Este maravilhoso rio, cujas margens são dum pitoresco cheio de encanto, é galgado, junto da cidade, / 11 / por duas pontes que são uma verdadeira maravilha da engenharia civil e da indústria metalúrgica. Uma delas, a ponte «Maria Pia», serve o caminho de ferro que liga o norte do País com o sul; a outra, a de «D. Luís I», estabelece a comunicação do Porto com a laboriosa Vila Nova de Gaia, verdadeiro entreposto dos deliciosos vinhos licorosos produzidos no Alto Douro e conhecidos mundialmente pela designação de «Vinhos do Porto».

O forum citadino é a Praça da Liberdade, conhecida outrora por Praça Nova e Praça de D. Pedro IV, onde se encontra uma bela estátua equestre deste monarca. Nela tiveram morte afrontosa, em 1828, os doze Mártires da Liberdade, e, em 1891, o povo e o exército tentou proclamar a República. Ao norte dela se erguiam os Paços do Concelho, que foram demolidos para dar lugar a um lindo passeio público impropriamente denominado avenida, a Avenida dos Aliados. Ao fundo desta está em construção majestoso palácio municipal. A Edilidade portuense encontra-se, provisoriamente, instalada no antigo paço episcopal, à Sé, um casarão do século XVIII, mandado construir pelo bispo D. João Rafael, onde apenas há de notável, interiormente, a escadaria nobre.

Dentre as mais belas e bem perspectivadas artérias e praças do Porto torna-se óbvio citar as ruas: de 31 de Janeiro, dos Clérigos, das Carmelitas, de Cedofeita, do Almada, de Sá da Bandeira, de Fernandes Tomás, de Santa Catarina, das Flores e de Mousinho da Silveira; as avenidas da Boavista, dos Combatentes da Grande Guerra, e de Camilo, em cuja placa central se encontra o busto em bronze do grande e inexcedível romancista; a praça da Batalha, em que se ergue a estátua pedestre de D. Pedro V, e as praças ajardinadas: do Marquês de Pombal, de 24 de Agosto, de 9 de Abril, da República, de Mousinho de Albuquerque, onde se encontra iniciado o monumento da Guerra Peninsular, do Duque de Beja, de Carlos Alberto, com o elegante padrão da Grande Guerra, da Universidade e a do Infante D. Henrique. Nesta última praça verá o visitante, além do monumento ao imortal Mestre da Ordem de Cristo, o majestoso Palácio da Bolsa e da Associação Comercial do Porto, onde, entre outras maravilhas que constituem o seu recheio, poderá admirar o belo Pátio das Nações, a escadaria principal, verdadeiro primor da arte de cantaria esculturada, e o salão nobre, deliciosa jóia arquitectónica em estilo árabe.

A completar a colecção das consagrações perpetuadas no mármore e no bronze mencionaremos ainda os monumentos ao floricultor Marques Loureiro e a António Nobre, o saudoso poeta do , no jardim de João Chagas; o de Guilherme Gomes Fernandes, o intrépido comandante do Corpo de Salvação Pública, na praça do mesmo nome; o de Marques de Oliveira, grande Mestre de Pintura, no jardim de S. Lázaro; e o de «Júlio Dinis», na placa fronteira à Faculdade de Medicina.

Entre os recintos e edifícios que se impõem pela sua beleza ou pela majestade da sua arquitectura, além do Palácio da Bolsa, são dignos de anotação particular o Palácio de Cristal com a sua imponente / 12 / nave e o seu delicioso parque, o edifício da Universidade e o Hospital Geral de Santo António, mais conhecido por Hospital da Misericórdia.

Merecem também uma visita atenciosa a Biblioteca e Museu municipais, o Museu de Soares dos Reis e os Museus de Zoologia e Antropologia da Universidade.

O Porto possui grande número de casas de espectáculos e de diversão; todavia, dentre elas, arquitectonicamente, apenas se tornam dignas de registo, a do Teatro de S. João, em estilo clássico, destinado especialmente a ópera lírica, e o Teatro Rivoli, em estilo modernista, destinado a todo o género de representações.

Para remate desta sucinta descrição não devemos esquecer a obra de assistência nesta cidade, sobretudo a de iniciativa particular, bem demonstrativa do ambiente altruístico e filantrópico que a envolve. Creches, asilos, hospitais, escolas, de tudo abunda; alteiam-se, porém, neste excelso amontoado de benemerência, quatro insignes instituições cheias de beleza moral, que eternamente ficarão bendizendo o nome dos seus ilustres fundadores: os Hospitais da Misericórdia e do Conde de Ferreira, Sanatório Rodrigues Semide e a Maternidade de «Júlio Dinis».

E, por fim, quem divagou por tudo isto, quem auscultou esta cidade emotiva, verdadeiro coração de Portugal, para encerrar agradavelmente a sua digressão, não se deve furtar a um passeio à linda praia da Foz e às suas interessantes avenidas «do Brasil» e «de Montevideu», conjunto harmonioso, paragem agradabilíssima, marcando encantadoramente o lugar...

...Donde a terra se acaba e o mar começa.

Maio de 1934.




 

 

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