Achegas para a Historiografia Aveirense - 1988

A Sesta

Vamos, então, explicar o que era a sesta. Chamava-se sesta ao período de descanso que, no Verão, os trabalhadores faziam entre o meio-dia e as duas horas, descanso que eles aproveitavam para jantar e para uma soneca.

Na verdade, nesse tempo, não havia horário de trabalho: trabalhava-se de sol a sol.

O serviço principiava logo que a luz do dia o permitia e acabava quando o Sol desaparecia no horizonte.

Ora, no Verão, eram muitas as horas de trabalho; havia, pois, necessidade daquele período de repouso, não só para que os trabalhadores se refizessem do esforço dispendido, como, e principalmente, para fugir ao calor.

Também, a meio da tarde, havia um período de meia hora para descanso e comer uma bucha: era a merenda.

Este regime de sesta e merenda iniciava-se no Domingo da Pascoela, para acabar por Setembro ou Outubro.

Ainda nos meus tempos de rapaz se dizia que os alfaiates não tinham direito à sesta por a terem trocado por uma tigela de papas…

Expliquemos, agora essa coisa dos compadres e comadres.

No dia da Procissão das Cinzas, os rapazes ofereciam às raparigas das suas relações e amizade um cartucho de figos passados, também conhecidos por figos de ceira, que eram vendidos em bancas ambulantes estabelecidas ao longo das ruas aonde passava a Procissão.

Estes figos, metidos em ceiras de esparto, vinham directamente do Algarve, consignados ao maior comerciante desse e doutros artigos algarvios nas nossas redondezas, o José Maria Buxo, com armazém no antigo Largo de S. Brás, e eram transportados em caíques que descarregavam no cais em frente daquele armazém.

Não só a rapaziada cumpria aquela praxe, como, também, os próprios chefes de família não estavam dispensados de levar para casa os figos, para oferecer a toda a família, salvo se já o tinham feito durante a Procissão, se a ela assistiram na companhia da esposa.

Poucos dias antes da Procissão dos Passos, as raparigas elegiam entre si os compadres de cada uma e a quem, no dia daquela procissão, ofereciam os figos, para que eles tomassem conhecimento dessa eleição. Desta oferta resultava, implicitamente, a obrigação dos compadres, em Quinta-Feira Santa, e aquando da visita nocturna às igrejas, oferecerem as amêndoas numa caixinha / 28 / de madeira (quanto maior era o interesse pela comadre, tanto mais luxuosa era essa caixinha) que lhes viria a servir, não só para os seus objectos de costura, como, também, para guardar as prendas e as cartas de namoro.

Era, nessa ocasião, que as raparigas convidavam os compadres a irem à Senhora do Álamo com a família – se esta já tinha concordado com isso – ou com as colegas – se a família não estava de acordo com isso – ou com os colegas – se a família não estava de acordo em dar, desde já, a confiança de que aceitaria o rapaz para namoro da filha, pois, normalmente, esta troca de ofertas e convites fazia-se entre namorados ou pretendentes a isso.

Certo é, também, que entre os amigos íntimos da família, havia os compadres e as comadres.

Com o andar dos tempos, esta romaria, e até estes costumes, caíram em desuso, passando a ter maior popularidade a festa da Senhora da Alumieira.

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