Achegas para a Historiografia Aveirense - 1988

Dr. Mário Duarte

Quando planeei a crónica anterior, e fiz referência à carta que o nosso ilustre conterrâneo, o Embaixador Dr. Mário Duarte, me escreveu a felicitar-me pelo meu artigo com o número 34 [Transformação do Passeio Público], não pensei que, devido a uma associação de ideias, viesse a terminar esse artigo com a recordação da época áurea da natação aveirense.

Tenho, pois, de voltar à carta do Dr. Mário Duarte; nela, e a propósito da festa da árvore, mostrou, este nosso ilustre amigo, interesse em que eu lesse o seu artigo EVOCAÇÃO, publicado no número 440 do LITORAL, datado de 30 de Março de 1963.

Fui reler o referido artigo, pois que, como assinante que sou, desde o seu início, do referido jornal, e «cagaréu» amante das coisas que à nossa terra dizem respeito, não deixaria de o ter lido na altura em que o mesmo foi publicado.

Nessa EVOCAÇÃO, o Dr. Mário Duarte conta que fez parte de um grupo escolar que participou numa das festas da árvore, e, nessa qualidade, também ajudou a plantar um pinheirito na Praça do Marquês de Pombal, árvore que foi sacrificada ao arranjo urbanístico desta Praça, em 1963, como o foi, também, a palmeira que existia em frente da Polícia e à qual, nessa altura, o nosso amigo Eduardo Cerqueira, ilustre aveirógrafo, dedicou um artigo de despedida pois, habituado a vê-la – como todos os da nossa geração – sempre airosa e povoada de pardalitos, desde o tempo em que o Presidente da Câmara, o Sr. / 92 / Gustavo(1), a fez transplantar do quintal do Catalá, muito lhe custou a vê-la desaparecer.

A este artigo de despedida respondeu outro aveirense dos «quatro costados», o desembargador Dr. Melo Freitas, que, chamando o Eduardo Cerqueira à realidade, diz-lhe que as árvores, como as pessoas, têm o seu fim; e a palmeira, que ele, também, muito estimava, já tinha cumprido a sua missão.

São interessantes (e vale a pena lerem-se) os quatro artigos (dois de cada), publicados no LITORAL em Março de 1963.

Quem os quiser ler, faça como eu: vá à Biblioteca Municipal.

E o Dr. Mário Duarte diz no seu artigo que, sempre que vinha a Aveiro, ia visitar aquele pinheirito, e, junto dele, recordar, com saudade, não só os companheiros que ajudaram a plantá-lo, como, também, os seus professores.

Era uma romagem de saudade e de reconhecimento…

Na verdade, o Dr. Mário Duarte, mantendo, através da sua vida, a paixão pela sua e nossa Terra, nunca – fosse qual fosse o local onde se encontrasse – deixou de lhe dedicar o melhor dos seus amores, apesar das andanças a que o obrigaram os seus estudos e o exigiram os seus cargos diplomáticos. E, sempre que podia, cá vinha matar saudades; e lá fora, sempre proclamava as belezas de Aveiro, e honrava o seu nome e o dos seus naturais.

Mário Duarte, em 1927, foi nomeado Cônsul em La Guardia (Espanha) onde, em Maio de 1958, foi considerado «cidadão adoptivo e filho predilecto de La Guardia». Já, em 1929, aqui lhe havia sido tributada, pelas autoridades, sociedades de recreio, clubes, colónia portuguesa e seus amigos, uma homenagem; e, no banquete que, nessa ocasião, lhe foi oferecido, o advogado D. Adolfo Mosquera Castro recitou uns versos de sua autoria, donde copio, apenas, três quintilhas, e na língua em que foram ditos, para lhe não alterar o sabor:

Para demonstrar a Mário
su cariño (harto) (1) sincero
con afán extraordinário
se congregó el vecindario(2)
y aqui e'stá todo el entero.

Portugueses y españoles,
en tan sinalado dia
damos suelta à alegria
y abusamos a porfia
del consumo de alcoholes
/ 93 /

Temperamento fleumático
funcionário democrático
y filósofo profundo
hace bien a todo el mundo
em su puesto diplomático

Notas: (1) - harto = com fortuna; (2) vecindario = toda a vizinhança.

Mário Duarte foi, depois, nomeado Cônsul em Port-of-Spain; Cônsul em Berlim; Encarregado da Defesa dos Interesses dos Cidadãos Brasileiros na Alemanha, Áustria e Polónia; Cônsul em Havana, em Marselha e em Hamburgo; Cônsul Geral em Madrid e no Rio de Janeiro, sendo, aqui, nomeado Cidadão Honorário por decreto de 7-8-1961; foi, também, Encarregado de Negócios na Embaixada no Chile; e terminou a sua carreira diplomática como Embaixador no México.

Aqui – no México – foi nomeado, em 13-4-1962, Membro da Academia Mexicana de Direito Internacional; e, no jornal “El Universal” – o grande diário mexicano – de Agosto de 1965, D. Rafael Solana, escritor, dramaturgo e jornalista, dedica-lhe um artigo de despedida e no qual faz o elogio da sua actuação como Embaixador de Portugal naquele País.

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(1) - Gustavo deverá referir-se a Gustavo Ferreira Pinto Basto. (R.T.)

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