/
26 /
Vimos inicialmente que a palavra
imagem está relacionada com a palavra
magia. Ambas apresentam a mesma raiz, o
elemento ou radical "MAG", cujo valor semântico nos remete para
'encanto, feitiço, atracção'. Efectivamente, a imagem é algo que
fascina e que atrai rapidamente o olhar, apresentando inicialmente uma
verdadeira função apelativa, na medida em que prende a nossa atenção.
A prova desta característica, deste carácter de sedução, é bem
conhecida dos profissionais da informação e da publicidade, que se
servem da imagem para nos levar a agir e a adquirir aquilo de que, muitas
vezes, nem sequer necessitamos.
Quando
qualquer leitor pega num jornal, numa revista ou até mesmo num livro, um
dos primeiros elementos para que olha são precisamente as imagens. Quando
se pretende captar a atenção do leitor, recorre-se geralmente a imagens
atractivas. Quando se pretende tornar rápida e acessível a leitura de
dados quantitativos, de carácter estatístico, recorre-se a gráficos
simultaneamente simples e atractivos, que permitam que o nosso cérebro
capte facilmente, pelo contraste ou pela simbologia das imagens, a informação
apresentada. Pode o leitor não ter tempo ou disposição psicológica
para a leitura de uma revista ou de um jornal, mas não deixa de os
folhear para ler os títulos principais e saborear as imagens, podendo
assim ficar com uma rápida ideia dos conteúdos e, quiçá, despertar o
apetite para uma leitura dos conteúdos verbais.
O
fascínio pela imagem e a sua grande utilização não é característica
dos tempos modernos. Desde as épocas mais remotas da humanidade, a imagem
terá funcionado não apenas como uma forma de comunicação, mas também
como forma de magia, como forma de propiciar a caça, como forma de reunir
os homens na adoração dos mesmos deuses protectores da comunidade e como
forma de conservar e transmitir conhecimentos. E esta função mágica,
este fascínio da imagem, conserva-se ainda bem viva nos tempos modernos.
Quer em sociedades ditas primitivas, quer mesmo em grupos sociais
culturalmente mais elevados, encontramos pessoas ou /
27 /
grupos que utilizam
a imagem como forma de obtenção de benefícios ou malefícios para as
pessoas representadas.
Quando,
em 1895, os irmãos
Lumière
fizeram os primeiros filmes, cuja duração
se limitava a breves segundos, estes apresentavam simplesmente cenas da
vida diária. E as pessoas afluíam ao
Salão Indiano, no
Grand-Café de Paris, onde eram efectuadas
as projecções, para admirarem, maravilhadas, aquelas imagens do mundo
que as rodeava e que podiam observar ao natural. Mas a realidade observável
no dia-a-dia tornava-se diferente num ecrã, adquirindo como que
qualidades de magia e de fascínio. E era um verdadeiro êxtase ver as
folhas das árvores a mexerem como se fossem reais, ver a saída das fábricas
após um dia de trabalho, ver o jardineiro a regar as plantas, ver o bulício
da cidade que calcorreavam diariamente, estando ali sentados em comunhão
numa sala escurecida, apenas cortada por um jogo de feixes mágicos
luminosos, que saíam de uma tosca máquina manejada por um homem e que
iam chocar contra o plano branco do ecrã, reproduzindo aquilo que todos
os dias observavam, mas que nunca tinham podido ver fora do próprio local
que as imagens tinham registado[1].
Ainda
hoje, em certas regiões, há povos que não se deixam fotografar,
acreditando que, ao ser a sua imagem captada pela câmara, perderão uma
certa parte de si mesmos, incorrendo em malefícios. Em contrapartida,
outros há que, pouco habituados a verem-se retratados de maneira quase mágica
pela máquina fotográfica, procuram chamar a atenção do fotógrafo,
na esperança de verem a sua pessoa em certa medida imortalizada[2].
E, no fundo, numa certa acepção, não deixavam de estar correctos, pois
uma imagem permite que a pessoa representada continue presente entre os
vivos. Acontece o mesmo que noutros domínios da actividade humana. Todo
aquele que escreve ou que realize algo que se distinga da vulgaridade, o
verdadeiro escritor, o artista, o grande pintor, o grande realizador,
torna-se em certa medida imortal, uma /
28 /
vez que o seu nome, a sua lembrança,
ficará para sempre registado no mundo dos homens. É no fundo aquilo que
nos diz o grande poeta: aqueles que realizam obras valorosas, vão-se da
lei da morte libertando[3].
Encontram-se
na mesma sintonia as palavras de um célebre escritor contemporâneo
português, que afirmou que os progressos técnicos actuais não permitem
que certas pessoas encontrem o verdadeiro descanso e a paz do sono eterno.
Segundo ele, os registos, sejam de carácter visual, sejam de carácter
sonoro, fazem com que as pessoas se tornem sempre presentes no mundo dos
vivos, uma vez que, mesmo após a sua morte, é possível continuar a vê-los
e a ouvi-los. Talvez seja esta a grande razão inconsciente que faz com
que todos nós sejamos levados a juntar aos nomes dos nossos entes
queridos já falecidos, nas placas marmóreas dos cemitérios, o medalhão
com a sua fotografia. Pelo menos, tem idêntico valor que o das
fotografias que tiramos com o intuito de conservar, de alguma maneira,
aquilo que nos é dado observar naquele momento e de, posteriormente,
podermos rever, revivendo um pouco a vida passada. É, como nos diz
Vergílio Ferreira, uma forma de
reencontro com o tempo que passou. Diz-nos este escritor[4],
num dos seus registos da Conta-Corrente, a propósito de um passeio a Fontanelas:
«...Mas a maior
surpresa que me esperava foi uma fotografia da Tuna Académica de Coimbra
em que eu figurava. No volume III desta Conta-Corrente eu pedira aos
leitores que a tivessem o favor de tirarem uma cópia e mandarem. (...) E
agora aqui tenho a fotografia diante de mim. Percorro ansiosamente, quase
com angústia, aquelas faces de há quase cinquenta anos, à procura de um
reencontro com o tempo que passou. Vejo-me na fila do alto - sou o quarto
a contar da esquerda. Vejo precisamente o Danton, cá mais abaixo, à
direita, junto ao bedel. E um tipo que tinha um nome esquisito, o Naturcélio,
que tocava violino e também havaiana e andara comigo no liceu da Guarda.
E o Baptista Martins, o segundo da minha fila, companheiro... (...) Aqui
estamos todos num instante fugidio de já não sei quando, enquadrando o
maestro Raposo Marques, já morto também...».
Este
poder da
imagem,
apesar do seu valor mágico e
documental, faz também com que possa constituir uma forma de ameaça para
a vida íntima de cada um. Esta potencial ameaça da vida íntima,
acentuada cada vez mais com as descobertas dos meios técnicos modernos,
que permitem a fixação instantânea, e reforçada pelo poder multiplicador
da comunicação social, especialmente da imprensa e da televisão, fez
com que a imagem passasse a constituir, de há alguns anos para cá,
matéria
jurídica. O Código Civil
português prevê que nenhuma utilização da imagem de uma pessoa possa
ser feita quando daí resulte ou possa resultar prejuízo para a /
29 /
honra,
reputação ou simples decoro da pessoa retratada, sendo mesmo interdita a
exposição, reprodução e comercialização do retrato de uma pessoa sem
o seu prévio consentimento[5].
Como
nos diz
Edgar
Morin
[6],
a imagem possui a qualidade mágica do duplo, interiorizada, nascente,
subjectivada, na medida em que duplo (isto é, imagem-espectro do homem
que serviu de modelo) e imagem podem e devem ser considerados como os
dois pólos de uma mesma realidade. A fotografia constitui como que um
duplo daquele que foi fotografado, fazendo com que o elemento real, mesmo
na sua ausência e após o seu desaparecimento, continue em certa medida
magicamente vivo na fotografia, perpetuando-se no futuro. Este conceito de
magia ligado à imagem continua ainda presente na vida moderna, sendo
encontrada frequentemente em sessões de espiritismo, de feitiçaria, de
curandices, em que, através da imagem da pessoa representada, se procura
alcançar determinados efeitos.
À
carga mágica e eternizante liga-se um outro aspecto importante, que lhe
está frequentemente associado - o
valor
simbólico da imagem
.
Ao
contrário do signo linguístico, que se caracteriza pelo facto de ser
convencional e arbitrário, não havendo qualquer relação de semelhança
entre o significante e o significado, a percepção do símbolo, tal como
nos lembra
Jean Chevalier
[7],
«é eminentemente pessoal, não
apenas no sentido em que ela varia com cada sujeito, mas no sentido em que
ela provém da pessoa no seu todo», pelo que a percepção do
valor simbólico de determinado objecto, independentemente da sua natureza
imagética ou não, «é
ao mesmo tempo algo de adquirido e algo de recebido», na medida em
que «participa da herança bio-físico-psicológica
duma humanidade mil vezes milenária, é influenciada pelas diferenças
culturais e sociais próprias do seu meio imediato de desenvolvimento,
ao qual acrescenta os frutos duma experiência única e as ansiedades da
sua situação actual[8].»
/
30 /
O
conceito de
símbolo
é profundamente polissémico e pode
abranger uma grande variedade de objectos. Este carácter polissémico é-nos
referido por Charles S. Peirce[9],
quando aborda o problema do símbolo. Segundo ele, «a
palavra símbolo possui tantos significados que seria ofensa à língua
acrescentar-lhe mais um.» E acrescenta que a significação que lhe
atribui «a de um signo
convencional, ou de um signo que depende de um hábito (adquirido ou
nato), não é tanto um novo significado, mas um retorno ao significado
original.» Todavia, verificamos que C. Peirce acaba por ligar o
conceito de símbolo com o de signo linguístico: «Qualquer
palavra comum, como "dar", "pássaro",
"casamento", é exemplo de símbolo. O símbolo é aplicável a
tudo o que possa concretizar a ideia ligada à palavra em si mesmo.»
Mas, da mesma maneira que a palavra símbolo
se pode aplicar às palavras, pode também aplicar-se a representações
figurativas, pelo que a imagem simbólica se distingue de todas aquelas
com que é frequentemente confundida. Limitando-nos apenas às imagens físicas,
que poderão confundir-se com a imagem simbólica, convirá aqui registar
as definições apresentadas por Jean Chevalier relativamente a três
conceitos: emblema, atributo e alegoria.
«Emblema
- figura
visível adoptada convencionalmente para representar uma ideia, um ser físico
ou moral: a bandeira é o emblema da pátria, o louro o da glória.
Atributo
- uma
realidade ou uma imagem, que serve de signo distintivo a uma personagem, a
uma colectividade, a um ser moral: as asas são atributo de uma empresa de
navegação aérea; a roda, duma companhia ferroviária; a balança, da
Justiça.
Alegoria
- uma
figuração sob uma forma na maior parte das vezes humana, mas por vezes
também animal ou vegetal, duma proeza, duma situação, duma virtude, dum
ser abstracto, tal como uma mulher alada é a alegoria da vitória e uma
cornucópia da abundância é a alegoria da prosperidade.[10]»
Também
Umberto Eco[11]
reflecte acerca de conceitos como diagramas, desenhos e emblemas e acerca
da pluralidade de definições, por vezes ambíguas, que nos são
fornecidas pelos dicionários. Em relação aos desenhos, de acordo com o que nos é dito por Umberto Eco, os dicionários
reconhecem como signo «qualquer
procedimento visual que reproduz os objectos concretos, como o desenho de
um animal, para comunicar o objecto ou o conceito correspondente», o
qual se distingue do diagrama, na medida em que este obedece a regras precisas e
ultracodificadas e é abstracto, ao passo que o desenho parece ser mais
espontâneo e consiste na /
31 /
reprodução de um objecto concreto, muito
embora o desenho possa representar seres fictícios, imaginários.
Os
emblemas constituem, segundo o mesmo autor, representações
desenhadas, mas de forma estilizada, «de
modo que não importa tanto reconhecer a coisa representada, mas sim outro
conteúdo pelo qual a coisa estilizada está.» E apresenta-nos como
exemplos de emblemas «a cruz, a
meia-lua, a foice e o martelo» que «estão
pelo cristianismo, islamismo, comunismo», pelo que os emblemas são representações «icónicas,
porque, como os diagramas, se prestam a manipulações da expressão que
incidem no conteúdo, mas arbitrários quanto ao grau de catacrese que
alcançaram.»
Retomando
a nossa análise do conceito de símbolo,
poderemos dizer que, enquanto no signo linguístico, além da convenção
e da arbitrariedade, não há qualquer relação entre o significante e o
significado, o símbolo «pressupõe
homogeneidade do significante e do significado no sentido de um dinamismo
organizador», resultante da própria estrutura da imaginação.
Segundo
Gilbert Durand[12],
que se apoiou nos trabalhos de Jung, Piaget e Bachelard,
«muito longe de ser a faculdade de formar as imagens, a imaginação é a
força dinâmica que deforma as cópias programáticas fornecidas pela
percepção e este dinamismo reformador das sensações torna-se o
fundamento de toda a vida psíquica. Pode-se dizer que o símbolo
(...) só possui um sentido artificialmente dado, mas detém um poder
essencial e espontâneo de ressonância», sendo por isso uma
entidade inovadora.
No
domínio da álgebra, da matemática e ciência fala-se também de símbolos.
No entanto, estes não são verdadeiros símbolos, isto é, eles não
passam no fundo de signos rigorosa e convencionalmente definidos por
institutos de normalização, pelo que a sua significação é rigorosa e
inequivocamente a mesma para todas as pessoas. Se assim não fosse, a
matemática, por exemplo, deixaria de ser uma ciência rigorosa, exacta.
Uma vez que os símbolos matemáticos representam conceitos rigorosos, não
permitindo interpretações diversificadas, há autores que consideram que
eles deveriam ser considerados como signos matemáticos e não como símbolos:
«O conhecimento objectivo
(...) tende a eliminar o que resta de simbólico na linguagem para reter
apenas a medida exacta. É um erro de palavras, bem compreensível aliás,
chamar símbolos aos signos que visam indicar nomes imaginários,
quantidades negativas, diferenças infinitesimais. (...) Seria um erro
julgar que a abstracção crescente da linguagem científica conduz ao símbolo;
o símbolo está cheio de realidades concretas. A abstracção esvazia o símbolo
e gera o signo; a arte, pelo contrário, evita o signo e alimenta o símbolo[13].»
O
símbolo
é muito mais do que um signo, pois
transporta para lá da significação, está dependente da interpretação
e depende de uma certa predisposição daquele que interpreta, está
carregado de aspectos afectivos e dinâmicos e joga com as estruturas
mentais, com os
/
32 /
arquétipos, a que
C. Jung
se refere e que
Freud
designa por
fantasmas
originais
[14].
Os
arquétipo
são protótipos de conjuntos simbólicos profundamente inscritos no
inconsciente e que constituiriam como que uma estrutura (o que Jung
designa por engramas
).
No
campo das imagens sensíveis, isto é, susceptíveis de serem captadas
pelos sentidos, há as que remetem para a realidade que representam, cuja
leitura, embora sempre sujeita a um conjunto de factores culturais,
permite a qualquer observador uma descodificação mais ou menos rica de
pormenores. Outras há que podem estar carregadas de valor simbólico e,
como tal, passam a transportar muito mais do que aquilo que os elementos
visuais permitem percepcionar, isto é, tornam-se muito mais ricos de
significação. A sua descodificação vai muito para além dos elementos
objectivos representados, para se carregar de profundos e subtis
significados, só inteiramente descodificados por alguns privilegiados.
Essas imagens passam do simples domínio do real (e apesar de conterem ou
reproduzirem frequentemente realidades concretas) para o domínio do simbólico
e, embora formadas por objectos reais, estes passam a constituir uma
estrutura com um significado mais profundo e de difícil descodificação,
na medida em que possuem um duplo aspecto representativo e eficaz. As
imagens simbólicas passam a ter, para empregarmos uma expressão de Jean
Chevalier, um carácter eidolo-motor. No que se refere à representação, o vocábulo eidolon
(do grego eidos, isto é, ideia) mantém-na ao nível da imagem e do imaginário,
em vez de a situar ao nível intelectual. E têm um carácter motor, na
medida em que põem em funcionamento a totalidade do psiquismo, pois a sua
descodificação situa-se ao nível das estruturas psíquicas mais
profundas do indivíduo.
É
importante frisar que o conceito de motricidade está também presente nas
ideias de Piaget, quando afirma que o conhecimento propriamente dito é o
resultado de uma sequência de acções lógico-matemáticas resultantes
da análise racional e metódica das imagens percepcionadas[15].
A
imagem simbólica, embora desencadeie uma determinada actividade
intelectual, mantém-se todavia como o centro à volta do qual gravita
todo o psiquismo por ela posto em movimento, ou seja, enquanto uma roda
sobre um capacete designa um empregado ferroviário, sendo apenas um
signo, se for posta em relação com o Sol, com os ciclos cósmicos, com
os /
33 /
encadeamentos do destino, com as casas do Zodíaco, com o mito do
eterno retorno, passa a ser uma coisa completamente diferente, ou seja,
passa a adquirir um valor simbólico.
De
uma maneira geral, as imagens que surgem nos manuais didácticos, na
publicidade, nas histórias em banda desenhada, no cinema e na televisão,
apresentam essencialmente um valor figurativo, funcionando como documentos
objectivos da realidade que está a ser apresentada. Funcionam como
documentos comprovativos, ilustrativos, daquilo que se expõe. Outras
vezes, têm um papel esclarecedor, desmontando uma estrutura complexa e
desempenhando um papel facilitador da aprendizagem. Outras vezes,
funcionam como um reforço da mensagem textual, apresentando um valor
redundante. Todavia, por vezes, as imagens, embora mantendo o seu aspecto
de representação visual objectiva, caracterizam-se pelo seu aspecto não
figurativo, adquirindo um valor que projecta o observador muito para além
dos objectos visuais representados. É o caso da imagem simbólica, cuja
interpretação não se esgota facilmente. Uma fotografia simbólica
interpela-nos, desencadeia uma série de mecanismos interpretativos,
levando o observador para além da própria fotografia:
«O nosso
pensamento pode tratar de exprimir o sentido das coisas utilizando
conceitos e proposições; neste caso as imagens não são mais do que
simples instrumentos auxiliares. Todavia pode existir também a relação
inversa: o essencial é então a imagem, ficando o pensamento limitado a
descobrir as profundezas da imagem. A imagem diz mais que o pensamento:
igualmente, o acto mediante o qual captamos a imagem, a visão, é muito
mais vivo, mais complexo, rico e profundo que o pensamento[16].»
Do ponto de vista educativo, a imagem simbólica
pode ter um valor pedagógico que deverá ser aproveitado pelo professor,
o qual deverá levar os alunos a descobrir, tal como faz relativamente ao
valor denotativo e conotativo das palavras,
os possíveis sentidos da
representação visual, tendo o cuidado de não impor uma interpretação
única, de acordo com o seu ponto de vista, antes deixando que os alunos
descubram possíveis interpretações e que apresentem as razões lógicas
dessas eventuais interpretações. Tal como refere Santos Guerra[17], a imagem simbólica é um trampolim para a transcendência, permitindo
que de uma realidade simbólica se passe para outros tipos de realidade. A
imagem simbólica desperta mecanismos de projecção que permitem ao
observador expor as suas próprias ideias. A imagem simbólica é uma
exploração do inconsciente, é um recurso ideal para trabalhos de grupo.
A imagem simbólica envia-nos para o que há de mais profundo em cada um
de nós.
[1]
- A primeira sessão pública de cinema teve lugar no dia 28 de
Dezembro de 1895, no
Salão Indiano do Grand-Café
. Tratava-se de uma sessão
constituída por 10 curtas sequências, cuja duração, na sua
totalidade, não ultrapassava os vinte minutos. As reacções dos
espectadores de então eram as mais variadas, segundo nos testemunham
pessoas da época. Quando, do fundo da Praça Billancour surgia uma
carruagem lançada a galope em direcção da sala, muitos dos
espectadores faziam instintivamente o gesto de se afastarem. Quando
aparecia um bebé a comer a sopa, toda a gente sorria. Quando as
folhas das árvores mexiam, as pessoas lançavam frases de admiração.
E o entusiasmo atingia o rubro, gerando aplausos, quando o comboio
chegava à estação... E quando a sessão terminava e as luzes se
acendiam, toda a gente aplaudia entusiasmada.
«E
toda a gente perguntava como é que os Senhores Lumière, estes
grandes mágicos, tinham conseguido realizar um tal prodígio.»
Vd.
JEANNE, René
- e FORD, Charles - Histoire
Illustrée du cinéma, vol. I.
KUBNICK,
Henri - La première séance de
cinéma. In: Cent grandes
figures françaises.
[2]
- Este facto foi por nós constatado durante a nossa passagem por
Angola, entre 1974-76. Como em todas as deslocações levávamos
sempre uma máquina fotográfica, frequentemente os nativos procuravam
captar a nossa atenção, na esperança de lhes tirarmos a mágica
fotografia que, de alguma maneira, os tornasse imortais através da
imagem, permitindo-nos obter uma excelente colecção documental de
tipos humanos.
[3]
-
................................
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Camões
, Os
Lusíadas, I, est. 2.
[4]
- Vergílio Ferreira, Conta-Corrente,
Lisboa, Bertrand, 1987, vol. V, pp. 34-35.
[5]
- Há casos em que a interdição de utilização da imagem de uma
pessoa é difícil de ser obtida. Mesmo que uma pessoa seja
fotografada sem consentimento, a apreensão da imagem (do retrato) só
será possível nos termos gerais em que se podem requerer medidas
cautelares para evitar a sua exposição, reprodução ou
comercialização. E, mesmo assim, há casos em que esta interdição
não é facultada, como quando a pessoa fotografada se destaca pela
sua notoriedade ou quando ocupa, por exemplo, cargos públicos de
destaque e as imagens são obtidas em circunstâncias ligadas a
lugares ou acontecimentos públicos. É, por exemplo, o caso das
individualidades políticas de um país, cuja imagem tem fortes
probabilidades de se encontrar permanentemente exposta através dos
diferentes órgãos de comunicação social, o que os leva a ter de se
preocuparem com a sua própria imagem.
[6]
-
MORIN,
Edgar - El cine o el hombre
imaginario. Barcelona, Seix Barral, p.
39.
[7]
- Veja-se a introdução ao conceito de símbolo da autoria de Jean
Chevalier, em: Jean CHEVALIER e Alain Gheerbrant, Dicionário
de símbolos. (Mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras,
cores, números), Lisboa, Edições Teorema, 1994, pp. 9-31.
[8]
- Jean Chevalier, op. cit., p. 10.
[9]
- Charles Sanders PEIRCE, Semiótica,
São Paulo, Editora Perspectiva, 1990, pp. 72-73.
[10]
- Jean Chevalier, op. cit., p. 12.
[11]
- Umberto ECO, Semiótica e
Filosofia da Linguagem, São Paulo, Editora Ática, 1991, pp.
20-21.
[12]
- Gilbert Durs DURAND, Les structures anthropologiques de l'imaginaire , Paris, 1963, p.
20, apud J. Chevalier, op. cit., p. 12.
[13]
- Jean Chevalier, op. cit. p. 13.
[14]
- Os fantasmas originais, segundo Freud, e que correspondem aos arquétipos
de Jung, seriam «estruturas
fantasmáticas típicas (vida intra-uterina, cena imaginária, etc.)
que a psicanálise reencontra a organizar a vida fantasmática,
qualquer que sejam as experiências pessoais dos sujeitos,
explicando-se a universalidade destes, segundo Freud, pelo facto de
constituírem um património transmitido filogeneticamente.» Vd.
J. Laplanche e J. B. Pontalis, Vocabulaire
de la psychologie, Paris, 1967, p. 157.
[15]
- Recorde-se o que foi anteriormente dito relativamente a Piaget.
[16]
- J. BERGER, Modos de ver,
Barcelona, Gustavo Gili, 1975, p. 13, apud Miguel A. S. Guerra, op.
cit., p. 208.
[17]
- M. A. SANTOS GUERRA, op. cit., pp. 210-213.
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