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Brites e
D. Mécia aceitaram jubilosamente o conselho do padre João de Guimarães e
logo requereram licença do Papa Pio II / 37 /
(1458-1464) para fundarem o convento e também ao Rei D. Afonso V, ao
Bispo de Coimbra D. João Galvão (1460-1461), ao mestre da Ordem, ao
Capítulo Geral; e à clerezia da vila de Aveiro.
Encarregou-se o padre João de Guimarães de obter estas licenças,
que foram conseguidas à custa de muito dinheiro e com imensas
dificuldades, especialmente a de Roma e a da clerezia de Aveiro.
Com
efeito, nenhum convento de religiosos ou religiosas mendicantes podia
então ser erigido sem licença especial da Santa Fé, e a clerezia de
Aveiro opunha-se tenazmente à fundação do convento requerido, alegando
seus direitos e que as ofertas à Igreja Paroquial haviam de minguar.
Enfim,
todas as dificuldades foram vencidas, e no dia 16 de Maio de 1461, o
Papa Pio II deu em Roma a licença e letra para que D. Brites Leitão e D.
Mécia Pereira pudessem edificar o Convento de Jesus e nele vivessem seis
religiosas da Ordem de São Domingos.
Obras de
renovação e alargamento das edificações e de benefício dos interiores
acrescentaram – ao longo dos séculos – o seu recheio artístico, mais
acentuadamente nos reinados de D. Pedro II e D. João V, quando o barroco
ali deixou significativos conjuntos, vindo a meado de setecentos a
culminar na majestosa fachada.
Embora
extinta a clausura em 2 de Março de 1874, logo três anos após, a igreja
e o património artístico inerente foram entregues à Real Irmandade da
Santa Joana Princesa, enquanto as dependências conventuais serviam ao
Colégio que dominicanas ali mantiveram desde 1884 até 1910, sob
invocação «de Santa Joana» (Real Colégio de Santa Joana).
Entretanto, a consciência e progressiva urbe de Aveiro, nos mesmos anos
de 1882 e de 1895 em que se efectuaram em Lisboa (no Museu Nacional de
Belas Artes, às Janelas Verdes) as Exposições retrospectivas de Arte
Ornamental, soube emparceirar em opulentas Exposições distritais – a de
1895 nesta «casa de Santa Joana Princesa» – animadas e organizadas pelo
notável aveirógrafo que veio a fazer o Museu, João Augusto Marques
Gomes.
O Museu
de Aveiro
Considerados monumentos nacionais pelo decreto de 16 de Junho de 1910,
tanto a Igreja de Jesus como a cela de Santa Joana foram entregues, em
11 de Julho de 1911, à Câmara Municipal de Aveiro, com os anexos
conventuais. Após a instituição do Museu Nacional de Arte Antiga no
Palácio das Janelas Verdes, em Maio anterior, simultânea com a criação
do Museu Nacional de Arte Contemporânea, singular portaria de 23 de
Agosto criou o Museu de Aveiro, a precisar que «a parte do convento
de Jesus, contígua ao claustro e à igreja, a qual já foi declarada
monumento nacional, será destinada a um museu regional de arte antiga e
moderna.»
Recolhendo muitos objectos de extintas casas religiosas aveirenses e
olissiponenses, organizou-o com zelo e proficiência Marques Gomes, a
quem se devem notícias e elencos vários das colecções, e sob cuja
direcção veio o estabelecimento a ser integrado, em 7 de Julho de 1912,
na Repartição de Instrução Artística, da Secretaria de Estado da
Instrução Pública, dentro da Circunscrição de Arte e Arqueologia de
Coimbra (onde superintendia Mestre António Augusto Gonçalves).
Além dos
recintos conventuais – Igreja de Jesus e várias capelas e outros armados
– os numerosos altares, retábulos, nichos, maquinetas, órgãos, paredes,
revestidas de talha ornamentadas por milhares de azulejos (com painéis
de combinações geométricas ou figurados),
três
túmulos vultosos, esculturas e altos e baixos-relevos fixados, pinturas,
artefactos ou dos próprios do antigo cenóbio ou provindo das igrejas e
casas religiosas da cidade e região aveirense, apeados por força da
urbanização oitocentista local, ou os incorporados de extintos templos
olisiponenses, atingem os dois milhares de peças móveis ora expostas.
O túmulo
de Santa Joana, arca opulenta de mármores polícromos com escultóricos
elementos, ao gosto italiano tal como a decoração envolvente parietal,
ainda com talha e azulejo; a estátua de tipo arcaico conhecido
localmente por Menino-Jardim; Retrato da Princesa – Infanta D. Joana, do
terceiro quartel do séc. XV; são algumas das inúmeras peças existentes,
e que por si só são autênticas maravilhas, dignas de registo, tanto,
pelo seu valor artístico como, didáctico.
O Museu
de Aveiro é, indubitavelmente, um dos estabelecimentos mais ricos e mais
variados, em Portugal.
Túmulo de Santa Joana-Princesa (Museu) ► |