Importância
da Imagem
Quando
o homem nasce, as grandes vias de acesso para recolha de informações
sobre o mundo que o rodeia são os diferentes
dos sentidos
, com especial relevo para a visão e
a audição. De facto, são os olhos e os ouvidos as primeiras janelas
para o mundo, que lhe vão permitir, a pouco e pouco, captar, memorizar,
relacionar e compreender todos os aspectos do mundo envolvente, para, numa
fase posterior, poder, também ele, evoluir e agir no mundo natural e
social em que está integrado.
Simultaneamente
com o conhecimento do mundo, vai adquirindo, através da
função interna da linguagem
, pela visão e audição, os
conhecimentos da língua, que lhe permitirão viver em comunidade com os
diferentes elementos da sociedade, ficando assim dotado de uma das formas
mais completas, versáteis e potentes de comunicação - a
linguagem verbal
-,
que ele irá utilizar na sua vida social, conjuntamente com outras formas
de comunicação, entre as quais se encontra o recurso à imagem. E, muito
provavelmente, terá sido mesmo esta, nos tempos mais recuados da vida do
homem, ao lado da transmissão oral de conhecimentos, a primeira forma de
comunicação diferida, aquela que lhe permitiu comunicar com os outros
mesmo na sua ausência, desafiando a barreira do tempo. De facto, a relação
de semelhança entre a representação e o objecto representado, ao
contrário da linguagem verbal e de outras formas de comunicação desta
subsidiárias, que se caracterizam pela arbitrariedade e
convencionalidade dos significantes, permite que, em qualquer época, seja
sempre possível uma leitura, ainda que variável de leitor para leitor e
dependente dos pré-requisitos sócio-culturais de cada um. Enquanto a
leitura, por exemplo, de uma mensagem hieroglífica, ou de um texto em
qualquer sistema linguístico está dependente do conhecimento do
respectivo código, uma imagem, enquanto representação
"objectiva" mais ou menos fiel de uma determinada realidade ou
objecto, é sempre passível de ser interpretada em qualquer época e por
qualquer leitor.
/ 8 / Tal
como refere Santos Guerra[1],
«existe uma invasão de imagens na
vida do homem actual», constituindo uma «iconosfera
que
nos envolve e aprisiona», pelo que a «a
escola actual não pode permanecer alheada desta realidade», sob pena
de ficarem as crianças «indefesas
perante as falácias, as manipulações e as influências da imagem»,
mas sobretudo porque se «desperdiçaria
um dos recursos de grande utilidade educativa».
Diz-nos
Guy Avanzini, referindo-se aos
mass-media, cujo conteúdo é em grande parte
veiculado através da imagem:
«(...) Nunca nos encontramos
fora do mundo dos mass-media. De manhã à noite, por muito isolados que
nos sintamos, encontramo-nos imersos num meio configurado pelos anúncios,
pelos "flashes" da rádio, pelos discos, pelos títulos da
imprensa, pelos "slogans" da publicidade[2]»,
ou seja, encontramo-nos imersos num mundo de imagens visuais e acústicas,
que fazem chegar até nós uma elevadíssima quantidade de informações,
que deveremos seleccionar e interpretar em função do seu interesse e
importância para nós.
Muito
embora o objectivo do nosso trabalho seja, além do estudo de uma breve
panorâmica do papel da imagem ao longo da história do ensino, averiguar
até que ponto a escola actual se encontra devidamente apetrechada com os
modernos recursos tecnológicos que privilegiam a imagem e procurar saber
quais os mais utilizados pelos professores, mesmo assim parece-nos
importante referir, ainda que de maneira breve, e necessariamente
incompleta, alguns aspectos relativos à imagem.
Alguns
conceitos de imagem
Dar
uma definição do
conceito de imagem não é tarefa fácil.
São muitos os sentidos e as áreas do conhecimento em que este vocábulo
é utilizado, pelo que se torna um campo impossível de abarcar, mesmo após
a eliminação de campos do conhecimento de menor importância.
De
origem latina, o vocábulo
imagem
(do latim IMAGINE(M)) designa
literalmente 'retrato, reprodução, representação'. Da palavra imagem
derivam outras:
imaginar,
imaginação,
imaginário,
imaginativo, etc. E se decompusermos a palavra
nos seus elementos constituintes (lat. I -
MAG -
O) poderemos verificar que a raiz é a mesma que se encontra na palavra
magia
(MAG -
IA).
A
palavra latina
IMAGO
foi, nos princípios do século XX,
retomada por
Jung
para o campo da Psicanálise. Na obra
Metamorfoses e símbolos da líbido
(1911), Jung descreve a
imago
materna,
paterna e fraterna
como resultantes das relações da criança com o meio familiar e
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social. Neste domínio, imago
é definido como uma representação
inconsciente, um esquema imaginário adquirido, através do qual o indivíduo
visa outro, podendo a imago
objectivar-se quer através de sentimentos e comportamentos, quer de
imagens[3].
Se
se consultar um dicionário da língua relativamente ao conceito de
imagem[4]
e se proceder a uma análise rigorosa do verbete, poder-se-á verificar
que ele nos apresenta, geralmente, um elevado número de definições
diferentes, abrangendo conceitos diversos, que vão desde a
"simples" definição corrente de imagem até ao conceito científico
da mesma, passando pelos sentidos figurado, religioso, psicológico, estilístico,
etc. Intencionalmente, dissemos «desde a "simples" definição
corrente» colocando entre aspas o vocábulo "simples". Se
efectuarmos uma análise mais profunda da seguinte definição «Imagem
- representação
de uma pessoa ou de um objecto pelo desenho, pela escultura, pintura,
gravura ou fotografia», verificamos que ela não é tão simples
quanto parece, pois engloba vários conceitos, que vão desde a
representação
figurativa sobre uma superfície plana, utilizando-se diferentes técnicas,
a uma representação tridimensional, obtida através de figuras escultóricas.
A
consulta de um dicionário especializado, relacionado com o domínio da
psicologia, desdobra o vocábulo num elevado número de conceitos,
correspondendo cada um a aspectos diferentes do conhecimento humano
relativamente ao conceito de imagem. Num dos muitos dicionários de
psicologia existentes, é possível encontrar, além do vocábulo
imagem
com a respectiva definição, um
total de 25 verbetes, correspondentes a alguns dos muitos aspectos a que o
conceito de imagem anda associado:
/
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«imagem associada - imagem alucinatória - imagem colectiva (Jung) -
imagem compósita -
imagem concreta - imagem consecutiva - imagem da alma - /.../ imagem mental - imagem óptica - /.../ imagens eidéticas
(...)[5]
A
enumeração de conceitos relacionados com imagem prolonga-se, incluindo
outros relacionados com imaginação e imago. Além
das definições correntes, verifica-se que o conceito de imagem pode ser
analisado segundo diferentes perspectivas: óptica, filosófica, psicológica,
linguística, semiótica, literária, cinematográfica, religiosa, jurídica,
etc.
Conceito
óptico e cinematográfico
Do ponto de vista óptico óptico
, a imagem é o conjunto de
pontos-imagem dados por um sistema óptico, em que cada ponto-imagem é o
vértice de um feixe homocêntrico que emerge do sistema, sendo real ou
virtual conforme o feixe emergir convergindo ou divergindo.
Relativamente aos recursos educativos, entende-se por
imagens ópticas
todas aquelas imagens que se obtêm
através de um sistema óptico de projecção sobre um ecrã de uma
fotografia ou de uma película transparente, podendo ser vários os
sistemas utilizados, desde a projecção de imagens fixas a imagens
animadas.
O
segundo sentido de imagem óptica está de certo modo relacionado com o
conceito de
imagem
cinematográfica
.
A consulta de uma obra relacionada com o cinema permitirá verificar que o
conceito de imagem
cinematográfica tanto
se aplica relativamente à projecção animada na tela como ao fotograma
original do filme. E o seu tamanho varia em função da distância entre o
sistema óptico de projecção (a máquina ou projector) e a superfície
plana sobre a qual a imagem é projectada. No entanto, o conceito de
imagem cinematográfica pode também ser relacionado com outros aspectos
importantes, tais como os tipos ou escalas de plano e o enquadramento.
[1]
- Miguel Angel Santos GUERRA, Imagen
y educación, Col. Ciências de la educación, Madrid, ediciones
Anaya, 1984, pp. 16-17.
[2]
- Guy Avanzini, La pedagogía del siglo XX, Madrid, Ed. Narcea,
1977, pp. 277-278.
[3]
- (Vd. a rubrica imago na
obra de J. LAPLANCHE e J.-B. PONTALIS, Vocabulário
da Psicanálise, col. Psicologia e Pedagogia, nº 18, 5ª ed.,
Lisboa, Moraes Editores, 1970, pp. 305-306.
[4]
- «Representação de uma pessoa ou de um objecto pelo desenho,
pela escultura, pintura, gravura ou fotografia; estátua, quadro,
retrato. ¦ Figura esculpida, estampada ou pintada que é objecto de
culto religioso; santinho. ¦ Estampa, gravura, vulgarmente colorida.
¦ Fig. e fam. Pessoa formosa, bela, quase perfeita. ¦
Representação
de qualquer objecto iluminado, que resulta da reunião dos feixes
luminosos emanados deste corpo, quando refractados ou reflectidos por
outro corpo. ¦ Parecença, semelhança. ¦ Figura, símbolo que
recorda outra coisa. ¦ Ideia, impressão passageira ou duradoura que
faz um objecto no espírito, no coração, na memória. ¦ Efígie,
vulto, figura. ¦ Representação viva, ideia que se faz de uma coisa.
¦ Descrição. ¦ Espécie de metáfora com que se dá uma ideia mais
viva, mais sensível, em que se presta ao objecto formas, aparências,
qualidades de outros objectos mais frisantes.»
Vd.
MACHADO, José Pedro - Grande Dicionário da Língua Portuguesa. 1ª ed., Lisboa, Amigos do
Livro Editores, 1981, vol. VI
, pp. 79-80.
[5]
- A breve enumeração apresentada foi extraída de James C. CHAPLIN, Dicionário
de Psicologia, Lisboa, Edições Dom Quixote, 1981, pp. 281-283.
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