Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

 

Em seguida, entregou sua filha mais nova, Maria de Ataíde, a D. Maria de Meneses, abadessa do Mosteiro da Santa Clara, de Vila do Conde, e tia desta menina, para / 33 / que depois de ali criada, lhe lançasse o hábito e a fizesse freira da Santa Clara, a cuja ordem pertencia o dito mosteiro.

Em Ouca continuava D. Brites Leitão a recear «os laços do inimigo, e perigos do mundo e línguas dos maldizentes, e muito mais os requerimentos e constrangimentos dos seus nobres parentes para haverem de casar ela e a filha que em casa tinha».

Estando, porém, resolvida cada vez mais a desprezar o mundo e suas vaidades e entregar-se toda ao serviço de Deus, mandou vir a Ouca o padre frei João de Guimarães, prior do Convento dos Dominicanos de Aveiro, para o consultar acerca da orientação que haveria de tomar.

Pormenor do claustro de Jesus.

Este fez ver a D. Brites Leitão que a quinta de Ouca era absolutamente imprópria por várias razões para ela e sua filha lá viverem, tanto mais que o conde de Odemira, D. Sancho de Noronha, pretendia embargar-lhe a posse da dita quinta; mas atendendo a que ela queria renunciar definitivamente ao mundo, aconselhou-a a que comprasse um terreno na vila de Aveiro, ao pé do Mosteiro de Nossa Senhora da Misericórdia, e lá fizesse casas e moradas para nelas viver, com o recolhimento e apartamento que desejava, tendo consigo pouca e muito honesta companhia, e assim ficava «fora de lugar de criados e de pessoas de negócios e fraquezas do mundo que sempre a haviam de inquietar

D. Brites Leitão aceitou gostosamente o conselho do padre João de Guimarães e resolveu pô-lo em prática.

Corria o ano de 1457, e em todo o reino havia grande azáfama com os preparativos militares para a conquista de Alcácer Seguer aos mouros. D. Afonso V e os principais fidalgos do Reino andavam na corte muito ocupados na organização da expedição marítima destinada a esta conquista, que, de facto, se efectuou no mês de Outubro do ano seguinte. Os parentes de D. Brites não podiam, nestas circunstâncias, prestar atenção ao que ela pretendia fazer em Aveiro e por isso não lhe levantariam embargos nem estorvos.

D. Brites Leitão mandou então vir novamente a Ouca o padre frei João de Guimarães, e «com muitas lágrimas de piedade e desejo de Nosso Senhor» entregou-lhe uma soma de dinheiro para ele comprar em Aveiro o terreno que julgasse mais conveniente para se construírem as casas de recolhimento para ela e suas filhas.

Frei João de Guimarães, de acordo com os frades do seu convento, comprou para este fim um terreno, embora baixo e húmido, confrontando com a rua e corredoura que davam acesso à igreja deste convento.

E logo a seguir o padre João de Guimarães ordenou a imediata construção das casas e moradas para D. Brites Leitão, dando os dominicanos vizinhos toda a ajuda à obra. Em 1458 estavam concluídas.

D. Brites Leitão tinha então trinta anos de idade e cinco de viuvez. Estando já prontas as suas novas casas de recolhimento em Aveiro e desejando instalar-se nelas o mais depressa possível, mandou vir sua filha Maria de Ataíde do Convento de Vila do Conde, onde estava entregue aos cuidados de sua tia D. Maria de Meneses, abadessa desse convento.


Deixou então a sua quinta de Ouca, e entrou em Aveiro com as suas duas filhas, no dia 24 de Novembro de 1458, dirigindo-se imediatamente à igreja do Convento de Frades Dominicanos, onde deu graças a Deus por lhe ter permitido realizar os seus desejos.

Daqui foram para as suas casas, acompanhadas pelo prior deste convento e de alguns frades antigos de muita virtude.

O prior ali lançou a bênção a D. Brites Leitão e suas filhas e benzeu todas as casas e moradas do novo recolhimento, após o que se retirou com os restantes frades para o seu convento.

   Igreja de Jesus (Museu)

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