Estive em Timor Loro Sae de 1966 a 1969 a
cumprir serviço militar obrigatório, como Alferes Miliciano. Primeiro
fui para o chamado interior, durante 8 meses em Laclubar, como adjunto
do comandante do sector 4 militar. Depois fui radiante para a capital de
Díli, para adjunto do chefe de serviço de saúde militar, Coronel Médico
Aurélio Afonso dos Reis. Uma pessoa encantadora e muito humana, que
nasceu e viveu em Coimbra, como eu. Ambos tínhamos orgulho de ter
nascido na primeira capital do Reino de Portugal.
Integrei-me. Em Timor sê timorense. É bem
verdade. O futebol também aproxima os povos. Havia a Académica de Timor
e eu orgulho-me de ter sido júnior e sénior na minha Académica de
Coimbra. Por isso, só podia jogar futebol na Académica de Timor, que
tinha no emblema a Torre da Universidade de Coimbra. Lá "lonjão" havia
também a presença de Portugal no futebol e da Universidade de Coimbra.
Claro, em Díli havia além da Académica, o Benfica e o Sporting. Fui
jogador, treinador, director e seleccionador. Na minha despedida
fizeram-me uma festa no Estádio dos Coqueiros, pelo que eu tinha feito
em prol do desporto em Timor.
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Face a esta minha prática futebolista, tive
a sorte de conviver com a elite de Timor, saídos do Liceu Machado de
Castro, em Díli.
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Conheci e conviveram, jogando futebol
comigo, Mari Alkatiri (primo), Natalino, Madeira, Carion, Montalvão,
Melo, Arpad, Nicolau Lobato e o júnior Xanana Gusmão e outros... além de
directores como Jaime Pedruco e Senhor Gomes, caboverdiano. Era
convidado para casamentos e para casa deles. Fui timorense de coração e
alma. Nessa altura, verifiquei e tive muitas dúvidas donde vinham os
timorenses, quem eram e quem eram os portugueses.
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Equipa de futebol da Académica
de Timor. Em pé, da esquerda para a direita: Pelé,
Rocha, Sabino, Carion, João, Madeira. Em baixo:
Leandro, Ferreira, Mendes, Teixeira, Evaristo e Mari Alkatiri. |
Com o emblema da
Académica de Timor. |
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Constatei que se falava pouquíssimo
Português e que havia um trabalho notável da Igreja Missionária de
Portugal no ensino da Língua Portuguesa e do Tétum, na afirmação da
cultura portuguesa e na implantação do catolicismo. A diferença com os
indonésios era, sem dúvida, religiosa. Católicos versus Islamismo. A sua
alma é católica luso-romana.
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Adorei ter estado em Timor Loro Sae. A
partir daí estive sempre atento ao que se passava com o povo Maubere. Em
assim ser, verifiquei que o meu testemunho, modéstia à parte, talvez
fosse útil para nós e para eles. É o resultado de um estudo simples
sobre Portugal culturalmente, histórico e também de Timor fratricida até
à unidade, passando essencialmente pela História das missões católicas
nas ilhas de Solor, Flores e Timor, desde 1862 até 1940, onde investiram
toda a sua capacidade e saber em prole da evangelização e promoção dos
habitantes da Insulíndia, fundando a cristandade e mantendo viva a chama
da cristianização, num meio dominado por guerras, feiticismo e
idolatria.
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Este modesto testemunho dedico-o
principalmente à juventude de Timor, que estuda nas nossas universidades
e, a meu ver, vão encontrar de novo a aceitação do outro e o estar com e
em liberdade. Portugal estudou o vosso país em todos os aspectos, como a
geografia, a saúde e a geologia. Vêm aí outros tempos para a juventude
de Timor. Escolham o que será a disputa do Índico-Pacífico, com a China,
o Aukus (EUA, Inglaterra e Austrália) e a Europa-Rússia (Eurásia).
Agora, vai ser aí o centro do mundo. Que me perdoem mas, acho que as
causas das alterações climáticas e Direitos Humanos vão também
preocupar-vos. São um país novo e em liberdade. Vão crescer, vão
valorizar-se, sei que têm muita Fé.
Portugal é um país europeu de primeiro mundo
e adora-vos como irmãos.
João de Albuquerque Rocha
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