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Muié – Relatos e Sentimentos

Ritmo acelerado

As operações sucederam-se com um ritmo impressionante.

Grupos Especiais e Grupos de Combate deslocavam-se sucessivamente do quartel para a mata e vice-versa.

Todos mostravam um ar cansado, mas ninguém se lamentava.

As viaturas recolhiam ao parque sujas e avariadas, para saírem imediatamente já concertadas e limpas: os ferrugentos (mecânicos e condutores) também não paravam.

No dia quinze de Janeiro, o GE regressou com uma arma IN (inimiga). O mau tinha dado de caras com eles, pousou a arma no chão com muito jeito e pôs-se em fuga. Bastou um tiro para o derrubar.

Mais tarde uma grande operação de Helis teve lugar nesta zona.

Os Helis pilotados por Oficiais Sul-Africanos roncavam nos ares, transportando grupos de combate para a mata e recolhendo-os mais tarde.

No quartel, não parávamos de transportar bidons de combustível (JP1) para a pista. Os Helis sedentos bebiam-no todo.

A operação não foi o que se esperava. Seis armas foram o material que se conseguiu capturar ao inimigo. No entanto muitas vidas acabaram às nossas mãos.

Da grande quantidade de população e guerrilheiros Turras capturados, poucos chegavam cá para interrogatórios.

Devido à insegurança que proporcionavam na mata aos nossos grupos, eram abatidos a sangue frio logo que se encontrava local próprio.

O chefe de um dos nossos GE comunicou-nos que tinha dezanove elementos da população Turra. Mais tarde comunicou novamente: “Ainda tenho cinco, o que faço agora?”

“Ó homem, siga o seu destino e tragam-nos para cá” – responderam do quartel.

Em 21 de fevereiro de 72, os nossos GE em assalto a um acampamento, após uma intensa troca de fogo, capturaram quatro armas.

Em novo assalto no dia 20 de Março, foram apreendidas mais duas armas aos maus.

Quando em 28 de Março o nosso GE progredia a peito descoberto, subindo uma encosta de baixos arbustos, foi emboscado de cima por um numeroso grupo de maus. A distância era curta e não havia abrigos naturais. As granadas inimigas rebentavam em redor do GE completamente desorganizado. Alguns abandonaram as armas e retiravam mas as granadas de bazuca barravam-lhes o caminho para a fuga.

Sentindo-se perdidos, pegaram novamente nas armas, contra- atacando, mergulhando sobre terra e saltando para fugirem às granadas que rebentavam no meio deles. Então numa arrojada investida e de armas a disparar, conseguiram desalojar o inimigo e localizar o homem da bazuca, que fugiu, deixando a preciosa arma. O chefe IN ainda gritava para que fossem buscar a bazuca, mas os seus gritos serviam de incentivo para que o GE avançasse cada vez mais e mais. Vendo que já nada conseguiam, os maus retiraram, deixando a bazuca e ainda uma metralhadora ligeira.

De todo o GE, só um homem ficou ligeiramente ferido.

Fernando Dambué, o chefe do GE diz ainda, excitado e nervoso, que nunca sentiu tanto medo e que foi a primeira vez que se viu perdido em contacto com os Turras.

Muitas outras operações se seguiram.

GE e Grupos de Combate palmilharam toda a zona, procurando contacto.

Durante algum tempo, com assaltos em conjunto aos acampamentos, só conseguiam apanhar população que traziam para o Muié.

Em alguns sítios viam-se cadáveres de Turras, uns ainda recentes, outros em avançada decomposição e ainda ossadas já limpas, descarnadas com o tempo ou limpos pelos bichos esfomeados.


Na beira de um trilho, via-se um mau sem braços e sem cabeça, espetado num pau com a pele ainda lisa e brilhante.

 

 

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