Sempre que tenho que passar pela via
ascendente da Avenida do Dr. Lourenço Peixinho, não deixo de olhar para
a pedra que, no passeio central da referida Avenida e no cruzamento com
a Rua Silvério Pereira da Silva, lá se encontra e que tem, em letras de
bronze, os seguintes dizeres:
À Liberdade
16-5-1928
16-5-1974
E de mim para mim, vou recordando o que foi
o dia inscrito, em primeiro lugar, na referida pedra, e a mim mesmo
pergunto se à maioria da população local ela diz alguma coisa que
justifique a sua existência.
É certo que às pessoas da minha idade, e
mesmo àquelas que têm menos dez ou, até, quinze anos, a referida pedra é
capaz de lhes recordar a grandiosa manifestação cívica e as «Festas da
Cidade» realizadas para comemorar o centenário da revolta contra o
regime absolutista de D. Miguel, revolta que, a nível nacional, em
Aveiro foi planeada e em Aveiro foi iniciada, sendo seu chefe o
desembargador Joaquim José de Queiroz,
natural de Verdemilho e avô do escritor Eça de Queiroz.
Esta revolta, infelizmente, não teve êxito e
os seus principais cabecilhas foram mortos por enforcamento, na Praça
Nova, do Porto.
Não vou aqui dizer o que foi essa revolta e
a razão de ser da mesma, pois é assunto tratado por vários
historiadores; e, se me passasse pela cabeça fazê-lo, da minha parte
seria estultícia, pois teria de limitar-me à citação de alguma coisa que
conheço do muito que está escrito a tal respeito.
É meu propósito contar, somente, como, em
Aveiro, foi comemorada aquela data.
Vamos, pois, recordar... e recordar é viver,
como sempre me diz o nosso ilustre patrício Dr. Mário Duarte.
Na semana finda em 15 de Janeiro de 1928,
distribuiu-se, em Aveiro, um manifesto assinado pelo
Dr. Lourenço Simões Peixinho
(presidente da Câmara Municipal), Carlos
Batista Guimarães (presidente da Junta Geral do Distrito),
Albino Pinto de Miranda (presidente
da direcção da Associação Comercial e Industrial de Aveiro),
José Maria da Costa Monteiro
(presidente da Comissão Administrativa da Junta da Freguesia da
Vera-Cruz), Manuel Vicente Ferreira
(presidente da Comissão Administrativa da Junta da Freguesia da Glória),
e Francisco Manuel Homem Cristo (presidente da Junta Autónoma da
Ria e Barra de Aveiro) no qual se dava conhecimento de que, «no próximo
dia 16 de
/ 109 /
Maio, se completavam cem anos em que um punhado de filhos desta terra
ergueu, ousadamente, o grito da revolta contra o absolutismo, pelo que
se não devia esquecer tal data e o nome de Joaquim José de Queiroz, seu
incontestado chefe», fazendo citações dos inscritos dos historiadores
Luz Soriano, Pedro A. Dias, Marques Gomes, e outros, e convidando,
«desde já, todos os cidadãos que estejam de acordo com a celebração do
centenário daquele facto, a comparecerem no próximo domingo, 16, no
Teatro Aveirense, pelas 15 horas, a fim de se eleger «a comissão que
há-de dirigir as festas projectadas.»
Na realidade, no referido Domingo,
realizou-se essa reunião que, segundo se vê da notícia publicada no
jornal “Diário de Notícias”, pela pena do seu correspondente em Aveiro,
o Dr. José Maria Soares, decorreu com grande entusiasmo e sob a
presidência de Homem Cristo.
O Dr. Alberto Souto propôs que a comissão
dirigente das festas ficasse composta pelas mesmas entidades que se
constituíram em comissão de iniciativa; e o Dr.
José Maria Soares alvitrou que esta comissão tivesse a
faculdade de juntar a si quantas entidades ou pessoas que julgasse
úteis, satisfazendo, desta forma, a proposta feita por
Domingos João dos Reis Júnior
(director do jornal local “Debate”) de que da comissão deviam fazer
parte todas as agremiações locais, propostas que foram aprovadas por
unanimidade.
O “Diário de Notícias” ofereceu a sua
desinteressada e útil colaboração, sendo o jornal diário que mais
propagandeou as «Festas da Cidade» de Aveiro, a ponto de manter, na
nossa cidade, e durante o último mês (ou mais) o seu redactor Armando
Boaventura, que colaborou com a comissão directiva. Esta, sob a
presidência de Homem Cristo, e na sequência dos seus trabalhos,
estabeleceu o programa das festas; e, aproveitando a circunstância de se
realizar, em Aveiro, o III Congresso Beirão, do qual era
Secretário-Geral o Dr. Ferreira Neves, resolveu dar maior amplitude às
comemorações do centenário da revolução liberal, transformando-as em
«Festas da Cidade», incluindo, no seu programa, também, as manifestações
do referido Congresso e as festas em honra da Princesa Santa Joana.
Nomeou subcomissões para dar cumprimento aos
vários números escolhidos – as Festas eram de todos – e promoveu, até à
data da realização das festas, conferências públicas, com oradores
competentes que explicaram, circunstancialmente, o significado do facto
que se ia festejar.
Ora, um dos números estabelecidos era o de
se erguer, na Avenida Nova (ainda não lhe havia sido dado, oficialmente,
nome) uma estátua à Liberdade, (já havia projecto, para o que se
lançaria a primeira pedra no local onde ela devia ser erguida.
Não esqueçamos, porém, que estávamos em
1928…
A Comissão Administrativa da Câmara, em
1974, mandou fazer a pedra a
/ 110 /
que me refiro no princípio deste artigo, e colocá-la naquele lugar para
recordar – possivelmente – a existência da primeira pedra da estátua que
os idealistas de 1928, pensaram erguer em honra da Liberdade.
Vejamos, pois, qual foi o Programa das
Festas da Cidade realizadas de 13 a 20 de Maio de 1928.
Domingo, 13
– Festa religiosa em honra de Santa Joana, Princesa-Infanta de Portugal,
com procissão, na qual os mordomos se esmeraram em requinte e luxo,
superando o brilhantismo com que, normalmente, esta procissão era posta
na rua e oferecendo um espectáculo surpreendente.
As músicas, nela incorporadas, tocavam o
Hino da Cidade.
Aos forasteiros – e eram muitíssimos – que a
Aveiro se deslocaram, propositadamente, para assistir à procissão,
juntaram-se os que, de Fátima, regressavam às suas terras e aqui
paravam, dando à cidade, um extraordinário movimento.
– Inauguração da Feira das Beiras com
produtos da indústria, da arte e da agricultura da Beira-Alta,
Beira-Baixa e Beira-Litoral, feira que esteve aberta até ao dia 20.
– Inauguração do lII Congresso Beirão, com a
presença de numerosos delegados dos cinco distritos beirões, e no qual
se discutiram assuntos do maior interesse regionalista, que os autores
das teses apresentadas explanaram e defenderam.
– À noite, no Teatro Aveirense, houve
recital com a ópera portuguesa FREIRA DE BEJA, da autoria do maestro Rui
Coelho, que dirigiu a orquestra, e, também, concerto de violino por Luís
Barbosa.
Segunda, 14
– 2.ª e 3.ª sessões do Congresso Beirão.
– 2.ª récita, no Teatro Aveirense, com a ópera portuguesa O CAVALEIRO
DAS MÃOS IRRESISTÍVEIS, da autoria de Rui Coelho, que, também dirigiu a
orquestra; e recital de canto por D. Fernanda Corte-Real, que foi,
também, a figura principal da ópera.
/ 111 /
Terça, 15
– Continuação do Congresso Beirão.
– Passeio fluvial à Mata de S. Jacinto oferecido aos congressistas, nele
tomando parte muitos barcos de todos os tipos, devidamente
embandeirados. De um belo efeito, este cortejo encantou todos aqueles
que, nele, tomaram parte, e os que o viram desfilar.
– À noite, Sarau de Gala no Teatro Aveirense.
O Sarau de Gala começou com um discurso do
ilustre escritor Dr. Luís de Magalhães
(filho de José Estêvão), dando uma magnífica lição de História Pátria,
seguindo-se a actuação de Luís Barbosa que, com o seu violino, e com a
virtuosidade de que era dotado, deliciou toda a assistência com os
trechos executados.
Terminou a primeira parte com um minuete
dançado por um grupo de senhoras e cavalheiros da nossa melhor
sociedade, número que resultou extraordinariamente brilhante.
Após o intervalo, o ilustre pensador
Dr. Jaime de Magalhães Lima,
proferiu uma grande lição sobre o liberalismo, seguindo-se a execução de
solos de piano por D. Joana Tavares de Melo
(aluna dilecta de Viana da Mota) e danças populares, por vários grupos,
que entusiasmaram a assistência.
Este espectáculo – grande espectáculo! –
fechou, apoteoticamente, com a MARCHA TRIUNFAL DO LICEU DE AVEIRO, com
letra do Dr. Alberto Souto e música do Dr. Vasco Rocha.
Quarta, 16
– Foi o dia grande! Começou por alvorada com várias bandas de música a
percorrer a cidade, e repiques de sinos, não só dos da Câmara Municipal,
como, também, dos das outras torres da cidade. Da Praça da República foi
lançada uma grande girândola de foguetes, logo correspondida de todas as
ruas que estavam ornamentadas. Seguiram-se as seguintes cerimónias:
– Última sessão do Congresso Beirão e a
cerimónia do seu encerramento. – Colocação, pela Sociedade Recreio
Artístico, na base da estátua de José Estêvão, de uma placa de homenagem
à Comissão que tomou a seu cargo erguer a referida estátua.
– Imponente Cortejo Cívico de romagem ao
Cemitério Central, onde está erigido o monumento à memória dos Mártires
da Liberdade, e no qual tomaram parte, com os seus estandartes, Câmaras
Municipais, Corporações e Associações não só da cidade como, também, dos
concelhos limítrofes, e muito povo anónimo.
Neste cortejo, e conforme o aviso,
previamente, posto a circular pela respectiva subcomissão (por imposição
das autoridades) «apenas se podiam dar vivas à Pátria, à República e à
Liberdade, sendo proibido todos os morras ou
/ 112 /
quaisquer outras manifestações tendenciosas, hostilizantes ou
perturbadoras», imposição que foi – mais ou menos – acatada. E digo,
mais ou menos, porque, de vez em quando, e saído do centro daquele
enorme e grandioso cortejo, lá se ouvia um morra ou um abaixo a qualquer
coisa; e era do centro do cortejo que eles saíam, para se não poder
identificar quem o havia gritado, pois a polícia acompanhava o cortejo.
No cemitério, além de Homem Cristo –
presidente da comissão das festas –, falaram o
Dr. Melo Freitas (pelas famílias das vítimas),
Vitorino Nemésio (pelos estudantes
liberais de Coimbra), Fernandes Perneco,
Tomaz da Fonseca,
Dr. Nogueira Lemos e
Alberto Atanásio de Carvalho.
– À noite houve iluminações gerais,
concertos musicais e festival na Ria, estando o Canal Central iluminado
com cerca de 15.000 lâmpadas eléctricas de várias cores, que se
reflectiam nas águas. O efeito destas iluminações, tendo por fundo a
Ponte da Dubadoura, ornamentada e iluminada por José de Pinho, era de
efeito fantástico, um autêntico sonho impossível de se descrever, pelo
que tinha de maravilhoso e surpreendente.
E, quando daquela Ponte era lançado ao ar o
fogo de artifício e este se reflectia na Ria, o espectáculo era mais
maravilhoso, se isso fosse possível.
Também foram números de sensação a serenata
na Ria e as ornamentações e iluminações das ruas feitas a capricho,
pelas respectivas subcomissões. Estavam ornamentadas as seguintes ruas:
Cândido dos Reis, Gravito, Manuel Firmino, José Estêvão, Largo 14 de
Julho, Mercadores, Domingos Carrancho, Praça terminal da Avenida Nova
(ainda não tinha nome oficial), Cojo, Entre-Pontes, Praça do Comércio,
João Mendonça, Trindade Coelho, Praça do Peixe, Rossio, Praça de Luís
Cipriano, Coimbra, Alfândega, Barcas, Praça da República, Gustavo
Ferreira Pinto Basto, Combatentes da Grande Guerra, Eça de Queiroz e
Largo de Camões.
A cidade encheu-se de forasteiros, apesar
de, para eles, ser dia de trabalho: foram calculados em 60000; porém, o
empreiteiro das ornamentações da Ria, habituado a andar por festas deste
género, afirmou que, pelo que tinha visto no Palácio de Cristal,
deveriam rondar os 100.000.
Quinta, 17
– Campeonato Distrital de Ténis, no Parque Municipal de Aveiro,
organizado pelo Club dos Caçadores.
– Desafio de futebol entre as primeiras
categorias do Galitos e do Beira-Mar.
– Lançamento da primeira pedra, na Avenida
Nova, do Monumento à Liberdade, com a assistência de muito povo e
autoridades.
– À noite, festival no Jardim e concerto
pela Banda da Guarda Nacional Republicana, de Lisboa.
/ 113 /
Sexta, 18
– Visita à casa de Joaquim José de Queiroz, donde se organizou uma
romagem à sepultura, no Cemitério do Outeirinho (Aradas).
– Iluminações da Ria e Praça da República.
Sábado, 19
– Final do campeonato de ténis.
– Continuação das iluminações na Ria e na Praça da República.
Domingo, 20
– Batalha de Flores, na Avenida das Tílias, do Parque, nela tomando
parte carros, cavalos e burros e muitas pessoas fantasiadas. Houve
grande animação.
À noite, e para encerramento das festas,
organizou-se uma MARCHA MILANEZA, em que entraram cerca de 400 figuras
luminosas, compostas propositadamente para esta festa pelo cenógrafo de
Ponte de Lima, M. Gonzaga.
No cortejo incorporaram-se carros de cavalos
e automóveis, bandas de música, bombeiros com as suas viaturas, centenas
de pessoas com archotes, fogachos de cores, balões à veneziana, barcos,
barricas de ovos moles, dísticos históricos, retratos e caricaturas,
chineses, frades, o farol da Barra, flores, animalejos, cabeçudos e
gigantones, etc., etc.
Este número foi, realmente, muito vistoso,
e, pela novidade, voltou a trazer muitos forasteiros a Aveiro.
Mantiveram-se as iluminações da Ria e da
Praça da República.
As festas da cidade, realizadas em 1928,
para comemorar o centenário do «grito da liberdade» contra o regime
despótico de D. Miguel e seus sequazes, resultaram brilhantes e com
dignidade, devido à boa vontade e interesse de todos os cidadãos
aveirenses; pois, cada um, colaborou e deu o seu esforço e o seu
trabalho, na medida das suas possibilidades.
Como disse, anteriormente, o lançamento da
primeira pedra sobre a qual deveria ser erigida a estátua à Liberdade
foi feito em 17 de Maio de 1928, aquando das Festas da Cidade,
celebradas para comemorar o centenário do «Grito da Liberdade», lançado
daqui contra o regime absolutista do rei D. Miguel.
/ 114 /
E tal lançamento foi feito com a praxe adoptada nestas cerimónias: com a
pedra e, numa caixa de ferro, foram colocadas moedas correntes, e,
também, o auto da ocorrência, em que são descritos os pormenores dos
actos praticados nesta cerimónia, para, assim, não haver dúvida quanto à
data em que o facto se passou.
O local escolhido foi o do centro da
confluência da primeira transversal com a nova avenida; estas, ainda não
tinham nome, pois ainda estavam em acabamento.
E, então, tudo era diferente do actual, pois
o local onde estão implantadas as ruas do Dr. Alberto Souto e parte da
do Engenheiro Oudinot eram pertença de uma quinta de nível superior à
Avenida a que chamávamos «do Rocha dos Perus»; e a Avenida terminava
numa praça, pois o braço da Ria que, hoje, está a alinhar com a
Capitania, era mais largo e começava com uma lingueta grande de escadas,
que era o final da referida praça.
Com a modificação feita, a Rua de Viana do
Castelo passou a ter maior largura; e, com o desaparecimento da
lingueta, terminaria a série de desastres que, de vez em quando, ali se
davam, principalmente com pessoas de fora, que, quando a Ria estava
cheia, supunham que tudo era estrada, como, agora, o é de facto.
E estou a recordar-me daquele – suponho que
foi o último – em que uns familiares de um cidadão que vivia em Aveiro
(familiares que a Aveiro nunca tinham vindo) que, desembarcando no
comboio correio que chegava à nossa estação por volta das 5 horas da
manhã, desceram a Avenida (então, mal iluminada) confiadamente, e se
foram pespegar na Ria, e que se afogariam, se não fosse a actuação
rápida dos marinheiros que, da sua camarata, na Capitania, se
aperceberam do mergulho e ouviram os gritos de socorro.
Na altura em que foi empedrado o passeio
central da Avenida, e no local onde foi enterrada a pedra a que nos
temos vindo a referir, foi feita uma placa redonda, e, nela, colocado um
candeeiro de iluminação, bastante alto, com 4 braços, como aliás o eram
os outros que formavam ali o conjunto do sistema de iluminação, o que,
para o tempo, era muito vistoso e eficiente.
Aos que àquela cerimónia haviam assistido e
aos que, por tradição oral, iam tomando conhecimento daquele facto,
era-lhes fácil indicar, a quem nisso tivesse interesse, o local exacto
da pedra (a primeira) sobre a qual os idealistas de 1928 pensavam erguer
a estátua à Liberdade.
Hoje, devido às exigências do trânsito, o
perfil do passeio central foi alterado, tendo desaparecido as placas
redondas que existiam na confluência das ruas perpendiculares à Avenida
do Dr. Lourenço Peixinho, para dar lugar às triangulares, desencontradas
dessas ruas, e que obrigam a que o trânsito se faça de forma a evitar
uns possíveis choques frontais: necessidades dos tempos modernos, em que
o automóvel é rei.
/ 115 /
E, ainda, e a propósito da primeira pedra,
eu tenho perguntado a mim mesmo se, depois das escavações para o
saneamento, para os telefones, para as electricidades, etc., ela estará
ainda no mesmo lugar onde foi colocada em 1928.
E, sempre que falo da Avenida, eu não posso
deixar de associar os nomes do Dr. Lourenço
Simões Peixinho (que a delineou e a abriu), do
Dr. Francisco Soares (que
reorganizou e saneou as finanças municipais e permitiu, com as suas
economias, juntar a verba necessária ao arranque das obras para o seu
acabamento) e o do Dr. Álvaro Sampaio
(que a terminou).
Quantos dos actuais moradores da nossa
cidade sabiam que, na Avenida do Dr. Lourenço Peixinho, estava
enterrada, desde 1928, uma pedra sobre a qual deveria ser erguida uma
estátua à Liberdade?
E quantos saberiam decifrar os dizeres da
pedra que a Comissão Administrativa de 1974 mandou colocar no passeio
central da referida Avenida?
E, a propósito disto, pergunta-me um amigo:
– Por que não se refere, também, à primeira pedra, que, no Parque, foi
lançada para se erguer uma estátua, ou um busto, ao grande desportista
Mário Duarte (Pai), aliás patrono do nosso Estádio?
Da colocação desta, e do entusiasmo dos
organizadores da homenagem, ainda muita gente se lembra…
Fazendo parte também das Festas da Cidade,
foram homenageados, não só aqueles que, directamente, estiveram ligados
ao facto que se comemorava, como, ainda, outros vultos aveirenses dignos
da nossa admiração, dando-se o seu nome a várias ruas da cidade.
Sabe-se quais foram os homenageados, pois os
seus nomes estão inscritos em placas de mármore, com uma síntese da sua
biografia. E houve a preocupação de dar esses nomes a ruas que ainda o
não tinham, ou àquelas cujos nomes nada significavam, como sejam a Rua
do Sol, a Rua do Norte, etc.; e, quando houve necessidade dessas placas
serem colocadas em ruas com o nome de qualquer personalidade, houve,
outrossim, a preocupação de se lhes arranjar outra rua, tudo isto feito
com senso e sem aborrecimentos de maior, a não ser a mudança da Rua de
Miguel Bombarda para Rua da Princesa Santa Joana, local em que o
semanário “Democrata” tinha a sua sede e que se fartou de refilar por
tal mudança.
E não tinha razão para tal, porque o nome de
Miguel Bombarda passou a figurar na Rua do Passeio (ali perto); e a
verdade é que, aquele, tinha substituído, em 1910, o da Rua de Jesus,
como anteriormente ela se chamava.
Isto de dar nomes a ruas, ou delas os
retirarem, conforme os «ventos que sopram», tem dado motivos a
aborrecimentos e a injustiças praticadas, muitas vezes, por aqueles que
menos razão tinham para o fazer, como aconteceu nos nossos dias... e na
nossa Terra…
/ 116 /
Vejam, se, mesmo durante o regime
salazarista, alguém se lembrou de retirar, da rua junto da igreja do
antigo convento das Carmelitas, a placa que, na ombreira desta, consagra
o nome de Joaquim António de Aguiar (o «Mata-frades»), ali posta em 1910
(o que até parecia uma provocação)!
E ele nem era de Aveiro, nem por Aveiro fez
nada!... |