Foi em Abril de 1927 que eu escrevi para um
jornal que, então, se publicava em Angeja, e sob o título «COISAS DA
MINHA TERRA – A SENHORA DO ÁLAMO», o seguinte artigo:
«É a Senhora do Álamo a advogada das
parturientes: é a ela que recorrem as mulheres que se vêem atrapalhadas
ao aproximar-se a ocasião de serem mães.
Não é dos seus milagres que vou falar, mas
sim da romaria que se realiza no Domingo de Pascoela, na sua capelita
junto à passagem de nível de Esgueira.
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Essa romaria é pretexto para a realização de
merendolas, e justifica, também, o convite que as raparigas fazem aos
seus compadres para irem comer, juntos, o folar da Páscoa.
Espalhados ao longo da linha do
caminho-de-ferro, e, também, pelos pinhais que orlam Esgueira, e, bem
assim, acampados na Alameda 31 de Janeiro, descortinam-se muitos e
vários grupos comendo petiscos de todas as qualidades, uns melhores do
que outros (conforme as possibilidades financeiras de cada família), mas
não faltando, em nenhum, o folar da Páscoa.
É no dia da festa da Senhora do Álamo que as
comadres pagam aos compadres, com o folar, as amêndoas que estes lhes
deram em Quinta-Feira Santa.
Antigamente, esta festa era de grande
regozijo para os operários, porque marcava o início da época das sestas.
É simples a festa: uma música manhosa ou «um
terno» de alguma das bandas da cidade é o suficiente para fazer a
função, pois, para pagar a melhor música não dão os réditos da capela, e
as esmolas são poucas; e nem os forasteiros por ela se interessam, pois
que, depois de cada um haver cumprido as suas promessas, afastam-se para
longe à procura de locais onde exista frescura e abrigo, com o fim de
assentarem arraiais onde comam o farnel à sua vontade, e na melhor das
harmonias.
Os rapazes solteiros – os sem família e sem
comadre – se passaram pela festa ou se se deslocaram até aos pinhais,
foram, certamente, convidados a juntarem-se a um dos grupos de pessoas
conhecidas e amigas, pois o farnel que cada um deles leva chega
perfeitamente para mais um hóspede, para mais um amigo.
Reina a boa disposição neste dia, e nesta
festa; todos cantam, dançam ou conversam, sem se lembrarem das desgraças
e das misérias da Sociedade, ou dos problemas que a afligem.
É lindo o retirar para a cidade, à noitinha:
os pais deixam as filhas mais à vontade para que estas possam, por todo
o caminho, e sossegadamente, conversar com os namorados, e construir
castelos aéreos, e sonhar ilusões e formular projectos para o futuro.
É dia de alegria, é dia de família e é dia
de namorados e da festa da Senhora do Álamo: as crianças apetecem-no; os
pais desejam-no; e os namorados anseiam-no».
Isto escrevi eu, como digo no início, em
1927.
Então, não necessitava de dar qualquer
explicação para tudo ser compreendido; porém, à gente nova, tenho de
explicar, pelo menos, o que eram as sestas e os compadres.
É isso que farei no próximo capítulo.
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