A Polícia de
Segurança Pública destacou para Aveiro um grupo de mulheres-polícias,
todas muito elegantes nas suas fardas, para, especialmente, dirigirem o
trânsito, missão de que elas se têm desempenhado com regular eficiência.
A existência
desse corpo policial feminino fez com que me acudisse à memória um
quadro da revista AO CANTAR DO GALO que o Grupo Tricanas e Galitos
levou à cena em 1936.
Logo a
seguir à abertura, aparece no palco um jornalista lisboeta, o PONEY, o
qual, tendo tomado conhecimento do surto de desenvolvimento por que
Aveiro estava a passar, resolveu vir observar de visu (foi assim
que ele disse ao polícia 33, primeira autoridade com quem deparou), esse
desenvolvimento e perguntando-lhe se ele não queria ser seu cicerone.
O 33
respondeu-lhe que isso não era da sua conta, mas, sim das POLÍCIAS DE
TURISMO; e que ele, jornalista, até estava com muita sorte, porque
vinha a chegar a chefe das mesmas, – toda ela amabilidades, – a quem se
devia dirigir, conselho que o jornalista aproveitou, dizendo-lhe que
desejava aproveitar-se dos seus serviços.
A chefe
pôs-se imediatamente às ordens do PONEY, dizendo-lhe: – «Os serviços
de assistência aos turistas, em Aveiro, estão primorosamente organizados.
Assim, foi criado um corpo de polícia turística
– de que sou a chefe – o qual tem a nobre e especial missão de mostrar a
todos os visitantes as nossas belezas, quero dizer, os encantos desta
pérola oceânica, engastada nas margens da sua ria nostálgica.»
O PONEY
apresentava-se na sua qualidade de jornalista e admira-se da existência
do corpo das polícias de turismo, pelo que a chefe se propõe mostrar
esse corpo, dizendo-lhe: – «As minhas agentes, destinadas a
acompanhar os turistas, falam todas as línguas: o Francês, o Inglês, o
Espanhol e até o Chinês.»
Esta
afirmativa causa admiração e entusiasmo no jornalista, que exclama: – «Mas
isso é formidável!»
A chefe
apita e, no palco, entra um grupo de raparigas gentis e elegantes,
/ 215 /
devidamente fardadas, as tais que formam o Corpo das Polícias de Turismo
e que fazem a sua apresentação cantando:
Polícia para
turista
Sabiamente
organizada
Numa missão
altruísta
Muito bem
orientada.
Sabemos
Geografia
Onde ficam
monumentos
A caldeirada
de enguia
Com todos os
condimentos.
Belo turismo
Informações...
Muito
bairrismo
Sem
restrições...
Convidativas
Sempre cá
dentro,
E muito
activas
Pelo nosso
centro.
Somos leais
cicerones
Nas nossas
informações
Para mostrar
aos mirones
Onde há os
bons mexilhões.
Acabada que
foi a cantoria, a chefe diz ao PONEY que pode escolher, de todas as suas
agentes, aquela que mais lhe agradar para lhe servir de guia durante a
sua estadia em Aveiro. Este acha difícil a escolha, e passa-as em
revista, lentamente.
A primeira,
diz-lhe: – Yo lo puedo mostrar muchas belezas a usted... ao que o
PONEY responde: – Yo lo creo senhorita… usted es un nido de gratias…
A segunda
intervém: – Pardon, monsieur.
Regardez-moi; je vous en prie,
regardez-moi... a
quem o PONEY responde: – Oh! Comme elle est gentille. C'est un bijou;
Je vous aime mademoiselle.
Je crois que je vous aime à la brute...
A terceira
agente, inconformada, diz-lhe:
– No, no. Look at me. I
mant you fall dawn in Ive wite me, a que o jornalista responde:
yes darling. You are charming and y prefer you.
Oh, Céus! se prefiro...
Esta
resposta entusiasma a agente que brada: Kisse-me!
/ 216 /
O PONEY
abraça-a e vai para beijá-la; porém, a chefe, irritada, intervém dando
voz de SENTIDO, ao que todas as agentes obedecem, e motiva o dito do
jornalista: Agora que íamos tão bem lançados... voltamos à primeira
forma.
Ainda uma
quarta agente se lhe dirige: Chan ká chei yang ei u? A esta, o
PONEY responde: Oh! filha, tenho muita pena mas não percebo patavina
de Chinês.
A chefe
informa que fala unicamente o Português, mas, como aveirense de lei,
supõe poder mostrar-lhe, com todos os pormenores os encantos da sua
terra.
O PONEY
aceita a oferta, dizendo que, de língua, prefere a portuguesa e as de
bacalhau, cantando em seguida:
Que polícias
tão galantes,
Tão
correctas, sem falácia;
Têm vozes
aliciantes,
«Solo
conocen las gratias».
Transbordam
tal simpatia,
Tão perto do
nosso alcance,
Que esfuziante
alegria
«Honny
soit qui mal y pense».
Neste lance – Deus cupido!
«To be or not to be»
Não sei se
fico perdido
«Ti chi fun
tará á tá li».
Ao que as
agentes respondem, em coro:
Muitos «mercis»
A Vocelência
«Nuestros»
perfis
Em
continência.
Sempre
discretas
Aqui «all
right»
E mui
selectas
«per fi un
saite».
Mandadas
retirar, o PONEY repara que as agentes, ao passarem por uma senhora
muito distinta, a saudaram com todo o respeito e muita consideração,
/ 217 /
pelo que pergunta à chefe de quem se trata. Esta informa-o ser a
D.
Câmara, a quem o apresenta.
O PONEY diz
ter muito gosto em conhecê-la, pessoalmente, pois tem ouvido as mais
honrosas referências à sua pessoa e à cidade que ela representa.
A D. Câmara,
depois de agradecer ao jornalista o seu interesse, e o da Imprensa
lisboeta, em conhecer a cidade, ao que o jornalista diz ser dever de
todos os Portugueses, continua:
... – Aveiro!
Mãe de filhos que Deus abençoou e que brilharam pelos seus talentos e
virtudes, nas ciências, na arte, na política, na oratória, na imprensa,
enfim, em todos os sectores dos merecimentos humanos. Foi mãe de José
Estêvão, o colosso do século passado na oratória parlamentar, na
oratória forense, na arte da guerra, na cátedra, cujo nome ainda refulge
em todos os cantos desta pátria amada!
E, depois de
uma interrupção do PONEY, continua:
Guarda as
ossadas de Melo Freitas, de Gravito, de Morais Sarmento, e de tantos
outros mártires da Liberdade que, digam o que disserem, foram os
precursores das grandes ideias políticas e os mais importantes padrões
da civilização que desfrutamos e alcançámos e cuja defesa é hoje a nossa
constante preocupação!
Nova
intervenção do jornalista e, D. Câmara continua:
A minha
terra, a sua ria, as suas tricanas – verdadeiras beldades –, as suas marinhas
de sal! Como me comove falar da minha terra! Vem V. Ex.ª visitá-la: como
lhe agradeço!
Tendo a
chefe perguntado ao PONEY a sua opinião sobre a D. Câmara, este
respondeu estar entusiasmado com o grande amor que ela tinha pela sua
terra e admirava que ela fosse tão nova ainda. Estava encantado.
A chefe
explicou-lhe que a nossa Câmara, porque acompanha sempre o progresso,
mantém inalterável a sua juventude.
Esta
observação da chefe pode ser feita em relação à actual Câmara, que tantas e tão
importantes coisas tem feito, quer na cidade, quer no restante
do concelho, para o seu progresso!
Está cada
vez mais jovem e mais activa!
Bem haja...
A chefe
conduz o PONEY em direcção ao Parque da Cidade, entregando-o à Seta que
tem a seu cargo a missão de indicar o caminho para lá chegar e, nele,
acompanhar os visitantes.
Neste
percurso encontra o Padeiro, a Peixeira, as Leiteiras
à espera que lhes fiscalizem o leite, a Mulher das Camarinhas e
os Brasileiros que, também, vieram visitar Aveiro.
|