apenas no sentido em que ela varia com cada sujeito, mas no sentido em que ela provém da pessoa no seu todo», pelo que a percepção do valor simbólico de determinado objecto, independentemente da sua natureza imagética ou não, «é ao mesmo tempo algo de adquirido e algo de recebido», na medida em que «participa da herança bio-físico-psicológica duma humanidade mil vezes milenária, é influenciada pelas diferenças culturais e sociais próprias do seu meio imediato de desenvolvimen­to, ao qual acrescenta os frutos duma experiência única e as ansiedades da sua situação actual[8]

 / 30 / O conceito de símbolo é profundamente polissémico e pode abranger uma grande variedade de objectos. Este carácter polissémico é-nos referido por Charles S. Peirce[9], quando aborda o problema do símbolo. Segundo ele, «a palavra símbolo possui tantos significados que seria ofensa à língua acrescentar-lhe mais um.» E acrescenta que a significação que lhe atribui «a de um signo convencional, ou de um signo que depende de um hábito (adquirido ou nato), não é tanto um novo significado, mas um retorno ao significado original.» Todavia, verificamos que C. Peirce acaba por ligar o conceito de símbolo com o de signo linguístico: «Qualquer palavra comum, como "dar", "pássaro", "casamento", é exemplo de símbolo. O símbolo é aplicável a tudo o que possa concretizar a ideia ligada à palavra em si mesmo.» Mas, da mesma maneira que a palavra símbolo se pode aplicar às palavras, pode também aplicar-se a representações figurativas, pelo que a imagem simbólica se distingue de todas aquelas com que é frequentemente confundida. Limitando-nos apenas às imagens físicas, que poderão confundir-se com a imagem simbólica, convirá aqui registar as definições apresentadas por Jean Chevalier relativamente a três conceitos: emblema, atributo e alegoria.

«Emblema - figura visível adoptada convencionalmente para representar uma ideia, um ser físico ou moral: a bandeira é o emblema da pátria, o louro o da glória.

Atributo - uma realidade ou uma imagem, que serve de signo distintivo a uma personagem, a uma colectividade, a um ser moral: as asas são atributo de uma empresa de navegação aérea; a roda, duma companhia ferroviária; a balança, da Justiça.

Alegoria - uma figuração sob uma forma na maior parte das vezes humana, mas por vezes também animal ou vegetal, duma proeza, duma situação, duma virtude, dum ser abstracto, tal como uma mulher alada é a alegoria da vitória e uma cornucópia da abundância é a alegoria da prosperidade.[10]»

Também Umberto Eco[11] reflecte acerca de conceitos como diagramas, desenhos e emblemas e acerca da pluralidade de definições, por vezes ambíguas, que nos são fornecidas pelos dicionários. Em relação aos desenhos, de acordo com o que nos é dito por Umberto Eco, os dicionários reconhecem como signo «qualquer procedimento visual que reproduz os objectos concretos, como o desenho de um animal, para comunicar o objecto ou o conceito correspondente», o qual se distingue do diagrama, na medida em que este obedece a regras precisas e ultracodificadas e é abstracto, ao passo que o desenho parece ser mais espontâneo e consiste na / 31 / reprodução de um objecto concreto, muito embora o desenho possa representar seres fictícios, imaginários.

Os emblemas constituem, segundo o mesmo autor, representações desenhadas, mas de forma estilizada, «de modo que não importa tanto reconhecer a coisa representada, mas sim outro conteúdo pelo qual a coisa estilizada está.» E apresenta-nos como exemplos de emblemas «a cruz, a meia-lua, a foice e o martelo» que «estão pelo cristianismo, islamismo, comunismo», pelo que os emblemas são representações «icónicas, porque, como os diagramas, se prestam a manipulações da expressão que incidem no conteúdo, mas arbitrários quanto ao grau de catacrese que alcançaram

Retomando a nossa análise do conceito de símbolo, poderemos dizer que, enquanto no signo linguístico, além da convenção e da arbitrariedade, não há qualquer relação entre o significante e o significado, o símbolo «pressupõe homogeneidade do significante e do significado no sentido de um dinamismo organizador», resultante da própria estrutura da imaginação.

Segundo Gilbert Durand[12], que se apoiou nos trabalhos de Jung, Piaget e Bachelard, «muito longe de ser a faculdade de formar as imagens, a imaginação é a força dinâmica que deforma as cópias programáticas fornecidas pela percepção e este dinamismo reformador das sensações torna-se o fundamento de toda a vida psíquica. Pode-se dizer que o símbolo (...) só possui um sentido artificialmente dado, mas detém um poder essencial e espontâneo de ressonância», sendo por isso uma entidade inovadora.

No domínio da álgebra, da matemática e ciência fala-se também de símbolos. No entanto, estes não são verdadeiros símbolos, isto é, eles não passam no fundo de signos rigorosa e convencionalmente definidos por institutos de normalização, pelo que a sua significação é rigorosa e inequivocamente a mesma para todas as pessoas. Se assim não fosse, a matemática, por exemplo, deixaria de ser uma ciência rigorosa, exacta. Uma vez que os símbolos matemáticos representam conceitos rigorosos, não permitindo interpretações diversificadas, há autores que consideram que eles deveriam ser considerados como signos matemáticos e não como símbolos:  «O conhecimento objectivo (...) tende a eliminar o que resta de simbólico na linguagem para reter apenas a medida exacta. É um erro de palavras, bem compreensível aliás, chamar símbolos aos signos que visam indicar nomes imaginários, quantidades negativas, diferenças infinitesimais. (...) Seria um erro julgar que a abstracção crescente da linguagem científica conduz ao símbolo; o símbolo está cheio de realidades concretas. A abstracção esvazia o símbolo e gera o signo; a arte, pelo contrário, evita o signo e alimenta o símbolo[13]

O símbolo é muito mais do que um signo, pois transporta para lá da significação, está dependente da interpretação e depende de uma certa predisposição daquele que interpreta, está carregado de aspectos afectivos e dinâmicos e joga com as estruturas mentais, com os  / 32 / arquétipos, a que C. Jung se refere e que Freud designa por fantasmas originais [14]. Os arquétipo são protótipos de conjuntos simbólicos profundamente inscritos no inconsciente e que constituiriam como que uma estrutura (o que Jung designa por engramas ).

No campo das imagens sensíveis, isto é, susceptíveis de serem captadas pelos sentidos, há as que remetem para a realidade que representam, cuja leitura, embora sempre sujeita a um conjunto de factores culturais, permite a qualquer observador uma descodificação mais ou menos rica de pormenores. Outras há que podem estar carregadas de valor simbólico e, como tal, passam a transportar muito mais do que aquilo que os elementos visuais permitem percepcionar, isto é, tornam-se muito mais ricos de significação. A sua descodificação vai muito para além dos elementos objectivos representados, para se carregar de profundos e subtis significados, só inteiramente descodificados por alguns privilegiados. Essas imagens passam do simples domínio do real (e apesar de conterem ou reproduzirem frequentemente realidades concretas) para o domínio do simbólico e, embora formadas por objectos reais, estes passam a constituir uma estrutura com um significado mais profundo e de difícil descodificação, na medida em que possuem um duplo aspecto representativo e eficaz. As imagens simbólicas passam a ter, para empregarmos uma expressão de Jean Chevalier, um carácter eidolo-motor. No que se refere à representação, o vocábulo eidolon (do grego eidos, isto é, ideia) mantém-na ao nível da imagem e do imaginário, em vez de a situar ao nível intelectual. E têm um carácter motor, na medida em que põem em funcionamento a totalidade do psiquismo, pois a sua descodificação situa-se ao nível das estruturas psíquicas mais profundas do indivíduo.

É importante frisar que o conceito de motricidade está também presente nas ideias de Piaget, quando afirma que o conhecimento propriamente dito é o resultado de uma sequência de acções lógico-matemáticas resultantes da análise racional e metódica das imagens percepcionadas[15].

A imagem simbólica, embora desencadeie uma determinada actividade intelectual, mantém-se todavia como o centro à volta do qual gravita todo o psiquismo por ela posto em movimento, ou seja, enquanto uma roda sobre um capacete designa um empregado ferroviário, sendo apenas um signo, se for posta em relação com o Sol, com os ciclos cósmicos, com os / 33 / encadeamentos do destino, com as casas do Zodíaco, com o mito do eterno retorno, passa a ser uma coisa completamente diferente, ou seja, passa a adquirir um valor simbólico.

De uma maneira geral, as imagens que surgem nos manuais didácticos, na publicidade, nas histórias em banda desenhada, no cinema e na televisão, apresentam essencialmente um valor figurativo, funcionando como documentos objectivos da realidade que está a ser apresentada. Funcionam como documentos comprovativos, ilustrativos, daquilo que se expõe. Outras vezes, têm um papel esclarecedor, desmontando uma estrutura complexa e desempenhando um papel facilitador da aprendizagem. Outras vezes, funcionam como um reforço da mensagem textual, apresentando um valor redundante. Todavia, por vezes, as imagens, embora mantendo o seu aspecto de representação visual objectiva, caracterizam-se pelo seu aspecto não figurativo, adquirindo um valor que projecta o observador muito para além dos objectos visuais representados. É o caso da imagem simbólica, cuja interpretação não se esgota facilmente. Uma fotografia simbólica interpela-nos, desencadeia uma série de mecanismos interpretativos, levando o observador para além da própria fotografia:

«O nosso pensamento pode tratar de exprimir o sentido das coisas utilizando conceitos e proposições; neste caso as imagens não são mais do que simples instrumentos auxiliares. Todavia pode existir também a relação inversa: o essencial é então a imagem, ficando o pensamento limitado a descobrir as profundezas da imagem. A imagem diz mais que o pensamento: igualmente, o acto mediante o qual captamos a imagem, a visão, é muito mais vivo, mais complexo, rico e profundo que o pensamento[16].»

Do ponto de vista educativo, a imagem simbólica pode ter um valor pedagógico que deverá ser aproveitado pelo professor, o qual deverá levar os alunos a descobrir, tal como faz relativamente ao valor denotativo e conotativo das palavras,  os possíveis sentidos  da representaç­ão visual, tendo o cuidado de não impor uma interpretação única, de acordo com o seu ponto de vista, antes deixando que os alunos descubram possíveis interpretações e que apresentem as razões lógicas dessas eventuais interpretações. Tal como refere Santos Guerra[17], a imagem simbólica é um trampolim para a transcendência, permitindo que de uma realidade simbólica se passe para outros tipos de realidade. A imagem simbólica desperta mecanismos de projecção que permitem ao observador expor as suas próprias ideias. A imagem simbólica é uma exploração do inconsciente, é um recurso ideal para trabalhos de grupo. A imagem simbólica envia-nos para o que há de mais profundo em cada um de nós.

 


[1] - A primeira sessão pública de cinema teve lugar no dia 28 de Dezembro de 1895,  no Salão Indiano do Grand-Café . Tratava-se de uma sessão constituída por 10 curtas sequências, cuja duração, na sua totalidade, não ultrapassava os vinte minutos. As reacções dos espectadores de então eram as mais variadas, segundo nos testemunham pessoas da época. Quando, do fundo da Praça Billancour surgia uma carruagem lançada a galope em direcção da sala, muitos dos espectadores faziam instintivamente o gesto de se afastarem. Quando aparecia um bebé a comer a sopa, toda a gente sorria. Quando as folhas das árvores mexiam, as pessoas lançavam frases de admiração. E o entusiasmo atingia o rubro, gerando aplau­sos, quando o comboio chegava à estação... E quando a sessão terminava e as luzes se acendiam, toda a gente aplaudia entusiasmada.

«E toda a gente perguntava como é que os Senhores Lumière, estes grandes mágicos, tinham conseguido realizar um tal prodígio.»

Vd. JEANNE, René - e FORD, Charles - Histoire Illustrée du cinéma, vol. I.

KUBNICK, Henri - La première séance de cinéma. In: Cent grandes figures françaises.

[2] - Este facto foi por nós constatado durante a nossa passagem por Angola, entre 1974-76. Como em todas as deslocações levávamos sempre uma máquina fotográfica, frequentemente os nativos procuravam captar a nossa atenção, na esperança de lhes tirarmos a mágica fotografia que, de alguma maneira, os tornasse imortais através da imagem, permitindo-nos obter uma excelente colecção documental de tipos humanos.

[3] -                 ................................

                                E aqueles que por obras valerosas
                                Se vão da lei da Morte libertando:
                                Cantando espalharei por toda a parte,
                                Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
                                              
Camões , Os Lusíadas, I, est. 2.

[4] - Vergílio Ferreira, Conta-Corrente, Lisboa, Bertrand, 1987, vol. V, pp. 34-35.

[5] - Há casos em que a interdição de utilização da imagem de uma pessoa é difícil de ser obtida. Mesmo que uma pessoa seja fotografada sem consentimen­to, a apreensão da imagem (do retrato) só será possível nos termos gerais em que se podem requerer medidas cautelares para evitar a sua exposição, reprodu­ção ou comercialização. E, mesmo assim, há casos em que esta interdição não é facultada, como quando a pessoa fotografada se destaca pela sua notoriedade ou quando ocupa, por exemplo, cargos públicos de destaque e as imagens são obtidas em circunstâncias ligadas a lugares ou acontecimentos públicos. É, por exemplo, o caso das individualidades políticas de um país, cuja imagem tem fortes probabilidades de se encontrar permanentemente exposta através dos diferentes órgãos de comunicação social, o que os leva a ter de se preocupa­rem com a sua própria imagem.

[6] - MORIN, Edgar - El cine o el hombre imaginario. Barcelona, Seix Barral, p. 39.

[7] - Veja-se a introdução ao conceito de símbolo da autoria de Jean Chevalier, em: Jean CHEVALIER e Alain Gheerbrant, Dicionário de símbolos. (Mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números), Lisboa, Edições Teorema, 1994, pp. 9-31.

[8] - Jean Chevalier, op. cit., p. 10.

[9] - Charles Sanders PEIRCE, Semiótica, São Paulo, Editora Perspectiva, 1990, pp. 72-73.

[10] - Jean Chevalier, op. cit., p. 12.

[11] - Umberto ECO, Semiótica e Filosofia da Linguagem, São Paulo, Editora Ática, 1991, pp. 20-21.

[12] - Gilbert Durs DURAND, Les structures anthropologiques de l'imaginaire , Paris, 1963, p. 20, apud J. Chevalier, op. cit., p. 12.

[13] - Jean Chevalier, op. cit. p. 13.

[14] - Os fantasmas originais, segundo Freud, e que correspondem aos arquétipos de Jung, seriam «estruturas fantasmáticas típicas (vida intra-uterina, cena imaginária, etc.) que a psicanálise reencontra a organizar a vida fantasmática, qualquer que sejam as experiências pessoais dos sujeitos, explicando-se a universalidade destes, segundo Freud, pelo facto de constituírem um património transmitido filogeneticamente.» Vd. J. Laplanche e J. B. Pontalis, Vocabulaire de la psychologie, Paris, 1967, p. 157.

[15] - Recorde-se o que foi anteriormente dito relativamente a Piaget.

[16] - J. BERGER, Modos de ver, Barcelona, Gustavo Gili, 1975, p. 13, apud Miguel A. S. Guerra, op. cit., p. 208.

[17] - M. A. SANTOS GUERRA, op. cit., pp. 210-213.

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