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É, de facto, assombrosa a impressão que nos deixa êsse conjunto,
a-pesar-da falta de perspectiva e de recuo, motivada pelo amontoamento e
juxtaposição das diferentes estruturas que a cercam.
Interiormente, a harmonia das proporções gerais deixa talvez a desejar,
o que se compreende pelas condições especiais do terreno aproveitado e
pela ausência do magestoso cadeiral - obra prima de talha de Olivier de
Gand e de Munoz, de que só podemos fazer ideia por um desenho do comêço
do século passado - que
torna mais sensível essa desharmonia da vasta. quadra, coberta por uma
original e ousada abóbada que rompe de exuberantes mísulas.
Esta obra do côro, que pareée ter sido começada por Diogo de Arruda, foi
terminada por João de CastiIho, que a assinou no portal.
O mesmo arquitecto dirigiu também as obras da inacabada Casa do
Capitulo, 'que começadas no estilo manueHno, foram, depois de larga
interrupção, recomeçadas já então no gôsto da Renascença, o que lhe
imprimiu nova
feição. InfeHzm€nte, a obra era Em seguida abandonada para sempre. Hoje,
essas ruínas são aproveitadas peja União dos Amigos dos Monumentos da
Ordem de Cristo, que ali organizou um Museu Lapidar; onde reüniu uma
rica colecção de estejas supulcrais e outros despojos de demolições na
cidade.
Foi ainda êsse notável arq:uitecto João de Castilho quem, antes de 1533.
traçou o plano
da grande fábrica conventual, quando a reforma da Ordem de Cristo tornou
necessária a amplição das dependências da clausura.
:este novo conjunto, que foi em grande parte executado por aquele
arquitecto, ressente-se do caracter utilitário da sua aplicação, e da
irregularidade do terreno; a-pesar-de isso, não faltam ali pedaços em
tudo dignos da reputação daquelIe grande artista-construtor.
Assim, o Claustro Principal que a lamentá,..d escassez de espaço fêz
construir juxtaposto à face sul do Côro, talvez não estivesse ainda
acabado em 11558, quando o desmancharam para o reconstituir tal com está
hoje. Da antiga traça restam, porém, alguns fragmentos a atestar a
magnificência do estilo: os dois vestíbulos do Refeitório, o da casa
Capítulo, o do Claustro de Santa Bárbara, a antig_ portaria, as oito
Capelas da galeria inferior, e a parede exterior da face nascente.
:estes restos, preciosos sob o ponto de vista histórico, pois neles se
veem os bustos de D. João llI, de D. Catarina e do D. Prior Frei António
de Lisboa, constituem também valiosos elementos para o estudo da
personalidade do grande arquitecto Castilho.
O actual Claustro Principal traçado de novo por Diogo de T orralva em
1558, foi terminado já sob a direcção de F elipe T ereio, arquitecto do
rei F elipe II de Espanha.
Às sua severas linhas e a perfeita harmonia do conjuncto, subordinadas
às ordens dó
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rica e jónica, dão-lhe uma magestade única em edifício nacional da mesma
epoca, e raríssima mesmo nos edifícios coevos. italianos.
Os seus dois pavimentos são recobertos de berços de alvenaria com
elegantes arcos e nervuras, sendo o andar superior terminado pelo vasto
terraço da Cera, para onde se sobe por duas elegantes escadas de
caracol, e do ({ual se disfrutam as mais interessantes vistas de todo o
complexo conjunto do Convento. O lavabo junto à porta do Rdeitório, é de
Filipe Tercio e a fonte central é a obra de Pedro Fetna_des T ôrres.
O Claustro de Santa Bárbara, apertado entre o Claustro Principal e o da
Hospedaria, não pô.de elevar-se, a fim de não tolher a vista da célebre
janela do Côro - por isso as suas abóbadas são quási planas e as
nervuras que
8f sustentam, de perfil recto.
, O Claustro da Hospedaria é de 2 pavimentos; e o mais importante, a
seguir ao Claustro Principal. A arcaria do primeiro pavimento é formada
por grupos de dois arcos geminados, separados por espessos botareus,
como era o
I primitivo Claustro Principal; o segundo pavimento é constituído por
uma galeria de elegantes colunas_ cuja cobertura assenta numa
ar({uitrave.
O Clautro da Micha antigamente denominado do Lavor, servia as oficinas
do Convento. Sob o pátio central existe uma vasta cisterna cuja
cobertura assenta em seis colunas.
A êste seguem-se o Claustro dos Corvos e o das N ::!cessárias, de
somenos interêsse.
Q Refeitório, com acesso pelo pavimento inferior do Claustro Principal,
é uma ampla sala abobada em berço, com dois púlpitos de fino Ia vor.
No cruzam_nto dos extensos corredores do dormitório encontra-se a capela
do Cruzeiro. É uma pequena capela ({uadrada, ornaéla exteriorm_nte com
um friso Renascença datado de
1533. Os arcos qu_ terminam os corredores, e servem de apoio a uma
cúpula ({ue ilumina o recinto, os belos azulejos policIomos e uma
elegante 8raéle de ferro forjado ultimamente ali reposta, completam o
admiráv_l conjuncto.
São ainda dignas de ver-se as três salas do Noviciado Velho, sôbre a ala
poente do Claustro da Micha-sôbre tudo a da capela (que data de 1551),
embora já nua do cadeiral e dos
'ornamentos, mas conservando ainda as suas belas colunas e o seu te to
apainelado e curvo de madeira. Também é digno de exame o antigo e vasto
celeiro, no 1.° pavimento da ala sul do Claustro d03 Corvos.
Durante o período decadente da Renascença continuaram. ainda algumas
obras no Convento. A sacristia, abrindo sôbre o Claustro do C_mitério, é
uma vasta ({uadra de estilo baroco, a ({ue a profusão de pintura e o
mobiliário, ({ue já não existem, deviam atenuar a falta de pureza de
linhas; o Aqueduto, já do nnal do século XVI e comêço do seguinte, é
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uma obra importante e dê arrôjo, que trazia água ao Convento desde uma
extensão de perto de 2 léguas, e cujotrôço final se sobrepõe á sua
fachac1a sul; o Portâo Real (1620), portaria do Convento, bem como as
salas de entrada, são obra de pouco valor; a enfermaria e a botica do
Convento, onde se acha actualmente instalado o hospital militar, apenas
têm de notável a sala dos Cavaleiros, no estrêmo nascente da fachada
principal.
Descendo do Convento para a cidade, en-contra-se, num contraforte do
monte, ãesquerda, a. Ermida de N.a S.a da Conceição que, a-pesar-da
modesta designação e do seu um tanto maciço aspecto exterior, é uma
autêntica joia arquitectónica, talvez um dos mais puros monumentos da
Renasçença de tôda a Península.
Documentos fidedignos atestam que ela foi mandada construir por Frei
Àntónio de Lisboa, D. Prior do Convento, falecido em 1551, em
bora uma inscripção ali colocada no século XIX, depois das depredações
causadas pelas tropas france$,as, atribua a sua fundação ao ano de 1572.
E induhitavelmente uma obra de meados do século XVI.
VoItada ao poente, segundo o ritual romano, apresenta exteriormente uma
forma quási rectangular, em que apenas estão indicados os dois braços do
cruzeiro, que de facto não existem, coroados, como a fachada principal,
por singelos frontões sôbre a cimalha.
Duas portas-a principal e uma outra,
pequena, na fachada sul-ambas de sóbrias linhas; doze janelas
perspectivadas, coroadas
de altos frontões, assentes em pilastras jónicas, . são todos os
elementos exteriores da ornamentação da magnífica fábrica que vale pela
pura harmonia e delicado lavor arquitectónico.
Interiormente, a sua forma é a das basílicas romanas: uma nave central e
duas laterais, separadas por duas filas de três colunas, com primorosos
capitéis, sem cruzeiro, ousia com dois compartimentos laterais limitados
pelas paredes dos topos das naves laterais. Robustas arquitrave'3 coroam
as duas filas de cohinas servindo de apoio a uma abóbada de berço, de
aduelas almofadadas, que corre ao longo da nave central, e o dois outros
berços, de mais simples ornamentação, que cobrem as naves
laterais, vindo apoiar-se na cimalha da parede.
Dois outros berços de eixo transversal co
brem um falso cruzeiro, ao c'entro do qual se ergue uma elegantíssima
cúpula de delicados lavores.
O estilo geral da preciosa construção é su-bordinado á ordem corintia,
embora as proporções do canon nem sempre fôssem rigorosamente seguidas,
e ainda se observa uma variedade na ornamentação herdada, da primeira
renascença portuguesa.
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