O senhor Dr. Mário Duarte retirou, do seu
monte de documentos de recordações, uma fotografia que pertenceu ao
espólio de seu Pai e que, a este, foi enviada por ele, quando
Vice-Cônsul em La Guardia; e teve a gentileza de ma oferecer.
Essa fotografia é das equipas do Beira-Mar e
do Desportivo daquela cidade galega, tirada em Junho de 1928, aquando da
visita do grupo aveirense – a primeira deslocação que este fez ao
estrangeiro.
Nela se vêem, também, o Dr. Mário Duarte, e
o José Meireles; o primeiro, não só na qualidade de representante
diplomático naquela cidade, como, também, de aveirense; e o segundo,
como presidente do Beira-Mar.
E essa fotografia trouxe-me à memória que,
naqueles tempos, o desporto era praticado por puro amadorismo, e,
portanto, sem qualquer compensação monetária.
Então, quem ao desporto pretendia dar os
seus tempos livres, tinha de pagar a sua quota para manter, no Clube da
sua predilecção, a secção em que se praticava a modalidade preferida,
além daquela que qualquer outro sócio era
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obrigado a pagar, pois, só assim, se poderia inscrever na secção que
desejava frequentar para praticar o desporto preferido.
E ainda tinha de adquirir, à sua custa, a
equipa e as botas, e, também, transportar para o campo dos jogos, e,
daqui para casa, aqueles objectos de uso pessoal, a fim de os mandar
lavar e conservar, de forma a estarem prontos a serem usados no momento
em que eles fossem necessários; e, juntamente, com os directores do
clube, ainda carregavam com a tralha necessária para se realizarem as
competições ou os treinos: cordas, estacas e bandeiras, para serem
balizados os campos (se de atletismo se tratasse) ou com as redes das
balizas, quando havia que jogar o futebol.
E até – quantas vezes isso acontecia – os
praticantes e os directores que os acompanhavam tinham de pagar o seu
bilhete do caminho de ferro, e a sua refeição, se, fora, se deslocavam
(e não se haviam prevenido com o farnel) pelo facto da receita da
bilheteira não dar para pagar as despesas feitas pelos organizadores dos
festivais.
Os campos eram abertos e, apenas, vedados
por cordas…
E tudo se fazia com alegria,
voluntariamente, e com amor ao seu clube e à sua terra…
E lembro-me que uma vez a secção de futebol
da Sociedade Recreio Artístico, da qual eu fazia parte como secretário,
foi convidada a ir a Riomeão disputar um jogo com um grupo daquela
localidade, a troco das despesas feitas com a deslocação.
Apesar de eu conhecer bem aquela localidade,
pois morava lá um dedicado cliente da Cerâmica Aveirense e que eu, por
motivo de finanças, visitava muitas vezes, deixei-me ir no «canto» do
cidadão que nos veio contratar, e que nos aconselhou a que, para efeitos
de economia, desembarcássemos em Cortegaça (em vez de o fazer em
Esmoriz, como eu costumava) e que atravessássemos um pinhal que ficava
ao lado daquela estação, pois era, segundo ele, mais perto do que os 5
Kms (tal a distância entre Riomeão e Esmoriz) e o preço do bilhete ser
inferior, uns tostões.
Apeámo-nos, conforme a indicação fornecida,
em Cortegaça, e metemos pelo tal pinhal; mas o certo é que, depois de
andarmos mais de uma hora dentro do mesmo, não conseguimos acertar com a
saída para a estrada.
Já desesperávamos com o que nos estava a
acontecer quando, por mero acaso, nos apareceu, no pinhal, um rapaz dali
natural, mas que trabalhava em Aveiro, na tanoaria que, nessa altura,
havia no edifício onde hoje está o enfermeiro João Baptista Campos, o
qual, conhecendo-nos, se nos dirigiu e perguntou: – Que «raio» andam
vocês a fazer por aqui?
Dada que foi a explicação, com a ajuda desse
rapaz, conseguimos chegar a Riomeão; porém, muito depois da hora marcada
para o desafio, pelo que o
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grupo dali, convencido de que já não aparecíamos, desistiu da realização
do jogo, e abandonou o local.
Ainda se encontravam por lá uns «mirones»; e
com a ajuda daquele rapaz, conseguiu-se arranjar um grupo «ad hoc»,
com quem jogássemos. No final fez-se uma quotização que deu para, numa
taberna perto da Estação de Esmoriz, comermos umas sandes e bebermos uns
refrescos, para não virmos «em branco».
No campo da competição, cada um procurava,
com ardor, defender as cores do seu clube – mesmo que de competição
amigável se tratasse – esforçando-se, dentro das suas possibilidades,
por obter os melhores resultados.
E as camisolas dos futebolistas, e as dos
pedestrianistas, e as dos outros atletas, nos finais das competições,
estavam encharcadas de suor, proveniente do enorme esforço dispendido
por quem as envergava, unicamente por amor ao seu clube e para honrar,
não somente o nome deste, como, também, o do próprio atleta.
E os árbitros, e os juízes das várias
provas, e os cronometristas, e os fiscais de campo, e todos os que, nas
«andanças» do atletismo andavam metidos, eram voluntários e
deslocavam-se, a maioria das vezes, à sua custa; e, nos desafios de
futebol, estavam sujeitos – como, aliás, agora acontece – a insultos da
assistência e, até, a algumas pedradas, sem que, do seu trabalho,
obtivessem quaisquer proveitos, e não tendo, para os defender, a Polícia
ou a Guarda, como hoje – felizmente – acontece.
Era, então, amadorismo puro…
Por onde andou, sempre mostrou o seu valor
desportivo e conquistou amizades, honrando, assim, não só o seu nome,
como, também, o de Aveiro (que ele nunca olvidava) e, ainda, o de
Portugal.
O seu «palmarés» desportivo é brilhante,
pois praticou – e obteve grandes triunfos – ténis, futebol, atletismo,
natação, water-polo, hipismo, remo e, até, ténis de mesa, seguindo,
desta forma (acompanhado por seus irmãos Carlos Júlio e Francisco) o
caminho traçado por seu Pai, Mário Duarte, patrono do nosso «stadium» e,
no seu tempo, um dos maiores desportistas e grande propagandista da
necessidade de se fazer desporto, e, também, pioneiro do futebol em
Portugal.
Também a actividade literária, no que diz
respeito aos assuntos diplomáticos, o interessou, pois escreveu «Factores
Económicos que Regulam o Mundo Contemporâneo», «História dos
Portugueses nas Índias ocidentais, nas Guianas, em Coraçao e na
Venezuela» e, em 1973, a propósito do centenário de Eça de Queiroz,
«Eça de Queiroz, Cônsul, ao Serviço da Pátria e da Humanidade»,
livro no qual foca uma faceta daquele escritor, que me parece ser pouco
conhecida, qual seja o seu interesse pelos cargos que desempenhou,
principalmente,
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em Havana, em defesa de uns desgraçados chineses, que uma companhia
inglesa contratou, para fornecer à Real Junta de Fomento, de Cuba, a 170
dólares cada um, para suprir a falta de mão-de-obra nos engenhos do
açúcar e que os proprietários destes e, aquela Junta, tratavam como
autênticos escravos.
Diz-se no prefácio daquele livro: – «Era uma
autêntica e monstruosa traficância de exportação de carne humana, que os
ingleses faziam embarcar no porto de Macau, embora uma grande parte
dessa gente, não pertencente à nossa província, alegando que o faziam
aqui para evitar o encarecimento da mão-de-obra em Hong-Kong, sendo
certo, porém, que a verdadeira razão era responsabilizar Portugal –
isentando, portanto, a Inglaterra – por um tráfico criminoso que pouca,
ou nenhuma diferença, fazia do praticado pelos negreiros dos séculos
anteriores».
Mário Duarte é condecorado com diversos
graus de várias Ordens portuguesas, espanholas, francesas, brasileiras,
mexicanas e, também, com a Medalha de Prata da Cidade de Aveiro.
Com esta minha crónica quero dar a conhecer,
às novas gerações – se é certo que me lêem – um concidadão de que já
devem ter ouvido falar, mas do qual desconhecem o seu amor a Aveiro, e o
interesse pelo seu desenvolvimento, e que, ainda hoje, escreve aos
amigos em cartas e postais com fotografias de Aveiro antigo e Aveiro
moderno.
Corrigindo:
Na minha crónica anterior, veio publicado
que o Tobias se atirou à água antes do sinal de partida, quando, na
verdade, ele se atirou depois.
E porque assim aconteceu é que o júri da
prova não aceitou o protesto do nadador do Algés e lhe perguntou se o
facto do Tobias se ter lançado à água depois daquele sinal o havia
atrapalhado.
Se o caso se tivesse passado como vem
descrito, o nadador do Algés teria toda a razão para reclamar e o júri a
obrigação de o atender; tal caso, não se podia dar, porque o Juiz de
Partida não teria permitido que a prova continuasse.
As gralhas que, de vez em quando, pousam nos
meus escritos, fazem das suas...
Os campos em que se jogou futebol, foram –
que eu me lembre – além do actual (o Estádio Mário Duarte), e por ordem
sucessiva, o do Rossio, o do Cojo (onde hoje está o mercado municipal) e
o de S. Domingos (também chamado «o campo do Lé»); este, foi implantado
na quinta do Manuel da Rocha,
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também conhecido por Manuel do Mestre, homem que era exímio no conserto
de ossos e que disso sabia mais que todos os médicos da região, e, até
dos de longe, pois era solicitado, das mais variadas terras, para
exercer a sua ciência, ou, se quiserem, a sua habilidade, aquando de
desastres em que os pacientes ficavam «escangalhados» com ossos partidos
ou deslocados, ou com os músculos fora do seu lugar.
A quinta acima referida ficava na Rua da
Corredoura (actualmente Rua de Caçadores 10); e também lhe chamavam do
«Lé», porque, na altura em que o campo foi preparado para o futebol, era
seu proprietário Álvaro Lé que, tendo vivido no Brasil, viria a casar
com a viúva do referido Manuel da Rocha. Além do campo, Álvaro Lé
montou, na quinta, casas de diversões, onde a rapaziada passava o seu
tempo livre e gastava o seu dinheiro; e, bem assim, construiu um bairro
de casas que ainda hoje existe.
Do Manuel do Mestre e do seu sobrinho João
Grijó que, sendo alveitar, também sabia muito de ossos, podia contar
muitos casos que provam os seus grandes conhecimentos ou, talvez, a sua
muita habilidade na arte de consertar pernas e braços partidos, ou
deslocados.
Mas... não é disso que eu, agora, pretendo
falar, mas, sim, de futebol.
Aquando da inauguração do campo de S.
Domingos, veio jogar com os Galitos o afamado e forte grupo portuense
Boavista, cujo trio de defesa (Casoto, Óscar e Luzia) era o melhor do
norte do país.
O Boavista exigiu, para fazer esse jogo, vir
de véspera, ficando a cargo da organização, não só o jantar e dormida
desse dia, como, também, a diária completa do dia do jogo – exigência
extraordinária para essa época – como, também, as despesas de viagem.
Na noite da chegada, os jogadores do
Boavista, crentes do seu valor, proclamavam, eufóricos, nos cafés, que
no dia seguinte tinham galo para o jantar (nesse tempo não havia frangos
de aviário e não se comia galinha todos os dias) pois estavam dispostos
a dar um golo a cada um dos jogadores dos Galitos e, para a coisa ficar
mais completa, também haveria um para o árbitro.
Porém, o Destino não o tinha determinado
assim; e o resultado final foi de três a zero a favor dos Galitos.
Grande e entusiástico jogo foi esse, que
todos os que a ele assistiram (os que ainda pertencem ao número dos
vivos) ainda guardam na memória, principalmente, a marcação do
primeiro golo, rematado pelo tenente Natividade
(1).
Tendo a bola sido enviada para o centro do
terreno pelo extremo direito, Américo Picado, a quem a mesma foi
fornecida pelo Garcia, o Natividade, em correria desenfreada, apanhou-a
no ar e, sem qualquer preparação «chutou-a» para a baliza à guarda de
Casoto, tão a tempo e com tanta força que o trio
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defensivo – o célebre trio – não teve tempo de intervir e ficou
admiradíssimo de ver a bola dentro da baliza: para o trio, e para todo o
Boavista, foi um autêntico balde de água fria.
Toda a assistência se manifestou,
delirantemente, não só pelo golo em si, mas, e sobretudo, pela maneira
extraordinária como foi marcado.
E os outros dois apareceram, possivelmente, por descontrolamento dos
nervos dos jogadores do Boavista que, pretendendo provar a sua categoria
e desfazer a impressão causada pelo golo sofrido, começaram a atacar em
força, e de qualquer maneira, pois precisavam de cumprir a promessa
feita de distribuírem pelos Galitos, se não todos os golos que tinham
prometido, pelo menos, alguns, para estes ficarem com a lembrança de que
não é em vão que se tem o atrevimento e a ousadia de medir forças com um
grupo de categoria como era o afamado Boavista.
E também era necessário confirmar as
previsões dos jornais do Porto que previram uma «cabazada» de golos para
aquela tarde, pelo que a linha do Boavista se atirou, toda, à excepção
do Casoto, para o campo dos Galitos.
A sorte, porém, não estava com os
visitantes. Apesar de todos os esforços e os «chutos» serem
muitos e constantes, o Primo da Naia e os seus colegas conseguiram que
nem um só golo entrasse nas balizas à sua guarda, pelo que nem ao menos
um os portuenses tiveram para oferecer aos aveirenses, como era seu
desejo.
Logo que terminou o jogo, os visitantes
dirigiram-se ao Hotel Aveirense (onde estavam hospedados e deviam jantar
– como era do contrato); e, porque averiguaram que, daí a pouco tempo,
havia um comboio para o Porto, foram, à sorrelfa, para a estação e
embarcaram, discretamente, para a sua terra.
Lembrarei os nomes dos jogadores que, nesse
desafio, foram a linha dos Galitos:
Guarda-Redes: Primo da Naia Pacheco;
Defesas: José Vieira e José Palhaço; Médios: Garcia, Pompeu Figueiredo e
José Casaca; Avançados: Américo Picado (?), Natividade, João Melão e
João Picado.
Nota: Não consegui averiguar quem jogou como
avançado, a meia direita; seria o César? Seria o António Pinheiro? Quem
seria?
De todos aqueles jogadores, somente três
ainda pertencem a este nosso mundo: Primo da Naia, tenente Natividade e
Silva e Américo Picado (que vive na América).
A TEMPO
Já que de futebol falei, quero dizer à
actual mocidade que, nos meados da época dos anos vinte, se disputou, em
Aveiro, um torneio de futebol em que
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os seguintes grupos: Estrela – Galitos – Onze do Vouga (era o grupo B
dos Galitos) – Recreio Artístico – Beira Mar – Águia – Sport de Aveiro –
Atlético – Banda de José Estêvão – Esperança e Infantaria.
Não sei se me falta mencionar mais alguns;
os seus componentes eram todos rapazes de Aveiro, vivendo cada grupo à
custa dos seus componentes; e não havia nem treinadores, nem técnicos,
nem pessoal de secretaria, nem nada.
Mencionei o Estrela em primeiro lugar,
porque este clube, situado ao lado da Capela de S. Gonçalinho, e do qual
eram dirigentes os irmãos Amaro (João, Carlos e Joaquim) foi uma
verdadeira fábrica de futebolistas e forneceu, deste material, a todos
(ou quase todos) os restantes clubes.
Quem quiser saber mais pormenores do
Estrela, fale nos Arcos, com o Adriano (Balãozinho)...
Tencionava ainda falar de um outro assunto;
porém, a correspondência que o Dr. Mário Duarte tem mantido comigo, e os
elementos que ele me tem fornecido, espevitam-me a memória e levam-me a
continuar a tratar, ainda, do desporto amador, focando, agora, e
especialmente, o atletismo, modalidade em que ele se salientou.
Como já disse noutra crónica, os amadores
desta modalidade também carregavam com bandeirolas, estacas, cordas,
etc., para demarcar os campos, quer para os treinos, quer para as
provas.
Em 1924 um grupo de atletas, organizado por
Mário Duarte, em Aveiro, disputou provas, não só na cidade, como
também noutras localidades; e esse grupo comportou-se de tal forma que
incitou a mocidade de então à prática dessas modalidades.
No torneio realizado, naquele ano, na Vista
Alegre (o primeiro aqui efectuado) o Gil Meireles ganhou várias provas
pedestres, tendo-se salientado, porém, na dos 1500 metros, pelo avanço
obtido sobre os seus mais directos competidores; e, num outro torneio,
na Mealhada, o seu sucesso principal foi na corrida dos 400 metros pois
ganhou essa prova por uma grande diferença.
Destes dois torneios, aquela rapaziada de
Aveiro trouxe, consigo a maior parte dos troféus em disputa.
/ 100 /
O Mariozinho, já em 1923, 1924 e 1925, havia
tomado parte em provas organizadas pelo Sport Clube de Ovar, e, delas,
trouxe vários prémios; e, em Ovar, pelos anos adiante, continuou a haver
provas de atletismo, quer dirigidas por aquele clube, quer, também, pela
Associação Desportiva Ovarense que, durante anos seguidos, organizou a
légua (entre S. Vicente de Pereira e Ovar) que eu cronometrei várias
vezes, pois diversa rapaziada da nossa terra a ela concorria.
O que atrás relato – e haveria muito que
contar – prova, e demonstra, que a família de Mário Duarte (o patrono do
nosso Estádio) acompanhada de outra rapaziada de cá, foram os pioneiros
da introdução do atletismo no distrito de Aveiro, incitados que eram por
aquele desportista que proclamava «que não é com homens fracos que se
faz a Pátria forte» e que, em 1905, num inquérito realizado pelo jornal
“Os Sports”, foi considerado o sportman mais completo de
Portugal.
E todos os clubes de Aveiro passaram a ter,
também, a sua secção de atletismo; e, um grupo de rapazes amigos,
praticantes deste desporto – já poucos restam por esta Vida – fundou o
Atlético Club de Aveiro, na Rua do Arco, na casa que, hoje, pertence ao
Dr. Manuel Esteves (e que nela vive) com o fim de praticarem o atletismo
e organizarem provas e torneios daquela modalidade. O emblema daquele
Club foi desenhado por Gervásio Aleluia e representava um atleta, em
corpo inteiro, e na pujança de plena mocidade, braços ao alto mostrando
toda a sua musculatura, tendo, na base, uma legenda que dizia isto, se a
memória me não falha: «Pelo corpo e pelo espírito».
Os atletas, e os restantes sócios, eram
caixeiros, funcionários e estudantes do Liceu (ou de lá acabados de
sair); e, como clube que era, não podia deixar de organizar outras
distracções para os seus associados, sendo, nessa altura, célebres os
seus bailes, frequentados pelas mais gentis tricanas, as quais eram
acompanhadas por suas mães ou outros familiares, como então era de
uso, e a quem haveria, de previamente, enviar convite por escrito e,
daí a dias, ir procurar pessoalmente a resposta; e, se dependia da
autorização dos pais quase sempre isso acontecia – a aceitação do
convite, havia que empregar a nossa retórica e a nossa influência
pessoal, junto deles, para conseguir tal autorização.
E havia uns tais, com lata especial para
esta missão…
Esses bailes, normalmente, eram servidos,
isto é, a meio e no fim da função, eram distribuídos «lanches» às
actuantes e suas acompanhantes: cacau, chá, bolos, etc., e, durante o
baile, os dançarinos iam oferecendo às damas, com quem dançavam, uns
refrescos.
Devo esclarecer, em abono da verdade, que
este uso não era exclusivo do Atlético, pois nos outros clubes, de vez
em quando, também havia bailes servidos, constando isso dos convites.
/ 101 /
Em 1925 estudava o Mariozinho no Porto e
filiou-se, para efeitos de praticar desporto, no Académico Foot-ball
Club.
Nesse tempo, o Sport Club Nun'Álvares era o
campeão de atletismo do norte do país, e tinha no seu «planteI» os
atletas da maior categoria, como Karel Pott, Prata de Lima, Borges, etc.
O Mariozinho inscreveu no Académico um grupo
de aveirenses de que faziam parte, além dele, seus irmãos, Hermenegildo
Meireles e António Ferreira que, no I CAMPEONATO INTER CLUBS, organizado
pelo Académico, no Stadium do Lima, teve comportamento de tal ordem que,
à sua parte, obteve o maior número de pontos que permitiu que o Académico
ganhasse 5 das 6 taças em disputa, e colocou este clube, em 1925, no
topo daqueles que, no norte do país, praticavam atletismo, destronando,
desta forma, o Nun'Álvares.
Seria fastidioso vir, agora, dizer dos
tempos que cada um daqueles aveirenses gastou e compará-los com os dos
seus mais directos competidores; no entretanto, convém dizer as
principais provas em que cada um entrou, para se ver o fôlego de que
eles eram dotados:
Mário Duarte: 100 m.; 200 m.;
estafetas 4x100; estafeta olímpica (800-400-200-100); lançamento do
disco; salto em altura com balanço; salto em altura sem balanço e salto
em comprimento com balanço.
Xico Duarte: lançamento do
dardo; salto em altura com balanço; salto em comprimento com balanço;
salto em comprimento sem balanço e salto à vara. Meireles: 800 m.; 5 000
m.; estafeta olímpica (800-400-200-100).
Carlos Júlio: lançamento de
peso.
António Ferreira: estafetas de
4x100 m.; estafetas de 4x400 m.; lançamento do disco.
Por mero esclarecimento, quero dizer que o
Xico foi «recordman» do salto à vara de 1928 a 1930; e, tendo
participado no I PORTUGAL-ESPANHA, em Madrid, ganhou aos espanhóis.
Mas... toda esta e outra rapaziada andou
envolvidas em provas de atletismo por todo o país.
Para terminar, não quero deixar de citar
aqui o nome do Francelino Costa, que foi, desde muito novo, o campeão de
saltos, na modalidade da natação.
Era vê-lo – um encanto! – atirar-se da Ponte
de S. João, ou da Ponte da Dobadoura, em salto de anjo! E o salto que
ele deu, em Vigo, de cima de um guindaste?! Eu não vi tal salto, mas,
quando os nadadores regressaram a Aveiro, vinham entusiasmados com essa
prova e o efeito que ela causou em toda a assistência.
Quantas coisas havia para contar...
_________________________
(1) – Este,
ainda vivo, foi um valoroso desportista, quer como praticante, quer como
árbitro que foi, e dos melhores, no seu tempo. |