A festa da Senhora da Alumieira realiza-se
na Segunda-feira de Pascoela, naquela localidade, que fica, como todos
sabem, a seguir a Mataduços.
Os romeiros – não seria melhor chamar-lhes
foliões? – a meio da tarde, em grupos de familiares e de amigos,
transportando cestos e garrafões, punham os pés a caminho e, pelo Cais
de S. Roque, seguiam pela linha do ramal do Vale do Vouga, em direcção à
Mina; daqui passavam pela ponte do caminho de ferro da C.P. ou desciam
por uma rampa que fica ao lado daquela ponte, atravessavam para o lado
de lá da Ribeira de Esgueira e iam abancar nos terrenos de Mataduços,
nos pinhais sobranceiros à linha da C.P.; se, por ventura, os cestos do
farnel pesavam muito, ou havia dificuldade de caminhar por do grupo
fazerem parte crianças ou pessoas idosas, ou, ainda, se o grupo tinha
saído de casa com grande atraso, ficava-se mesmo pela Mina,
principalmente, à sombra do belo eucaliptal que lá existia, e do qual
muitos terão boas recordações pelos bons bocados que por lá passaram…
E que lindo era o pôr-do-sol, visto daquele
local!...
Outros romeiros seguiam pela estrada de
Esgueira e quedavam-se pela fonte e tanques do Olho-de-Água e pelos
terrenos adjacentes.
Eram comida quase obrigatória, neste dia e
nesta tarde, os chicharros de par – que também eram conhecidos por «companheiros da alegria»
– cozidos com favas e batatas novas, cozinhado
que havia sido acabado de fazer na precisa altura da saída de casa,
sendo as panelas e os tachos embrulhados com jornais
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para a comida não arrefecer... E, normalmente, não faltavam no farnel os
bolos de bacalhau e um tacho de arroz, pois o farnel era não só para a
merenda, como também para servir de jantar.
Não faltava também – pois não podia faltar!
–, o folar da Páscoa e uns bolos caseiros que, com a melhor pinga que
cada um conseguia obter, regalavam não só os do grupo, como, também, os
amigos dos grupos vizinhos, com quem se trocavam esses acepipes.
E pelo costume de se acampar em lugar mais
ou menos certo, já se sabia quem os levava de categoria, e aonde se
devia fazer a prova.
Se havia que fazer promessa àquela Santa, os
romeiros que tinham tal devoção, saíam muito mais cedo de casa, de forma
a chegarem a Alumieira muito antes de sair a procissão, pois, na altura
em que começavam os preparativos para isso, já era difícil transitar
entre a passagem de nível de Mataduços e a capela da Nossa Senhora da
Alumieira.
Dentro dela, e no largo, a multidão era
grande e não permitia que se cumprissem, com devoção, as promessas
feitas àquela Santa.
O regresso à cidade fazia-se pela estrada,
muito à noitinha, e quando as luzes públicas já estavam acesas.
O caminho demorava mais tempo a percorrer do
que na ida, pois fazia-se em ranchos, com cantigas e brincadeiras, sendo
certo que muitos dos foliões já vinham muito bem compostos e em
condições de se deitarem logo que chegassem a casa.
Os tempos mudaram-se e as pessoas mudaram
também.
Aveiro passou a ser uma cidade cosmopolita,
em que há muita gente que nós não conhecemos, nem sabemos donde é, o que
alterou os nossos usos e costumes; e até os automóveis e camionetas e as
malditas das motorizadas tiraram à romaria da Senhora da Alumieira a
alegria sã e familiar que então se gozava.
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