Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

Associação Humanitária

dos Bombeiros Voluntários

(Bombeiros Velhos)

Nos tempos idos, poucas vezes Aveiro sentiu a tragédia do fogo, o terror dos grandes incêndios. Podem contar-se: em 1628, no Paiol, na antiga Capela de S. João no Rossio, havendo mortes: em 1712, na sacristia do Convento de Santo António; em Outubro de 1843, no Convento de N. S. da Misericórdia; em 20 de Julho de 1864, no antigo Palácio dos Tavares, senhores de Mira, construído em 1500, que fora o Paço dos prelados do Bispado de Aveiro, na rua dos Tavares, e onde, desde 1849, se achavam instaladas as repartições do Governo Civil; e em 19 de Novembro de 1865, na estação do caminho de ferro, inaugurada no ano anterior.

Talvez por isso mesmo, por essa feliz raridade, apenas em meados do século passado apareceram aqui os primeiros apetrechos para combater o fogo, rudimentares, pequenas bombas braçais de escasso rendimento, propriedade municipal – no momento próprio postas à disposição do público que, generosa e voluntariamente acorresse ao local do sinistro.

Em 1871, na noite de S. João, um pavoroso incêndio deflagrou, destruindo completamente um dos melhores edifícios de Aveiro, o Palácio dos Viscondes de AImeidinha.

Este impressionante incêndio ficou, por muito tempo, na lembrança da gente de Aveiro, e ainda a sua trágica recordação se não havia desvanecido quando, na madrugada do dia 12 de Janeiro de 1882, um novo e gravíssimo sinistro – então no Convento da Sé – alarmou a cidade, a ponto do Presidente da Câmara Municipal, Manuel Firmino de Almeida Maia, em sessão nesse dia efectuada, e atentas as precárias circunstâncias em que o Município se encontrava em relação ao material de extinção de fogo, que possuía, que não satisfazia as necessidades, propor a aquisição urgente de «uma bomba nas condições precisas para bem servir, e também dos mais aprestes que são indispensáveis em casos tais, como escadas de salvação, etc., tudo finalmente, o que a ciência aconselha no que respeita ao serviço de extinção de incêndios». Esta proposta foi aplaudida, com entusiasmo, por toda a Câmara, que sugeriu ainda a urgente formação de um «corpo de bombeiros voluntários, capaz de desempenhar-se satisfatoriamente do encargo que tão nobre e elevada missão impõe».

Assim, nasceu, naquele dia, a primeira corporação de bombeiros de Aveiro. Tomou, de início, o nome de Companhia de Bombeiros Voluntários, para mais tarde se designar por Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro.Um mês depois, exactamente, em 28 de Dezembro, com a aprovação oficial dos Estatutos, ficou a Companhia legalmente constituída e, no dia imediato, pelas 11 horas, na «casa que serve de estação de bombas e máchinas» com a presença do Presidente da Câmara, Manuel Firmino de Almeida Maia, procedeu-se à entrega do material de incêndios que a Câmara possuía. (Cabe referir aqui que foi com a Câmara de Dr. Bento Rodrigues Xavier de Magalhães que, em 1858, vieram para Aveiro as duas primeiras bombas de incêndio).

Começou, então, numa fase de preparação intensa levada a cabo com indescritível entusiasmo. O público chamado a colaborar nesta obra de interesse colectivo animou, com a sua presença, o «Grande Bazar», levado a efeito, no Jardim Público, em 3 de Maio de 1884, por iniciativa de Duarte Ferreira Pinto Basto Júnior, Carlos Faria e Melo, António Ferreira de Araújo e Silva, João Augusto Marques Gomes e Francisco Vitorino Barbosa de Magalhães.

As filarmónicas Amizade, Aveirense e da Vista Alegre participaram graciosamente, o Montepio emprestou os seus pavilhões e a população contribuiu com prendas para essa festa, que rendeu a importante quantia de 361$220 réis.

 

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