Em 1940, o
Grupo Cénico do Clube dos Galitos ensaiou e levou à cena a
revista-fantasia regional
MÔLHO DE ESCABECHE, em 2 actos e 26 quadros,
original de António José Flamengo, com versos do
Dr. Luís
Regala e música de João Lé, e com uma valsa de
Nóbrega e
Sousa, nosso patrício, que já fazia parte dos quadros musicais da
Emissora Nacional e cujas músicas estavam, então, muito em voga.
Destes
autores, faleceu o António José Flamengo: Paz à sua Alma!
Os restantes
estão vivos, felizmente.
Nóbrega e
Sousa, ainda há pouco nas bocas do mundo, por ter sido o autor da canção
«Sobe, sobe, balão, sobe!», que representou a RTP portuguesa no último
Festival Internacional da Canção, tendo obtido uma boa classificação a
melhor, salvo erro, das até agora conseguidas naquele concurso anual.
O Dr. Luís
Regala continua a «poetar» guardando, porém, para si, a maioria das suas
produções, dando-nos, muito raramente, por intermédio de
Pedro
Zargo – personagem em quem o
poeta se encarnou – um ou outro dos seus admiráveis poemas.
O João Lé,
tendo deixado (por se ter aposentado) as suas actividades escolares,
continua – suponho – como componente da Orquestra Sinfónica do Porto. Da
sua música naquela revista-fantasia, direi que a E.N.
[Emissora Nacional]
mostrou – aquando
dos espectáculos dados em Lisboa –, interesse em gravar, para os seus
arquivos, alguns dos números, pelo que o Grupo Cénico se deslocou aos
estúdios daquela E.N., para lá fazerem essas gravações; e, bem assim,
que, nessa altura, estava em Lisboa, de passagem para a América, um
maestro austríaco de grande nomeada (de que não me lembra, agora, o
nome) que, nos vários meios musicais de Lisboa com quem contactou, foi
informado da representação do MOLHO DE ESCABECHE e da repercussão que
nesses meios teve a música desta revista. Lamentando-se de, por falta de
tempo, não poder assistir ao espectáculo, foi informado da gravação que
se iria fazer na E.N.; e, tendo mostrado interesse de a ela assistir,
conseguiu-o, por intermédio de pessoas ligadas aos meios musicais que,
em Lisboa, ele frequentou.
/ 139 / De tal forma a música lhe agradou
que, no final, felicitou o João Lé, a quem disse, mais ou menos, na sua
linguagem muito arrevesada, o seguinte: «Bela música e bom compositor.
Lé, nome pequeno, mas grande músico, que eu não esquecerei».
Felicitou,
também, os intérpretes dos vários números gravados, incluindo os coros,
que considerou muito bem ensaiados, e mostrou o seu desgosto por não
poder assistir ao espectáculo dessa noite, por ter de seguir para a
América.
Às pessoas
mais novas, habituadas a ver e a usar os actuais aparelhos de gravar e
de reproduzir essas ou outras gravações, causará, certamente, estranheza
a necessidade que houve do Grupo Cénico se deslocar à E.N., e não ser
esta que se tenha deslocado ao Coliseu. As coisas, então, eram
diferentes: não havia aparelhagem do tipo da actual e, até – segundo,
então, nos informaram –, aos discos que a E.N. gravou não se lhes podia
dar o uso dos que se fabricavam para fins comerciais, porque se
«apagavam» com relativa facilidade.
«O Molho de
Escabeche», tal como aconteceu com o «Ao Cantar do Galo», deu grande
número de espectáculos, quer em Aveiro, quer fora, sempre muito
aplaudidos e com casas «à cunha».
A Imprensa
falou de tal maneira desta revista que os profissionais de teatro se
sentiram, de certo modo, afectados com essas referências.
E até a
Censura nos tentou fazer a vida cara, pois não só exigiu, no dia do
primeiro espectáculo, (de tarde), que fizéssemos um ensaio completo, com
as chefes de grupo, devidamente equipadas, como, também, só nos entregou
a peça (com cortes feitos) à última-da-hora, impondo que esses cortes
fossem respeitados escrupulosamente, sob pena de mandarem suspender a
representação.
E já o
pessoal estava a jantar para se dirigir ao Coliseu, quando eu e o Dr.
Alberto Souto (que à Direcção Geral dos Espectáculos tínhamos ido buscar
a peça), andámos de pensão em pensão, a dar instruções sobre os cortes
efectuados, e, de acordo com o Flamengo, das novas deixas que, de tais
cortes, resultaram.
Assim, no
dia do primeiro espectáculo, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, as
primeiras filas estavam ocupadas por actores – era segunda-feira, dia de
descanso para estes –, que fizeram constar tal facto, com o fim de
influenciarem o comportamento dos amadores provincianos, que deviam
recear exibir-se perante, e de frente, a actores profissionais,
esperando que eles (amadores) não tivessem a presença de espírito
necessária para se desempenharem dos seus papéis com a alegria e a
desenvoltura de que os jornais falavam.
Todo o Grupo
foi avisado deste facto e mentalizado para não ligar qualquer
importância à assistência dos actores profissionais: eram público, como
os restantes espectadores.
/ 140 /
O
espectáculo iniciava-se mostrando um cenário com vários motivos de
Aveiro, e um grupo de raparigas vestidas com uma fantasia muito leve e
deitadas em diversas posições.
As
raparigas, acompanhadas por uma orquestra-jazz que já se ouvia há pedaço
e que, então, entrando no palco, cantavam:
Oh linda
terra de amores!
Teu nome
jamais apagas,
Que as
fainas dos pescadores,
São ondas
nas tuas vagas.
Os dramas
dos teus poentes
E as brumas
desses teus prados,
Dão sonhos
incandescentes
Aos olhos
dos namorados.
A luz do céu
que te cobre
Sobre a cor
da água inquieta
É a alegria
do pobre
Numa canção
bela de poeta.
As tradições
mais antigas
Da tua
história sem par,
Só a voz das
raparigas
Sabe dizer e
cantar.
Entrava, de
seguida, um grupo de rapazes, formando-se um coro misto, que cantava:
Oh Aveiro,
Oh Aveiro,
Oh Aveiro
sem rival:
Meu formoso
Cativeiro
Das ondas de
Portugal!
Doce fada,
Namorada
Duma beleza
sem par!
És ainda
/ 141 /
Terra linda,
Linda terra
à beira-mar.
A solo,
Sebastião Amaral continuava a canção:
Gaivotas
voando
Num voo
ligeiro
Lá voam
cantando
A Ria de
Aveiro.
E os barcos
na Ria
E as velas
no ar,
Dão mais
alegria
Às ondas do
mar.
A que se
seguia um coro, com a letra que, acima, se indicou, isto é: Doce fada…
etc.
Ao fechar a
cortina, reboa uma tremenda salva de palmas, com a plateia, entusiasmada
e em pé, entusiasmo de que partilharam – e calorosamente os artistas
profissionais, que, no intervalo, e junto das pessoas de Aveiro,
reconheceram que os profissionais do teatro não eram capazes de fazer
melhor.
Continuemos
a falar do «Molho de Escabeche».
O
guarda-roupa, muito vistoso e, até algum dele muito luxuoso, foi
executado, propositadamente, em casa da especialidade, em Lisboa, sob
desenhos do figurinista profissional Laiert Neves e, também, do nosso
conterrâneo Aníbal Ramos, distinto artista fotográfico, falecido
no vigor da idade.
Os cenários
e as cortinas foram pintados, em Aveiro, pelo cenógrafo profissional
Reinaldo Martins, de Lisboa, que para cá se deslocou, a fim de
observar e pintar os locais onde se passavam as várias cenas da peça.
Uma dessas
cortinas, porém, foi pintada pelo artista aveirense
Licínio Pinto,
por incumbência do Dr. Abílio Justiça, que a pagou do seu bolso e
o ofereceu ao Grupo Cénico.
O
investimento necessário para a montagem desta revista-fantasia foi muito
vultuoso e, para o tempo, muito atrevido.
Um grupo de
cagaréus, todos eles «Manatas» – grupo que apoiou, com o seu entusiasmo, o
seu trabalho e o seu dinheiro, diversas iniciativas do Clube dos Galitos
– acreditou no êxito daquela revista e quis vê-la montada tal qual o
/
142 / António José Flamengo a idealizou, convencidos de que a sua
representação honraria, não só o nome do Clube dos Galitos, como, e
principalmente, o de Aveiro; o que, na realidade, aconteceu.
Assim, o
referido grupo tomou a responsabilidade de obter ali quantias
necessárias para aquele efeito, apondo as suas assinaturas em letras
bancárias que garantiam, no Banco Regional de Aveiro, os levantamentos
efectuados.
É aqui a
altura própria de recordar os seus nomes: António
Luís Morais da
Cunha; Dr. Abílio Justiça; Dr. Augusto Cunha;
António da Costa Ferreira; e João Ferreira de Macedo.
De todo o
Grupo dos Manatas apenas são vivos o João Macedo e o
Primo
da Naia Pacheco.
Outrossim é
de recordar, aqui, o nome de José Vieira de Oliveira Barbosa, que
suponho não ter pertencido aos avalistas das letras a que atrás se faz
referência, mas que foi, no entanto, o administrador das importâncias
levantadas e das que renderam os espectáculos, cujas bilheteiras ele
fiscalizava como de coisa sua se tratasse; e trazia, sempre, todas as
contas em dia, e delas dava conhecimento, após cada uma das
representações, aos capitalistas para estes saberem «às quantas
andavam».
Não vou
falar, agora, da contribuição do José Barbosa nas várias festas e actos
cívicos realizados em Aveiro: o nosso amigo Eduardo Cerqueira – o
distinto aveirógrafo – já o evocou, nas páginas do “Litoral”, pouco
tempo após o seu falecimento.
O
Dr. Abílio
Justiça, solteirão, teve, no final da sua vida, duas paixões: a do
Teatro e a de pescador-amador; nesta, pouco ou nenhum peixe conseguia apanhar,
apesar de variar, muitas vezes, a isca que empregava para ver se
enganava os peixitos. Para a montagem do «Molho de Escabeche», não só
após a sua assinatura nas letras a que já fiz referência, como, também,
se ofereceu para pagar, até onde a sua fortuna o permitisse, o prejuízo
que a revista viesse a dar. O que ele queria era vê-la representada com
o brilhantismo com que o António José sonhava, e incitava este a que não
olhasse a despesas para o conseguir.
Quando da
ida ao Coliseu dos Recreios, receando qualquer contratempo que pudesse
surgir e para o qual a Direcção do Grupo não fosse preparada, meteu no
bolso vinte e seis contos – nesse tempo era uma grande quantia «para o
que desse e viesse».
O
António
Cunha, outro solteirão, também adquiriu, no final da sua vida, duas
paixões: a dos grupos teatrais e a de administrador do Teatro Aveirense,
quando este atravessou um período muito difícil de gestão.
Todo o seu tempo disponível dedicava-o ao
Teatro Aveirense, então ameaçado de venda em hasta pública, por motivo
das dívidas resultantes da grande modificação efectuada no mesmo, e no
período em que a televisão desviou do
/ 143 /
cinema os seus frequentadores. Maus dias foram esses, os que o António
Cunha aguentou.
Quando, no
«Molho de Escabeche», o José Barbosa estava «à rasca» para fazer
qualquer liquidação urgente, recorria ao António Cunha que, do seu
bolso, acudia, de imediato, a essa emergência. E, quando terminou a
actuação daquela revista, tomou, para si, o encargo de fazer a
liquidação final de todas as contas; apesar dos seus colegas
«capitalistas» se oferecerem (como, aliás, lhes competia) para
partilharem com a sua quota-parte, não aceitou essa oferta.
Eram, assim,
os Manatas: cagaréus cem por cento, e galitos até à medula.
A Direcção
do Grupo Cénico do Clube dos Galitos, quando pensou na ida deste a
Lisboa, convidou o ilustre jornalista e crítico teatral
Artur Inês,
conhecido como muito rigoroso nas suas apreciações, a assistir, em
Aveiro, a um espectáculo e a dar a sua opinião quanto à possível
exibição do «Molho de Escabeche» no Coliseu dos Recreios.
Artur Inês
ficou entusiasmado com o que viu, deu alguns conselhos que a sua prática
entendia deverem ser seguidos, indicou alguns cortes que conviria fazer
para a revista ficar um pouco mais curta e foi de opinião de que ela
alcançaria, em Lisboa, um grande êxito.
Aliás, já
quando da deslocação do Grupo Cénico a Lisboa, com a revista «Ao cantar
do Galo», foi ouvida, previamente, e a conselho de D. Carolina
Christo – salvo erro – (grande entusiasta desta deslocação) a
opinião daquele jornalista.
Do artigo
que Artur Inês escreveu, no jornal REPÚBLICA, de 24-12-1940, transcrevo
o seguinte:
«(...) O que
mais seduziu a nossa atenção foi a graciosidade dos quadros regionais,
cem por cento portugueses, onde os tipos estão admiravelmente marcados
num pensamento etnográfico sem mácula, que encanta o espectador pela
vista e pelo coração.
Como em
maravilhoso caleidoscópio, passam pelo espectador os padeirinhos, as
serranas, o Chico da Nau – da Nau Portugal, que esteve na exposição –, a
tricana da época do Senhor D. Pedro IV e a tricana dos nossos dias, as
empilhadeiras, os moliceiros, a vendedora da gare, gente de Aveiro,
gente de Ílhavo, de Ovar, da Murtosa, do S. Paio da Torreira, gente boa,
alegre e afectiva, de toda essa luminosa e pitoresca região de Portugal,
que trabalha e canta.
/ 144 /
O quadro de
abertura Aveiro!... Aveiro!... é uma impressionante alegoria, triunfal,
dinâmica, empolgante, onde o encenador dá imediatas provas do seu
talento realizador.
Os quadros dos Ramos
– a que auguro um êxito formidável em Lisboa
– o do
Sampaio da Torreira e Sinfonia das Ondas, Cenas da
Bairrada, Xailes de Aveiro, todos os quadros de fantasia,
enfim, estão plenos de cor, de movimento, de alegria sadia e clara,
esmaltados pela graciosidade das tricaninhas airosas e dos moços
entusiastas, que completam o admirável grupo de 28 raparigas e 25
rapazes, que são as actrizes, os actores e os bailarinos deste lindo e
colorido espectáculo regional.
Mas o autor
não se limitou a apresentar uma sucessão de quadros coloridos e ricos da
sua incomparável região. Ele dá-nos, aqui e ali, a feição crítica do
comentário de revista através de algumas rábulas curiosas, e bem
achadas, outras, como Doido por Festas, de que se encarregou, e
muito bem, António José FIamengo, autor, actor e ensaiador do
«Molho de Escabeche».
Também do
jornal O SÉCULO, de 30-12-1940, transcrevo:
– «O Grupo
Cénico do Clube dos Galitos, de Aveiro, que Lisboa conhece por via da
representação da revista «Ao Cantar do Galo» que há três anos, levou, em
três noites consecutivas, milhares e milhares de pessoas ao Coliseu, vem
novamente à capital, como “O Século” tem noticiado, desta feita com
outra peça ainda mais linda e mais vistosa do que aquela, intitulada
«Molho de Escabeche».
A graça das
tricanas, a beleza da ria, a magia das cantigas da serra, da planura ou
da beira-mar, os costumes da gente aveirense, tudo o que a região tem de
belo e de característico, foi aproveitado com arte e integrado no
interessante espectáculo, que, além da sua feição colorida e aliciante,
constitui um reclamo vivo e movimentado do formoso distrito do
Douro-Litoral.
Matos
Sequeira, e outros críticos dos jornais de Lisboa e Porto, fizeram
referências, altamente elogiosas, à revista-fantasia, ao desempenho a
cargo de rapazes e senhoras; aos coros formados por gentis tricanas;
indumentária vistosa e colorida; à partitura alegre e melodiosa; à
montagem cénica, notável pelo bom gosto e pelo acerto. Tudo concorre
para que o «Molho de Escabeche» pareça uma peça realizada por um grande
empresário e erguida à custa de rios de dinheiro, para a qual se tivesse
escolhido uma companhia de valores excepcionais. De facto, nada há nesse
espectáculo que não seja, ou não pareça excepcional. Vozes frescas,
frisos de raparigas insinuantes, vocações indiscutíveis da arte de
representar, dedicações a marcar brio e, principalmente, um esforço
imenso por parte do grupo que serve de fanfarra aos Galitos e a Aveiro,
são outros tantos elementos de valorização da fantasia, que o público de
Lisboa poderá admirar nas noites de 11, 12 e 13 de Janeiro.
/ 145 /
“O Século”
patrocina a iniciativa do prestigioso Clube, que sabe manter as suas
honradas tradições e prosseguir na obra que se impõe: o de fazer bom
teatro e, com ele, servir a sempre encantadora cidade de Aveiro.»
Além dos
artigos atrás transcritos, em parte, todos os outros jornais de Lisboa
disseram da sua opinião, após os espectáculos.
O que
escreveram os do Porto, fica para novas «Achegas».
O êxito dos
espectáculos do «Molho de Escabeche», em Lisboa, nos dias 11, 12 e 13 de
Janeiro de 1941, foi tal, e teve tamanha repercussão em todo o País,
devido ao que se escreveu na Imprensa, que Aveiro delirou de satisfação
e alegria.
Assim, no
regresso do Grupo Cénico do Clube dos Galitos, no dia 15, foram à
estação do caminho de ferro esperá-lo, acompanhados das duas bandas de
música que, então, havia na cidade, as várias colectividades com as suas
bandeiras e uma enorme massa do povo anónimo – que o acompanharam, em
cortejo, até à sede do Clube dos Galitos, com enorme entusiasmo.
Assim que o
comboio entrou nas agulhas, estralejaram muitas girândolas de foguetes e
vários morteiros.
Na paragem
do comboio, em Paraimo, a gerência das Caves do Barrocão ofereceu
bastantes garrafas de espumante das suas marcas, demonstrando, desta
forma, a sua satisfação pelo número que, na revista, se referia a essa
qualidade de vinhos da nossa região.
E que lindo
número que era!
Mas...
falemos do êxito da representação:
Uma patrícia
nossa, vivendo em Lisboa há muitos anos, escreveu a uma pessoa de
família, residente em Aveiro, o seguinte:
«Fui,
também, ao Coliseu dos Recreios assistir à representação do «Molho de
Escabeche», e fiquei maravilhada, pois nunca pensei que fosse tão bom
aquilo que vi. As componentes do grupo aveirense não ficam a dever nada
às nossas artistas profissionais, tendo ainda a favor delas a beleza e
frescura das suas poucas Primaveras. Gostei de todas; mas a preferida
foi a gentil Ângela de Jesus. Enfim, todos cá de casa estamos
encantados, por considerarmos o grupo de amadores de Aveiro uma coisa
única no género.» (in jornal “Democrata”, n.º 1664 de 18-1-1941).
Não é possível transcrever e publicar as
muitas e variadas apreciações dos
/ 146 /
nossos patrícios residentes na capital, feitas aos seus familiares, ou
simples conhecidos.
Houve um
aveirense residente há 60 anos em S. Paulo (Brasil), que lembrou a
possibilidade do Grupo se deslocar àquela cidade, encarregando-se ele de
lá tratar do que fosse necessário para tal deslocação, pois estava
convencido de que toda a colónia portuguesa, mas, especialmente, a
aveirense, acorreria a ver tal espectáculo.
Do “Jornal
de Notícias”, datado de 17 de Março de 1941, transcrevo o final de uma
crítica, feita por um seu redactor que veio, propositadamente, a Aveiro,
assistir ao espectáculo que antecedeu a deslocação do Grupo Cénico ao
Porto, para dar três espectáculos a favor da Casa da Imprensa e do
Livro, que era presidida pelo Dr. Alfredo de Magalhães.
«Um grande
mérito tem o original de António José Flamengo, singularmente
enriquecido pelos versos do Dr. Luís Regala – a simplicidade da
linguagem.
Essa
simplicidade, que não exclui a beleza, que é, talvez, a sua mais sólida
base, torna acessível o «Molho de Escabeche» a toda a gente. Evita-se o
calão, foge-se à porcaria, não se recorre ao duplo sentido pornográfico
ou soez. As personagens, símbolos ou projecção de símbolos humanos,
falam a linguagem corrente de todos os dias.»
E, a seguir,
entra na apreciação dos componentes do grupo e da sua actuação,
escrevendo:
«Lourdes
Teles impõe-se pela desenvoltura e pela naturalidade. Veste
primorosamente. Ângela de Jesus pode considerar-se uma estrela
entre as estrelas. Canta, dança, representa, e vai sempre na primeira
linha. A sua Serrana é um primor de observação; o seu Chico da
Nau, que o Porto bisará com entusiasmo, uma afirmação
brilhantíssima. Laura de Albuquerque acompanha-a em voo alto. Vai
sempre bem, mas, no Rapaz dos Moinhos – voltamos a repeti-lo –
emociona. Ester Amaral é preciosíssima. O quarteto dos
lncurcionistas, rico de observação cómica, deve-lhe muito. Não
deixem de trazer esse número ao Porto! É, sem dúvida, um dos mais
completos da peça – e dos mais felizes.
Outras
raparigas a destacar: Adelaide Ferreira, simples e natural;
Maria do Céu Lourenço, muito conscienciosa;
Democracia Graça,
graciosíssima; Maria Celeste Matos, superior de distinção, numa
chefe de quadro; Zídia Lemos, muito correcta.
Do elemento
masculino, sobressai o autor – que tem verdadeiras criações.
Diz sem
ênfase, naturalmente. Não se repete, nem repete os seus tipos.
Mário
Teles acerta com o conjunto. Firmino Costa valoriza as suas
rábulas; Agnelo Coelho, tem muito carácter.
Há um
rapazito – Fernando Morais Sarmento – verdadeiramente notável.
/
147 / Diz bem; representa melhor. Mas o que surpreende neste fedelho é o
ar consciente como ouve, a convicção com que se integra no conjunto.
Numa idade crítica – talvez quinze anos – prejudica-o, apenas, o timbre
da voz que, sem ser de criança, ainda não é de homem. Lisboa aclamou-o.
O Porto, decerto, seguir-lhe-á as pisadas. É estupendo.
Um tenor
excelente, muito modesto e simpático – Sebastião Amaral. A
fantasia de Aveiro deve-lhe muito. Um baixo com pouca escola, mas de
admirável voz – Luís António. O friso dos cavadores, tão
expressivo, vive da sua preciosa colaboração. Digamos que os rapazes –
oito – acusam bom ensaiador.
Os coros,
numerosos e disciplinados, dão à peça muita animação. Caras lindas,
frescas, trabalhando não por dever, com a mira nos lucros, mas por
paixão à arte e à terra natal. Boas marcações coreográficas. Uma
orquestra magnífica. Cenários novos, com boa luz, raro bom gosto.
Indumentária artística, por vezes luxuosa, dos costureiros de Lisboa
Isaura de Paiva e Laiert Neves d'après
figurinos de Laiert Neves e Aníbal Ramos. Segura direcção musical. A
encenação do autor – que também ensaiou os grupos coreográficos – de
ritmo admiravelmente ajustado à acção.»
Isto disse o
«Jornal de Notícias».
Também “O
Primeiro de Janeiro” e o “Comércio do Porto” fizeram as suas críticas,
pois a Casa da Imprensa e do Livro fez deslocar o Aveiro os repórteres
desses jornais, a fim de preparar o público portuense para assistir aos
espectáculos, que se realizaram em 20, 21 e 22 de Abril de 1941, com um
enorme êxito e casas à cunha.
Ainda
continuarei a falar do «Molho de Escabeche». Desculpem, se me estou a
tornar maçador, mas a verdade é que ele merece-o.
P.S. – Ao
Dr. Luís Regala agradeço a sua amável carta e peço-lhe que insista com o
Pedro Zargo para que nos vá dando mais dos seus lindos poemas, como
aquele que o “Litoral” publicou no seu último número.
Continuo a
transcrever, dos jornais do Porto, pedaços do que eles publicaram acerca
do MOLHO DE ESCABECHE.
Do diário “O
Comércio do Porto”, de 18-3-941, assinado por Edurisa:
«(...) Desde
o largo corpo coral formado por Estefânia Pires, Suzana Pires,
Alice
Picado, Georgina Lourenço, Conceição Costa, Silvina Freire, Antonieta
/
148 / de Carvalho, Noémia Miranda, Maria de La-SalIete, Guilhermina
Pinho, Estrela Castro, Maria Adelaide Trindade Ferreira, Maria Arroja,
Isaura Silva, Maria da Conceição Silva, Emília de Albuquerque,
Florentino Maia, Carlos Rodrigues, Jaime Mourisca Simões, João Moreira,
António Borrego, Jaime Magalhães, Manuel de Oliveira e Silva, António
José Rodrigues, Alberto Pires, Guilherme Maia, Manuel Arroja, Jaime
Andias, Gilberto Nogueira, Carlos Gamelas, João Velhinho, Manuel Amaral
e José Laranjeira Marques; desde o magnífico grupo até às figuras do
elenco, todos, à compita, sem o mais leve deslize nem a menor incerteza,
dão excelente conta de si, entusiasmando o público e nobilitando, de
melhor a melhor, as tradições artísticas do Clube. E, por cima de todas
estas manifestas afirmações de tendências cénicas, temos um halo de
beleza espiritual, que se desprende do friso grácil e elegante das vinte
e seis raparigas que formam o elenco feminino da companhia.
O corpo
coral feminino canta e trabalha com afinação, desenvoltura, segurança,
disciplina e relevo, como não se vê nos nossos teatros.
Tudo isto
contribui para o conjunto de atractivos que tem, nos seus 26 quadros,
espalhados por 2 actos, a fantasia regional «Molho de Escabeche» que, na
noite de anteontem, teve, no Teatro Aveirense, a sua 15.ª representação
e para a qual os representantes da Imprensa diária do Porto foram,
especialmente, convidados, assistindo, assim, a um espectáculo
interessantíssimo e que decorreu no meio do maior entusiasmo. Além do
apreciável corpo coral, temos o grupo de actrizes e de actores, todo ele
brilhante e possuindo vários valores marcantes.
Assim, «Molho de
Escabeche» teve uma interpretação animada, graciosa, expressiva, aqui e
ali com puros e verdadeiros lampejos de boa arte teatral.
Aliada a uma
consciência cénica inquebrantável – todos os intérpretes acusavam
intuição e naturalidade fora do vulgar.
À frente
temos Lourdes Teles, esguia e delicada como certas figurinhas de Sandro
Boticceli, representando e cantando melhor do que certas actrizes do
nosso teatro de revista; Ângela de Jesus, beleza sadia de portuguesa,
possuidora de uma linda voz e de acentuado vigor artístico; Laura
Albuquerque, sorridente e gaiata, representando com expressiva
desenvoltura; Ester Amaral, olhos buliçosos e sorriso luminoso,
mostrando-se, acima de tudo, uma esplêndida característica; Adelaide
Ferreira, esbelta e expressiva; (...) e, todas elas, afirmando-se
valores dentro da sugestiva peça; Maria do Céu Lourenço, Virgínia Calixto, Democracia Graça, Maria Celeste Matos e Zídia Lemos – em suma,
todas as intérpretes realçam os seus belos dotes físicos, as suas
vitoriosas mocidades e as suas vocações artísticas.
No elemento
masculino, temos Mário Teles, amador vigoroso; Firmino Costa, um óptimo
cómico; José Duarte Vieira, interessantemente caricatural;
/ 149 /
Agnelo Coelho, de bom humorismo; Sebastião Amaral, distinto e expressivo
e cantando belamente; António José Flamengo, autor e doublé de
intérprete brilhante; F. Morais Sarmento, rapazinho ainda, mas uma
vincada vocação artística; e Luís António, um basso
esplêndido.(...)»
O artigo termina com a apreciação da
peça, dizendo:
«(...) «Molho de Escabeche» é
da autoria de António José Flamengo (o poema) e do Dr. Luís Carlos
Regala (os versos), que escreveram uma revista melhor do que muitas que
se exibem no teatro de profissionais. Debaixo do seu aliciante e vistoso
aspecto de fantasia, tem acentuado religiosismo e vivo carácter. Obra
escrita com paixão e entusiasmo – ela não podia deixar de ser, pois, uma
peça interessante, vivaz, calorosa de sentimento e entusiástica de
exaltação patriótica e moral. Não lhe falta a charge feliz, a legenda
espirituosa e a nota de crítica, mas nela abunda o cunho regionalista e
o panorama de fantasia, tudo numa sugestiva conjunção de belezas visuais
e de aparatosos efeitos cénicos para o que muito concorreu a excelência,
o bom gosto e o luxo dos cenários e guarda-roupa verdadeiramente
encantadores, ricos e atraentes, dando à peça uma montagem cénica
superior à de muitas revistas do nosso teatro.
A música é
de João Lé – são trinta números encantadores, belamente instrumentados,
aos quais uma orquestra de 30 figuras, entre as quais os distintos
professores Mário Delgado, Manuel Ruivo e José de Magalhães, idos do
Porto, sob a direcção proficiente do autor, deram o máximo relevo.
Lindo
espectáculo, pois, a afirmação absoluta e concreta de como se faz melhor
arte, tantas vezes, entre os amadores do que no meio dos profissionais.»
Veremos, a
seguir, o que disse “O Primeiro de Janeiro”, de 17 de Março de 1941.
«A PEÇA
«Molho de Escabeche» mostra-nos a hospitalidade de Aveiro quando recebe
os dois serranos que descem da montanha solitária ao ambiente acolhedor
do Litoral. Depois, curiosos apontamentos típicos da Beira-Mar. A
seguir, a tarefa das empilhadeiras, a evocação de uma tragédia marítima,
a tradicional e característica Festa dos Ramos, um apontamento ruidoso
do Carnaval, um friso de tricanas com os seus xailes, uma tirada
patriótica marcada junto da Nau «Portugal», a nota romântica ao longo da
Ria, a alegoria à laboriosa população da Bairrada, as apoteoses
movimentadas às gentes do mar e da Indústria.
Versos
mimosos e agradáveis. Algumas charges felizes – à Nau, no Cortejo
Histórico, e à regulamentação dos trajos nas nossas praias. Recortam-se,
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ainda, algumas rábulas de intencional efeito, como Doido por
festas, Velho pescador, Amador de cacos e Boémio.
Apontam-se, ainda, alguns quadros decorativos de sabor local.
António
José Flamengo, autor do
poema, e o Dr. Luís Regala, que escreveu os versos, foram os
cozinheiros deste saboroso e tão característico «Molho de Escabeche»,
que, sem hesitação, pode ser servido em qualquer dos nossos palcos, com
a certeza de satisfazer. É pena que alguns sambas, integrando a fantasia
no ritmo estrangeiro, desviem a peça do seu verdadeiro carácter.
A MÚSICA –
Pertence ao professor João Lé a partitura, que é agradável e melodiosa,
embora de quando em quando, influenciada por números internacionais.
Possui um minuete delicado e um concertante inspirado,
cheio de contrastes e bem orquestrado. O fado-canção tem
sentimento, assim como o número do Cavador. A valsa de Nóbrega e
Sousa tem suavidade e largueza. A orquestra, sob a direcção de João Lé,
deu atenta execução à partitura.
A
INTERPRETAÇÃO – Não se pode exigir mais de amadores. Todos trabalharam
com vontade. Muita mocidade e alegria. Por vezes, um certo dinamismo. Um
dos grandes factores do êxito da fantasia está, sem dúvida, no seu
desempenho. Ângela de Jesus, à frente do conjunto, é uma revelação.
Canta, diz com intenção e a gesticulação é precisa, certa. Naturalidade
e frescura, duas características que se notam nos seus trabalhos. Está
ali o estofo de uma actriz. Laura de Albuquerque é outro valor nas suas
interpretações comunicativas de alegria e ternura. Adelaide Ferreira,
muito graciosa. Lourdes Teles tem a presença semelhante a certas
vedetas do Cinema. É uma alegre commère. Ester Amaral, a
Micas, mostrou seguras aptidões para característica. Maria Celeste
Matos foi... um sorriso, num chefe de quadro. Maria do Céu
Lourenço, Virgínia Calisto, Democracia Graça e Zídia Lemos, bons
elementos. António José Flamengo – um dos autores – deu relevo aos seus
personagens, embora num deles – Doido por festas – tivesse
retoque um pouco carregado. Sebastião Amaral fez vários tipos de graça.
F. Morais Sarmento dispõe de vivacidade e vontade de acertar; as suas
interpretações demonstram qualidade. Luís António – um baixo com
qualidades – houve-se correctamente. Mário Teles fez, com sentido de
observação, o Velho pescador. Firmino Costa, José Duarte Vieira e
Agnelo Coelho dão boa colaboração.
Aprumado o
corpo coral, sobretudo rostos sorridentes, exteriorizando a alegria
precisa no teatro musicado. Equilíbrio e harmonia nas marcações.
Sonoridade afirmada nos coros.
MONTAGEM – A
peça está esmeradamente montada. Cenários de bom colorido – aspectos
panorâmicos de Aveiro que são surpreendentes de beleza. O guarda-roupa
acusa magnífico desenho decorativo e é luxuoso.
Em resumo:
um atraente e agradável espectáculo.»
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O que atrás
se transcreve é uma parte do que publicou o jornal “O Primeiro de
Janeiro”, de 17 de Março de 1941.
A propósito
da interpretação do Doido por Festas, vem a talhe de foice dizer
que, no primeiro espectáculo do Coliseu, um dos censores que havia
assistido ao ensaio, que serviu para a respectiva comissão fazer a
censura, ao ver o desempenho de tal personagem, desabafou:
«Este
levou-me; se ele tivesse, depois, representado assim, eu cortava este
personagem, pois, agora, deu-lhe a intenção que ele – que é o autor –
desejava dar, e que, no ensaio, teve a habilidade de encobrir. É certo
que as palavras são as mesmas, mas a maneira de dizer foi outra...».
Mas... para
o êxito desta, como o de todas as outras peças teatrais, contribuem, não
somente os figurantes – que o espectador, repimpadamente, sentado na sua
cadeira, vê desfilar pelo palco –, como, também, outros que se não vêem.
Quem nunca
assistiu ao que se passa nos bastidores, não pode calcular o movimento
que por lá se faz.
São os
carpinteiros que têm de desmontar e montar os cenários num tempo mínimo,
a fim de evitar que os intervalos se tornem excessivamente demorados,
para o que é necessário ter tudo em ordem, com um chefe capaz de dirigir
a equipa de forma a que cada um dos seus componentes se desempenhe da
obrigação que lhe foi distribuída, sem atropelos: o Belmiro Fartura, que
tinha enorme facilidade de resolver os problemas que surgiam, comandava
uma equipa treinada por ele e que era muito eficiente. No Coliseu dos
Recreios ouvi eu os profissionais de palco tecerem-lhe os maiores
elogios.
E são os
homens das cordas que movimentam as cortinas, os telões e o pano de
boca, que têm de estar atentos, e executar, a tempo, as ordens dadas
pelo contra-regra, ou, como aconteceu nas revistas de que tenho vindo a
falar, estarem, com muita atenção aos toques de campainha e às luzes de
várias cores manobradas pelo ponto que tomou para si o encargo de
comandar o pessoal do palco (com o fim de facilitar a missão do
contra-regra) e, até, de fazer o pré-aviso e a ordem de execução ao
chefe da orquestra e aos próprios músicos.
E, sem
qualquer vaidade da minha parte, quero recordar a cara de espanto dos
profissionais do Coliseu, quando lhes pedi para fazerem a montagem das
luzes e campainhas nos locais que lhes indiquei, com ligação a um painel
que estava no buraco do ponto, (que nós havíamos levado de Aveiro) e do
qual fizemos uso em todos os espectáculos. Questionaram, e não queriam
fazer tal serviço, por entenderem ser uma chinesice, pois, na sua
opinião, o ponto não tinha possibilidade de se manter atento ao decorrer
da peça, ao comportamento dos personagens e, ainda, manobrar o tal
painel. Nunca tinham feito tal coisa.
Foi necessária a intervenção enérgica do
empresário do Coliseu, para que
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o electricista, com a ajuda do falecido Mário Pessoa, conseguisse ter o
trabalho pronto um pouco antes de se iniciar o espectáculo.
E é o
contra-regra que tem de andar atrás de toda a gente para que, a tempo e
horas, não falhem nas suas entradas, saibam as suas primeiras palavras
(não vá ter uma amnésia) e não se esqueçam de levar consigo os objectos
de que devam servir-se em cena.
O Natividade
e Silva, formado (pela muita prática) na execução desse lugar, foi o
escolhido, e sempre o desempenhou a contento de todos devido à sua
paciência e diplomacia, ou melhor, maleabilidade.
Na
preparação dos espectáculos, outros personagens têm de trabalhar muito:
ensaiadores, caracterizadores, aderecistas, etc., etc. de que, talvez,
venha a falar, noutra ocasião.
Por agora, faço ponto final nestas coisas de teatro, para não me tornar
maçador.
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