Achegas para a Historiografia Aveirense - 1988

Campeões de natação

A propósito do meu artigo [relativo à transformação do passeio público], no qual evoquei a Festa da Árvore e falei de António dos Santos Lé, José Casimiro da Silva e Dr. Álvaro Sampaio, dignou-se o nosso ilustre conterrâneo, o Embaixador Dr. Mário Duarte, escrever-me:

«/.../ está, por isso, de parabéns. Eu quero ser um dos primeiros a felicitá-lo.

O nadador aveirense Tobias de Lemos.

«Aqui lhe mando, a título devolutivo (s.f. favor) uma fotografia da célebre banda dos «meúdos» do Lé que, em 1931, percorreu em triunfo algumas terras da Galiza, nomeadamente La Guardia, honrando a nossa Aveiro. Foi uma triunfal jornada que recordo agora com muita saudade.»   / 90 /

Acarinhou essa deslocação, com o prestígio que lhe dava, o facto não só de ser nosso cônsul em La Guardia, como, também, o de ter as melhores relações sociais em toda a Galiza, o Dr. Mário Duarte, como, aliás, já havia acarinhado a deslocação dos nadadores aveirenses que, acompanhados pelo José Meireles, então Presidente do Beira-Mar, tanta «figura» fizeram – e por várias vezes – nas provas de natação realizadas em Vigo.

E não cito aqui – somente porque não me recordo [Ver Almanaque Desportivo de Aveiro] – o nome de todos os atletas que compunham as equipas que à Galiza se deslocaram, e o dos que, dentro do nosso país e em competição com os melhores nadadores nacionais, tanto brilharam, e honraram o nome de Aveiro. E não o faço porque cometeria uma ingratidão perante os poucos que ainda vivem, e a memória dos muitos que já morreram. E eu não quero que tal ingratidão me pese na consciência.

Não me lembro de que, alguma vez – a não ser na recepção apoteótica, desde a Estação do Caminho de Ferro, aquando do regresso dos nadadores da primeira vez que foram à Galiza –, que se tenham homenageado os nadadores de então, nem o seu dirigente, o José Meireles, que sacrificava o seu tempo e o seu dinheiro (que nos seus bolsos não abundava) para conseguir fazer essas deslocações, conseguindo, sempre, honrar o nome do seu Clube e o de Aveiro que, ambos, ele muito prezava.

Porém, não posso deixar de me lembrar – e aqui prestar, como aveirense, a minha gratidão à sua memória – o nome de Tobias de Lemos o maior de todos – a quem eu vi fazer a travessia de S. Jacinto a Aveiro (9 quilómetros em águas de várias correntes e diferentes temperaturas) somente por atletismo, pois, ao fazê-lo, não competia com ninguém; e, sendo, normalmente, um nadador de «fundo» prestou-se (por não haver, então, em Aveiro quem fosse capaz de enfrentar o campeão dos 100 metros do Club Algés e Dafundo) a competir nessa prova – e ganhou – em que se disputava a Taça D. Manuel II (linda taça!), prova que o Algés tinha muito empenho em ganhar, pois que, para ficar definitivamente na posse dela, só lhe faltava uma vitória.

Nesse ano, o Algés não ficou, ainda, detentor da Taça D. Manuel II. E recordo-me, também, de que, numa prova de 1500 metros que o Tobias ganhou, por grande diferença, um dos nadadores do Algés foi apresentar ao Júri (do qual eu também fazia parte, como cronometrista) a reclamação de que o Tobias se havia lançado à água antes do sinal da partida; depois de perguntado se isso o atrapalhara e ele haver respondido negativamente, o Presidente do Júri fez ver ao reclamante que ele não tinha razão; porém, o Tobias, interrompendo a conversa, disse: – Não estejam a perder tempo; repete-se a prova e tudo fica arrumado.

O nadador do Algés e Dafundo, muito admirado com a proposta do Tobias, perguntou-lhe: – E você era capaz de o fazer, imediatamente? / 91 /

O Tobias, com a maior serenidade, e o ar mais ingénuo deste mundo, respondeu-lhe: – Se o propus, é porque sou capaz de o fazer; vamos lá a isso…

O nadador do Algés desistiu da reclamação e recusou-se a repetir a prova, pois não tinha fôlego para tal.

Mas... em quantas terras e em quantas provas, os nadadores de Aveiro fizeram «figura»?

Na Ria – única piscina ao seu dispor – organizaram-se, então, vários desportos náuticos.

Ao Mariozinho, eu lembro que numa disputa de Water-Polo, que ele arbitrou e eu cronometrei, ia atirando comigo à água, por se debruçar, dentro do barco em que estávamos instalados, pelo facto de querer apaziguar o Zé Padim e o Luís Negro, que se haviam pegado à «solha», e mergulhado, para, mais à vontade, se agredirem.

Quantos anos lá vão?!

Não me lembro!... mas foi no período áureo da natação aveirense.

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