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Em seguida, entregou sua filha mais
nova, Maria de Ataíde, a D. Maria de Meneses, abadessa do Mosteiro da
Santa Clara, de Vila do Conde, e tia desta menina, para
/ 33 / que depois de ali criada, lhe lançasse o hábito e a
fizesse freira da Santa Clara, a cuja ordem pertencia o dito mosteiro.
Em Ouca continuava D. Brites Leitão a
recear «os laços do inimigo, e perigos do mundo e línguas dos
maldizentes, e muito mais os requerimentos e constrangimentos dos seus
nobres parentes para haverem de casar ela e a filha que em casa tinha».
Estando, porém, resolvida cada vez
mais a desprezar o mundo e suas vaidades e entregar-se toda ao serviço
de Deus, mandou vir a Ouca o padre frei João de Guimarães, prior do
Convento dos Dominicanos de Aveiro, para o consultar acerca da
orientação que haveria de tomar. |
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Pormenor do claustro de
Jesus. |
Este fez ver a D. Brites Leitão que a
quinta de Ouca era absolutamente imprópria por várias razões para ela e
sua filha lá viverem, tanto mais que o conde de Odemira, D. Sancho de
Noronha, pretendia embargar-lhe a posse da dita quinta; mas atendendo a
que ela queria renunciar definitivamente ao mundo, aconselhou-a a que
comprasse um terreno na vila de Aveiro, ao pé do Mosteiro de Nossa
Senhora da Misericórdia, e lá fizesse casas e moradas para nelas viver,
com o recolhimento e apartamento que desejava, tendo consigo pouca e
muito honesta companhia, e assim ficava «fora de lugar de criados e
de pessoas de negócios e fraquezas do mundo que sempre a haviam de
inquietar.»
D. Brites Leitão aceitou gostosamente
o conselho do padre João de Guimarães e resolveu pô-lo em prática.
Corria o ano de 1457, e em todo o
reino havia grande azáfama com os preparativos militares para a
conquista de Alcácer Seguer aos mouros. D. Afonso V e os principais
fidalgos do Reino andavam na corte muito ocupados na organização da
expedição marítima destinada a esta conquista, que, de facto, se
efectuou no mês de Outubro do ano seguinte. Os parentes de D. Brites não
podiam, nestas circunstâncias, prestar atenção ao que ela pretendia
fazer em Aveiro e por isso não lhe levantariam embargos nem estorvos.
D. Brites Leitão mandou então vir
novamente a Ouca o padre frei João de Guimarães, e «com muitas lágrimas
de piedade e desejo de Nosso Senhor» entregou-lhe uma soma de dinheiro
para ele comprar em Aveiro o terreno que julgasse mais conveniente para
se construírem as casas de recolhimento para ela e suas filhas.
Frei João de Guimarães, de acordo com
os frades do seu convento, comprou para este fim um terreno, embora
baixo e húmido, confrontando com a rua e corredoura que davam acesso à
igreja deste convento.
E logo a seguir o padre João de
Guimarães ordenou a imediata construção das casas e moradas para D.
Brites Leitão, dando os dominicanos vizinhos toda a ajuda à obra. Em
1458 estavam concluídas.
D. Brites Leitão tinha então trinta
anos de idade e cinco de viuvez. Estando já prontas as suas novas casas
de recolhimento em Aveiro e desejando instalar-se nelas o mais depressa
possível, mandou vir sua filha Maria de Ataíde do Convento de Vila do
Conde, onde estava entregue aos cuidados de sua tia D. Maria de Meneses,
abadessa desse convento.
Deixou então a sua quinta de Ouca, e
entrou em Aveiro com as suas duas filhas, no dia 24 de Novembro de 1458,
dirigindo-se imediatamente à igreja do Convento de Frades Dominicanos,
onde deu graças a Deus por lhe ter permitido realizar os seus desejos.
Daqui foram para as suas casas,
acompanhadas pelo prior deste convento e de alguns frades antigos de
muita virtude.
O prior ali lançou a bênção a D.
Brites Leitão e suas filhas e benzeu todas as casas e moradas do novo
recolhimento, após o que se retirou com os restantes frades para o seu
convento. |
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Igreja de
Jesus (Museu) |
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