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Muié – Relatos e Sentimentos

Luta negra

Tal como disse anteriormente no meu prefácio, os factos que procuro relatar passaram-se há vários anos, anteriormente ao vinte e cinco de Abril, durante a minha passagem por Angola em serviço militar. Embora o tempo me tenha eliminado da memória muitos factos, há sempre aqueles que ficam registados para sempre, especialmente se por alguma razão nos marcaram mais do que outros.

O que vou agora referir de maneira breve passou-se, de acordo com os meus registos escritos, no dia 12 de Junho de 1971. É um episódio que nos mostra bem as relações de inimizade que se estabeleciam por vezes entre elementos nativos, tudo por causa de mulheres, como referi no final do capítulo anterior.

Lembro-me perfeitamente de ver, por exemplo, uma luta acesa, inicialmente, próximo do parque auto, entre um GE e um Catanga. Luta e discussão de tal modo violenta que, ao fim de algum tempo, tinha alastrado e envolvido outros elementos.

GEs e Catangas batiam-se à cacetada, no campo de futebol onde habitualmente o nosso pessoal ocupava os momentos livres. A luta assemelhava-se, seja-nos permitida a comparação, a um jogo de Rugby. Era uma luta selvagem, em que cada um mostrava o seu espírito agressivo. Eram cacetes pelo ar e cabeças rachadas. Luta de tal modo acesa que tivemos alguma dificuldade em amansar tamanha fúria selvagem. Conseguimo-lo ao fim de algum tempo, depois de demorada conversa com eles.

Qual o resultado deste caricato episódio de luta?

À volta de uns trinta feridos e uma valente trabalheira para o nosso enfermeiro.

Para evitar novos atritos, os Catangas foram enviados para para bem longe das vistas dos GEs, ou seja, para Cangamba, sede do nosso Batalhão, a mais de cem quilómetros do local onde estavam.

 

 

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