Achegas para a Historiografia Aveirense - 1988

Festas da cidade em 1928

Sempre que tenho que passar pela via ascendente da Avenida do Dr. Lourenço Peixinho, não deixo de olhar para a pedra que, no passeio central da referida Avenida e no cruzamento com a Rua Silvério Pereira da Silva, lá se encontra e que tem, em letras de bronze, os seguintes dizeres:

À Liberdade
16-5-1928
16-5-1974

E de mim para mim, vou recordando o que foi o dia inscrito, em primeiro lugar, na referida pedra, e a mim mesmo pergunto se à maioria da população local ela diz alguma coisa que justifique a sua existência.

É certo que às pessoas da minha idade, e mesmo àquelas que têm menos dez ou, até, quinze anos, a referida pedra é capaz de lhes recordar a grandiosa manifestação cívica e as «Festas da Cidade» realizadas para comemorar o centenário da revolta contra o regime absolutista de D. Miguel, revolta que, a nível nacional, em Aveiro foi planeada e em Aveiro foi iniciada, sendo seu chefe o desembargador Joaquim José de Queiroz, natural de Verdemilho e avô do escritor Eça de Queiroz.

Esta revolta, infelizmente, não teve êxito e os seus principais cabecilhas foram mortos por enforcamento, na Praça Nova, do Porto.

Não vou aqui dizer o que foi essa revolta e a razão de ser da mesma, pois é assunto tratado por vários historiadores; e, se me passasse pela cabeça fazê-lo, da minha parte seria estultícia, pois teria de limitar-me à citação de alguma coisa que conheço do muito que está escrito a tal respeito.

É meu propósito contar, somente, como, em Aveiro, foi comemorada aquela data.

Vamos, pois, recordar... e recordar é viver, como sempre me diz o nosso ilustre patrício Dr. Mário Duarte.

Na semana finda em 15 de Janeiro de 1928, distribuiu-se, em Aveiro, um manifesto assinado pelo Dr. Lourenço Simões Peixinho (presidente da Câmara Municipal), Carlos Batista Guimarães (presidente da Junta Geral do Distrito), Albino Pinto de Miranda (presidente da direcção da Associação Comercial e Industrial de Aveiro), José Maria da Costa Monteiro (presidente da Comissão Administrativa da Junta da Freguesia da Vera-Cruz), Manuel Vicente Ferreira (presidente da Comissão Administrativa da Junta da Freguesia da Glória), e Francisco Manuel Homem Cristo (presidente da Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro) no qual se dava conhecimento de que, «no próximo dia 16 de / 109 / Maio, se completavam cem anos em que um punhado de filhos desta terra ergueu, ousadamente, o grito da revolta contra o absolutismo, pelo que se não devia esquecer tal data e o nome de Joaquim José de Queiroz, seu incontestado chefe», fazendo citações dos inscritos dos historiadores Luz Soriano, Pedro A. Dias, Marques Gomes, e outros, e convidando, «desde já, todos os cidadãos que estejam de acordo com a celebração do centenário daquele facto, a comparecerem no próximo domingo, 16, no Teatro Aveirense, pelas 15 horas, a fim de se eleger «a comissão que há-de dirigir as festas projectadas.»

Na realidade, no referido Domingo, realizou-se essa reunião que, segundo se vê da notícia publicada no jornal “Diário de Notícias”, pela pena do seu correspondente em Aveiro, o Dr. José Maria Soares, decorreu com grande entusiasmo e sob a presidência de Homem Cristo.

O Dr. Alberto Souto propôs que a comissão dirigente das festas ficasse composta pelas mesmas entidades que se constituíram em comissão de iniciativa; e o Dr. José Maria Soares alvitrou que esta comissão tivesse a faculdade de juntar a si quantas entidades ou pessoas que julgasse úteis, satisfazendo, desta forma, a proposta feita por Domingos João dos Reis Júnior (director do jornal local “Debate”) de que da comissão deviam fazer parte todas as agremiações locais, propostas que foram aprovadas por unanimidade.

O “Diário de Notícias” ofereceu a sua desinteressada e útil colaboração, sendo o jornal diário que mais propagandeou as «Festas da Cidade» de Aveiro, a ponto de manter, na nossa cidade, e durante o último mês (ou mais) o seu redactor Armando Boaventura, que colaborou com a comissão directiva. Esta, sob a presidência de Homem Cristo, e na sequência dos seus trabalhos, estabeleceu o programa das festas; e, aproveitando a circunstância de se realizar, em Aveiro, o III Congresso Beirão, do qual era Secretário-Geral o Dr. Ferreira Neves, resolveu dar maior amplitude às comemorações do centenário da revolução liberal, transformando-as em «Festas da Cidade», incluindo, no seu programa, também, as manifestações do referido Congresso e as festas em honra da Princesa Santa Joana.

Nomeou subcomissões para dar cumprimento aos vários números escolhidos – as Festas eram de todos – e promoveu, até à data da realização das festas, conferências públicas, com oradores competentes que explicaram, circunstancialmente, o significado do facto que se ia festejar.

Ora, um dos números estabelecidos era o de se erguer, na Avenida Nova (ainda não lhe havia sido dado, oficialmente, nome) uma estátua à Liberdade, (já havia projecto, para o que se lançaria a primeira pedra no local onde ela devia ser erguida.

Não esqueçamos, porém, que estávamos em 1928…

A Comissão Administrativa da Câmara, em 1974, mandou fazer a pedra a / 110 / que me refiro no princípio deste artigo, e colocá-la naquele lugar para recordar – possivelmente – a existência da primeira pedra da estátua que os idealistas de 1928, pensaram erguer em honra da Liberdade.

Vejamos, pois, qual foi o Programa das Festas da Cidade realizadas de 13 a 20 de Maio de 1928.

Domingo, 13
– Festa religiosa em honra de Santa Joana, Princesa-Infanta de Portugal, com procissão, na qual os mordomos se esmeraram em requinte e luxo, superando o brilhantismo com que, normalmente, esta procissão era posta na rua e oferecendo um espectáculo surpreendente.

As músicas, nela incorporadas, tocavam o Hino da Cidade.

Aos forasteiros – e eram muitíssimos – que a Aveiro se deslocaram, propositadamente, para assistir à procissão, juntaram-se os que, de Fátima, regressavam às suas terras e aqui paravam, dando à cidade, um extraordinário movimento.

– Inauguração da Feira das Beiras com produtos da indústria, da arte e da agricultura da Beira-Alta, Beira-Baixa e Beira-Litoral, feira que esteve aberta até ao dia 20.

– Inauguração do lII Congresso Beirão, com a presença de numerosos delegados dos cinco distritos beirões, e no qual se discutiram assuntos do maior interesse regionalista, que os autores das teses apresentadas explanaram e defenderam.

– À noite, no Teatro Aveirense, houve recital com a ópera portuguesa FREIRA DE BEJA, da autoria do maestro Rui Coelho, que dirigiu a orquestra, e, também, concerto de violino por Luís Barbosa.

Segunda, 14
– 2.ª e 3.ª sessões do Congresso Beirão.
– 2.ª récita, no Teatro Aveirense, com a ópera portuguesa O CAVALEIRO DAS MÃOS IRRESISTÍVEIS, da autoria de Rui Coelho, que, também dirigiu a orquestra; e recital de canto por D. Fernanda Corte-Real, que foi, também, a figura principal da ópera.
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Terça, 15
– Continuação do Congresso Beirão.
– Passeio fluvial à Mata de S. Jacinto oferecido aos congressistas, nele tomando parte muitos barcos de todos os tipos, devidamente embandeirados. De um belo efeito, este cortejo encantou todos aqueles que, nele, tomaram parte, e os que o viram desfilar.
– À noite, Sarau de Gala no Teatro Aveirense.

O Sarau de Gala começou com um discurso do ilustre escritor Dr. Luís de Magalhães (filho de José Estêvão), dando uma magnífica lição de História Pátria, seguindo-se a actuação de Luís Barbosa que, com o seu violino, e com a virtuosidade de que era dotado, deliciou toda a assistência com os trechos executados.

Terminou a primeira parte com um minuete dançado por um grupo de senhoras e cavalheiros da nossa melhor sociedade, número que resultou extraordinariamente brilhante.

Após o intervalo, o ilustre pensador Dr. Jaime de Magalhães Lima, proferiu uma grande lição sobre o liberalismo, seguindo-se a execução de solos de piano por D. Joana Tavares de Melo (aluna dilecta de Viana da Mota) e danças populares, por vários grupos, que entusiasmaram a assistência.

Este espectáculo – grande espectáculo! – fechou, apoteoticamente, com a MARCHA TRIUNFAL DO LICEU DE AVEIRO, com letra do Dr. Alberto Souto e música do Dr. Vasco Rocha.

Quarta, 16
– Foi o dia grande! Começou por alvorada com várias bandas de música a percorrer a cidade, e repiques de sinos, não só dos da Câmara Municipal, como, também, dos das outras torres da cidade. Da Praça da República foi lançada uma grande girândola de foguetes, logo correspondida de todas as ruas que estavam ornamentadas. Seguiram-se as seguintes cerimónias:

– Última sessão do Congresso Beirão e a cerimónia do seu encerramento. – Colocação, pela Sociedade Recreio Artístico, na base da estátua de José Estêvão, de uma placa de homenagem à Comissão que tomou a seu cargo erguer a referida estátua.

– Imponente Cortejo Cívico de romagem ao Cemitério Central, onde está erigido o monumento à memória dos Mártires da Liberdade, e no qual tomaram parte, com os seus estandartes, Câmaras Municipais, Corporações e Associações não só da cidade como, também, dos concelhos limítrofes, e muito povo anónimo.

Neste cortejo, e conforme o aviso, previamente, posto a circular pela respectiva subcomissão (por imposição das autoridades) «apenas se podiam dar vivas à Pátria, à República e à Liberdade, sendo proibido todos os morras ou / 112 / quaisquer outras manifestações tendenciosas, hostilizantes ou perturbadoras», imposição que foi – mais ou menos – acatada. E digo, mais ou menos, porque, de vez em quando, e saído do centro daquele enorme e grandioso cortejo, lá se ouvia um morra ou um abaixo a qualquer coisa; e era do centro do cortejo que eles saíam, para se não poder identificar quem o havia gritado, pois a polícia acompanhava o cortejo.

No cemitério, além de Homem Cristo – presidente da comissão das festas –, falaram o Dr. Melo Freitas (pelas famílias das vítimas), Vitorino Nemésio (pelos estudantes liberais de Coimbra), Fernandes Perneco, Tomaz da Fonseca, Dr. Nogueira Lemos e Alberto Atanásio de Carvalho.

– À noite houve iluminações gerais, concertos musicais e festival na Ria, estando o Canal Central iluminado com cerca de 15.000 lâmpadas eléctricas de várias cores, que se reflectiam nas águas. O efeito destas iluminações, tendo por fundo a Ponte da Dubadoura, ornamentada e iluminada por José de Pinho, era de efeito fantástico, um autêntico sonho impossível de se descrever, pelo que tinha de maravilhoso e surpreendente.

E, quando daquela Ponte era lançado ao ar o fogo de artifício e este se reflectia na Ria, o espectáculo era mais maravilhoso, se isso fosse possível.

Também foram números de sensação a serenata na Ria e as ornamentações e iluminações das ruas feitas a capricho, pelas respectivas subcomissões. Estavam ornamentadas as seguintes ruas: Cândido dos Reis, Gravito, Manuel Firmino, José Estêvão, Largo 14 de Julho, Mercadores, Domingos Carrancho, Praça terminal da Avenida Nova (ainda não tinha nome oficial), Cojo, Entre-Pontes, Praça do Comércio, João Mendonça, Trindade Coelho, Praça do Peixe, Rossio, Praça de Luís Cipriano, Coimbra, Alfândega, Barcas, Praça da República, Gustavo Ferreira Pinto Basto, Combatentes da Grande Guerra, Eça de Queiroz e Largo de Camões.

A cidade encheu-se de forasteiros, apesar de, para eles, ser dia de trabalho: foram calculados em 60000; porém, o empreiteiro das ornamentações da Ria, habituado a andar por festas deste género, afirmou que, pelo que tinha visto no Palácio de Cristal, deveriam rondar os 100.000.

Quinta, 17
– Campeonato Distrital de Ténis, no Parque Municipal de Aveiro, organizado pelo Club dos Caçadores.

– Desafio de futebol entre as primeiras categorias do Galitos e do Beira-Mar.

– Lançamento da primeira pedra, na Avenida Nova, do Monumento à Liberdade, com a assistência de muito povo e autoridades.

– À noite, festival no Jardim e concerto pela Banda da Guarda Nacional Republicana, de Lisboa. / 113 /

Sexta, 18
– Visita à casa de Joaquim José de Queiroz, donde se organizou uma romagem à sepultura, no Cemitério do Outeirinho (Aradas).
– Iluminações da Ria e Praça da República.

Sábado, 19
– Final do campeonato de ténis.
– Continuação das iluminações na Ria e na Praça da República.

Domingo, 20
– Batalha de Flores, na Avenida das Tílias, do Parque, nela tomando parte carros, cavalos e burros e muitas pessoas fantasiadas. Houve grande animação.

À noite, e para encerramento das festas, organizou-se uma MARCHA MILANEZA, em que entraram cerca de 400 figuras luminosas, compostas propositadamente para esta festa pelo cenógrafo de Ponte de Lima, M. Gonzaga.

No cortejo incorporaram-se carros de cavalos e automóveis, bandas de música, bombeiros com as suas viaturas, centenas de pessoas com archotes, fogachos de cores, balões à veneziana, barcos, barricas de ovos moles, dísticos históricos, retratos e caricaturas, chineses, frades, o farol da Barra, flores, animalejos, cabeçudos e gigantones, etc., etc.

Este número foi, realmente, muito vistoso, e, pela novidade, voltou a trazer muitos forasteiros a Aveiro.

Mantiveram-se as iluminações da Ria e da Praça da República.

As festas da cidade, realizadas em 1928, para comemorar o centenário do «grito da liberdade» contra o regime despótico de D. Miguel e seus sequazes, resultaram brilhantes e com dignidade, devido à boa vontade e interesse de todos os cidadãos aveirenses; pois, cada um, colaborou e deu o seu esforço e o seu trabalho, na medida das suas possibilidades.

Como disse, anteriormente, o lançamento da primeira pedra sobre a qual deveria ser erigida a estátua à Liberdade foi feito em 17 de Maio de 1928, aquando das Festas da Cidade, celebradas para comemorar o centenário do «Grito da Liberdade», lançado daqui contra o regime absolutista do rei D. Miguel. / 114 / E tal lançamento foi feito com a praxe adoptada nestas cerimónias: com a pedra e, numa caixa de ferro, foram colocadas moedas correntes, e, também, o auto da ocorrência, em que são descritos os pormenores dos actos praticados nesta cerimónia, para, assim, não haver dúvida quanto à data em que o facto se passou.

O local escolhido foi o do centro da confluência da primeira transversal com a nova avenida; estas, ainda não tinham nome, pois ainda estavam em acabamento.

E, então, tudo era diferente do actual, pois o local onde estão implantadas as ruas do Dr. Alberto Souto e parte da do Engenheiro Oudinot eram pertença de uma quinta de nível superior à Avenida a que chamávamos «do Rocha dos Perus»; e a Avenida terminava numa praça, pois o braço da Ria que, hoje, está a alinhar com a Capitania, era mais largo e começava com uma lingueta grande de escadas, que era o final da referida praça.

Com a modificação feita, a Rua de Viana do Castelo passou a ter maior largura; e, com o desaparecimento da lingueta, terminaria a série de desastres que, de vez em quando, ali se davam, principalmente com pessoas de fora, que, quando a Ria estava cheia, supunham que tudo era estrada, como, agora, o é de facto.

E estou a recordar-me daquele – suponho que foi o último – em que uns familiares de um cidadão que vivia em Aveiro (familiares que a Aveiro nunca tinham vindo) que, desembarcando no comboio correio que chegava à nossa estação por volta das 5 horas da manhã, desceram a Avenida (então, mal iluminada) confiadamente, e se foram pespegar na Ria, e que se afogariam, se não fosse a actuação rápida dos marinheiros que, da sua camarata, na Capitania, se aperceberam do mergulho e ouviram os gritos de socorro.

Na altura em que foi empedrado o passeio central da Avenida, e no local onde foi enterrada a pedra a que nos temos vindo a referir, foi feita uma placa redonda, e, nela, colocado um candeeiro de iluminação, bastante alto, com 4 braços, como aliás o eram os outros que formavam ali o conjunto do sistema de iluminação, o que, para o tempo, era muito vistoso e eficiente.

Aos que àquela cerimónia haviam assistido e aos que, por tradição oral, iam tomando conhecimento daquele facto, era-lhes fácil indicar, a quem nisso tivesse interesse, o local exacto da pedra (a primeira) sobre a qual os idealistas de 1928 pensavam erguer a estátua à Liberdade.

Hoje, devido às exigências do trânsito, o perfil do passeio central foi alterado, tendo desaparecido as placas redondas que existiam na confluência das ruas perpendiculares à Avenida do Dr. Lourenço Peixinho, para dar lugar às triangulares, desencontradas dessas ruas, e que obrigam a que o trânsito se faça de forma a evitar uns possíveis choques frontais: necessidades dos tempos modernos, em que o automóvel é rei. / 115 /

E, ainda, e a propósito da primeira pedra, eu tenho perguntado a mim mesmo se, depois das escavações para o saneamento, para os telefones, para as electricidades, etc., ela estará ainda no mesmo lugar onde foi colocada em 1928.

E, sempre que falo da Avenida, eu não posso deixar de associar os nomes do Dr. Lourenço Simões Peixinho (que a delineou e a abriu), do Dr. Francisco Soares (que reorganizou e saneou as finanças municipais e permitiu, com as suas economias, juntar a verba necessária ao arranque das obras para o seu acabamento) e o do Dr. Álvaro Sampaio (que a terminou).

Quantos dos actuais moradores da nossa cidade sabiam que, na Avenida do Dr. Lourenço Peixinho, estava enterrada, desde 1928, uma pedra sobre a qual deveria ser erguida uma estátua à Liberdade?

E quantos saberiam decifrar os dizeres da pedra que a Comissão Administrativa de 1974 mandou colocar no passeio central da referida Avenida?

E, a propósito disto, pergunta-me um amigo: – Por que não se refere, também, à primeira pedra, que, no Parque, foi lançada para se erguer uma estátua, ou um busto, ao grande desportista Mário Duarte (Pai), aliás patrono do nosso Estádio?

Da colocação desta, e do entusiasmo dos organizadores da homenagem, ainda muita gente se lembra…

Fazendo parte também das Festas da Cidade, foram homenageados, não só aqueles que, directamente, estiveram ligados ao facto que se comemorava, como, ainda, outros vultos aveirenses dignos da nossa admiração, dando-se o seu nome a várias ruas da cidade.

Sabe-se quais foram os homenageados, pois os seus nomes estão inscritos em placas de mármore, com uma síntese da sua biografia. E houve a preocupação de dar esses nomes a ruas que ainda o não tinham, ou àquelas cujos nomes nada significavam, como sejam a Rua do Sol, a Rua do Norte, etc.; e, quando houve necessidade dessas placas serem colocadas em ruas com o nome de qualquer personalidade, houve, outrossim, a preocupação de se lhes arranjar outra rua, tudo isto feito com senso e sem aborrecimentos de maior, a não ser a mudança da Rua de Miguel Bombarda para Rua da Princesa Santa Joana, local em que o semanário “Democrata” tinha a sua sede e que se fartou de refilar por tal mudança.

E não tinha razão para tal, porque o nome de Miguel Bombarda passou a figurar na Rua do Passeio (ali perto); e a verdade é que, aquele, tinha substituído, em 1910, o da Rua de Jesus, como anteriormente ela se chamava.

Isto de dar nomes a ruas, ou delas os retirarem, conforme os «ventos que sopram», tem dado motivos a aborrecimentos e a injustiças praticadas, muitas vezes, por aqueles que menos razão tinham para o fazer, como aconteceu nos nossos dias... e na nossa Terra… / 116 /

Vejam, se, mesmo durante o regime salazarista, alguém se lembrou de retirar, da rua junto da igreja do antigo convento das Carmelitas, a placa que, na ombreira desta, consagra o nome de Joaquim António de Aguiar (o «Mata-frades»), ali posta em 1910 (o que até parecia uma provocação)!

E ele nem era de Aveiro, nem por Aveiro fez nada!...

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