Quando escrevi as ACHEGAS com os números 30
e 31 pensei, a sério, que seria ocasião para parar, se não
definitivamente, pelo menos por algum tempo, pois podia estar a
acontecer – como aconteceu com o Dr. Elmano que – já estivessem sem
interesse aqueles meus escritos; e, assim, deixei em suspenso aquela
pergunta que a mim mesmo fiz: interessará continuar?
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Pessoas amigas e, até simples conhecidas, ao
encontrarem-se comigo, na rua ou no café, incitaram-me a continuar,
dizendo-me: não páre... prossiga que a coisa continua a ter interesse.
Esta manhã recebi uma carta do nosso
patrício, o Dr. Mário Duarte (Filho),
ilustre diplomata, Embaixador (hoje aposentado, que a idade não poupa
ninguém...) e distinto colaborador do LITORAL, acompanhada de duas
fotografias tiradas na Barra em 1913, que tenho muita pena de não poder
reproduzir aqui, porque, com os seus 65 anos, estão muito esbatidas.
E seria muito interessante a sua reprodução
pois que, numa delas, vê-se a ilustre Senhora Baronesa da Recosta, com
os seus filhos: Mário, Carlos Júlio (falecido no vigor da idade) e
Francisco. E na companhia, também, das sobrinhas Rosa Branca, Cristina e
Helena, filhas do Barão de Cadoro, que tinha a sua residência na quinta,
com um lindo jardim, em frente ao Hospital, exactamente no terreno que
então, como hoje, fazia o redondo da actual Avenida do Dr. Artur Ravara
para a Rua do Cabouco, na altura muito estreita e com muitos
pedregulhos.
A residência, pintada de amarelo, foi
devorada por um incêndio que a destruiu por completo.
Nessa mesma fotografia, em que a «miudagem»
acima citada está vestida e preparada para o banho, também se vê – e
reconhece-se perfeitamente – o Zé Maria, pronto para exercer as suas
funções.
E o Dr. Mário Duarte (Filho), que para as
pessoas da minha idade e, até, para outras um pouco mais novas, foi e
será o «Mariozinho», teve a gentileza de me mandar as fotografias a que
acima me refiro, pelo facto de eu ter evocado o nome do banheiro Zé
Maria; e diz: Recordar é viver!
Na outra, também tirada em 1913, vê-se o «Mariozinho»
e o seu irmão Carlos Júlio (de quem fui amigo), no largo do Farol, a
jogar à bola que, com um «chuto», foi bater na parede.
E, na sua carta, incita-me a continuar,
pois, textualmente, diz o seguinte: «…a leitura dessas evocações, que me
transportam com saudade a essa região de Aveiro, onde tive o privilégio
de nascer numa noite de Natal!»
Eu podia relembrar ao «Mariozinho» aqueles
desafios de «foot-ball» jogados no largo do Farol entre os veraneantes
da Barra e os alunos do Asilo-Escola, para quem aqueles compravam
sapatilhas para jogarem, visto que, na praia, todos andavam descalços;
e, então, relembrar-lhe-ia o Joaquim Gavião, que tinha o dedo grande do
pé direito defeituoso (até parecia uma marreta) e que, quando as coisas,
no jogo, começavam a correr mal para o seu grupo, descalçava-se e dava
canelada bravia nos meninos de fora (era assim que nós tratávamos os
veraneantes), deixando-lhes as pernas a arder.
Quando tal acontecia, o jogo parava, e
obrigavam o Gavião a calçar-se, pois ele, assim, era menos violento e
perigoso.
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Tem razão, «Mariozinho»: Recordar é viver, e
eu continuarei, enquanto puder, a escrever coisas… |