O jardim da Estrela é o (square) tipo de Lisboa onde a estatuária intervém para diversificar a uniformidade da verdura. Intensamente arborizado, sempre concorrido; principalmente das crianças / 9 / bairristas, foi-lhe aproveitado o relevado do solo, para recantos e mirantes. O da Faculdade de Ciências ou da Escola Politécnica, nome porque também é conhecido, é um jardim-museu, onde há preciosos exemplares botânicos, e onde as palmeiras de que tanto se tem abusado em Lisboa, têm a melhor e mais lógica representação. São afamados os jardineiros lisboetas. É com extremado gosto que eles matizam as placas decorativas vegetais de toda a cidade, seja em recintos ajardinados seja nas avenidas, e por isso as exposições de floricultura cidadã são sempre espectáculos de beleza.

O Parque Eduardo VII em construção, o Campo Grande, as Tapadas da Ajuda e das Necessidades, são núcleos de arborização. que a refrescam também.

Há em Lisboa algumas estátuas dignas deste nome e algumas fontes e chafarizes que valem se repare neles. A (Memória) do Terreiro do Paço, que data de 1755, é um monumento notabilíssimo cheio de beleza e cujas nobres proporções honram Machado de Castro, o seu autor. A estátua de Eça de Queiroz, o grande escritor novecentista, no largo do Quintela, o Padrão comemorativo da Restauração, no largo dos Restauradores, o monumento a D. Pedro IV, no Rossio, e outros que se espalham na capital, dignificam-na pela sua arte e pela sua ideologia. Há chafarizes lindos, como o da Esperança e o da Rua do Século que parecem móveis do século XVIII, o das janelas Verdes, fronteiro ao Museu de Arte Antiga e tantos outros recolhidos à sombra de arcos ou em locais sombreados de arvoredo.

Se estes panoramas decorativos da cidade não bastassem para a enriquecer, sobravam-lhe os atractivos que lhe advêm dos seus museus e das colecções organizadas. O Museu dos Coches guarda a mais notável colecção mundial de coches, estufins, carroções, carrinhos e berlindas de corte de que há conhecimento, documentando a pompa e o bom gosto do estado dos antigos reis de Portugal. Há ali exemplares maravilhosos de coches e carruagens de gala, onde à compita se vêem estofos preciosos, madeiras custosamente trabalhadas, ferros cinzelados, pinturas ricas, esculturas de alto valor, à parte uma série valiosa de arreios, fardamentos, e outros acessórios. O Museu de Arte Antiga, que, superiormente organizado, rivalizando com os melhores e mais modernos museus europeus, guarda uma colecção de obras primas na pintura de todos os tempos, e que em cerâmica e ourivesaria é rico também, pode colocar-se à frente dos maiores interesses da capital portuguesa. Em pintura nacional é um verdadeiro relicário. Bastavam os seis painéis de S. Vicente para o tornarem numa Meca de artistas, maravilhosas tábuas que só de per si constituem um capítulo na história da Pintura. A Custódia dos Jerónimos, feita com o primeiro oiro da índia, a cruz de D. Sancho, os desenhos de Sequeira, a colecção das faianças e das tapeçarias, constituem obras de inapreciável valor, ali expostas.

O Museu de Artilharia, rico de armas e armaduras, guarnecidas as salas de excelentes pinturas modernas; o do Carmo, onde se exibem peças arqueológicas de raro mérito; o Etnográfico, em Belém, / 10 / recheado de preciosidades; o de S. Roque onde se pode admirar, na capela de S. João Baptista, o fausto litúrgico do rei D. João V; o de Arte. Contemporânea onde se expõem as telas e os cartões dos pintores portugueses contemporâneos, e outros ainda, como o Zoológico, o. Botânico, o Colonial, o de Faianças de Rafael Bordalo Pinheiro, e o de S. Nicolau, constituem outro núcleo atractor desta linda cidade pródiga e liberal em belezas naturais e monumentais.

Quem não viu Lisboa, não viu coisa boa, diz o velho rifão popular. Aos olhos, ao coração e à inteligência, esta cidade sabe-se dar com uma ternura bem peninsular, numa volúpia de cor e de graça que logra prender os mais esquivos e os mais desdenhosos. A sua face coroada de torres e de grimpas, sempre a mirar-se no Tejo que lhe corre manso aos pés, parece sorrir para todos, murmurando, ao som da sua corrente idílica, um chamamento de Sereia:

– Venham ver-me! Venham ver-me!

 

 

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