Achegas para a Historiografia Aveirense - 1988

Festa da Senhora do Álamo

Foi em Abril de 1927 que eu escrevi para um jornal que, então, se publicava em Angeja, e sob o título «COISAS DA MINHA TERRA – A SENHORA DO ÁLAMO», o seguinte artigo:

«É a Senhora do Álamo a advogada das parturientes: é a ela que recorrem as mulheres que se vêem atrapalhadas ao aproximar-se a ocasião de serem mães.

Não é dos seus milagres que vou falar, mas sim da romaria que se realiza no Domingo de Pascoela, na sua capelita junto à passagem de nível de Esgueira. / 26 /

Essa romaria é pretexto para a realização de merendolas, e justifica, também, o convite que as raparigas fazem aos seus compadres para irem comer, juntos, o folar da Páscoa.

Espalhados ao longo da linha do caminho-de-ferro, e, também, pelos pinhais que orlam Esgueira, e, bem assim, acampados na Alameda 31 de Janeiro, descortinam-se muitos e vários grupos comendo petiscos de todas as qualidades, uns melhores do que outros (conforme as possibilidades financeiras de cada família), mas não faltando, em nenhum, o folar da Páscoa.

É no dia da festa da Senhora do Álamo que as comadres pagam aos compadres, com o folar, as amêndoas que estes lhes deram em Quinta-Feira Santa.

Antigamente, esta festa era de grande regozijo para os operários, porque marcava o início da época das sestas.

É simples a festa: uma música manhosa ou «um terno» de alguma das bandas da cidade é o suficiente para fazer a função, pois, para pagar a melhor música não dão os réditos da capela, e as esmolas são poucas; e nem os forasteiros por ela se interessam, pois que, depois de cada um haver cumprido as suas promessas, afastam-se para longe à procura de locais onde exista frescura e abrigo, com o fim de assentarem arraiais onde comam o farnel à sua vontade, e na melhor das harmonias.

Os rapazes solteiros – os sem família e sem comadre – se passaram pela festa ou se se deslocaram até aos pinhais, foram, certamente, convidados a juntarem-se a um dos grupos de pessoas conhecidas e amigas, pois o farnel que cada um deles leva chega perfeitamente para mais um hóspede, para mais um amigo.

Reina a boa disposição neste dia, e nesta festa; todos cantam, dançam ou conversam, sem se lembrarem das desgraças e das misérias da Sociedade, ou dos problemas que a afligem.

É lindo o retirar para a cidade, à noitinha: os pais deixam as filhas mais à vontade para que estas possam, por todo o caminho, e sossegadamente, conversar com os namorados, e construir castelos aéreos, e sonhar ilusões e formular projectos para o futuro.

É dia de alegria, é dia de família e é dia de namorados e da festa da Senhora do Álamo: as crianças apetecem-no; os pais desejam-no; e os namorados anseiam-no».

Isto escrevi eu, como digo no início, em 1927.

Então, não necessitava de dar qualquer explicação para tudo ser compreendido; porém, à gente nova, tenho de explicar, pelo menos, o que eram as sestas e os compadres.

É isso que farei no próximo capítulo.

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