De Portugal a Timor, 2.ª Ed., Coimbra, 2024, pp. 17-19

Prefácio à 1.ª edição

"DE PORTUGAL A TIMOR – UM PASSADO, UM PRESENTE, UM DESTINO"

Foi com elevada honra que recebi o convite para elaborar o prefácio da obra "De Portugal a Timor. Um Passado, um Presente, um Destino". Como não poderia deixar de ser, aceitei o repto de pronto, confessando-vos que a temática, desde logo, me aguçou a curiosidade, uma vez que sempre valorizei a forte ligação secular de Portugal a Timor-Leste que, no pós-25 de Abril, haveria de se estreitar, infelizmente na sequência de um trágico acontecimento ocorrido no início da década de 1990: o massacre de Santa Cruz, em Díli, que vitimou mais de 300 pessoas inocentes que se encontravam no cemitério a homenagear o jovem Sebastião Gomes. Este evento haveria de dar origem a uma cadeia de reações, à escala internacional que permitiria, 11 anos volvidos, em 2002 a independência deste território.

Nessa altura, era um jovem e estes acontecimentos foram de tal forma impactantes que despertaram para não mais largar, um interesse profundo, quer por Timor-Leste, enquanto território, quer pelo nobre e valoroso povo Maubere.

Por estes motivos a expectativa que tive ao ler esta obra foi, de facto, elevada. Mas devo reconhecer que, após a leitura realizada, essa expectativa foi largamente ultrapassada.

Com efeito, "De Portugal a Timor. Um Passado, um Presente, um Destino" revela-nos várias nuances: Desde logo a ternura e a empatia / 18 / revelada pelo autor, logo no início do livro, para com Timor-Leste e o seu povo, por altura do seu destacamento militar para este território, no período cabimentado entre 1966 e 1969. O Dr. João Rocha quase consegue resumir tudo numa frase "Fui timorense de Alma e Coração". Um sentimento que brota das inúmeras experiências vividas e aqui retratadas, que foram desde as vicissitudes militares, à convivência com o povo, à participação ativa no desenvolvimento desportivo do território neste período - com enfoque para o facto de ter praticado futebol na Académica de Díli.

Mas esta obra vai mais além do retrato da experiência pessoal do autor neste território longínquo. Quem visitar estas páginas, vai encontrar um verdadeiro compêndio histórico de elevada qualidade, que foca os portugueses e a sua idiossincrasia ao longo dos tempos, Portugal e a Portugalidade decorrente da epopeia das descobertas, a influência carismática da religião católica na nossa história e o papel determinante por ela ti da no desenvolvimento de Timor-Leste, as nossas virtudes e os nossos defeitos, os nossos aceleradores e alguns travões que toldam, por vezes, o nosso avanço.

Percorridas estas páginas, cujo espaço disponível para esta minha singela contribuição, não permite que me alongue em demasia (nem tal convém porque o interesse reside na leitura da obra e não no seu resumo), quero deixar aqui os mais rasgados parabéns ao Dr. João Rocha.

Quer pela capacidade empreendedora que teve na sua realização, pelo conhecimento de dois povos tão diferentes que se uniram durante vários séculos, embora separados por vários oceanos e pela ternura com que dedica esta obra à sua esposa, Maria Luísa e ao "senhor meu Pai", seu homónimo que, se estivesse entre nós, completaria em 2023, 110 anos de idade. / 19 /

Recorrendo a mais uma das tantas expressões deliciosas presentes na prosa deste livro, eu termino dizendo que foi com mestria que o Dr. João Rocha conseguiu explicitar "a união de dois sóis: o nascente de Timor-Leste e o poente de Portugal.

Com conteúdo, com rigor e com empatia!

Silvério Regalado
Presidente da Câmara de Vagos