/
34 /
Nos
tempos modernos, a
imagem
tornou-se talvez a forma de comunicação mais utilizada pelo homem. A
partir do momento em que nos levantamos, somos frequentemente
confrontados, quase agredidos, com todo o tipo de imagens, que, em muitos
casos, chegam a ter como objectivo uma manipulação da nossa mente e das
nossas vontades. Quando carregamos no botão do televisor para o ligarmos,
o mundo inteiro entra-nos em casa através de sequências ininterruptas de
imagens. Quando saímos de casa, em vez do campo ou dos edifícios da
cidade, deparamos com enormes painéis publicitários, procurando
influenciar os nossos comportamentos. E mesmo que não queiramos, a forma
esbelta de uma figura feminina, o local aprazível e convidativo
representado, chamam desde logo a nossa atenção, atraem
irresistivelmente o olhar, obrigando-nos a captar as diferentes mensagens
expostas - icónicas e verbais. Entramos no autocarro ou noutro meio de
transporte público, e as imagens, geralmente publicitárias, continuam
presentes. E, ao longo do dia, nos mais diversos locais e nas mais
variadas circunstâncias, imagens de todo o tipo, tamanho e feitio
continuam a chegar ao nosso cérebro através das nossas janelas
sensoriais. E, repetidamente, todas as noites, enquanto dormimos, voltamos
a mergulhar num universo de imagens, no meio das quais não só
deambulamos, como frequentemente somos protagonistas. E por vezes, mesmo
durante o sono, continuamos a ser confrontados com sequências de
imagens muitas vezes agressivas. São as imagens de um mundo em guerra, de
um mundo em permanente conflito, que nos foram reveladas durante um
telejornal, de um mundo destruído por um conflito telúrico, tornado
ponto forte durante o noticiário, muitas vezes as imagens dos nossos próprios
medos e frustrações[1].
[1]
- Na nossa exposição, ao fazermos referência às imagens observadas
durante o sonho, estamos a considerar o vocábulo «imagem» no seu
sentido mais amplo, isto é, tudo aquilo que apresenta um carácter
visual. Convém recordar que a palavra imagem, tal como vimos no início
deste capítulo, pode ser entendida em vários sentidos. Assim, as
imagens oníricas constituem entidades diferentes daquelas que
efectivamente nos interessam, podendo ser talvez incluídas dentro das
imagens mentais. Mas ainda que fora do âmbito do nosso trabalho e
situadas no domínio onírico, não deixam de ser imagens fundamentais
para o ser humano, de importância vital para a sua sanidade física e
mental. É sabido que a
actividade onírica
constitui, enquanto dormimos, uma
forma de criação de universos fictícios onde o irrealizável se
pode concretizar, constituindo uma válvula de escape fundamental para
todos nós. Se um indivíduo for privado, artificialmente e durante
dias seguidos da actividade onírica, acabará por enlouquecer. É
igualmente sabido que esta capacidade tem sido, desde há longa data -
muito especialmente a partir do período romântico -, utilizada como
uma forma de inspiração para a criação artística não só literária
mas também plástica.
|