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D. Brites e suas filhas nestas casas
e moradas se encerraram e isolaram do mundo, passando D. Brites a viver
em oração e / 35 / penitência, e em muito áspera e
santa vida. Tomou então em sua companhia uma donzela órfã, chamada
Gracia Álvares, filha de um honrado escudeiro.
Pouco depois admitiu também junto de
si uma menina de nove anos chamada Isabel Luís.
Com estas obras, D. Brites Leitão
tinha criado o gérmen do futuro Convento de Jesus, de freiras
dominicanas, de Aveiro.
A segunda pessoa a contribuir para a
prosperidade que o Convento de Jesus em Aveiro atingiu foi D. Mécia
Pereira, filha de Fernão Pereira, senhor do Castelo da Feira (1448) e
terceiro senhor das Terras de Santa Maria, casada em 1456 com Martim
Mendes de Berredo, grande Cavaleiro e nobre fidalgo da Casa do Rei
D. Afonso V.
Poucos dias após o seu casamento,
Martim Mendes de Berredo, por ordem de D. Afonso V, partiu para França
como embaixador e ali faleceu, no mês de Novembro de 1458. Antes de
partir tinha feito testamento, e por ele herdou sua mulher toda a
fortuna que a ambos pertencia, avaliada em mais de um milhão de reis.
Ficou D. Mécia Pereira viúva e sem
filhos, ainda muito nova, formosa e rica. E não obstante instâncias do
Rei e da família a fim de que voltasse a casar, a viúva de Martim Mendes
de Berredo foi viver em Aveiro com D. Brites Leitão, a ambas cabendo a
glória de terem sido as fundadoras do Convento de Jesus, em Aveiro.
A tal propósito diz Ferreira das
Neves, que as duas Senhoras mantendo firme a ideia de fundarem um
convento onde se pudessem dedicar a Deus, e «no qual pudessem agasalhar
as de sua linhagem e as orfãs desamparadas que a Deus quisessem servir e
salvar suas almas, pediram conselho sobre este assunto a frei João de
Guimarães, prior do vizinho convento e seu confessor que Ihes disse que
o melhor seria viverem em Religião e Ordem, e para isso deviam elas
fundar um Convento da Ordem de S. Domingos e da invocação de Jesus no
local onde já moravam, ao pé do Convento dos Dominicanos.» ... (Cont.
na pág. seguinte)
QUEM FOI
SANTA JOANA – PRINCESA
Filha de
D. Afonso V e da Rainha D. Isabel, nasceu em Lisboa a 6 de Fevereiro de
1452 e morreu em Aveiro a 12 de Maio de 1490. Confirmou-lhe o culto o
Papa Inocêncio XII, por bula de 4 de Abril de 1693; festa litúrgica em
Portugal a 12 de Maio.
Foi
jurada princesa e herdeira do trono ainda no berço e confiada aos
cuidados de D. Beatriz de Meneses, em virtude de sua mãe ter
morrido quando contava, apenas 3 anos de idade.
Dos 13
para os 14 anos foi pedida em casamento por Luís XI de França para seu
irmão Carlos, Duque de Orleans. A proposta foi bem recebida por D.
Afonso V, mas a princesa fê-lo mudar de parecer, alegando que era ainda
muito nova e que, no caso de falecer seu irmão, o príncipe D. João,
poderia a coroa passar a estrangeiros.
Vivendo
embora na corte, D. Joana entregava-se principalmente a orações,
penitências e obras de caridade, havendo escolhido por divisa uma coroa
de espinhos, que mandou pintar e gravar nos objectos de seu uso.
Entrou no
Convento de Jesus, em Aveiro, em 5 de Agosto e recebeu o hábito de
noviça, das mãos da prioreza D. Brites Leitão, em 25 de Janeiro de 1475.
Falecendo
D. Afonso V (28 de Agosto de 1481), D. João II encarregou a irmã da
educação de D. Jorge de Lencastre, que veio a ser o fundador da
Casa de Aveiro.
Em 1485,
D. Joana deixa o convento pela terceira vez, por causa de uma nova
epidemia. E depois de ter regressado a Aveiro, adoeceu gravemente em
fins de Dezembro de 1489, tendo falecido em 12 de Maio do ano seguinte.
Os seus
restos mortais repousam no coro baixo da igreja do depois conhecido
Convento de Santa Joana-Princesa, extinto Convento de Jesus (hoje o
Museu), em magnífico túmulo, mandado construir por D. Pedro II e
confiado (1711) ao arquitecto João Antunes.
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