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Associação Humanitária
dos Bombeiros Voluntários
(Bombeiros Velhos)
Nos
tempos idos, poucas vezes Aveiro sentiu a tragédia do fogo, o terror dos
grandes incêndios. Podem contar-se: em 1628, no Paiol, na antiga Capela
de S. João no Rossio, havendo mortes: em 1712, na sacristia do Convento
de Santo António; em Outubro de 1843, no Convento de N. S. da
Misericórdia; em 20 de Julho de 1864, no antigo Palácio dos Tavares,
senhores de Mira, construído em 1500, que fora o Paço dos prelados do
Bispado de Aveiro, na rua dos Tavares, e onde, desde 1849, se achavam
instaladas as repartições do Governo Civil; e em 19 de Novembro de 1865,
na estação do caminho de ferro, inaugurada no ano anterior.
Talvez
por isso mesmo, por essa feliz raridade, apenas em meados do século
passado apareceram aqui os primeiros apetrechos para combater o fogo,
rudimentares, pequenas bombas braçais de escasso rendimento, propriedade
municipal – no momento próprio postas à disposição do público que,
generosa e voluntariamente acorresse ao local do sinistro.
Em 1871,
na noite de S. João, um pavoroso incêndio deflagrou, destruindo
completamente um dos melhores edifícios de Aveiro, o Palácio dos
Viscondes de AImeidinha.
Este
impressionante incêndio ficou, por muito tempo, na lembrança da gente de
Aveiro, e ainda a sua trágica recordação se não havia desvanecido
quando, na madrugada do dia 12 de Janeiro de 1882, um novo e gravíssimo
sinistro – então no Convento da Sé – alarmou a cidade, a ponto do
Presidente da Câmara Municipal, Manuel Firmino de Almeida Maia,
em sessão nesse dia efectuada, e atentas as precárias circunstâncias em
que o Município se encontrava em relação ao material de extinção de
fogo, que possuía, que não satisfazia as necessidades, propor a
aquisição urgente de «uma bomba nas condições precisas para bem
servir, e também dos mais aprestes que são indispensáveis em casos tais,
como escadas de salvação, etc., tudo finalmente, o que a ciência
aconselha no que respeita ao serviço de extinção de incêndios». Esta
proposta foi aplaudida, com entusiasmo, por toda a Câmara, que sugeriu
ainda a urgente formação de um «corpo de bombeiros voluntários, capaz de
desempenhar-se satisfatoriamente do encargo que tão nobre e elevada
missão impõe».
Assim,
nasceu, naquele dia, a primeira corporação de bombeiros de Aveiro.
Tomou, de início, o nome de Companhia de Bombeiros Voluntários, para
mais tarde se designar por Associação Humanitária dos Bombeiros
Voluntários de Aveiro.Um mês depois, exactamente, em 28 de Dezembro, com
a aprovação oficial dos Estatutos, ficou a Companhia legalmente
constituída e, no dia imediato, pelas 11 horas, na «casa que serve de
estação de bombas e máchinas» com a presença do Presidente da
Câmara, Manuel Firmino de Almeida Maia, procedeu-se à entrega do
material de incêndios que a Câmara possuía. (Cabe referir aqui que foi
com a Câmara de Dr. Bento Rodrigues Xavier de Magalhães que, em
1858, vieram para Aveiro as duas primeiras bombas de incêndio).
Começou,
então, numa fase de preparação intensa levada a cabo com indescritível
entusiasmo. O público chamado a colaborar nesta obra de interesse
colectivo animou, com a sua presença, o «Grande Bazar», levado a efeito,
no Jardim Público, em 3 de Maio de 1884, por iniciativa de Duarte
Ferreira Pinto Basto Júnior, Carlos Faria e Melo, António
Ferreira de Araújo e Silva, João Augusto Marques Gomes e
Francisco Vitorino Barbosa de Magalhães.
As
filarmónicas Amizade, Aveirense e da Vista Alegre participaram
graciosamente, o Montepio emprestou os seus pavilhões e a população
contribuiu com prendas para essa festa, que rendeu a importante quantia
de 361$220 réis.
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