O meu amigo António
Graça, que toda a gente conhece como fotógrafo amador e que,
de Aveiro, deve ter um dos maiores – se não o maior – arquivos
fotográficos, já, e por várias vezes, me tem chamado a atenção para
lapsos que eu, nas minhas «achegas» cometo, principalmente, em
pormenores dos factos que conto, com incidência no que se refere às
músicas da nossa terra.
O amigo Graça tem, ainda, boa memória e
viveu a vida das músicas, pois foi executante efectivo, durante muitos
anos, quer da Nova, quer da Velha; e, a propósito da minha última «achega»,
chamou-me a atenção para o desaguisado – e a que eu não me referi – que
houve, com as duas músicas, na noite daquele dia de festa de homenagem
que Aveiro prestou à França e aos seus aviadores da base aeronaval de
S. Jacinto.
Vamos, pois, contá-lo.
Do programa, faziam parte concertos musicais
a executar pelas duas bandas que, então, havia na cidade.
Para esse efeito, ergueram-se coretos na
Praça do Marquês de Pombal e na parada do quartel dos «Bombeiros
Velhos».
Estava, logicamente, indicado que, neste
último, tocasse a Música Velha, visto que aos «Bombeiros Velhos»
ela estava ligada, tanto mais que o seu nome era, oficialmente, Banda
dos Bombeiros Voluntários de Aveiro.
Acontece, porém, que alguns daqueles
bombeiros – poucos, por sinal e, entre eles, o segundo comandante
Firmino Fernandes, eram «nordestes» ferrenhos da «Patela» (Música
Nova); para fazer «pirraça», tomaram a iniciativa
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de a ir buscar mais cedo e ferrar com ela no coreto da parada do
quartel, pois aqui estava mais abrigada e incitava a que os amadores
para lá se dirigissem em maior número.
Quando na casa do ensaio da Música Velha
se soube (por adeptos seus que lá foram dar a notícia) de tal picardia,
os músicos, e as pessoas que estavam para os acompanhar, recusaram-se a
sair, como protesto contra essa atitude: houve um «charivari» dos
diabos que chegou ao conhecimento do Dr.
Joaquim de Melo Freitas, nessa altura Governador Civil em
exercício, que se deslocou à casa do ensaio, e, com o grande prestígio
que tinha, conseguiu acalmar os ânimos e resolver o assunto, propondo
que o concerto fosse executado no átrio do Governo Civil.
Aceite que foi esta sugestão, a Música saiu,
a tocar, acompanhada da rapaziada que estava na casa do ensaio e que
carregou com as estantes; e, naquele átrio, executou o seu programa, com
muita assistência.
Entre a Música e os Bombeiros houve corte de
relações, que durou uns anos.
Os dois comandantes dos bombeiros (Isaías
de Albuquerque e Firmino Fernandes)
nesta corporação, puxavam certos; porém, em músicas e confrarias do
Senhor dos Passos (o primeiro, na da Glória, e o segundo, na da
Vera-Cruz) não afinavam, nem por nada.
Outra coisa que era capaz de os unir, era o
interesse pela Sociedade Recreio Artístico.
Com ambos trabalhei, quer nesta Sociedade,
quer nos bombeiros e com ambos mantive, sempre, boa amizade. |