A propósito do meu artigo [relativo à
transformação do passeio público], no qual evoquei a Festa da Árvore e
falei de António dos Santos Lé, José Casimiro da Silva e Dr. Álvaro
Sampaio, dignou-se o nosso ilustre conterrâneo, o Embaixador Dr. Mário
Duarte, escrever-me:
«/.../ está, por isso, de parabéns. Eu quero
ser um dos primeiros a felicitá-lo. |
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O nadador aveirense
Tobias de Lemos. |
«Aqui lhe mando, a título devolutivo (s.f.
favor) uma fotografia da célebre banda dos «meúdos» do Lé que, em 1931,
percorreu em triunfo algumas terras da Galiza, nomeadamente La Guardia,
honrando a nossa Aveiro. Foi uma triunfal jornada que recordo agora com
muita saudade.»
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Acarinhou essa deslocação, com o prestígio
que lhe dava, o facto não só de ser nosso cônsul em La Guardia, como,
também, o de ter as melhores relações sociais em toda a Galiza, o Dr.
Mário Duarte, como, aliás, já havia acarinhado a deslocação dos
nadadores aveirenses que, acompanhados pelo José Meireles, então
Presidente do Beira-Mar, tanta «figura» fizeram – e por várias vezes –
nas provas de natação realizadas em Vigo.
E não cito aqui – somente porque não me
recordo [Ver
Almanaque Desportivo de Aveiro] – o nome de todos os atletas que
compunham as equipas que à Galiza se deslocaram, e o dos que, dentro do
nosso país e em competição com os melhores nadadores nacionais, tanto
brilharam, e honraram o nome de Aveiro. E não o faço porque cometeria
uma ingratidão perante os poucos que ainda vivem, e a memória dos muitos
que já morreram. E eu não quero que tal ingratidão me pese na
consciência.
Não me lembro de que, alguma vez – a não ser
na recepção apoteótica, desde a Estação do Caminho de Ferro, aquando do
regresso dos nadadores da primeira vez que foram à Galiza –, que se
tenham homenageado os nadadores de então, nem o seu dirigente, o José
Meireles, que sacrificava o seu tempo e o seu dinheiro (que nos seus
bolsos não abundava) para conseguir fazer essas deslocações,
conseguindo, sempre, honrar o nome do seu Clube e o de Aveiro que,
ambos, ele muito prezava.
Porém, não posso deixar de me lembrar – e
aqui prestar, como aveirense, a minha gratidão à sua memória – o nome de
Tobias de Lemos o maior de todos – a quem eu vi fazer a travessia de
S. Jacinto a Aveiro (9 quilómetros em águas de várias correntes e
diferentes temperaturas) somente por atletismo, pois, ao fazê-lo, não
competia com ninguém; e, sendo, normalmente, um nadador de «fundo»
prestou-se (por não haver, então, em Aveiro quem fosse capaz de
enfrentar o campeão dos 100 metros do Club Algés e Dafundo) a competir
nessa prova – e ganhou – em que se disputava a Taça D. Manuel II (linda
taça!), prova que o Algés tinha muito empenho em ganhar, pois que, para
ficar definitivamente na posse dela, só lhe faltava uma vitória.
Nesse ano, o Algés não ficou, ainda,
detentor da Taça D. Manuel II. E recordo-me, também, de que, numa prova
de 1500 metros que o Tobias ganhou, por grande diferença, um dos
nadadores do Algés foi apresentar ao Júri (do qual eu também fazia
parte, como cronometrista) a reclamação de que o Tobias se havia lançado
à água antes do sinal da partida; depois de perguntado se isso o
atrapalhara e ele haver respondido negativamente, o Presidente do Júri
fez ver ao reclamante que ele não tinha razão; porém, o Tobias,
interrompendo a conversa, disse: – Não estejam a perder tempo; repete-se
a prova e tudo fica arrumado.
O nadador do Algés e Dafundo, muito admirado
com a proposta do Tobias, perguntou-lhe: – E você era capaz de o fazer,
imediatamente?
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O Tobias, com a maior serenidade, e o ar
mais ingénuo deste mundo, respondeu-lhe: – Se o propus, é porque sou
capaz de o fazer; vamos lá a isso…
O nadador do Algés desistiu da reclamação e
recusou-se a repetir a prova, pois não tinha fôlego para tal.
Mas... em quantas terras e em quantas
provas, os nadadores de Aveiro fizeram «figura»?
Na Ria – única piscina ao seu dispor –
organizaram-se, então, vários desportos náuticos.
Ao Mariozinho, eu lembro que numa disputa de
Water-Polo, que ele arbitrou e eu cronometrei, ia atirando comigo à
água, por se debruçar, dentro do barco em que estávamos instalados, pelo
facto de querer apaziguar o Zé Padim e o Luís Negro, que se haviam
pegado à «solha», e mergulhado, para, mais à vontade, se agredirem.
Quantos anos lá vão?!
Não me lembro!... mas foi no período áureo
da natação aveirense. |