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Muié – Relatos e Sentimentos

2.ª Mina

Neste dia, enquanto um dos nossos grupos fazia a segurança junto à ponte, o MVL (Movimento de Viaturas Logísticas) aproximava-se cada vez mais.

O sol já ia muito baixo e o nosso grupo já esperava, havia muito tempo.

Com satisfação avistaram a coluna, que começava a aparecer ao longe na chana.

Muitos deles pensavam: “já faltam menos de dois quilómetros para eles aqui chegarem, depois metemo-nos atrás da coluna e vamos para casa. Amanhã já teremos bebidas e tabaco com fartura.”

Mas não pensaram no imprevisto. A coluna já visava a ponte a trezentos metros, quando, no momento, uma explosão fez tremer o chão, levantando uma nuvem de poeira.

A mina deixou passar a primeira Berliet – cabeça de coluna, e foi exercer a sua ação sobre a segunda viatura, a qual transportava combustível e material para o parque auto.

A viatura ficou imobilizada a dois metros da cova aberta pela explosão. No impulso foram projetados todos os homens que vinham na carroçaria. Um deles, um dos meus condutores, gemia dentro da cova, com um estilhaço no sítio onde as costas mudam de nome. Perto dele, com o rosto e um braço ensanguentados estava um dos nossos Enfermeiros. Um natural ficou com uma perna partida e outro, voou por cima da cabine da viatura junto com um bidão de combustível. Esse, após se refazer do susto, foi o primeiro a chegar junto dos outros feridos.

Depois de passar aquele momento de expectativa, todos os feridos foram transportados para o quartel, a fim de lhes serem aplicados os primeiros socorros. Não tinham nada de grave, mas era necessário evacuá-los para o hospital do Luso no dia seguinte, visto que no nosso quartel não tínhamos médico nem condições adequadas à situação.


Agora era necessário recuperar a viatura minada e outros materiais.

Lá vou eu com a equipa da ferrugem, como nos chamam, para o local. O nosso Capitão acompanhou-nos.

Depois de fazer um exame prévio à situação, vi que não era possível fazer alguma coisa nesse dia, pois já era tarde e muito tarde. A escuridão já cobria por completo toda a paisagem. Sem luz, os trabalhos não teriam rendimento e toda a noite não chegava para tirar dali a viatura, além de nos encontrarmos expostos ao perigo de ataque inimigo.

A caixa de carga estava completamente destruída, a roda traseira do lado direito e o cubo estavam desfeitos, as taras de combustível estavam espalhadas sobre os destroços e uma delas perdera todo o combustível.



Viatura com a caixa de carga estava completamente destruída.

Durante a noite ficou ali um grupo de combate, a fazer a proteção.

No dia seguinte lá estou novamente.

Primeiramente toda a carga foi transportada para o quartel. A caixa de carga foi toda desmantelada e a parte traseira do chassis atada ao gancho de reboque da Berliet.

Parece simples, mas levámos todo o dia a fazer a recuperação. Trabalhar debaixo de sol e com calor, todo esse tempo sem comer ou beber um pouco de água, não era fácil.

O regresso foi penoso. A areia solta da picada fazia patinar e absorver o esforço das rodas desesperadas, por agarrar terreno firme para vencer a força contrária do atrelado.

Chegamos já de noite, cansados e esfomeados, mas com um pouco de alegria de termos chegado ao fim, com mais uma parte da nossa missão cumprida.

 

 

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