"DE PORTUGAL A TIMOR – UM PASSADO, UM
PRESENTE, UM DESTINO"
Foi com elevada honra que recebi o convite
para elaborar o prefácio da obra "De Portugal a Timor. Um Passado, um
Presente, um Destino". Como não poderia deixar de ser, aceitei o repto
de pronto, confessando-vos que a temática, desde logo, me aguçou a
curiosidade, uma vez que sempre valorizei a forte ligação secular de
Portugal a Timor-Leste que, no pós-25 de Abril, haveria de se estreitar,
infelizmente na sequência de um trágico acontecimento ocorrido no início
da década de 1990: o massacre de Santa Cruz, em Díli, que vitimou mais
de 300 pessoas inocentes que se encontravam no cemitério a homenagear o
jovem Sebastião Gomes. Este evento haveria de dar origem a uma cadeia de
reações, à escala internacional que permitiria, 11 anos volvidos, em
2002 a independência deste território.
Nessa altura, era um jovem e estes
acontecimentos foram de tal forma impactantes que despertaram para não
mais largar, um interesse profundo, quer por Timor-Leste, enquanto
território, quer pelo nobre e valoroso povo Maubere.
Por estes motivos a expectativa que tive ao
ler esta obra foi, de facto, elevada. Mas devo reconhecer que, após a
leitura realizada, essa expectativa foi largamente ultrapassada.
Com efeito, "De Portugal a Timor. Um
Passado, um Presente, um Destino" revela-nos várias nuances: Desde logo
a ternura e a empatia
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revelada pelo autor, logo no início do livro, para com Timor-Leste e o
seu povo, por altura do seu destacamento militar para este território,
no período cabimentado entre 1966 e 1969. O Dr. João Rocha quase
consegue resumir tudo numa frase "Fui timorense de Alma e Coração". Um
sentimento que brota das inúmeras experiências vividas e aqui
retratadas, que foram desde as vicissitudes militares, à convivência com
o povo, à participação ativa no desenvolvimento desportivo do território
neste período - com enfoque para o facto de ter praticado futebol na
Académica de Díli.
Mas esta obra vai mais além do retrato da
experiência pessoal do autor neste território longínquo. Quem visitar
estas páginas, vai encontrar um verdadeiro compêndio histórico de
elevada qualidade, que foca os portugueses e a sua idiossincrasia ao
longo dos tempos, Portugal e a Portugalidade decorrente da epopeia das
descobertas, a influência carismática da religião católica na nossa
história e o papel determinante por ela ti da no desenvolvimento de
Timor-Leste, as nossas virtudes e os nossos defeitos, os nossos
aceleradores e alguns travões que toldam, por vezes, o nosso avanço.
Percorridas estas páginas, cujo espaço
disponível para esta minha singela contribuição, não permite que me
alongue em demasia (nem tal convém porque o interesse reside na leitura
da obra e não no seu resumo), quero deixar aqui os mais rasgados
parabéns ao Dr. João Rocha.
Quer pela capacidade empreendedora que teve
na sua realização, pelo conhecimento de dois povos tão diferentes que se
uniram durante vários séculos, embora separados por vários oceanos e
pela ternura com que dedica esta obra à sua esposa, Maria Luísa e ao
"senhor meu Pai", seu homónimo que, se estivesse entre nós, completaria
em 2023, 110 anos de idade.
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Recorrendo a mais uma das tantas expressões deliciosas presentes na
prosa deste livro, eu termino dizendo que foi com mestria que o Dr. João
Rocha conseguiu explicitar "a união de dois sóis: o nascente de
Timor-Leste e o poente de Portugal.
Com conteúdo, com rigor e com empatia!
Silvério Regalado
Presidente da Câmara de Vagos
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