Quando planeei a crónica anterior, e fiz
referência à carta que o nosso ilustre conterrâneo, o Embaixador Dr.
Mário Duarte, me escreveu a felicitar-me pelo meu artigo com o número 34
[Transformação do Passeio Público], não pensei que, devido a uma
associação de ideias, viesse a terminar esse artigo com a recordação da
época áurea da natação aveirense.
Tenho, pois, de voltar à carta do Dr. Mário
Duarte; nela, e a propósito da festa da árvore, mostrou, este nosso
ilustre amigo, interesse em que eu lesse o seu artigo EVOCAÇÃO,
publicado no número 440 do LITORAL, datado de 30 de Março de 1963.
Fui reler o referido artigo, pois que, como
assinante que sou, desde o seu início, do referido jornal, e «cagaréu»
amante das coisas que à nossa terra dizem respeito, não deixaria de o
ter lido na altura em que o mesmo foi publicado.
Nessa EVOCAÇÃO, o Dr. Mário Duarte conta que
fez parte de um grupo escolar que participou numa das festas da árvore,
e, nessa qualidade, também ajudou a plantar um pinheirito na Praça do
Marquês de Pombal, árvore que foi sacrificada ao arranjo urbanístico
desta Praça, em 1963, como o foi, também, a palmeira que existia em
frente da Polícia e à qual, nessa altura, o nosso amigo Eduardo
Cerqueira, ilustre aveirógrafo, dedicou um artigo de despedida pois,
habituado a vê-la – como todos os da nossa geração – sempre airosa e
povoada de pardalitos, desde o tempo em que o Presidente da Câmara, o
Sr.
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Gustavo(1), a fez transplantar do quintal do Catalá, muito lhe custou a
vê-la desaparecer.
A este artigo de despedida respondeu outro
aveirense dos «quatro costados», o desembargador
Dr. Melo Freitas, que, chamando o
Eduardo Cerqueira à realidade, diz-lhe que as árvores,
como as pessoas, têm o seu fim; e a palmeira, que ele, também, muito
estimava, já tinha cumprido a sua missão.
São interessantes (e vale a pena lerem-se)
os quatro artigos (dois de cada), publicados no LITORAL em Março de
1963.
Quem os quiser ler, faça como eu: vá à
Biblioteca Municipal.
E o Dr. Mário Duarte diz no seu artigo que,
sempre que vinha a Aveiro, ia visitar aquele pinheirito, e, junto dele,
recordar, com saudade, não só os companheiros que ajudaram a plantá-lo,
como, também, os seus professores.
Era uma romagem de saudade e de
reconhecimento…
Na verdade, o Dr. Mário Duarte, mantendo,
através da sua vida, a paixão pela sua e nossa Terra, nunca – fosse qual
fosse o local onde se encontrasse – deixou de lhe dedicar o melhor dos
seus amores, apesar das andanças a que o obrigaram os seus estudos e o
exigiram os seus cargos diplomáticos. E, sempre que podia, cá vinha
matar saudades; e lá fora, sempre proclamava as belezas de Aveiro, e
honrava o seu nome e o dos seus naturais.
Mário Duarte, em 1927, foi nomeado Cônsul em
La Guardia (Espanha) onde, em Maio de 1958, foi considerado «cidadão
adoptivo e filho predilecto de La Guardia». Já, em 1929, aqui lhe havia
sido tributada, pelas autoridades, sociedades de recreio, clubes,
colónia portuguesa e seus amigos, uma homenagem; e, no banquete que,
nessa ocasião, lhe foi oferecido, o advogado D. Adolfo Mosquera Castro
recitou uns versos de sua autoria, donde copio, apenas, três quintilhas,
e na língua em que foram ditos, para lhe não alterar o sabor:
Para demonstrar a Mário
su cariño (harto) (1) sincero
con afán extraordinário
se congregó el vecindario(2)
y aqui e'stá todo el entero.
Portugueses y españoles,
en tan sinalado dia
damos suelta à alegria
y abusamos a porfia
del consumo de alcoholes
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Temperamento fleumático
funcionário democrático
y filósofo profundo
hace bien a todo el mundo
em su puesto diplomático
Notas: (1) - harto = com fortuna; (2)
vecindario = toda a vizinhança.
Mário Duarte foi, depois, nomeado Cônsul em
Port-of-Spain; Cônsul em Berlim; Encarregado da Defesa dos Interesses
dos Cidadãos Brasileiros na Alemanha, Áustria e Polónia; Cônsul em
Havana, em Marselha e em Hamburgo; Cônsul Geral em Madrid e no Rio de
Janeiro, sendo, aqui, nomeado Cidadão Honorário por decreto de 7-8-1961;
foi, também, Encarregado de Negócios na Embaixada no Chile; e terminou a
sua carreira diplomática como Embaixador no México.
Aqui – no México – foi nomeado, em
13-4-1962, Membro da Academia Mexicana de Direito Internacional; e, no
jornal “El Universal” – o grande diário mexicano – de Agosto de 1965, D.
Rafael Solana, escritor, dramaturgo e jornalista, dedica-lhe um artigo
de despedida e no qual faz o elogio da sua actuação como Embaixador de
Portugal naquele País. |