Achegas para a Historiografia Aveirense - 1988

Grupos dramáticos

Já, há muito tempo, que pensei em falar dos grupos dramáticos em que colaborei, (e noutros mais antigos), não só dos que foram organizados «a sério», e que levaram o nome de Aveiro a todo o país, como o foram o TRICANAS E GALITOS, o GRUPO DE OPERETA AMADORES AVEIRENSES e a ASSOCIAÇÃO DRAMÁTICA DE AVEIRO, como, também, aqueles que, «a brincar», se organizavam entre amigos para se passar o tempo fazendo alguma coisa de útil, e mantendo, com a convivência diária entre todos, a amizade existente entre a rapaziada que desses grupos fazia parte.

É dos últimos que vou falar em primeiro lugar, dando a primazia ao que, em 1921, com o nome de GRUPO DE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA, uns amigos, dos quais, hoje, se podem contar pelos dedos de uma das mãos os que ainda pertencem ao número dos vivos, amigos que o foram, sempre, durante toda a sua vida e em todas as circunstâncias, apesar de entre eles, através dos tempos, os haver com situações económicas e sociais de diferentes graus.

Foi seu primeiro ensaiador João Mendes da Costa (o Costa penhorista) que, na sua mocidade, foi marinheiro em Lisboa e por lá frequentou os bastidores dos teatros, e adquiriu a «vicieira» teatral de que estava imbuído, tomando muito a sério não só o seu papel de ensaiador, como o de contra-regra, exigindo disciplina e obediência absoluta nos ensaios, e fazendo questão, nos dias de espectáculo, de que as personagens estivessem prontas para entrarem no palco logo após a «deixa» anterior e com todos os objectos de que se teriam de servir na sua representação.

E era vê-lo, nesses dias, a contactar, um por um, e com a devida antecedência, os amadores que teriam de entrar para o palco, obrigando-os a mostrarem-lhe os objectos que ele, por uma lista, ia mencionando.

Por qualquer circunstância, da qual eu já não me lembro, mas que o devia / 124 / ser pelo feitio ríspido e autoritário, o João Costa zangou-se com a rapaziada e deixou de aparecer, pois estava convencido de que lhe iríamos pedir, humildemente, que continuasse a ensaiar-nos, tanto mais que sabia que não éramos pessoas para desistir de ir até ao fim daquilo a que nos comprometêssemos; e calculava que nenhum de nós seria capaz de continuar com os ensaios até ao final.

Tal, porém, não aconteceu.

Tinha chegado há pouco tempo a Aveiro, vindo da Beira (não para exercer o magistério primário em que era diplomado, mas o lugar de Guarda-Livros da Empresa Comércio e Indústria, com serração e moagem na Estrada da Barra) e do GRUPO já fazia parte, o inesquecível amigo José Duarte Simão que, com muita habilidade para o teatro (como o demonstrou pela vida fora) se comprometeu a concluir o trabalho iniciado pelo João Costa; e, assim, em 1922, aquele GRUPO, deu, no Teatro Aveirense, um espectáculo a favor do cofre dos «Bombeiros Velhos», colaborando desta forma nas festas do seu aniversário.

Os componentes do Grupo de Educação Artística, muito antes da organização deste, já eram parceiros de brincadeiras e rapaziadas nocturnas, pois só à noite se podiam juntar, visto que, durante o dia, todos estavam ocupados com as suas obrigações profissionais, que não eram de seis ou oito horas diárias como agora – mas, sim, de dez, doze e, muitas vezes, mais.

E foram eles que, com outros, fundaram o ATLÉTICO CLUBE DE AVEIRO, não só para nele se praticar o atletismo, mas, sobretudo, para terem uma casa onde a rapaziada do mesmo nível de instrução e educação se pudesse reunir e conviver.

Na Associação dos Empregados do Comércio, por essa altura, também, e por sugestão de João Costa, que para ensaiador se ofereceu, organizou-se entre os seus associados (rapazes e raparigas) um grupo teatral (que se denominou GRUPO DRAMÁTICO DA ASSOCIAÇÃO DOS EMPREGADOS DO COMÉRCIO) que, no Teatro Aveirense, deu dois espectáculos, e nos quais cada um dos amadores se desempenhou, com relativa segurança, do papel que lhe foi distribuído, conseguindo agradar ao público que a eles assistiu.

Estou a ver a Micas, muito jovem ainda, mas já muito jeitosa (ela ainda o é) a desenrascar-se, no palco, de um problema que lhe surgiu, por se ter esquecido de levar para a cena uma carta – contra os usos e costumes, o João Costa não exigiu que ela, antes de entrar, lha mostrasse, – que teria de esconder aquando da entrada em cena de uma outra personagem que, apercebendo-se do seu gesto, a interrogaria disso.

Quando notámos que a Micas não tinha a carta, previmos um fiasco; ficámos, porém, sossegados, quando a vimos, muito à vontade, dirigir-se para uma / 125 / mesa onde estava aceso um candeeiro de petróleo e baixar-lhe a torcida; e, quando interrogada quanto ao seu gesto, respondeu ao seu interlocutor que estava a entrar em cena, que havia ido diminuir a luz do candeeiro, que estava muito alta, e a incomodava.

E a nossa atrapalhação era maior por nos lembrarmos de uma história que o João Costa nos contava ter acontecido, e é a seguinte:

Uma actriz havia de queimar, em cena, uma carta; e a personagem seguinte, ao entrar, exclamaria: – «Que cheiro que aqui está a papel queimado!». Porém, ela não levou fósforos para queimar a referida carta, e rasgou-a; a personagem, que, dos bastidores, tinha visto aquele gesto, ao entrar exclamou: «Que cheiro que aqui está a papel rasgado!» – o que resultou num fiasco.

Continuemos a falar dos grupos cénicos como prometido.

No espectáculo realizado em 28 de Janeiro de 1922 pelo Grupo de Educação Artística a favor dos «Bombeiros Velhos», que, naquela data, comemoravam mais um aniversário, representaram-se as peças «Amores do Corone!», «As Andorinhas» e «Um Hotel Modelo»; a este espectáculo deram a sua colaboração o acrobata Manuel de Sousa e o seu discípulo Fernando Silva.

O Grupo Dramático da Associação dos Empregados do Comércio deu o seu primeiro espectáculo em 12 de Junho de 1922 com a peça o «Genro do Caetano», tendo colaborado o «Grupo de Acrobatas Portugalis», que exibiu um número muito vistoso denominado «As Estátuas de Mármore».

Aquele grupo realizou novo espectáculo em 17 de Março de 1923, o qual constou de recitativos, números musicados e duas peças teatrais; foi numa destas que a Micas se desenrascou da situação criada com a falta do papel que se esqueceu de levar para o palco.

Estes espectáculos foram realizados no Teatro Aveirense, o qual ainda não havia sido remodelado, sendo o aspecto da sala muito diferente do que hoje o é.

O grupo cénico, porém, com o qual mais me diverti, foi aquele a quem eu sempre denominei de «horrível grupo dramático», pelas brincadeiras arranjadas pelos seus componentes, pelo descaramento, e pela desfaçatez e atrevimento como se apresentavam nas suas «tournées» a várias localidades: Gafanha, Costa do Vaiado, Válega, Eixo, etc., onde se deram peripécias das quais me lembro e que, ainda hoje, despertam o riso àqueles que a elas assistiram. / 126 /

Que me perdoem os componentes ainda vivos – também já não são muitos – de lhes não citar, aqui, os nomes, pois podia acontecer que alguns ficassem, involuntariamente, esquecidos, por lapso da memória que Deus ainda me conserva, felizmente.

Abrirei, porém, uma excepção para o Agnelo Coelho, que era o aglutinador de toda aquela «cambada»; e, à volta dele, tudo era alegria e compreensão, todos o considerando como o «director» incontestável.

Pelas mesmas razões, também não vou citar os nomes dos já falecidos, com os quais tão bons momentos passámos, e que recordamos com saudade.

Não devo, porém, deixar de evocar o da D. Branca Soares que, com uma paciência evangélica, se prestava a ensaiar, em sua casa, a parte de canto, e a emprestar o seu piano para alguns espectáculos, sujeitando-se aos prejuízos que resultavam da falta de cuidado do seu transporte pelos eventuais carregadores, que chegavam a transportá-lo em carros de bois, pelas ruas, então, muito esburacadas.

Os rapazes faziam de tudo: eram cenógrafos, eram caracterizadores, eram carpinteiros e eram, também, ensaiadores (pois não havia nenhum, escalado, especialmente para este fim) e, até, carregadores (visto que não havia dinheiro para pagar a quem fizesse este trabalho).

Não fui dos organizadores do grupo, nem dos primeiros a para lá entrar; quando isso aconteceu – e não me recordo como fui lá parar – já o grupo tinha dado alguns espectáculos, em várias localidades.

Dos prospectos que anunciavam um espectáculo de variedades, em Eixo, constava que eu faria a apresentação do grupo.

Habituado, como estava, a intervir nas Assembleias Gerais da Sociedade Recreio Artístico, não fiz qualquer oposição, e não tive dúvidas em me desempenhar daquela missão, sem, para o efeito, me preparar, pois pensava que me safaria de qualquer forma, dizendo o que, na ocasião, me viesse à ideia, não temendo enfrentar o auditório.

No entretanto, dois ou três dias antes do espectáculo, o Joaquim, distribuidor postal em Eixo e que era o encarregado de impingir os bilhetes, veio dizer-nos, «todo ancho», que o Dr. Jaime de Magalhães Lima tinha comprado, para ele e para a família, a primeira fila de cadeiras.

Em face desta notícia, tentei recusar-me a fazer, em frente daquele grande pensador, a referida apresentação, por entender que seria estultícia da minha parte; porém, a rapaziada não permitiu que eu levasse avante a minha ideia, não só para se cumprir o programa, como também para dar tempo a que os «actores» se preparassem para o espectáculo.

Resolvi o problema, escrevendo uma palestra explicativa, não só da razão porque se formara o grupo, como também quem eram os amigos que o compunham; / 127 / lembro-me, até, que lhes chamei «melros de bico amarelo».

E, com as minhas desculpas pelo atrevimento de falar em frente de pessoas de tal categoria – e de quem citei o valor – lá me safei, tanto mais que, no intervalo, o Dr. Jaime chamou-me e, agradecendo as referências que eu lhe havia feito, pediu-me que transmitisse a todos os componentes a sua satisfação pela forma como estava a decorrer o espectáculo e pela modalidade que escolheram para passarem os seus tempos livres.

Foi em Eixo que um rapaz, para suprir a falta de raparigas, fez um papel feminino, vestido de «travesti»; e, ao agradecer as palmas recebidas, esqueceu-se do papel que estava a desempenhar, tirou o chapéu, e com ele a cabeleira, o que provocou risota geral, tanto mais que ele tinha, até aí, conseguido enganar a maioria da plateia.

Em Válega, um amador já falecido, e que tomava muito a sério os seus papéis quando representava uma peça, fez uma puxada dramática. O público, em vez de reagir como ele contava, desatou a rir à gargalhada, o que o levou a desabafar, em alto e bom som, dizendo:

Isto é deitar pérolas a porcos!

Num espectáculo seguinte, mudámos a peça que deu motivo a esta atitude, por uma outra denominada «Que Noite!...», só com dois ou três ensaios, havendo mesmo quem não soubesse o seu papel. Foi uma autêntica chuchadeira, mas que o público aplaudiu pelas macaquices feitas pelos actores, principalmente quando não sabiam o que deviam dizer, e enquanto esperavam que o ponto lhes «assoprasse» a sua frase.

Foi, também, em Válega que se passou o seguinte:

Fazia eu de apresentador e anunciei que o amador, com quem se deu o caso atrás citado, iria representar a cançoneta «Lá ter tenho, isso é que tenho».

O ponto avisou-me de que não tinha em seu poder essa peça. Como aquele, já a tinha representado inúmeras vezes e nunca precisou da ajuda do ponto, respondi-lhe que isso não era problema; e mandei seguir o espectáculo, tanto mais que, por demora da sua auto-caracterização, o espectáculo estava atrasado e, até alterada a ordem de representação dos vários números.

Não houve problema quanto à parte cantada; porém, quando entrou na declamada, a memória falhou-lhe e ele começou a titubear, dizendo: – ora eu... ora eu... e, dirigindo-se ao ponto, em voz baixa disse-lhe: – «Aponta, Zé!».

Como o Zé lhe disse que não tinha o papel, que me tinha avisado e eu houvera dito que isso não fazia mal, o amador enerva-se e começa a falar alto: «Aponta, Zé!... Aponta, Zé!...», travando-se entre ambos um diálogo em que o ponto afirmava não ter o papel e o actor afirmava tê-lo trazido e lho ter entregue, pois era sempre cuidadoso. / 128 /

Em seguida, acocora-se em frente do ponto, ripa-lhe toda a papelada que este tinha para o decorrer de todo o espectáculo, folheia aquilo tudo, encontra a sua parte, exibe-a e proclama bem alto: – «O que vocês queriam é que eu fosse a terra, pois têm inveja de eu ser o melhor actor do grupo...».

Tudo se passa com a cena aberta e o público ri-se, supondo, talvez, que a coisa era mesmo assim.

O actor volta a entrar; somente que, da primeira vez, ele vinha todo pinoca e a rebolar-se, pois tinha uma cara que parecia uma maçã camoesa, ao passo que, da segunda, como, devido ao seu estado de nervos, a vaselina da caracterização se derreteu e as cores se misturaram, a sua cara era diferente e os seus gestos e voz eram de pessoa muito zangada, a condizer com a cara.

E o espectáculo continuou a seguir, normalmente... e a amizade entre todos os componentes não foi alterada…

P.S. – Há dias, e em conversa com o Agnelo, este lembrou-me que, depois do espectáculo de Eixo, fomos para a loja do Mascarenhas, onde ceámos; e, para completar esta refeição, foram estrelados oitenta ovos: uma cesta deles!... E se mais houvesse…

Mas continuemos a falar das actividades dos nossos amadores teatrais. E agora dos alunos do Liceu que também tiveram o seu papel no teatro. Pelo menos, a partir de 1916, deram, em anos seguidos, no teatro Aveirense, os seus espectáculos de despedida de curso, cujos rendimentos revertiam a favor da Caixa Escolar do mesmo Liceu. Eram, normalmente, espectáculos alegres. Constavam de variedades, em que cada um dos componentes apresentava e exibia as suas habilidades, e também de umas peças ligeiras.

Porém, em 1924 – estávamos na época das revistas regionais, como adiante veremos – representaram a revista PANGLOSS EM AVEIRO, da autoria dos professores Drs. José Pereira Tavares e Álvaro Sampaio (felizmente ainda vivos) com música, parte original e parte adaptada pelo professor de Canto Coral, Padre António Estêvão.

Em 1930, e da mesma autoria, representaram CREPÚSCULO DE PANGLOSS que um estudante apresentou com as seguintes palavras:

«De novo ides assistir a uma récita de estudantes da nossa terra. Depois do «Pangloss em Aveiro», representado há seis anos, tereis a paciência de ver e ouvir o «Crepúsculo de Pangloss», continuação e comentário daquela revista. / 129 /

«Esta peça, escrita por professores e interpretada por estudantes, não tem – não podia ter – palavras ásperas ou crítica verrinosa que nos fira. Como a outra, a de 1924, só contém ligeiras e amigas referências a pessoas, benévolos piparotes a factos da actualidade, em suma: riso bonacheirão para pessoas e coisas de Aveiro.»

E terminou, assim:

– «Nós, estudantes de hoje e homens de amanhã, vos enviamos, como os autores da peça, – muito saudar!»

Uma nova revista, ÚLTIMA VISITA DE PANGLOSS, da autoria do Dr. José Pereira Tavares e com música do, então, professor de canto Coral, José Queiroz, levaram os estudantes à cena em 1956.

Do prólogo, consta, além doutras, a seguinte quadra:

É revista escolaresca

leve e muito variada;

poderá valer bem pouco

mas não quer ser pateada.

Todos os anos, no intervalo das revistas, os estudantes, com espectáculos de maior ou menor fôlego, fizeram as suas récitas da despedida de curso.

Os alunos da Escola Normal, não só para seguirem as pisadas dos seus colegas, mas, também, para reforçar os fundos da sua Caixa Escolar, deram, outrossim, os seus espectáculos no Teatro Aveirense.

Entre 1917 e 1928, foram dados espectáculos a favor da Sociedade da Cruz Vermelha e da Cruzada das Mulheres Portuguesas (Delegações de Aveiro) com o fim de melhorarem a situação económica das famílias dos soldados, nomeadamente de Infantaria 24, que tomaram parte na Grande Guerra.

Estes espectáculos foram dados por grupos formados, especialmente, para cada um dos espectáculos, por pessoas das diferentes classes sociais, e desfaziam-se logo que se desempenhavam da missão que a si mesmos tinham imposto.

Os organizados pelas famílias «da melhor sociedade» constavam, normalmente, de saraus musicais e literários, havendo-os com peças escritas propositadamente para o efeito por escritores aveirenses.

Era ao teatro que se recorria para se obter dinheiro para acudir às desgraças públicas e a outras necessidades: até os sargentos de Infantaria 19 se organizaram em grupo cénico, e, com a ajuda de grupos amadores já conhecidos e sempre prontos a dar a sua colaboração; em 1930, deram um espectáculo para, com o seu produto, contribuírem para a subscrição aberta entre os militares da 5.ª Divisão Militar, e destinada à compra do lampadário monumental que ilumina o túmulo do Soldado Desconhecido, no Mosteiro da Batalha. / 130 /

Mercê, possivelmente, da influência que nos amadores aveirenses exerceram, os espectáculos de zarzuela realizados por companhias espanholas, bem como pelos de opereta apresentados, entre outras, pela companhia de Armando de Vasconcelos e Auzenda de Oliveira, o Clube dos Galitos organizou um grupo que, em 1917, representou as zarzuelas «Marcha de Cádiz» e «A Pastora»; nesse espectáculo cantou-se, também, o trecho «Cantiga ao Desafio», da ópera SERRANA, e nele tomou parte a nossa patrícia Augusta Freire, que já se tinha afirmado como artista de categoria em espectáculos de amadores aveirenses.

E, porque então não havia as distracções que hoje há, e porque a população aveirense tinha paixão pela música e pelo teatro, a rapaziada procurava distrair-se organizando grupos cénicos, tunas e orquestras.

Em fins de 1918 e princípios de 1919, um grupo, ensaiado pelo Dr. Ruela, levou à cena uma série de espectáculos com a comédia policial de grande fôlego «20.000 dólares», destinando-se o produto dos mesmos à Cruz Vermelha, Hospital e «Bombeiros Novos».

Esta mesma comédia voltou a ser levada à cena, em 1922, por iniciativa do Clube dos Galitos, mas por outro grupo, ensaiado por Elísio Feio, e destinada a ser apresentada em Viana do Castelo – como o foi – aquando de uma excursão promovida por aquele Clube.

Em 1923, o Clube dos Galitos organizou o Grupo Tricanas e Galitos para levar à cena a revista «A Caldeirada», com música do Dr. Vasco Rocha e poema de Luís Couceiro, poema que, com o andar dos espectáculos, ia sofrendo modificações, introduzidas por alguns dos actores-amadores, para modernizar o espectáculo.

A referida revista teve, durante o mês de Junho, seis apresentações em Aveiro, sempre com casas cheias, e também foi representada no Teatro de S. João, no Porto, com sucesso.

Devido a desinteligências entre os seus componentes, houve no Grupo Tricanas e Galitos uma cisão que motivou a organização de um outro, o Grupo de Opereta dos Amadores Aveirenses, e, bem assim, a que «A Caldeirada» fosse modificada nas suas estruturas, com novo ensaiador, passando a chamar-se «A Filha da Caldeirada», que deu, também, uma série de espectáculos durante o ano de 1925. / 131 /

Em 1930, voltou a ser resposta em cena, numa adaptação de José Duarte Simão, em homenagem a Viana do Castelo, aquando das «Bodas de Prata» do Clube dos Galitos; e, ainda, em 1932, em homenagem à memória do Dr. Vasco Rocha, e cujo produto se destinou à subscrição aberta com o fim de se proceder à construção da campa onde repousam os seus restos mortais.

Em 1926, o Grupo Tricanas e Galitos também levou à cena um espectáculo com as peças «A Campezina», da autoria do Dr. José Pereira Tavares, «Cavalleria Rusticana», cantada em Português, – nunca se tinha feito isso –, sendo a tradução de José Duarte Simão e, ainda, a peça «Amanhã», do reportório de muitas companhias de profissionais.

Enquanto o Grupo Tricanas e Galitos se mantinha em actividade, o Grupo de Opereta dos Amadores Aveirenses ensaiou e pôs em cena, em 1925, uma série de 16 espectáculos, com a opereta «O Moleiro de Alcalá», que foi apresentada também em Braga e Viseu, sempre com grande sucesso.

E, quando já se pensava terminar com a exibição desta peça, foram, a pedido das duas corporações dos Bombeiros e do Hospital, dados mais três espectáculos, cujas receitas se destinaram a auxiliar os cofres daquelas instituições.

Não quero deixar de chamar a atenção para o facto de, devido, sobretudo, à rivalidade existente entre os dois grupos, se conseguir manter em cena dois espectáculos de categoria, que exigiam, cada um, enorme quantidade de figuras principais, e coros, e ainda orquestras diferentes. É certo que, para a organização destas, os maestros tinham de recorrer a alguns músicos, amadores e profissionais, da nossa região. A peça «O Moleiro de Alcalá» tinha 26 números de música; o corpo coral era composto por 34 figuras e na orquestra havia 25 executantes.

Era a antiga rivalidade existente entre os aveirenses que ressurgia: duas freguesias; duas corporações de Bombeiros; dois clubes; dois «Senhores dos Passos», etc., o que não quebrava por completo a amizade entre os componentes dos grupos rivais, mas que incitava a que cada um fizesse melhor do que o outro, e que nos estimulava a, cada vez mais, amarmos a terra em que nascemos e nos formou o carácter. Aqueles que para cá vieram e beberam água da bica do meio da Fonte dos Arcos, a pouco e pouco integravam-se na nossa sociedade, adquirindo os mesmos defeitos e as mesmas qualidades dos nados e criados em Aveiro e, quase sem dar por ela, se faziam aveirenses e com estes colaboravam com entusiasmo e dedicação.

Os componentes do Grupo de Opereta e os seus adeptos organizaram, em seguida, a Associação Dramática de Aveiro, que, em 1926, levou à cena a peça policial «O Rei dos Gatunos», e, em 1927, «As Alegrias do Lar».

De 1928 a 1929, este grupo deu uma série de espectáculos com a opereta / 132 / «Mascote», peça de muito fôlego, com grandes dificuldades, quer no canto, quer na parte declamada, e ainda na encenação.

Até se compreendem estas dificuldades, se tivermos em atenção que tinha 18 figuras principais, 40 vozes no canto coral e 22 executantes na orquestra.

E conseguiu-se representar esta peça porque uma senhora muito distinta, a D. Maria Cândida, professora de piano e de canto e com muito gosto pelo teatro, se prestou a fazer o papel principal, dificílimo de executar.

Se tal não houvera acontecido, nem a enorme boa vontade dos componentes, nem as lindíssimas vozes das raparigas e rapazes que se prestaram à execução dos papéis que lhes foram distribuídos, conseguiriam levar ao final tão atrevida ideia.

Constava, então, que, jamais, qualquer grupo de amadores tinha tido a coragem de tentar representar esta opereta; e o Armando Vasconcelos – que, salvo erro, foi quem a emprestou – entendeu que era atrevimento da nossa parte a tentativa de a pôr em cena, não só pelas suas dificuldades, como, sobretudo, por não acreditar que houvesse possibilidade de juntar um tão grande número de amadores (como o eram os dos papéis principais) que aliassem à voz a habilidade de representar; isto, apesar de saber do que os amadores aveirenses eram capazes de fazer. E afirmou que estava convencido de que ele não seria capaz de a levar à cena com profissionais, por não conseguir o número deles com as qualidades necessárias para tal.

Apesar do número de pessoas envolvidas nos grupos atrás citados, em 1927 organizou-se um outro, o Grupo dos Amadores Unidos, que representou a revista «Aveiro em Foco» que, como todas as revistas, envolvia grande número de personagens.

É certo que, em Aveiro, não havia então muitas distracções para ocupar os tempos livres, pelo que a rivalidade já referida conseguia que a rapaziada se virasse para o teatro e fizesse verdadeiros «milagres» neste campo.

Em 1936, organizou-se o GRUPO CÉNICO DO CLUBE DOS GALITOS, destinado a representar a revista «Ao Cantar do Galo», com letra, inicialmente, de José Meireles e Manuel Firmino de Vilhena Ferreira, letra que, ao longo das representações, foi sendo alterada e acrescentada por diversos componentes do Grupo. A música era de diversos autores-amadores e foi compilada por Leonildo Rosa. / 133 /

Desta revista, que deu 20 representações (14 em Aveiro; 1 em Coimbra; 2 em Viana do Castelo; e 3 no Coliseu dos Recreios, em Lisboa) já eu falei nas minhas Achegas 13 e 19, quando me referi, respectivamente, à Romaria da Senhora das Dores e aos Esterqueiros.

A abertura era feita com a cena aberta (que mostrava a Praça da República), a meia luz, com dois varredores municipais a conversar; no entretanto, o galo canta «É madrugada!» – exclama um dos varredores).

Ouve-se, como que ao longe, um coro, pelo que os varredores se retiraram e a cena fica deserta.

A curiosidade dos espectadores fixa-se no palco, à espera da entrada do coro, que é o dos romeiros que se dirigem a Verdemilho à festa da Senhora das Dores.

Estes, porém, entram pelas várias portas da plateia, para se dirigirem ao palco.

O público lisboeta fica surpreendido pelo ineditismo desta entrada; e, então, ouvem-se uns dez mil, ou mais «ah's» (o Coliseu estava completamente à cunha), ao mesmo tempo que estrondeia uma enorme salva de palmas, que incute a maior confiança a todos os componentes do Grupo.

E se, até aí, alguns deles ainda estavam com receio ou dúvidas quanto ao êxito da representação, ficaram cheios de confiança, absolutamente sossegados e à vontade.

Na verdade, em qualquer espectáculo, as primeiras impressões são as que dispõem o público para o apreciar e até para desculpar qualquer número menos feliz.

A ida a Lisboa serviu, com o passeio, para dar a possibilidade de a maioria dos componentes do Grupo e os familiares das pequenas, que as acompanhavam, conhecerem aquela cidade; e, assim, durante o dia, em grupos formados «ad hoc», espalhavam-se por vários locais: Jardim Zoológico, Estufa Fria, Grandes Armazéns como o Grandela e os do Chiado, etc., etc.

Foi neste último que me aconteceu o seguinte:

Estava a conversar com uma das empregadas daquele estabelecimento, irmã de um antigo companheiro e amigo, a Estefânia, (vive, hoje, em Aveiro, onde foi educada) a quem tinha ido procurar, por ser das minhas relações, e a quem já não via há muito tempo –, quando um grupo das suas colegas pediu licença para nos interromper, pois queriam perguntar-me se aquelas meninas que ali andavam vestidas de tricanas o eram na verdade, ou se se tratava de senhoras de sociedade.

Respondi-lhes que eram, realmente, tricanas, filhas de gente modesta que vivia do seu trabalho, e, elas mesmo, com as suas profissões, costureiras, frangistas, etc., ganhando o seu salário para ajudar as despesas da casa. E, interrogando-as / 134 / da razão de ser da sua curiosidade, responderam-me que, na sua maioria, duvidavam da afirmativa que, a igual pergunta, a Estefânia já lhes tinha dado, dúvidas nascidas das maneiras distintas como elas se apresentavam e comportavam e da sua elegância natural, o que as levava a supor que de «senhoras da sociedade se tratasse», assim vestidas para justificar os reclames, que diziam que o Grupo era composto de tricanas e galitos.

No Coliseu, o entusiasmo foi enorme, indiscutível, tanto mais que, na assistência, havia muitos aveirenses, não só de Cacia, Sarrazola, Taboeira e Mataduços, mas também de Estarreja, Ovar e, até de Oliveira de Azeméis, que de aveirenses se proclamavam.

Ainda, e dentro das rivalidades a que já me referi, no Carnaval de 1937, uns patuscos escreveram e representaram a revista «Ao Cacarejar da Galinha», da autoria de Adriano Pires, com a colaboração de alguns daqueles patuscos, revista que era uma «charge» a «Ao Cantar do Galo» e que deu três espectáculos no Teatro Aveirense, com casas cheias. Era gente da antiga «Caldeirada…».

O Grupo Cénico do Clube dos Galitos representou também a revista «Aveiro em Foco», sob a direcção musical de Alexandre dos Prazeres Rodrigues, que compôs parte dos 8 números de música que constavam da referida revista, compilando os restantes; do corpo coral faziam parte 30 figuras.

Já em 1927 aquele Grupo tinha levado à cena uma paródia carnavalesca denominada «O Processo do Rasga».

Os prospectos que reclamavam esta peça teatral apresentaram a novidade de indicar nomes supostos – ainda que, na sua maioria, fossem de relativa facilidade de identificação – dos amadores, que daquele espectáculo faziam parte.

Ainda, e a propósito das tricanas, contarei, na próxima, um facto que eu reputo de muito interessante.

No MOLHO DE ESCABECHE há uma cena, na Fonte dos Arcos, referente ao namoro da filha de um pescador com um fidalgo, que o Dr. Luís Regala (autor dos versos desta revista) descreve assim:

Fidalgo – Boas noites, Leonor!

Tricana – Oh! Boas noites!...   / 135 /

Fidalgo – Que graça que hoje levas! / Não sei se há graça igual na Beira Mar…

Tricana – Desconte um pouco à luz do seu olhar, / O efeito produzido pelas trevas...

Fidalgo – Não gracejes, esquiva impenitente...

Tricana – Eu, esquiva, senhor?

Fidalgo – Sabe-o toda a gente… / Sim, Leonor: esquiva ao meu amor. Tricana – Ora! Lá vem de novo com as queixas.

Fidalgo – Vá... tem no meu amor alguma fé.

Tricana – Por mais que cante essas canções lamechas, / O senhor não é chinela p'ró meu pé.

Fidalgo – Deixa-te disso. Bem sabes / Que tu não tens razão / E que, afinal, toda inteirinha cabes / Muito cá dentro, aqui, no coração.

Tricana – Não faça pouco da pobreza... / Deixe seguir quem segue… / A vida é redentora. / Filha de pescador que vende peixe / Nunca posso chegar a ser senhora.

Fidalgo – Não sejas má. Escuta o que te digo. / Minhas promessas, crê, não são chalaças. / Serei talvez o teu maior amigo...

Tricana – (à parte) Não é com essas loas que me caças...

Fidalgo – Dar-te-ei o meu coração, meu braço, tudo… / Dar-te-ei meu nome, até, com alegria. / Uma casinha, um lar risonho... tudo / Que valha mais que a minha fidalguia. (Tenta abraçá-la).

Tricana – Cautela, cautelinha!... / Então que raio de confiança é esta? / Não se faça parvinho, / Olhe que eu não me ensaio / Para lhe dar com o caneco no focinho...

Fidalgo – Tonta. De que é que vale toda essa zanga? / Diz lá se o teu rubor tem algum jeito! / Tentava apenas segurar-te a manga, / Para te achegar mais junto do meu peito. / Olha, Leonor: / Quero dizer-te aqui tudo o que sinto; / E aceita desta vez o meu amor. / Podes crer, Leonor, que não te minto. / Não sei dizer se te amo... Sei apenas / Que mal te vejo e em ti o olhar concentro, / Sinto não sei que esvoaçar de penas / Que me fazem chamar, por ti, cá dentro. / Será isto amor, será adoração / Ou outro sentimento que ande a esmo?! / Nunca escutaste a voz do coração?

Tricana – (à parte) É a voz amor... Eu também sinto o mesmo.

Fidalgo – Nunca ouviste no peito uma harmonia / Que é mais contentamento que mágoa / E que nos faz lembrar a sinfonia / As orações da fonte a deitar água?!

Tricana – Sim... Não sei bem... Não sei... Talvez… / Parece que nem tenho palavras para falar! / O amor... o amor é como a água de uma fonte, / Nasce nos longes dum monte, / Cresce, cresce sem cessar / E vem morrer em síncope de prece / Desfeito em pranto e dor no nosso olhar. (Chora). / 136 /

Fidalgo – Enfim, Leonor, és minha! Agora vejo / Que tu sentes, como eu, igual fervor, / Beijo ardente a pedir um outro beijo, / Ardente amor pedindo o mesmo amor. / É que o amor, o verdadeiro, é prece / Que sai da linda boca que a rezou / E vem morrer, em beijo que enlouquece, / No beijo d'outra boca que beijou.

Tricana – Sim, sou tua! Há muito que sentia / Meu coração chamar-te em alta voz… / Mas minha Mãe dizia: / «Toma tento. Olha que ele é mais que nós...! / O que ele quer, eu sei… / Engana-se, ólari! / Eu não consinto nem consentirei / Que ele adregue a fazer pouco de ti» / E eu, confrangida, os olhos a chorar / E o coração votado ao desamparo, / Já não queria cear… / E a noite, amor, passava-a toda em claro. (Chora).

Fidalgo – Deixa-te disso agora. Vem comigo. / Então, Leonor, então? / Não chores mais. / Para veres que sou o teu melhor amigo / Vou pedir a tua mão, hoje,   a teus pais. / (tira-lhe a cantarinha) Dás licença, Leonor? (atira a cantarinha ao chão).

Tricana – (aflita) Que disparate! De certo estás tolinho...

Fidalgo - É que vais ser condessa, meu amor. / E não te fica bem o cantarinho.
 

Nunca acreditei na veracidade de tal namoro, apesar de dele ter ouvido falar desde a minha meninice: julguei-o, sempre, uma fantasia.

Porém, Homem Christo, a páginas 229 e seguintes do III volume das «MEMÓRIAS DA MINHA VIDA E DO MEU TEMPO», confirma-o com as palavras que, a seguir, transcrevo: Todas são bonitas! (refere-se às tricanas da nossa região, incluindo as de Ovar). Mas as mais finas, as mais elegantes, as mais insinuantes, são as de Aveiro. Sempre tiveram essa fama. E pela sua beleza conseguiram muitas delas casar com homens de classe superior.

O mais célebre destes casos foi o do Marquês de Castelo Melhor. Contava-se que o Marquês viera a Aveiro para ver a terra em que nascera sua mãe, creio que filha do Marquês de Ponte de Lima. Gostou da terra, gostou sobretudo das mulheres, voltou uma, duas, três vezes, e, por fim, foi-se definitivamente embora, levando consigo uma delas, lindíssima mulher, que eu muito bem conheci; e de tal forma apaixonado que se dispôs a casar com ela, o que só não fez por a morte o ter surpreendido três dias antes daquele que estava marcado para o casamento.

Eu sabia isso muito bem, pelas relações de intimidade e parentesco que tinha com pessoas de família da nubente. Uma sua sobrinha, muito linda também, essa casara com meu irmão mais velho.

Sabia isso muito bem. Mas tive a confirmação da boca do Conde de Figueiró, primo do Marquês, António de Vasconcelos, durante um almoço no Paço das Necessidades. / 137 /

A rainha Maria Amélia, sempre muito faladora, principalmente quando o rei não estava, e era o caso nesse dia, contava as impressões que recebera da filha do Marquês, a qual, na véspera, acabado o período da sua educação no estrangeiro, fizera, pela primeira vez, a sua apresentação no Paço. A rainha achara-a muito simpática, tímida mas sem «gaucherie», e, voltando-se de repente para o Conde de Figueiró, interrogou:

Sempre é certo, Conde, que o Marquês estava para casar com a mãe quando morreu?

– Sim, minha senhora. Até já tinha pedido licença para isso a Sua Majestade El-Rei o senhor D. Luís, que lha concedera.

– É notável a gentileza e o ar senhoril daquelas mulheres de Aveiro. Como a ama do príncipe, por exemplo, pisava uma sala!

A ama do príncipe era a Florinda Pirré, mulher do Francisco Maracas, que o Artur Ravara, muito bairrista, levara para o Paço.

Não havia, pois, que duvidar. A linda Isabel de Almeida, filha do pescador, deixou, por três dias, de ser a Marquesa de Castelo Melhor, um dos títulos mais históricos de Portugal.

A filha, depois Condessa da Ribeira, veio a suicidar-se em Londres, mais tarde. Não se esqueceu, o que é uma grande virtude, de que era neta de um pescador.

Em casa de meu irmão há uma fotografia dela, já mulher, mas ainda solteira, com esta carinhosa dedicatória: «Ao meu querido avôzinho, com mil beijos e um grande abraço, da sua neta muito, muito amiga e obrigada – Maria Vasconcelos e Sousa».

Não pode oferecer qualquer dúvida depois deste depoimento de Homem Christo, que o facto que o Dr. Luís Regala descreveu em versos, isto é, de uma tricana ter sido requestada por um fidalgo de alta linhagem, foi verdadeiro.

Homem Christo, no livro citado, conta, além deste, outros casos. Convém informar que o Dr. Artur Ravara era médico da Casa Real.

Da revista MOLHO DE ESCABECHE, falarei, em seguida.

Esclarecendo: Na minha Achega número 57 disse que os Galitos representaram, em 1927, a paródia carnavalesca «O Processo do Rasga».

Um leitor destes meus escritos chamou a minha atenção para o facto daquela peça, ensaiada por Aurélio Costa, ter sido representada, na data indicada, pelos alunos finalistas do 7.º ano do nosso Liceu, curso do qual aquele meu leitor fez parte; segundo ele, eu devia estar enganado, e, portanto, fazer a respectiva rectificação, pois outros seus antigos colegas deviam, como ele, ter dado pelo meu engano, e convinha repor a verdade.

Não estou enganado, como verifiquei pelos programas anunciadores dos respectivos espectáculos: os Galitos representaram-na em 15 e 16 de Fevereiro / 138 / (por alturas do Carnaval) só com rapazes e em travesti nos papéis femininos; e os estudantes, em 23 de Abril.

Encenador, ensaiador e caracterizadores, etc. foram os mesmos; contra-regra, nos Galitos, foi Frei Natividade... da bola e, nos estudantes, o Dr. Aníbal Catarino; o ponto, nos Galitos, foi o Venceslau, e nos estudantes, o Jaime Neves.

53-58

123-138