Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

 

Brites e D. Mécia aceitaram jubilosamente o conselho do padre João de Guimarães e logo requereram licença do Papa Pio II / 37 /  (1458-1464) para fundarem o convento e também ao Rei D. Afonso V, ao Bispo de Coimbra D. João Galvão (1460-1461), ao mestre da Ordem, ao Capítulo Geral; e à clerezia da vila de Aveiro.

Encarregou-se o padre João de Guimarães de obter estas licenças, que foram conseguidas à custa de muito dinheiro e com imensas dificuldades, especialmente a de Roma e a da clerezia de Aveiro.

Com efeito, nenhum convento de religiosos ou religiosas mendicantes podia então ser erigido sem licença especial da Santa Fé, e a clerezia de Aveiro opunha-se tenazmente à fundação do convento requerido, alegando seus direitos e que as ofertas à Igreja Paroquial haviam de minguar.

Enfim, todas as dificuldades foram vencidas, e no dia 16 de Maio de 1461, o Papa Pio II deu em Roma a licença e letra para que D. Brites Leitão e D. Mécia Pereira pudessem edificar o Convento de Jesus e nele vivessem seis religiosas da Ordem de São Domingos.

Obras de renovação e alargamento das edificações e de benefício dos interiores acrescentaram – ao longo dos séculos – o seu recheio artístico, mais acentuadamente nos reinados de D. Pedro II e D. João V, quando o barroco ali deixou significativos conjuntos, vindo a meado de setecentos a culminar na majestosa fachada.

Embora extinta a clausura em 2 de Março de 1874, logo três anos após, a igreja e o património artístico inerente foram entregues à Real Irmandade da Santa Joana Princesa, enquanto as dependências conventuais serviam ao Colégio que dominicanas ali mantiveram desde 1884 até 1910, sob invocação «de Santa Joana» (Real Colégio de Santa Joana).

Entretanto, a consciência e progressiva urbe de Aveiro, nos mesmos anos de 1882 e de 1895 em que se efectuaram em Lisboa (no Museu Nacional de Belas Artes, às Janelas Verdes) as Exposições retrospectivas de Arte Ornamental, soube emparceirar em opulentas Exposições distritais – a de 1895 nesta «casa de Santa Joana Princesa» – animadas e organizadas pelo notável aveirógrafo que veio a fazer o Museu, João Augusto Marques Gomes.

O Museu de Aveiro

Considerados monumentos nacionais pelo decreto de 16 de Junho de 1910, tanto a Igreja de Jesus como a cela de Santa Joana foram entregues, em 11 de Julho de 1911, à Câmara Municipal de Aveiro, com os anexos conventuais. Após a instituição do Museu Nacional de Arte Antiga no Palácio das Janelas Verdes, em Maio anterior, simultânea com a criação do Museu Nacional de Arte Contemporânea, singular portaria de 23 de Agosto criou o Museu de Aveiro, a precisar que «a parte do convento de Jesus, contígua ao claustro e à igreja, a qual já foi declarada monumento nacional, será destinada a um museu regional de arte antiga e moderna.»

Recolhendo muitos objectos de extintas casas religiosas aveirenses e olissiponenses, organizou-o com zelo e proficiência Marques Gomes, a quem se devem notícias e elencos vários das colecções, e sob cuja direcção veio o estabelecimento a ser integrado, em 7 de Julho de 1912, na Repartição de Instrução Artística, da Secretaria de Estado da Instrução Pública, dentro da Circunscrição de Arte e Arqueologia de Coimbra (onde superintendia Mestre António Augusto Gonçalves).

Além dos recintos conventuais – Igreja de Jesus e várias capelas e outros armados – os numerosos altares, retábulos, nichos, maquinetas, órgãos, paredes, revestidas de talha ornamentadas por milhares de azulejos (com painéis de combinações geométricas ou figurados), três túmulos vultosos, esculturas e altos e baixos-relevos fixados, pinturas, artefactos ou dos próprios do antigo cenóbio ou provindo das igrejas e casas religiosas da cidade e região aveirense, apeados por força da urbanização oitocentista local, ou os incorporados de extintos templos olisiponenses, atingem os dois milhares de peças móveis ora expostas.

O túmulo de Santa Joana, arca opulenta de mármores polícromos com escultóricos elementos, ao gosto italiano tal como a decoração envolvente parietal, ainda com talha e azulejo; a estátua de tipo arcaico conhecido localmente por Menino-Jardim; Retrato da Princesa – Infanta D. Joana, do terceiro quartel do séc. XV; são algumas das inúmeras peças existentes, e que por si só são autênticas maravilhas, dignas de registo, tanto, pelo seu valor artístico como, didáctico.

O Museu de Aveiro é, indubitavelmente, um dos estabelecimentos mais ricos e mais variados, em Portugal.


Túmulo de Santa Joana-Princesa (Museu)

Página anterior - Previous Índice geral - Index Página seguinte - Next 37