Vamos, então, explicar o que era a sesta.
Chamava-se sesta ao período de descanso que, no Verão, os trabalhadores
faziam entre o meio-dia e as duas horas, descanso que eles aproveitavam
para jantar e para uma soneca.
Na verdade, nesse tempo, não havia horário
de trabalho: trabalhava-se de sol a sol.
O serviço principiava logo que a luz do dia
o permitia e acabava quando o Sol desaparecia no horizonte.
Ora, no Verão, eram muitas as horas de
trabalho; havia, pois, necessidade daquele período de repouso, não só
para que os trabalhadores se refizessem do esforço dispendido, como, e
principalmente, para fugir ao calor.
Também, a meio da tarde, havia um período de
meia hora para descanso e comer uma bucha: era a merenda.
Este regime de sesta e merenda iniciava-se
no Domingo da Pascoela, para acabar por Setembro ou Outubro.
Ainda nos meus tempos de rapaz se dizia que
os alfaiates não tinham direito à sesta por a terem trocado por uma
tigela de papas…
Expliquemos, agora essa coisa dos compadres
e comadres.
No dia da Procissão das Cinzas, os rapazes
ofereciam às raparigas das suas relações e amizade um cartucho de figos
passados, também conhecidos por figos de ceira, que eram vendidos em
bancas ambulantes estabelecidas ao longo das ruas aonde passava a
Procissão.
Estes figos, metidos em ceiras de esparto,
vinham directamente do Algarve, consignados ao maior comerciante desse
e doutros artigos algarvios nas nossas redondezas, o José Maria Buxo,
com armazém no antigo Largo de S. Brás, e eram transportados em caíques
que descarregavam no cais em frente daquele armazém.
Não só a rapaziada cumpria aquela praxe,
como, também, os próprios chefes de família não estavam dispensados de
levar para casa os figos, para oferecer a toda a família, salvo se já o
tinham feito durante a Procissão, se a ela assistiram na companhia da
esposa.
Poucos dias antes da Procissão dos Passos,
as raparigas elegiam entre si os compadres de cada uma e a quem, no dia
daquela procissão, ofereciam os figos, para que eles tomassem
conhecimento dessa eleição. Desta oferta resultava, implicitamente, a
obrigação dos compadres, em Quinta-Feira Santa, e aquando da visita
nocturna às igrejas, oferecerem as amêndoas numa caixinha
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de madeira (quanto maior era o interesse pela comadre, tanto mais
luxuosa era essa caixinha) que lhes viria a servir, não só para os seus
objectos de costura, como, também, para guardar as prendas e as cartas
de namoro.
Era, nessa ocasião, que as raparigas
convidavam os compadres a irem à Senhora do Álamo com a família – se
esta já tinha concordado com isso – ou com as colegas – se a família não
estava de acordo com isso – ou com os colegas – se a família não estava
de acordo em dar, desde já, a confiança de que aceitaria o rapaz para
namoro da filha, pois, normalmente, esta troca de ofertas e convites
fazia-se entre namorados ou pretendentes a isso.
Certo é, também, que entre os amigos íntimos
da família, havia os compadres e as comadres.
Com o andar dos tempos, esta romaria, e até
estes costumes, caíram em desuso, passando a ter maior popularidade a
festa da Senhora da Alumieira.
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