Achegas para a Historiografia Aveirense - 1988

Desaguisado na festa dos aviadores

O meu amigo António Graça, que toda a gente conhece como fotógrafo amador e que, de Aveiro, deve ter um dos maiores – se não o maior – arquivos fotográficos, já, e por várias vezes, me tem chamado a atenção para lapsos que eu, nas minhas «achegas» cometo, principalmente, em pormenores dos factos que conto, com incidência no que se refere às músicas da nossa terra.

O amigo Graça tem, ainda, boa memória e viveu a vida das músicas, pois foi executante efectivo, durante muitos anos, quer da Nova, quer da Velha; e, a propósito da minha última «achega», chamou-me a atenção para o desaguisado – e a que eu não me referi – que houve, com as duas músicas, na noite daquele dia de festa de homenagem que Aveiro prestou à França e aos seus aviadores da base aeronaval de S. Jacinto.

Vamos, pois, contá-lo.

Do programa, faziam parte concertos musicais a executar pelas duas bandas que, então, havia na cidade.

Para esse efeito, ergueram-se coretos na Praça do Marquês de Pombal e na parada do quartel dos «Bombeiros Velhos».

Estava, logicamente, indicado que, neste último, tocasse a Música Velha, visto que aos «Bombeiros Velhos» ela estava ligada, tanto mais que o seu nome era, oficialmente, Banda dos Bombeiros Voluntários de Aveiro.

Acontece, porém, que alguns daqueles bombeiros – poucos, por sinal e, entre eles, o segundo comandante Firmino Fernandes, eram «nordestes» ferrenhos da «Patela» (Música Nova); para fazer «pirraça», tomaram a iniciativa / 120 / de a ir buscar mais cedo e ferrar com ela no coreto da parada do quartel, pois aqui estava mais abrigada e incitava a que os amadores para lá se dirigissem em maior número.

Quando na casa do ensaio da Música Velha se soube (por adeptos seus que lá foram dar a notícia) de tal picardia, os músicos, e as pessoas que estavam para os acompanhar, recusaram-se a sair, como protesto contra essa atitude: houve um «charivari» dos diabos que chegou ao conhecimento do Dr. Joaquim de Melo Freitas, nessa altura Governador Civil em exercício, que se deslocou à casa do ensaio, e, com o grande prestígio que tinha, conseguiu acalmar os ânimos e resolver o assunto, propondo que o concerto fosse executado no átrio do Governo Civil.

Aceite que foi esta sugestão, a Música saiu, a tocar, acompanhada da rapaziada que estava na casa do ensaio e que carregou com as estantes; e, naquele átrio, executou o seu programa, com muita assistência.

Entre a Música e os Bombeiros houve corte de relações, que durou uns anos.

Os dois comandantes dos bombeiros (Isaías de Albuquerque e Firmino Fernandes) nesta corporação, puxavam certos; porém, em músicas e confrarias do Senhor dos Passos (o primeiro, na da Glória, e o segundo, na da Vera-Cruz) não afinavam, nem por nada.

Outra coisa que era capaz de os unir, era o interesse pela Sociedade Recreio Artístico.

Com ambos trabalhei, quer nesta Sociedade, quer nos bombeiros e com ambos mantive, sempre, boa amizade.

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