Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996.

A imagem - presença constante na vida do homem


 / 34 / Nos tempos modernos, a imagem tornou-se talvez a forma de comunicação mais utilizada pelo homem. A partir do momento em que nos levantamos, somos frequentemente confrontados, quase agredidos, com todo o tipo de imagens, que, em muitos casos, chegam a ter como objectivo uma manipulação da nossa mente e das nossas vontades. Quando carregamos no botão do televisor para o ligarmos, o mundo inteiro entra-nos em casa através de sequências ininterruptas de imagens. Quando saímos de casa, em vez do campo ou dos edifícios da cidade, deparamos com enormes painéis publicitários, procurando influenciar os nossos comportamentos. E mesmo que não queiramos, a forma esbelta de uma figura feminina, o local aprazível e convida­tivo representado, chamam desde logo a nossa atenção, atraem irresistivelmente o olhar, obrigando-nos a captar as diferentes mensagens expostas - icónicas e verbais. Entramos no autocarro ou noutro meio de transporte público, e as imagens, geralmente publicitárias, continuam presentes. E, ao longo do dia, nos mais diversos locais e nas mais variadas circunstâncias, imagens de todo o tipo, tamanho e feitio continuam a chegar ao nosso cérebro através das nossas janelas sensoriais. E, repetidamente, todas as noites, enquanto dormimos, voltamos a mergulhar num universo de imagens, no meio das quais não só deambulamos, como frequentemente somos protagonistas. E por vezes, mesmo durante o sono, continuamos a ser confronta­dos com sequências de imagens muitas vezes agressivas. São as imagens de um mundo em guerra, de um mundo em permanente conflito, que nos foram reveladas durante um telejornal, de um mundo destruído por um conflito telúrico, tornado ponto forte durante o noticiário, muitas vezes as imagens dos nossos próprios medos e frustrações[1].

 


     [1] - Na nossa exposição, ao fazermos referência às imagens observadas durante o sonho, estamos a considerar o vocábulo «imagem» no seu sentido mais amplo, isto é, tudo aquilo que apresenta um carácter visual. Convém recordar que a palavra imagem, tal como vimos no início deste capítulo, pode ser entendida em vários sentidos. Assim, as imagens oníricas constituem entidades diferentes daquelas que efectivamente nos interessam, podendo ser talvez incluídas dentro das imagens mentais. Mas ainda que fora do âmbito do nosso trabalho e situadas no domínio onírico, não deixam de ser imagens fundamentais para o ser humano, de importância vital para a sua sanidade física e mental. É sabido que a actividade onírica constitui, enquanto dormimos, uma forma de criação de universos fictícios onde o irrealizável se pode concretizar, constituindo uma válvula de escape fundamental para todos nós. Se um indivíduo for privado, artificialmente e durante dias seguidos da actividade onírica, acabará por enlouquecer. É igualmente sabido que esta capacidade tem sido, desde há longa data - muito especialmente a partir do período romântico -, utilizada como uma forma de inspiração para a criação artística não só literária mas também plástica.

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