De Portugal a Timor, 2.ª Ed., Coimbra, 2024, pp. 23-27

Nota do Autor

Estive em Timor Loro Sae de 1966 a 1969 a cumprir serviço militar obrigatório, como Alferes Miliciano. Primeiro fui para o chamado interior, durante 8 meses em Laclubar, como adjunto do comandante do sector 4 militar. Depois fui radiante para a capital de Díli, para adjunto do chefe de serviço de saúde militar, Coronel Médico Aurélio Afonso dos Reis. Uma pessoa encantadora e muito humana, que nasceu e viveu em Coimbra, como eu. Ambos tínhamos orgulho de ter nascido na primeira capital do Reino de Portugal.

Integrei-me. Em Timor sê timorense. É bem verdade. O futebol também aproxima os povos. Havia a Académica de Timor e eu orgulho-me de ter sido júnior e sénior na minha Académica de Coimbra. Por isso, só podia jogar futebol na Académica de Timor, que tinha no emblema a Torre da Universidade de Coimbra. Lá "lonjão" havia também a presença de Portugal no futebol e da Universidade de Coimbra. Claro, em Díli havia além da Académica, o Benfica e o Sporting. Fui jogador, treinador, director e seleccionador. Na minha despedida fizeram-me uma festa no Estádio dos Coqueiros, pelo que eu tinha feito em prol do desporto em Timor.

 / 24 /

Face a esta minha prática futebolista, tive a sorte de conviver com a elite de Timor, saídos do Liceu Machado de Castro, em Díli.

Conheci e conviveram, jogando futebol comigo, Mari Alkatiri (primo), Natalino, Madeira, Carion, Montalvão, Melo, Arpad, Nicolau Lobato e o júnior Xanana Gusmão e outros... além de directores como Jaime Pedruco e Senhor Gomes, caboverdiano. Era convidado para casamentos e para casa deles. Fui timorense de coração e alma. Nessa altura, verifiquei e tive muitas dúvidas donde vinham os timorenses, quem eram e quem eram os portugueses.

Equipa de futebol da Académica de Timor. Em pé, da esquerda para a direita: Pelé, Rocha, Sabino, Carion, João, Madeira. Em baixo: Leandro, Ferreira, Mendes, Teixeira, Evaristo e Mari Alkatiri.

 Com o emblema da Académica de Timor.

/ 25 /

Constatei que se falava pouquíssimo Português e que havia um trabalho notável da Igreja Missionária de Portugal no ensino da Língua Portuguesa e do Tétum, na afirmação da cultura portuguesa e na implantação do catolicismo. A diferença com os indonésios era, sem dúvida, religiosa. Católicos versus Islamismo. A sua alma é católica luso-romana. / 26 /

Adorei ter estado em Timor Loro Sae. A partir daí estive sempre atento ao que se passava com o povo Maubere. Em assim ser, verifiquei que o meu testemunho, modéstia à parte, talvez fosse útil para nós e para eles. É o resultado de um estudo simples sobre Portugal culturalmente, histórico e também de Timor fratricida até à unidade, passando essencialmente pela História das missões católicas nas ilhas de Solor, Flores e Timor, desde 1862 até 1940, onde investiram toda a sua capacidade e saber em prole da evangelização e promoção dos habitantes da Insulíndia, fundando a cristandade e mantendo viva a chama da cristianização, num meio dominado por guerras, feiticismo e idolatria. / 27 /

Este modesto testemunho dedico-o principalmente à juventude de Timor, que estuda nas nossas universidades e, a meu ver, vão encontrar de novo a aceitação do outro e o estar com e em liberdade. Portugal estudou o vosso país em todos os aspectos, como a geografia, a saúde e a geologia. Vêm aí outros tempos para a juventude de Timor. Escolham o que será a disputa do Índico-Pacífico, com a China, o Aukus (EUA, Inglaterra e Austrália) e a Europa-Rússia (Eurásia). Agora, vai ser aí o centro do mundo. Que me perdoem mas, acho que as causas das alterações climáticas e Direitos Humanos vão também preocupar-vos. São um país novo e em liberdade. Vão crescer, vão valorizar-se, sei que têm muita Fé.

Portugal é um país europeu de primeiro mundo e adora-vos como irmãos.

João de Albuquerque Rocha

Este capítulo apresenta mais imagens que aqui foram suprimidas.