Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

Convento de Jesus - Actual Museu

O Convento de Jesus

O Convento de Jesus, de Aveiro, de freiras dominicanas, foi fundado no ano de 1461 e deve a sua existência a duas virtuosas senhoras, de alta linhagem, dona Brites Leitão e dona Mecia Pereira, e aos convincentes conselhos e decidido apoio que a estas Senhoras deu o padre João de Guimarães, prior do Convento da Nossa Senhora da Misericórdia de Aveiro, para tal fundação.

Vejamos os factos que levaram estas duas Senhoras à realização de tão piedosa obra.

D. Brites Leitão ficou orfã de pai e mãe ainda em pequena idade, mas o Infante D. Pedro, regente do Reino (1438-1449), e sua mulher D. Isabel, tomaram-na a seu cuidado e criaram-na em seu paço.

Era ainda muito nova quando estes e parentes dela lhe fizeram o casamento com Diogo de Ataíde, fidalgo e cavaleiro da casa do dito Infante, e seu fiel servidor e bom conselheiro. O Infante D. Pedro tinha-lhe dado o ofício de guarda-mor da Infanta D. Isabel sua mulher e da casa desta.

Do seu matrimónio teve D. Brites Leitão, nas vésperas de Santa Maria Madalena, ano de 1448, uma filha a quem foi dado o nome de Catarina de Ataíde.

Tendo morrido o Infante D. Pedro no recontro de Alfarrobeira, em 20 de Maio de 1449, a Rainha D. Isabel, mulher de D. Afonso V e filha dos referidos Infantes, ordenou a Diogo de Ataíde que continuasse no seu cargo de guarda-mor da viúva Infanta D. Isabel, sua mãe, e nele se manteve até ao falecimento desta.

Querendo, porém, Diogo de Ataíde e sua mulher D. Brites Leitão livrarem-se de questões e intrigas da corte do jovem Rei D. Afonso V, foram residir com suas filhas na sua quinta de Ouca, próximo de Aveiro, que haviam comprado a Leonor Velho.

No ano de 1453 estendeu-se a peste pelo País; e por isso Diogo de Ataíde e sua família saíram de Ouca e foram viver numa quinta de Leiria, também sua. Afinal a peste aqui o matou no dia 25 de Julho do mesmo ano. Também aqui faleceu seu filho Estêvão Ataíde, de três anos de idade, poucos dias após a morte do pai.

Sua filha Catarina tinha seis anos e Maria tinha cinco. No seu testamento mandou Diogo de Ataíde que, com a terça dos seus bens fosse feito na sua quinta de Ouca, um hospital grande e muito bom para pousada e repouso de peregrinos, religiosos e estrangeiros, que por lá passassem, e nomeou testamenteira sua mulher.

Passado algum tempo, D. Brites e sua filha Catarina foram à corte visitar a Rainha D. Isabel e o Rei D. Afonso V, e aqui estes lhe propuseram segundo casamento com um nobre e rico fidalgo da sua corte, visto que ela era ainda muito nova e formosa.

D. Brites recusou tal casamento, porque já tinha em vista seguir a vida religiosa com suas duas filhas.

Entretanto faleceu a Rainha D. Isabel, em 2 de Dezembro de 1455. E logo D. Brites Leitão abandonou a corte, onde os seus desejos de isolamento do mundo eram contrariados, e voltou para a sua quinta de Ouca com sua filha Catarina para aqui viver em recolhimento de espírito e fazer o hospital que seu marido em seu testamento lhe mandara construir.

 

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